17 julho 2021

GALERIA DE VILÕES: DUENDE VERDE

  Nenhum outro inimigo do Homem-Aranha lhe infligiu tanta dor e sofrimento. Sempre que o bufão berrante se entrega à sua macabra folia, a tragédia enluta o coração de Peter Parker, eternamente assombrado pelo vil legado do seu némesis.

Denominação original: Green Goblin 
Editora: Marvel Comics 
Criadores: Stan Lee (conceito) e Steve Ditko (história e arte conceptual)
Estreia: The Amazing Spider-Man #14 (julho de 1964)
Identidade civil: Norman Virgil Osborn
Espécie: Humano quimicamente modificado
Local de nascimento: Hartford, Connecticut 
Parentes conhecidos: Alton Osborn Sr. (bisavô paterno, falecido); Alton Osborn Jr. (avô paterno, falecido); Ambrose Osborn (pai, falecido); mãe incógnita (presumivelmente falecida); Emily Lyman-Osborn (esposa, falecida); Harold "Harry" Osborn (filho, falecido); Liz Allan (ex-nora); Normie Osborn (neto)
Ocupação: Magnata, cientista, inventor, presidente executivo da Oscorp e senhor do crime.
Base operacional: Da Mansão Osborn, nas cercanias de Nova Iorque, o Duende Verde transferiu em tempos o seu covil secreto para a Torre Oscorp, no coração de Manhattan, e, mais recentemente, para uma estação de metro abandonada, nos túneis subterrâneos da cidade que nunca dorme.
Afiliações: Fundador da Oscorp e ex-líder dos Doze Sinistros.
Némesis: Homem-Aranha
Poderes e parafernália: Embora extraordinariamente ágil e atlético, nas suas primeiras aparições o Duende Verde aparentava ser um homem comum dependente do seu arsenal temático para se afirmar no submundo nova-iorquino. Depressa se perceberia, porém, que ele detinha afinal habilidades sobre-humanas, designadamente força, velocidade e resistência incrementadas. E que na origem de todas elas estava um composto biogénico chamado Soro do Duende.
No entanto, mesmo antes de consumi-lo, Norman Osborn era extremamente inteligente e talentoso, senhor de vasto conhecimento científico em áreas tão diferenciadas como Química, Mecânica e Eletrónica. Como bem comprovam, aliás, os aprimoramentos por ele realizados ao soro inventado pelo seu ex-sócio e professor, Dr. Mendel Stromm, ou o facto de ter construído do nada o seu império empresarial. Não menos impressionante, projetou sozinho toda a parafernália tecnológica que equipa a sua maléfica persona.
Composto por um leque de dispositivos bizarros que remetem para o folclore do Dia das Bruxas, o arsenal do Duende Verde permite-lhe defrontar em pé de igualdade adversários com níveis de poder superiores ao seu. Certa vez, por exemplo, derrotou o Tocha Humana com recurso a uma espuma retardante de fogo.
A imagem de marca do Duende Verde são, contudo, as Bombas Abóbora. Como o nome sugere, tratam-se de granadas de mão semelhantes a miniaturas das lanternas de abóbora usadas como enfeites durante o Halloween. Quando lançadas, acendem-se silenciosamente produzindo calor suficiente para derreter aço com vários milímetros de espessura. Algumas delas emitem também fumaça, clarões atordoantes ou um gás especial capaz de anular temporariamente o sentido de aranha do Escalador de Paredes. Foi graças a esse artifício que o vilão logrou descobrir a verdadeira identidade do seu arqui-inimigo.

Esquema de uma Bomba Abóbora.

Protótipo de um exoesqueleto desenvolvido pela Oscorp para fins militares, o uniforme do Duende Verde foi posteriormente adaptado às especificações de Norman Osborn. Destaque para a túnica tecida com uma fina malha de aço à prova de bala e para as luvas com microfilamentos elétricos que canalizam descargas de alta voltagem. Para se proteger dos efeitos dos próprios gases, Osborn embutiu um filtro na máscara, a qual foi projetada para instilar medo.
Numa clara referência ao Dia das Bruxas, originalmente o Duende Verde voava montado numa vassoura de aço com motor a jato. Esta seria, contudo, rapidamente substituída pelo seu icónico planador em forma de morcego. Além de melhor aerodinâmica, o aparato, controlado manualmente ou via rádio, dispõe de um impressionante poder de fogo. De metralhadoras a lança-chamas, passando até por pequenos mísseis equipados com sensores térmicos, o seu sistema de armas é tão eclético quanto mortífero. Voando à velocidade máxima (140 km/h) e com carga total (180 kg), o planador do Duende Verde tem autonomia para uma hora. Para maior estabilidade e manobrabilidade, as botas do usuário são fixadas magneticamente aos seus estribos metálicos. 

