24 novembro 2014

EM CARTAZ: «CATWOMAN»




  O que estava previsto ser um spin-off de Batman Regressa, ainda com Tim Burton na cadeira de realizador e Michelle Pfeiffer como protagonista, transformou-se em algo completamente diferente: um filme apresentando uma versão alternativa da Mulher-Gato, com pouca ou nenhuma ligação ao universo do Homem-Morcego.

Título original: Catwoman
Ano: 2004
País: EUA
Duração: 104 minutos
Realização: Pitof
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Argumento: John Brancato, Michael Ferris e John Rogers
Elenco: Halle Berry (Patience Phillips/Mulher-Gato), Benjamin Bratt (detetive Tom Lone), Sharon Stone (Laurel Hedare), Lambert Wilson (George Hedare), Frances Conroy (Ophelia Powers) e Alex Borstein (Sally)
Orçamento: 100 milhões de dólares
Receitas:  82 milhões de dólares

Gata em telhado de zinco.

Produção: Em junho de 1993, ao mesmo tempo que a Warner Bros. avançava para a produção de um terceiro capítulo cinematográfico do Homem-Morcego, um filme a solo da Mulher-Gato era anunciado. Michelle Pfeiffer - que no ano anterior interpretara a personagem em Batman  Regressa - foi dada como certa para reassumir o papel. O mesmo sucedendo com Tim Burton, a quem voltaria a estar reservada a cadeira de realizador. No entanto, no início de 1994, Burton viu-se perante um dilema artístico: dirigir uma película com forte pendor comercial estrelada por uma charmosa ladra de moral ambígua saída dos quadradinhos ou assumir a direção da adaptação ao grande ecrã de um dos mais célebres contos de Edgar Allan Poe (The Fall of the House of Usher)?
   Precisamente no mesmo dia (16 de junho de 1995) em que chegava às salas de cinema de todo o mundo Batman Forever (Batman Para Sempre,em Portugal; Batman Eternamente, no Brasil), o argumentista Daniel Waters (um dos autores do enredo de Batman Regressa) entregou aos responsáveis da Warner o guião para o spin-off da Mulher-Gato.
   Por esta altura os produtores continuavam a cortejar Tim Burton para que este dirigisse a película. Numa entrevista concedida em agosto desse ano, Michelle Pfeiffer reiterou, por sua vez, o seu interesse em participar no projeto. Ressalvando, contudo, que as suas prioridades seriam revistas devido ao facto de ter sido mãe recentemente, bem como em função de outros compromissos profissionais entretanto assumidos.

Michelle Pfeiffer, a inesquecível Mulher-Gato de Batman Regressa (1992).

   Os anos foram passando e o projeto foi relegado para uma espécie de purgatório. Já com Burton e Pfeiffer desvinculados dele, em 2001 Ashley Judd foi a eleita para ser a próxima Mulher-Gato. Por motivos nunca devidamente esclarecidos, a atriz acabaria, todavia, por desistir do papel algum tempo depois.
    Halle Berry, à data uma das mais requisitadas atrizes de Hollywood depois de ter sido oscarizada pelo seu desempenho em Monster's Ball (Depois do Ódio), foi a senhora que se seguiu. Berry não era, de resto, uma estreante em matéria de participações em produções deste género. Entre 2000 e 2003 encarnara Tempestade em X-Men e X-Men 2 (papel que repetiria em 2006 com X-Men 3 e, já este ano, em X-Men- Dias de um Futuro Esquecido).
    A conceção do novo traje de Mulher-Gato ficou a cargo de Angus Strathie, estilista galardoado em 2001 com um Óscar Para Melhor Guarda-Roupa pelo glamoroso figurino criado para Moulin Rouge. Também o realizador Pitof, os produtores e a própria Halle Berry tiveram uma palavra a dizer nesse processo.
   Strathie explicou mais tarde que a ideia era criar uma indumentária o mais realística e ergonómica possível, que ao mesmo tempo representasse a metamorfose ocorrida na protagonista: de mulher insegura e reprimida a vingadora sensual.
   Devido à elevada exigência física do seu papel, Halle Berry iniciou em junho de 2003 um programa de treino intensivo que, entre outas valências, incluía aulas de capoeira (arte marcial brasileira) e de manejamento do chicote - usado como arma pela sua personagem. Trabalhou ainda com uma coreógrafa, que lhe ensinou a pensar e a mover-se como um gato.
  Meses depois, as filmagens arrancaram tendo como cenários a baixa de Los Angeles, Winnipeg e Vancouver (ambas no Canadá), além dos estúdios da Lions Gate e da Warner Bros.

Um dos mais icónicos posters promocionais de Catwoman.