Originalmente, o Duende Verde montava uma vassoura voadora.

Além dos poderes enumerados acima, o Duende Verde consegue regenerar tecidos e órgãos severamente danificados. Embora mais lento do que o fator de cura de Wolverine ou Deadpool, essa habilidade já lhe permitiu sobreviver a ferimentos potencialmente fatais. A enorme cicatriz no peito de Norman Osborn, trespassado pelo próprio planador durante uma batalha com o Homem-Aranha, comprova-o.
Com recursos financeiros ilimitados provenientes da colossal fortuna do seu alter ego, o Duende Verde, fruto das motivações pessoais por detrás das suas ações, faz sempre um forte investimento emocional nos seus estratagemas para humilhar o Homem-Aranha. Torcendo-se de furor de cada vez que fracassa nos seus tenebrosos desígnios. "Desistir" é, porém, um verbo que Norman Osborn nunca aprendeu a conjugar.
Quando não afetado pela sua atávica loucura, o Duende Verde é um exímio estratega capaz de delinear planos de elevada complexidade. Apesar dessa sua componente cerebral, é também um lutador experiente que não teme o combate desarmado. Tanto mais que a sua força (estimada em 9 toneladas) se equivale, grosso modo, à do Homem-Aranha. 
Tudo somado, percebe-se porque são sempre os duelos entre ambos tão renhidos e de desfecho imprevisível. Um e outro podem apenas a aspirar a uma vitória pírrica, tão alto seria o preço a pagar por ela.

Cicatrizes de guerra.

Fraquezas: Putativo efeito colateral da fórmula química responsável pela amplificação das suas capacidade físicas, motoras e cognitivas, a insanidade é o calcanhar de Aquiles do Duende Verde. O histórico de distúrbios mentais na família Osborn sugere, todavia, que esta poderá ser hereditária, tendo sido apenas potenciada pelo Soro do Duende. Note-se que, além próprio Norman, também o seu pai Ambrose e o seu filho Harry sucumbiram à demência. Toda a linhagem Osborn parece, de facto, inquinada por ela.
Delírios de grandeza e fragmentação da personalidade constituem os sintomas mais evidentes da instabilidade mental de Norman Osborn. Que, condicionado por ela, toma frequentemente decisões irracionais pautadas pela impulsividade. Por conta dessa sua imprudência, cai repetidas vezes nas armadilhas preparadas pelos seus adversários, dá o flanco em combate e incorre noutras situações de elevada perigosidade.

Norman Osborn e o Duende Verde foram, durante algum tempo,
personalidades distintas em disputa pelo controlo.

Por ter, em diferentes ocasiões, enganado a morte, Norman Osborn julga-se invencível, subestimando amiúde os seus oponentes. Erros de avaliação que redundam quase sempre na sua derrota. Exemplo disso foi quando o Duende Verde capturou o Homem-Aranha pela primeira vez. Mesmo sabendo que o herói se preparava para escapar, nada fez para impedi-lo, convicto que estava da sua superioridade em combate.
Outro ponto fraco do Duende Verde radica na sua proverbial arrogância. Aquela que, entre outras coisas, o levou a desperdiçar a oportunidade de comandar o Sexteto Sinistro. Apenas porque unir-se ao grupo significaria reconhecer a sua incapacidade de vencer sozinho o Homem-Aranha. Algo impensável para alguém tão ufano como Norman Osborn. Apesar da sua empáfia, o vilão formaria mais tarde os Doze Sinistros, cujo elenco, por sinal, incluía alguns ex-membros do Sexteto Sinistro.