Enredo: Patience Phillips é uma tímida designer ao serviço de uma companhia de cosméticos chamada Hedare Beauty. Apesar dos seus incansáveis esforços para agradar aos outros, Patience tem em Sally a sua única amiga.
  Em vésperas do lançamento de um novo e milagroso creme capaz de reverter os efeitos do envelhecimento, Patience visita a fábrica onde o mesmo está a ser produzido. Inadvertidamente, ela acaba por escutar uma acalorada discussão entre um dos cientistas da marca e Laurel Hedare, a esposa do proprietário. Em causa estavam os efeitos nocivos decorrentes da utilização do creme.
    Surpreendida por guardas da segurança, Patience fica aterrada ao perceber que estes receberam ordens para liquidá-la. Em pânico, a jovem procura escapulir-se por uma conduta. A qual é, no entanto, selada e de seguida inundada pelos guardas.    
   Em consequência disso, Patience morre afogada e o seu corpo dá à costa a alguns quilómetros do local onde foi assassinada. Sendo, porém, inexplicavelmente reanimada por um misterioso gato egípcio, que horas antes se materializara no apartamento da jovem. Na sequência desses eventos, Patience desenvolve habilidades felinas e um insaciável desejo de vingança.

Patience Phillips era uma jovem tímida com afinidade com gatos.
 
  Por intermédio de Ophelia Powers,a excêntrica dona do gato que a devolveu ao mundo dos vivos, Patience descobre que, no antigo Egito, esses animais eram usados como mensageiros pela deusa Bast. Não demora, por isso, a consciencializar-se de que se transformou numa espécie de avatar da divindade, cujos poderes felinos são ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição.
   Passando a usar um disfarce inspirado na sua nova condição de mulher-gato, Patience mescla-se à noite enquanto procura pistas que a conduzam a quem ordenou o seu assassinato. As suas investigações levam-na até ao Dr. Ivan Slavicky, o cientista que discutia com Laurel Hedare naquela noite fatídica. Acaba,porém, por se deparar com o cadáver de Slavicky, sendo injustamente incriminada pela sua morte.
  Suspeitando ser George Hedare - o proprietário da Hedare Beauty - o responsável por ambos os homicídios, a Mulher-Gato vai ao encontro de Laurel e pede-lhe para ficar atenta às movimentações do marido. No entanto, ao confrontar o ex-patrão, este afiança-lhe nada saber sobre quaisquer efeitos secundários potencialmente perigosos do novo creme produzido pela sua empresa.
   Mais tarde nessa noite, Laurel assassina George, depois de lhe revelar ter sido ela quem matou o Dr. Slavicky e quem ordenou a execução de Patience Phillips. Tudo porque o marido a descartara como modelo das campanhas publicitárias da marca, e porque o cientista declarara a sua intenção de destruir a fórmula do novo creme. Já Patience tivera o azar de estar no local errado, à hora errada.

Gatas assanhadas.
   Ardilosa, Laurel contacta a Mulher-Gato pedindo-lhe que venha ao seu encontro. A heroína acede e acaba novamente incriminada por um homicídio que não cometeu, sendo levada sob custódia policial. Antes, porém, Laurel havia-lhe revelado os efeitos secundários causados pelo creme antienvelhecimento: usado em contínuo, deixa a pele do usuário dura como mármore; aplicado de uma forma não continuada, provoca desintegração celular acelerada. Não obstante, Laurel tenciona lançar o novo produto no mercado no dia seguinte.
    Após escapar às autoridades, a Mulher-Gato ruma ao escritório de Laurel para a confrontar, acusando-a pela morte de Patience Phillips. Durante a encarniçada luta que se segue, a Mulher-Gato arranha o rosto da vilã. Esta desequilibra-se e cai por uma janela, conseguindo agarrar-se in extremis a um cano aparafusado à parede do edifício. A Mulher-Gato apressa-se a acudir-lhe, estendendo o braço para que Laurel o agarre e ela a possa içar. Contudo, ao ver o reflexo da sua pele deteriorada no vidro da janela, Laurel fica horrorizada e opta por se deixar cair para a morte.
   Mesmo depois de ter sido inocentada dos crimes que lhe eram imputados, Patience opta por manter-se incógnita e à margem da Lei, desfrutando da sua recém-adquirida liberdade como Mulher-Gato.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=ePgLOVNMSTo


À espera de um tigela de leite morno.

Curiosidades: 
* 43 gatos (na sua maioria provenientes de abrigos para animais abandonados) foram treinados para o filme. Entre eles destacou-se um espécime de Bengala - branco e laranja -, ao qual Halle Berry se afeiçoou ao ponto de o adotar uma vez concluídas as filmagens. Facto que gerou alguma controvérsia na medida em que o felino em questão foi confundido por alguns media com um filhote de tigre;
*Uma das razões que levou Michelle Pfeiffer a recusar repetir o papel de Mulher-Gato foi o desconforto causado pelo fato que usou em Batman Regressa (1992). Uma foto sua surge, no entanto, numa cena do filme, sendo referida como um dos anteriores avatares da deusa Bast;
*Segundo consta, enquanto gravava uma das suas cenas, Sharon Stone recebeu uma chamada no seu telemóvel, a qual prontamente atendeu, para exasperação do restante staff;
* O papel de Ophelia Powers foi inicialmente oferecido a Julie Newmar, uma das três atrizes que vestiram a pele da Mulher-Gato na série televisiva de Batman, em finais dos anos 1960. Na qual pontificou também Eartha Kitt, a primeira atriz negra a dar vida à personagem;
* Halle Berry teve de receber assistência hospitalar depois de ter embatido com uma peça de equipamento durante a rodagem de uma sequência de perseguição em que não usou o seu duplo (um perito em artes marciais havaiano);
* Foram necessários nove dias para gravar a principal cena de luta entre a Mulher-Gato e Laurel Hedare;
* Apenas um mês antes da estreia oficial da película, várias cenas tiveram de ser regravadas por força das reações negativas ao primeiro trailer divulgado. O segundo trailer entretanto lançado não incluía qualquer diálogo;
As 6 atrizes que encarnaram a Mulher-Gato no cinema e na TV.
Em cima (da esq. para a dir.): Lee Meriwether (Batman, o filme de 1966), Michelle Pfeiffer (Batman Regressa1992) e Eartha Kitt (3ª temporada da série televisiva Batman, de 1966).
Em baixo (pela mesma ordem): Anne Hathaway (Cavaleiro das Trevas Renasce, 2012), Julie Newmar (1ª e 2ª temporadas da série televisiva de 1966) e Halle Berry (Catwoman, 2004).
Prémios e nomeações: Fazendo eco das críticas demolidoras recebidas aquando da sua estreia, Catwoman foi agraciado com vários Golden Raspberries (vulgo Razzies, espécie de anti-Óscares) em categorias tão diversificadas como Pior Atriz Principal (Halle Berry), Pior Atriz Secundária (Sharon Stone), Pior Argumento (consultar ficha técnica acima), Pior Realizador (Pitof) e Pior Casal de Protagonistas (Halle Berry e Benjamin Bratt). Nada que intimidasse Halle Berry, que fez questão de comparecer pessoalmente - e munida do seu Óscar de Melhor Atriz, recebido em 2001 por Monster's Ball - à cerimónia de entrega dos pouco prestigiantes prémios. No seu discurso de "vitória", a atriz não escondeu a sua amargura: "Em primeiro lugar, quero agradecer à Warner Bros. Muito obrigado por me terem posto num filme de merda. Era tudo o que a minha carreira precisava!".
   Bill Muller, crítico de cinema do Arizona Republic, foi mais longe ao sugerir que Berry (a primeira atriz afro-americana a ser contemplada com a tão cobiçada estatueta dourada) deveria, a título de penalização pela sua deplorável atuação em Catwoman, restituir o seu Óscar à Academia de Hollywood.

Halle Berry teve poucos motivos para sorrir após a estreia de Catwoman.

Veredito: 18%

    Mesmo à distância de uma década, a avaliação que fiz inicialmente de Catwoman mantém-se: trata-se de um mau filme sobre Halle Berry. Melhor dizendo, sobre os - inegáveis - atributos físicos da atriz. Tudo o mais é secundário. Exceto o enredo; esse é terciário.
   Cada movimento de câmara, cada sequência, cada plano parecem ter como única preocupação pôr em evidência a sensualidade de  Halle Berry vestida como uma dominatrix. Autêntico convite ao onanismo e voyeurismo de uma parcela considerável do público masculino heterossexual - e, em especial, dos espectadores adeptos do S&M -, o filme pouco mais tem para oferecer.
   Num verão em que teve como principal concorrente o soberbo Homem-Aranha 2, Catwoman surgiu como um filme insípido e datado. De tão previsível e desinspirada, a história torna-se soporífera. Facto para que contribui inegavelmente a atroz interpretação de Halle Berry, ganhando apenas na comparação com a da sua antagonista - uma monocórdica Sharon Stone que, claramente, preferia estar a fazer outra coisa qualquer. Do restante elenco nem valerá a pena falar, composto que é por autênticos canastrões.
   Outra das deficiências desta película é a quase total ausência de referências à mitologia de Batman. Dada a ausência da arquitetura neogótica adotada por Tim Burton nos dois filmes do Homem-Morcego por si realizados, é lícito concluir que a trama de Catwoman se desenrola numa cidade que não Gotham City. Esta, no entanto, em momento algum é identificada...
   Podemos até ir mais longe afirmando, em última análise, que a película gira em torno de uma impostora, visto que a Mulher-Gato nela retratada não é Selina Kyle. Estamos, pois, em presença de uma lastimável fraude. Motivo pelo qual a DC Comics relutou em assumir a sua paternidade.
  Intuía-se, porém, o desastre tendo em conta que o melhor que a Warner conseguiu desencantar para substituir Tim Burton foi uma mediocridade gaulesa praticamente sem currículo e aparentemente desprovida de apelido. Pitof soa a nome de palhaço. O que, por si só, deveria ter sido encarado como um mau presságio.
   Pelo seu charme e carisma, a verdadeira Mulher-Gato merece brilhar num filme próprio. De preferência, dirigido por um cineasta competente e sem a insossa Anne Hathaway (Cavaleiro das Trevas Renasce). Depois de Julie Newmar nos anos 1960 e de Michelle Pfeiffer em 1992, continua por encontrar a Mulher-Gato do século XXI.
Apesar das garras, esta Mulher-Gato arranha pouco.