Inimigo íntimo

Na exuberante galeria de inimigos do Escalador de Paredes avultam alguns dos maiores expoentes de vilania da banda desenhada. Nenhum deles lhe proporcionou porém um festival de sofrimento como o Duende Verde. Foi ele o primeiro a descobrir a verdadeira identidade do herói aracnídeo e a assassinar um dos seus entes queridos. Como se isso não bastasse para consagrar a sua marca de maldade, foi também ele o arquiteto de uma monstruosa conspiração (eventos narrados na Saga do Clone, já aqui esmiuçada) que virou do avesso a vida de Peter Parker, mergulhando-o numa perturbadora crise de identidade.
Ao tomar a decisão fatal de eleger o Homem-Aranha como seu némesis, o Duende Verde prendeu ambos num interminável ciclo de horror e tragédia. Enfatizado pelo dramático enlace entre as suas vidas pessoais, uma vez que Norman Osborn é o pai do melhor amigo de Peter. Mas tudo teria sido muito diferente se as ideias originais dos seus autores tivessem vingado.
Na sinopse original do Duende Verde, Stan Lee descreveu-o como um antigo demónio mitológico despertado acidentalmente por uma equipa de filmagens que tropeçara numa espécie de sarcófago egípcio. Por considerá-lo desajustado ao registo realista na base do sucesso das histórias do Homem-Aranha, Steve Ditko reformulou por completo o conceito proposto pelo seu parceiro criativo.
Em vez de um ente sobrenatural, o Duende Verde seria, assim, apenas humano. Pensado para ser apenas outro antagonista de circunstância, o novo vilão fez a sua mise-en-scène em The Amazing Spider-Man #14, edição datada de julho de 1964. Apesar do mistério em torno da sua origem e identidade (ou por causa dele), o Duende Verde provou-se surpreendentemente popular entre os leitores.

A estreia oficial do Duende Verde em The Amazing Spider-Man #14 (1964)
teve o Incrível Hulk como convidado especial.

Mediante esse inesperado sucesso, o passo seguinte foi estabelecer o alter ego do Duende Verde, o qual seria pomo de discórdia entre os seus criadores. 
Enquanto Lee pretendia alguém conhecido do Homem-Aranha, Ditko preferia um anónimo sem qualquer ligação ao herói. Ditko sustentava a sua escolha no facto de, na vida real, as maiores inimizades despontarem aleatoriamente entre desconhecidos. A isto Lee contrapunha que uma ligação pessoal entre as duas personagens concederia (ainda) maior carga dramática às histórias do Escalador de Paredes. Acrescentando que, ao fim de tantos meses de suspense e pistas falsas, os leitores se sentiriam defraudados se assim não fosse.
Apesar de ter sido a visão de Lee a prevalecer, subsistem até hoje dúvidas acerca de quem terá partido afinal a ideia de estabelecer Norman Osborn como identidade civil do Duende Verde. Lee reclamava para si esse mérito, ao mesmo tempo que admitia poder ter sido atraiçoado pela sua péssima memória.
Ditko, por seu lado, afirmou sempre ter sido ele o autor da ideia, antes mesmo da conclusão do primeiro arco de histórias no qual o Duende Verde participou. Vários indícios parecem, de resto, corroborar esta tese.
Pese embora Norman Osborn não ter sido formalmente apresentado até The Amazing Spider-Man #37, Ditko afiançou ser ele a personagem que surgia em dois painéis no 23º número da série. Dando crédito a esta afirmação, o facto de a referida personagem - um discreto membro do Clube de Empresários da privança de J. Jonah Jameson - ter marcado presença nas edições seguintes. Numa delas, em The Amazing Spider-Man #25, Osborn visitou inclusivamente a redação do Daily Bugle - sem, contudo, se cruzar com Peter Parker.

O insuspeito Norman Osborn visita
 o seu amigo J.J. Jameson em The Amazing Spider-Man #25 (1965).

A grande revelação teve lugar em The Amazing Spider-Man #39. Naquela que foi a primeira história do Homem-Aranha a ser desenhada por outro artista - John Romita Sr. - que não Ditko, os leitores ficaram finalmente a saber que, por trás da máscara do Duende Verde, se escondia o rosto de Norman Osborn. Estava dado o mote para uma das mais trágicas rivalidades do Universo Marvel. E nem os seus criadores escaparam incólumes.
Devido a alegadas divergências criativas com Stan Lee, Ditko abandonara entretanto a série. O Homem-Aranha perdia um dos seus "pais", mas ganhava um inimigo íntimo. 
Ao tingir com o sangue de Gwen Stacy os anos terminais da Idade de Prata, o Duende Verde assinalou o fim da inocência nos comics. De então para cá, as trevas imiscuíram-se nas histórias de super-heróis, eles próprios cada vez menos exemplos de virtude e abnegação.