     

13 novembro 2014

DO FUNDO DO BAÚ: «A SAGA DO CLONE»



   Em resposta aos best-sellers da arquirrival DC, em finais do século passado a Marvel lançou uma das suas mais intrincadas e controversas sagas, cujas raízes remontam aos anos 70. O seu desfecho deixou, todavia, diversas pontas soltas, colocando em causa muito do que julgávamos saber sobre um certo Escalador de Paredes.

Título original: Clone Saga
Licenciadora: Marvel Comics
Data de publicação: Setembro de 1994 a novembro de 1996
Títulos abrangidos: Web of Spider-Man #117-129 (além dos números 0 a 11 do seu sucessor, Sensational Spider-Man); Amazing Spider-Man #394-418; Spider-Man #51-75; Spectacular Spider-Man #217-240; Spider-Man Unlimited Vol.1 #7-14. A este quinteto de títulos regulares (entretanto renomeados durante dois meses devido à substituição de Spider-Man por Scarlet Spider) somou-se um naipe de minisséries e edições especiais, destacando-se nele Spider-Man Maximum Clonage ou Spider-Man: The Osborn Journals.
Argumento: Terry Kavanagh, Tom DeFalco, Todd DeZago, Joey Cavalieri, Howard Mackie e  J.M. DeMatteis
Arte: Devido à extensão da saga, a respetiva arte ficou a cargo de uma constelação de desenhadores.

Web of Spider-Man #117 (1994) marcou o início da Saga do Clone.

Edição brasileira

Editora: Abril Jovem *
Títulos abrangidos: Homem-Aranha (do número 165 ao 186 da 1ª série) e A Teia do Aranha (do número 89 ao 110)
Formato: Formatinho económico (13,5 x 19 cm), colorido com lombada agrafada
Data de publicação: Março de 1997 a dezembro de 1998
Na minha coleção desde: 1997

* Em dezembro de 2010, já sob a égide da Panini Comics, foi lançada a versão definitiva da saga nas páginas de A Teia do Homem-Aranha nº4. Dando assim oportunidade aos fãs do Escalador de Paredes de conhecerem a história original.


O clímax de A Saga do Clone nas páginas de A Teia do Aranha.

Antecedentes:  Em bom rigor, não existiu uma, mas duas sagas envolvendo clones do Homem-Aranha. Remontando a primeira ao verão de 1973, quando o argumentista Gerry Conway resolveu matar Gwen Stacy, à data namorada de Peter Parker. Na origem desta decisão esteve o facto de a equipa editorial responsável pelos títulos do Escalador de Paredes considerar que a personagem em questão estava esgotada, havendo por isso a necessidade de incluir um novo elemento trágico nas histórias do herói. Nesse sentido, foi introduzido nelas um novo antagonista (o Chacal) e, em capítulos posteriores, Gwen foi (aparentemente) devolvida ao mundo dos vivos.
  Sob o disfarce do Chacal escondia-se Miles Warren, professor de Biologia de Peter e Gwen na Universidade Empire State e reputado especialista em clonagem. Em tempos, Warren nutrira uma paixão secreta pela rapariga, sentindo por isso ciúmes de Peter. Incapaz de se conformar com a morte de Gwen, Warren criou um clone dela e outro de Peter. Foi assim, de resto, que o Chacal descobriu a identidade secreta do Homem-Aranha. A quem culpava pela morte da jovem. Empenhado em matar o herói aracnídeo, Warren raptou-o e obrigou-o a lutar com o seu clone.
    O seu plano foi, no entanto, gorado quando os dois Homens-Aranha (cada um deles acreditando ser o verdadeiro) uniram esforços para derrotar o vilão. Um deles acabou morto na mesma explosão que tirou a vida ao Chacal. O Escalador de Paredes sobrevivente assumiu-se então como o original por força do seu amor por Mary Jane Watson, que se tornara a nova dona do coração de Peter Parker já depois do surgimento do clone.
   No desenlace da trama, o Homem-Aranha despejou o corpo sem vida do seu clone dentro de um incinerador enquanto a falsa Gwen escapou para parte incerta.

Duelo de Homens-Aranha tendo o Chacal como espectador em The Amazing Spider-Man #149 (1975).
     Poucos anos volvidos, um sinistro vilão que atendia pelo nome de Carniça (Carrion, no original) cruzou o caminho do Cabeça de Teia. Alegando tratar-se de um clone degenerado do Professor Warren, Carniça procurou matar o Homem-Aranha. Mais tarde, seria a vez de a falsa Gwen Stacy reaparecer quando estava a ser perseguida pelo Alto Evolucionário. O qual, por sua vez, procurava resolutamente descobrir como conseguira Warren uma clonagem tão perfeita. Chegando rapidamente à conclusão que aquilo que o cientista realmente desenvolvera fora um vírus genético que transformava seres vivos. Curada da doença, a falsa Gwen tornou a desaparecer sem deixar vestígios.
    A história estava, porém, longe de ter um fim. Ao investigar o antigo laboratório de Warren, o Homem-Aranha descobriu que o Carniça era, de facto, uma arma biológica criada pelo alter ego do Chacal. Outro ex-aluno de Warren, Malcolm McBride, foi entretanto infetado pelo vírus tornando-se o novo Carniça.
    Estes eventos dariam o mote para aquilo que será mais correto classificar como o segundo capítulo da Saga do Clone, retomada em finais de 1994.

As duas Sagas do Clone introduziram novas personagens e trouxeram de volta antigas.

Enredo: Vários anos transcorridos sobre os eventos supramencionados, o clone de Peter Parker - que sobrevivera afinal, vivendo todo esse tempo sob a identidade de Ben Reilly - reapareceu do nada. Saliente-se que Ben era o nome do falecido tio de Peter e Reilly o apelido de solteira da sua tia May.
    Ansioso por retomar a sua carreira heroica, Ben adotou a identidade de Aranha Escarlate e, durante um breve período, combateu o crime ao lado do Escalador de Paredes original.
    O ressurgimento do clone desencadeou, porém, uma série de eventos traumáticos que culminaram com a contaminação de Peter e Ben às mãos de um também redivivo Chacal e do pérfido Kaine (resultado de uma primeira e malsucedida tentativa de clonagem do Homem-Aranha). Nesse processo, outro clone do herói aracnídeo transformou-se  no vilão conhecido como Spidercide. As coisas ficaram ainda mais confusas com a intervenção do enigmático - e aparentemente omnipotente - Judas Traveller, cuja missão consistia em estudar a verdadeira natureza do Mal.

O enigmático Judas Traveller.
   Para estupefação geral, exames médicos revelaram que Peter era, na verdade, o clone. O que fazia de Ben o original. Uma revelação que provocou uma volta de 180 graus nas vidas de ambos: Peter tomou a decisão de se afastar temporariamente passando a Ben o manto de Homem-Aranha; este, por seu turno, além do papel de herói, teve de aprender, após o anúncio feito por Mary Jane de que estava grávida, o de pai. Peter chegou mesmo a perder os seus poderes durante o seu exílio autoimposto, recuperando-os após uma experiência de quase-morte.
   No clímax da saga, concluía-se que Peter, Ben, o Chacal e diversos outros protagonistas vinham sendo secretamente manipulados por Norman Osborn, vulgo Duende Verde. Dado como morto anos antes, Norman regressara misteriosamente do Além com o propósito de alquebrar o espírito de Peter. Tendo para isso congeminado um maquiavélico plano que consistia em convencê-lo de que não passaria de um impostor.
    A prova definitiva de que Ben era o clone surgiu quando este sacrificou a própria vida para salvar Peter de ser empalado pelo deslizador do Duende Verde. Devido à degeneração celular acelerada que caracteriza os clones, o corpo de Ben deteriorou-se rapidamente.

Ben Reilly começou por adotar a identidade de Aranha Escarlate.

Kaine era, na verdade, um clone defeituoso de Peter Parker.

Conceção e desenvolvimento: A Saga do Clone decorreu da determinação dos responsáveis da Casa das Ideias em produzirem um arco de histórias do Homem-Aranha que ombreasse com os recentes best-sellers da DC: The Death of Superman e Batman: Knightfall (respetivamente, A Morte do Super-Homem e Batman: A Queda do Morcego). Mark Bernardo, à data editor dos títulos estrelados pelo Escalador de Paredes, recorda: "Recebemos ordens superiores no sentido de concebermos algo com um escopo semelhante à morte do Super-Homem, que catapultou as vendas da DC para níveis estratosféricos. Recebemos portanto autorização por parte dos mandachuvas para criarmos algo verdadeiramente arrojado. Não demorou muito para  Terry Kavanagh lançar a ideia de um clone do Homem-Aranha. A qual, a princípio, não recolheu grande entusiasmo por parte da restante equipa criativa. Se a memória não me falha, foi J.M. DeMatteis o primeiro a perceber as enormes possibilidades dessa premissa. Fazendo eco disso, vários outros membros da equipa consideraram que a personagem se desvirtuara nos últimos anos, perspetivando na ideia aventada por Kavanagh uma soberana oportunidade para a reaproximar do conceito original".
   Howard Mackie, outro dos argumentistas envolvidos no projeto, sublinha que "sabíamos desde o primeiro momento que se trataria de uma saga controversa. Mas esse era um dos pontos. Queríamos agitar um pouco as águas. Razão pela qual só mais tarde foi discutido o cenário do regresso de um único Homem-Aranha. Não era, porém, esse o intuito da história".
    Mark Bernardo acrescenta: "A planificação editorial foi inicialmente delineada no sentido de termos uma história curta. Deveria ter terminado em Amazing Spider-Man #400, apresentando Ben Reilly como o verdadeiro Homem-Aranha. Com esse novo começo, a personagem recuperaria a sua quintessência e a sua mitologia seria simplificada".
    Recebida luz verde por parte do editor-chefe Tom DeFalco, a saga começou a ser produzida. Embora nas edições que antecederam o seu arranque os leitores tivessem vindo a ser brindados com pistas relacionadas com uma misteriosa personagem ligada a Peter Parker, a trama começou a desenrolar-se no final de Spectacular Spider-Man #216 (setembro de 1994), quando o herói aracnídeo se deparou com um sósia seu. Nos capítulos subsequentes foi narrado o passado do clone, retratado como um sem-abrigo marginalizado e atemorizado. De caminho  foi  introduzida outra personagem-chave: Judas Traveller. Isto enquanto era subtilmente sugerido nas entrelinhas que o clone poderia afinal ser o Homem-Aranha genuíno. Enquanto isso não se confirmava, Ben ganhou um novo uniforme e uma nova identidade: Aranha Escarlate.