Legado Sinistro

Norman Osborn é um self made man com fome leonina de poder. Fervoroso adepto do darwinismo social, acredita que o mundo pertence aos fortes e que dos fracos não reza a História. Para predestinados como ele, nenhum fracasso é permanente e os fins justificam sempre os meios. O seu sucesso empresarial, baseado em doses iguais de genialidade e amoralidade, contrasta, porém, com a disfuncionalidade da sua vida familiar que compromete a sobrevivência do seu legado.
Primogénito de Ambrose Osborn, um magnata industrial, Norman Osborn nasceu em Hartford, no Connecticut. A sua infância despreocupada foi violentamente interrompida quando o pai perdeu a fortuna da família devido a uma alegada usurpação de patentes. 
Ambrose tornou-se um alcoólatra abusivo que descontava as suas frustrações na esposa e no filho. Norman depressa passou a desprezar o pai ao mesmo tempo que desenvolvia uma personalidade antissocial com precoces tendências homicidas.

Ambrose Osborn entregou-se à bebida após perder o seu negócio.

Numa noite de intempérie, Ambrose trancou o pequeno Norman numa das casas devolutas da família. Esperava assim curar a fobia do filho em relação à escuridão. Sozinho na penumbra, o apavorado Norman teve alucinações com um monstro esverdeado semelhante a um duende sinistro. Não era, porém, a primeira vez que a criatura o aterrorizava. Já antes lhe aparecera em pesadelos.
Temendo ser devorado pelo monstro assim que a escuridão cedesse lugar à luz do dia, Norman percebeu que era a primeira que o fortalecia. Naquele noite, abraçou para sempre as trevas.
Episódios traumáticos como este definiram o caráter de Norman, disposto a tudo para não ser um fracassado como o pai. Porque dinheiro é poder e um homem sem poder não é nada, o primeiro passo seria recuperar a fortuna da família. 
Com esse objetivo em mente, Norman mudou-se para Nova Iorque. Graças a uma bolsa de estudo, cursou Química e Gestão Empresarial na Universidade Empire State (UES, a mesma alma mater de Peter Parker). Foi lá que conheceu e se apaixonou por uma encantadora jovem chamada Emily Lyman. Apesar da cada vez mais evidente natureza rapace de Norman, Emily conseguiu trazer à tona o melhor dele.
Tão logo concluíram os respetivos cursos, o casal trocou alianças. Dessa união nasceu um filho, Harry Osborn. A felicidade familiar seria, no entanto, sol de pouca dura. Pouco meses após o nascimento de Harry, Emily faleceu em consequência de um problema de saúde. 

A morte prematura da sua esposa empurrou
 Norman Osborn para o abismo da loucura.

Privado do amor da esposa e angustiado pelo papel de pai solteiro, Norman retomou a sua obsessão de acumular riqueza e poder, negligenciando o filho. Em consequência desse desafeto, Harry desenvolveria, durante a adolescência, uma dependência de drogas que quase lhe foi fatal. Crescendo na sombra do pai, o jovem tornou-se um adulto depressivo, inseguro e solitário.
Já os negócios de Norman Osborn iam de vento em popa. Tendo como sócio minoritário o Dr. Mendel Stromm, seu antigo professor na UES, Norman fundou um conglomerado industrial, a Oscorp. Quando Stromm desviou dinheiro das contas da empresa, Norman, indiferente às suas justificativas, denunciou o sócio à policia.

Norman Osborn não perdoou o desfalque do ex-sócio.