Tom DeFalco, o primeiro editor-chefe responsável pela Saga do Clone.
   
   Entrementes, eram muitas as pontas soltas numa intrincada trama que desde o primeiro momento pareceu escapar ao controlo do seus autores. De acordo com o então editor-assistente dos títulos aracnídeos, Glenn Greenberg, "ninguém - nem argumentistas nem editores - sabia quem - ou o que - era Judas Traveller. Tratava-se de um ser extraordinariamente poderoso, quase místico, mas com desígnios insondáveis. Para ser franco, creio que uma personagem com essas características não se enquadrava no universo do Homem-Aranha". Por conseguinte, Judas Traveller teve uma participação intermitente na saga, sem que os leitores conseguissem perceber qual seria, afinal, o seu papel nela.
  Acreditando que isso acrescentaria peso dramático à história, Tom DeFalco sugeriu que Mary Jane engravidasse de Peter. Antes, porém, que a ideia vingasse, a Marvel mergulhou numa profunda crise financeira que quase ditou a insolvência da empresa. Em consequência disso, DeFalco foi demitido, sendo a linha de títulos publicados pela editora dividida entre cinco grupos diferentes, cada um deles dispondo do seu próprio editor-chefe. Bob Budiansky assumiu, assim, as funções de editor-chefe das séries regulares estreladas pelo Cabeça de Teia.
    Por essa altura, os argumentistas haviam concebido um novo antagonista: Kaine. Para atestar o seu grau de perigosidade, foi estabelecido que o neófito vilão mataria alguns inimigos jurados do Homem-Aranha, entre os quais o Doutor Octopus. Não tardou, porém, a que Kaine, mercê da sua origem e objetivos difusos, se diluísse na trama.
   Denotando já uma pontinha de desespero, os argumentistas da saga consensualizaram então reviver o Chacal que, como vimos, fora o criador da primeira cópia genética do Homem-Aranha. Desse modo foi explicada a deterioração dos clones, ao mesmo tempo que os leitores eram levados a crer que o Chacal, assim como Judas Traveller, seriam peças numa engrenagem maior.
   No entanto, a inclusão do Chacal na trama serviu para semear ainda mais dúvidas nas mentes dos leitores. Num primeiro momento, o vilão afirmou que Peter era o clone, apenas para logo depois dizer exatamente o contrário, rematando que tanto Peter como Ben eram clones por ele produzidos.

A ressurreição do Chacal acrescentou ainda mais pontos de interrogação à saga.

    Numa entrevista datada de 2008, Glenn Greenberg declarou a este propósito: " Uma narrativa assente em patranhas, reviravoltas e mistérios indecifrados só seria aceitável do ponto de vista dramático. Havia, porém, o risco efetivo de os leitores, sentindo-se à deriva num mar de dúvidas e incoerências, desistirem de acompanhar a saga".
   Aparentemente destituída de uma orientação precisa, a equipa criativa responsável pelo desenvolvimento da saga foi criando mais e mais pontas soltas  (nós górdios em alguns casos) : por que motivo Ben Reilly se angustiava perante a perspetiva de degeneração celular comum aos clones? Porque Kaine o tentava matar ao mesmo tempo que protegia o Homem-Aranha? Porque Ben e Peter partilhavam sonhos? Porque previa Kaine a morte de Mary Jane? Quem era o terceiro clone de Peter Parker? Perguntas sem resposta que se foram avolumando à medida que a trama se eternizava. Situação para a qual foi determinante a imposição por parte do departamento comercial da Casa das Ideias no sentido de prolongar a saga o mais possível.
    Numa conjuntura marcada pelo acentuado declínio da indústria dos quadradinhos, A Saga do Clone - a despeito das suas notórias inconsistências - continuava a garantir vendas muito acima da média. Não sendo portanto de estranhar que tenha sobrevivido a  diversas equipas criativas,  afastando-se paulatinamente do seu escopo original.
   Num dos seus capítulos mais controversos, publicado em Amazing Spider-Man #400, os argumentistas mataram uma coadjuvante tão antiga como o próprio protagonista, que o vinha acompanhando e orientando desde 1962: nada mais nada menos do que a bondosa tia May. Seguiu-se The Mark of Kaine, história onde eram apresentados vários outros clones do Escalador de Paredes. Com os títulos do herói aracnídeo a quebrarem sucessivos recordes de vendas, ninguém via motivo para matar a galinha dos ovos de ouro.
  No entanto, quando nas páginas de Spectacular Spider-Man #226, Ben Reilly foi confirmado como sendo o verdadeiro Homem-Aranha, muitos fãs expressaram o seu desagrado face a esta opção. Muito antes da banalização do correio eletrónico, dos fóruns na internet e das redes sociais, choveram cartas agastadas na sede da Marvel, em Nova Iorque.
   Com o propósito de pôr um ponto final na saga, atando de caminho as muitas pontas soltas da mesma,  foi lançado um novo arco de histórias intitulado Maximum Clonage. Além de confirmar Ben Reilly como o novo Homem-Aranha, a ideia original passava também por matar a falsa Gwen Stacy.

Maximum Clonage ou a multiplicação de aranhiços.
   Impressionado pelo sucesso comercial de Age of Apocalypse - saga estrelada pelos X-Men cujo êxito parecia associado à sua durabilidade - Bob Budiansky fez ouvidos de mercador às críticas dos fãs e ordenou que A Saga do Clone prosseguisse. Assim, em vez de serem remendados os buracos no rebuscado rendilhado narrativo, a cada novo capítulo acrescentava-se mais um rasgão, sob a forma de uma multitude de clones do herói aracnídeo.
  Previsivelmente, Maximum Clonage foi causticada pelos fãs e pela crítica, insatisfeitos com a errática trajetória  da trama e com as difusas motivações dos seus intervenientes. Na esteira deste fiasco, foram introduzidas versões renovadas de personagens clássicas, nomeadamente uma Doutora Octopus e um novo Abutre. A estratégia, porém, redundou em fracasso. Era evidente para (quase) toda a gente que os leitores haviam perdido a paciência com o magote de clones à solta e que desejavam o regresso imediato do Homem-Aranha original.
  Glenn Greenberg recorda: "A ideia era renomear todo o portfólio de títulos do Homem-Aranha e relançar a respetiva numeração, capitalizando dessa forma a popularidade do Aranha Escarlate. Nome que substituiria o do Homem-Aranha nas novas séries regulares. O problema surgiu quando o departamento comercial exigiu que fossem produzidas quatro edições alternativas para o primeiro número de cada título. Após árduas negociações, Bob Budiansky conseguiu reduzir esse número para metade".
   Após muitas pressões dos fãs e por parte da própria equipa criativa sob a sua alçada, Budiansky transigiu na sua decisão de transformar Ben Reilly no Homem-Aranha. Originalmente concebida para marcar o adeus de Peter Parker ao seu alter ego mascarado, Spider-Man: The Final Adventure acabaria por ser reescrita à pressa a fim de o reinstalar como o primeiro e único Homem-Aranha. Na sua versão primitiva, a história culminaria com o nascimento da filha de Peter e Mary Jane. Budiansky considerou, porém, que a parentalidade não se compaginaria com o combate ao crime. Nesse sentido, o nascimento do bebé foi substituído pela perda de poderes de Peter. Expediente que permitia facilmente aos argumentistas devolverem-lhos, para depois o fazerem regressar ao seu lugar de direito. Havia, contudo, que assegurar que esse regresso seria plausível e, acima de tudo, que não comprometeria toda a saga.
  Na sequência de uma maratona de reuniões, surgiu a ideia de introduzir um vilão cujas perversas maquinações haviam estado na origem de toda a trama. Apesar de ter sido dado como morto tempos atrás, o eleito foi Norman Osborn (notabilizado como Duende Verde). Proposta que não recolheu consenso entre a equipa criativa responsável pela saga. Tom Brevoort, um dos argumentistas, sugeriu em alternativa uma história na qual Peter retrocederia cinco anos no tempo (coincidindo com o início da primeira Saga do Clone) graças aos poderes de Judas Traveller. Seria então revelado que nem ele nem Ben eram clones, mas sim versões  de si mesmos oriundas de épocas diferentes. Malgrado a contestação dos restantes argumentistas, Budiansky e Greenberg deram o seu aval à ideia.

Norman Osborn, o suspeito do costume.