Com Stromm atrás das grades, Norman assumiu o controlo total da Oscorp e apropriou-se do trabalho do seu ex-mentor. Socorrendo-se das anotações de Stromm, Norman tentou recriar um composto químico capaz de incrementar as capacidades físicas dos humanos. Sempre inescrupuloso, usou, com resultados desastrosos, um funcionário como cobaia.
Apesar de frustrado com a sua pesquisa, Norman não deitou a toalha ao chão. Uma nova mistura revelou-se volátil e explodiu-lhe no rosto. No hospital, Norman recuperou em tempo recorde e conseguia pensar com mais clareza do que nunca. Percebendo que a fórmula o deixara não só mais forte mas também mais inteligente, Norman decidiu banhar-se nela. Ao fazê-lo, abriu mão da última réstia de sanidade mental.
Determinado em alcançar o poder que tanto almejava, Norman Osborn sonhava liderar o cartel criminoso de Nova Iorque. Nesse sentido, criou a persona do Duende Verde (inspirado no monstro que,  na infância, lhe povoava os pesadelos) e procurou unir sob o seu comando todas as quadrilhas independentes a operar na cidade.
Ciente da necessidade de estabelecer uma reputação no submundo, Norman escolheu como alvo ninguém menos do que o Homem-Aranha. Após consecutivas derrotas dos seus sequazes, o Duende Verde resolveu tomar em mãos a missão de destruir o Escalador de Paredes.
Uma missão que ficou facilitada quando o Duende Verde descobriu que o Homem-Aranha era na verdade Peter Parker, um jovem universitário amigo do seu filho. Depois de capturar o herói, Norman desmascarou-se também, antes de permitir a fuga de Peter.

Os inimigos deixam cair as suas máscaras.

Na encarniçada refrega que se seguiu, o Homem-Aranha eletrocutou acidentalmente o Duende Verde. Este sobreviveu mas ficou amnésico.  Desejando resguardar Harry de novo trauma, o Homem-Aranha destruiu a fantasia do Duende Verde no incêndio resultante. À polícia, relatou que Norman Osborn perdera a memória depois de ter sido atacado pelo vilão. 
Meses mais tarde Norman recuperaria, porém, a memória. Sedento de vingança, reviveu o Duende Verde e raptou Gwen Stacy, a namorada de Peter Parker. Durante uma batalha noturna, o vilão, num assomo de sadismo, atirou Gwen do alto de uma ponte. Ao tentar resgatá.la com a sua teia, o Homem-Aranha partiu acidentalmente o pescoço da jovem, matando-a. Essa seria, no entanto, apenas a primeira tragédia na periferia da vida de Peter Parker com a marca do seu némesis.
Com a fúria a rasgar por ele acima, o herói aracnídeo perseguiu o Duende Verde até ao seu covil. No clímax da contenda, o Duende Verde teve o peito transfixado pelo próprio planador.

A morte do Duende Verde não seria o fim do seu vil legado.

Acoitado nas sombras, Harry Osborn testemunhou, impotente, a derrota fatal do pai às mãos do Homem-Aranha e jurou vingança. Seria ele o primeiro a assumir o sinistro legado do Duende Verde, durante o longo período em que Norman Osborn esteve morto para o mundo..
Harry foi curado da sua obsessão com o Homem-Aranha por um psiquiatra chamado Bart Hamilton. Ironicamente, Hamilton tornar-se-ia o terceiro Duende Verde. Mas outros sucessores se perfilaram. 
Anos mais tarde, seria a vez de Phil Urich - sobrinho de Ben Urich, repórter do Daily Bugle -, reclamar para si o legado do Duende Verde. Ao contrário dos seus antecessores, usou-o para benefício da comunidade. 
Por fim, Roderick Kingsley, um milionário excêntrico que descobriu um antigo esconderijo do Duende Verde, criou um pastiche do vilão original chamado Duende Macabro. De entre a chusma de imitadores, foi, sem dúvida, o mais bem-sucedido. 
Nenhum deles imaginava no entanto que Norman Osborn estava vivo, algures na Europa, marinando a sua vingança suprema. Aquela que, anos volvidos, seria servida sob a forma de uma rebuscada conspiração que levou Peter Parker a acreditar ser um clone criado em tempos pelo Professor Miles Warren (vulgo Chacal, outro velho inimigo do Cabeça de Teia). A verdade só seria reposta quando Ben Reilly, o verdadeiro clone, se sacrificou para salvar a vida de Peter. Na mórbida contabilidade da guerra sem quartel entre o Homem-Aranha e o Duende verde, foi ele o segundo ente querido do herói morto às mãos do seu arqui-inimigo.
Numa inesperada reviravolta, desde a morte do filho, devido aos efeitos adversos de uma versão experimental do Soro do Duende, Norman Osborn passou a ver em Peter Parker um herdeiro digno do seu legado. Uma "honra" que Peter rejeitou sem pensar duas vezes, Mas isso não impedirá que ele continue a ser assombrado pelo Duende Verde até ao final dos seus dias. 