   Gerado novo impasse, a conclusão da saga foi sendo sucessivamente protelada. A situação só seria desbloqueada após Bob Harras substituir Budiansky como editor-chefe. Sem mais delongas, Harras deliberou que Norman Osborn seria o vilão por detrás de tudo. Ideia que esteve longe de entusiasmar quem quer que fosse. Tratava-se, todavia, de uma escolha lógica: Osborn seria o único a dispor dos recursos, conexões e motivações para orquestrar semelhante ignomínia.
    Estava finalmente encontrado o caminho para o desfecho de uma saga labiríntica e sobre a qual pairava o espectro do fracasso. Em jeito de epílogo, The Osborn Journals (Os Diários de Osborn) revelava detalhes importantes da narrativa sob o  do ponto de vista do vilão.
   Anos depois, Tom DeFalco teceu as seguintes considerações: "Se tivesse dependido de mim, a saga teria tido uma conclusão diferente. O plano inicial passava por estruturá-la em três atos. O clímax do primeiro ato ocorreria  aquando da revelação de que Ben Reilly era o verdadeiro Homem-Aranha; o segundo ato duraria aproximadamente três meses e acompanharia as aventuras de Ben como Homem-Aranha; no último ato assistiríamos ao regresso triunfal de Peter como o primeiro e único Homem-Aranha. Tanto eu como Mark Bernardo acreditávamos no potencial de Ben, que passaria a estrelar a sua própria série regular. Algo muito parecido com que eu fizera anos antes com Thor e Thunderstrike (Trovejante para o público lusófono): dois títulos distintos baseados num mesmo conceito. Claro que o plano foi por água abaixo quando fui despedido..."

Homem-Aranha e Aranha Escarlate: o original prevaleceu sobre a imitação.
   
Notas finais: É voz corrente que o tempo cura quase tudo. Adágio que encerra em si a ideia de que o primeiro passo a dar para a superação de traumas será esquecê-los. Quem como eu é fã incondicional do Homem-Aranha e acompanhou de perto a polémica Saga do Clone, dá graças aos deuses da nona arte por terem já transcorrido quase duas décadas sobre o seu fim. Certas feridas, porém, demoram muito a cicatrizar.
   Tenho ainda hoje as maiores dúvidas acerca da possibilidade de aceitação por parte dos fãs do  Cabeça de Teia relativamente à hipótese de substituição de Peter Parker por Ben Reilly. Considerei,aliás, estapafúrdia desde o primeiro momento a premissa da saga: durante anos a fio os leitores tinham sido enganados por um impostor, que era afinal um clone do verdadeiro Homem-Aranha. Difícil de engolir. Não querendo com isto dizer que, com a orientação certa, a história não pudesse ter resultado.
   No entanto, conforme ficou bem patente no texto acima, orientação (diria até bom senso) foi coisa que não abundou entre a vasta equipa criativa que se deixou enredar na teia (metáfora assaz adequada) que ela própria urdiu. Num ápice, a saga adquiriu contornos de telenovela mexicana, assemelhando-se no seu auge a uma espécie de Crise dos Infinitos Clones.
   Concebida com o intuito de simplificar a mitologia daquela que é, indubitavelmente, a personagem de charneira da Marvel - e que tão maltratada continua a ser - a Saga do Clone revelou-se uma trapalhada monumental. Sendo também lícito afirmar que ela foi vítima do descaso e  ganância dos mandachuvas da Casa das Ideias. Os quais, em prol do lucro, fizeram tábua rasa das críticas dos leitores face a uma perigosa deriva editorial que ameaçava deixar irreconhecível um dos mais amados heróis dos quadradinhos. A exemplo, aliás, do que sucedeu pouco tempo depois com o Super-Homem, quando algumas cabecinhas pensadoras da DC (demonstrando nada terem aprendido com os erros da concorrência) acharam que seria uma ideia formidável transformar o Homem de Aço numa variante anabolizada do Electro. Em ambos os casos acabaram, afortunadamente, por prevalecer os conceitos originais devido à exasperação dos fãs.

Em 1997, a DC chocou os fãs do Homem de Aço com uma transformação eletrizante.   

   Em consequência do fiasco da Saga do Clone caiu por terra a oportunidade de revitalizar o Homem-Aranha, quando este já contava mais de três décadas de existência. Seguiram-se, naturalmente, várias tentativas para alcançar esse objetivo. Uma das quais passou por inventar uma origem mística e totémica para os poderes do Escalador de Paredes. Nenhuma delas, porém, colou.
   A Saga do Clone teve, não obstante, alguns aspetos positivos. Desde logo a criação do Aranha Escarlate - que mesmo após a morte de Ben Reilly ainda se balança por aí na sua teia. Teve também o condão de devolver ao mundo dos vivos aquele que é o eterno némesis do Cabeça de Teia e seguramente um dos mais carismáticos vilões dos quadradinhos: Norman Osborn (a quem, de resto, estaria reservado um papel importantíssimo em sagas futuras, como Civil War). Além, claro, de, no campo financeiro, ter garantido um balão de oxigénio para uma Casa das Ideias à beira da bancarrota.
   Rebuscada e controversa, a Saga do Clone representou um passo atrás na história do Homem-Aranha. Proporcionando, ainda assim, o impulso necessário para avançar por novos caminhos.

Cabeça de Teia há só um. Ou pelo menos assim o esperamos...