Forças opostas em conflito perpétuo.


Miscelânea

*Grande e Terrível, Duende Rei do Crime e Senhor dos Duendes são cognomes pelos quais o Duende Verde está habituado a responder no submundo nova-iorquino onde há muito consolidou a sua temível reputação;
*O Duende Verde foi um dos supervilões a figurar na série A de selos de valor lançados pela Marvel em 1974. Esteve, no entanto, ausente de todas as séries subsequentes;
*Em Amazing Spider-Man #122, quando o Duende Verde morre empalado pelo próprio planador, o Homem-Aranha cita a Bíblia, numa notória referência ao complexo de Deus do seu inimigo: "Assim morrem os homens orgulhosos: crucificados, não numa cruz de ouro, mas numa modesta estaca de lata.";
*Ao matar Gwen Stacy, o Duende Verde destronou o Doutor Octopus como arqui-inimigo do Homem-Aranha. Norman Osborn, considera, aliás, esse um dos seus maiores feitos, dos quais gosta de vangloriar-se. No entanto, num controverso retcon de 2004, intitulado Sins Past (Pecados Pretéritos), foi revelado que ele tivera um affair com Gwen Stacy, poucos meses antes da morte da jovem e quando esta ainda namorava com Peter Parker. Mais escabrosa ainda, a revelação de que desse relacionamento resultara uma gravidez. Gwen terá dado secretamente à luz um casal de gémeos, que Norman criou algures na Europa durante a sua longa ausência. Escusado será dizer que tal heresia mereceu o repúdio dos leitores - em especial, os da velha guarda -, enojados com o revisionismo que transformou a angelical Gwen Stacy numa promíscua;

Norman Osborn e Gwen Stacy, o pecado da carne.

*O Duende Verde foi o primeiro supervilão da Marvel a aparecer num jogo de vídeo: Spider-Man foi desenvolvido em 1982 pela Parker Brothers para a consola Atari 2600;
*Desde 2016 que o Duende Verde ocupa o 24º lugar na tabela dos 100 melhores vilões de todos os tempos divulgada pelo IGN. Entre os seus congéneres da Marvel, apenas Magneto e Doutor Destino conseguiram melhor classificação. No ano anterior, o site Comics Alliance elegera o Duende Verde como o melhor inimigo do Homem-Aranha;
*Na continuidade da Amalgam Comics, o Duende Verde foi combinado com o Duas-Caras da DC, originando o Duende de Duas Caras (alter ego de Harvey Osborn). O uniforme do vilão dessa realidade paralela era em tudo idêntico ao do original. Sob a sua máscara, escondia-se, porém, o rosto desfigurado de Harvey Dent. Em aparições posteriores, o Duende de Duas Caras teria o seu visual retocado e ganharia um planador em forma de moeda gigante. Curiosamente, o Duende Verde é visto por muitos como o Joker da Marvel, ao passo que Norman Osborn tem muito em comum com Lex Luthor;

Duende de Duas Caras.

*O Duende Verde foi o primeiro antagonista do Escalador de Paredes em todas as suas adaptações audiovisuais. O seu salto para fora das vinhetas aconteceu num dos episódios iniciais de Spider-Man, série animada da ABC, no ar entre 1967 e 1970. No cinema, o Duende Verde começou por ser vivido, em 2002, por Willem Dafoe, na longa-metragem Homem-Aranha. Em 2014, seria a vez de Dane DeHann vestir-lhe a pele em O Espetacular Homem-Aranha 2: O Poder de Electro. O Duende Verde foi também o vilão de serviço em Spider-Man: Turn Off the Dark, musical levado à cena na Broadway, e que se manteve em cartaz durante quase três anos.

Dane DeHann (esq.) e Willem Dafoe encarnaram o Duende Verde no cinema.



*Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à norma europeia da Língua Portuguesa;
*Artigos sobre Steve Ditko, Saga do Clone, A Morte de Gwen Stacy, Homem-Aranha e Duende Macabro disponíveis para leitura suplementar.