17 dezembro 2021

HERÓIS EM AÇÃO: CAPITÃO AMÉRICA


   Em 1941, num mundo a preto e branco, o Sentinela da Liberdade vestiu a bandeira tricolor numa cruzada moral contra a hidra fascista e seu cortejo de horrores. Deslocado numa época matizada de cinzento, luta com igual ardor para manter vivo o Sonho Americano de cores cada vez mais esbatidas.

Denominação original: Captain America
Editoras: Timely Comics (1941-1949); Atlas Comics (1953-1954); Marvel Comics (desde 1964)
Criadores: Joe Simon e Jack Kirby
Estreia: Captain America Comics #1 (março de 1941)
Identidade civil: Steven "Steve" Grant Rogers
Espécie: Humano quimicamente aprimorado
Local de nascimento: Lower East Side, Manhattan (Nova Iorque)
Parentes conhecidos:  Joseph e Sarah Rogers (pais, falecidos)
Ocupação: Ex-soldado do Exército dos EUA; ex-oficial de ligação entre a S.H.I.E.L.D. e os Vingadores; aventureiro e artista freelancer
Base operacional: Nova Iorque
Afiliações: Ex-parceiro de Bucky Barnes e do Falcão; membro fundador e ex-líder do Esquadrão Vitorioso e dos Invasores; ex-operacional da S.H.I.E.L.D.; comandante de campo dos Vingadores.
Némesis: Caveira Vermelha
Poderes e parafernália: Steve Rogers é uma espécie de semideus criado em laboratório. Graças ao Soro do Supersoldado que lhe corre nas veias, representa o auge do potencial humano. É mais forte, mais rápido e mais ágil do que os melhores atletas olímpicos, cujos recordes pulverizaria sem esforço.
Além de lhe permitir levantar mais de 350 kg, correr a mais de 90 km/h e executar acrobacias impossíveis, o soro inibe também a produção das toxinas responsáveis pela fadiga muscular. Em tese, o Capitão América nunca sucumbe ao cansaço. Do mesmo modo que dificilmente adoecerá, visto ser imune a todos os vírus e bacilos terrestres. Os seus ossos são também mais densos do que os de um homem comum, permitindo-lhe, por exemplo, sair ileso de quedas de grande altura. Por mais do que uma vez, o Sentinela da Liberdade foi visto a saltar de um avião sem paraquedas.
Dono de um estilo de luta ímpar, combinando boxe e diferentes artes marciais, o Capitão América é considerado um dos melhores combatentes corpo a corpo do Universo Marvel, limitado apenas pelo seu físico humano. Mesmo diante de adversários de nível cósmico, como Thanos, o Sentinela da Liberdade não se intimida e prontifica-se a lutar até ao último fôlego. Tamanha galhardia granjeou-lhe o respeito da comunidade heroica e deixou impressionado o próprio Titã Insano.

O Sentinela da Liberdade não recua perante ninguém. 
Nem mesmo perante titãs cósmicos como Thanos.

O treino militar e a vastíssima experiência em diferentes teatros de guerra fazem do Capitão América um especialista em tática e um comandante de campo sem igual. Durante as primeiras Guerras Secretas, foi ele o escolhido para comandar a contraofensiva dos heróis no planeta de Beyonder - apesar da presença de outros líderes experimentados, como Ciclope e Senhor Fantástico. Habituado a testemunhar de perto a bravura do seu colega Vingador, Thor orgulha-se de lutar ao lado do Capitão América e assume que o seguiria para lá dos portões de Hades.
Como qualquer bom soldado, o Capitão América é inseparável da sua arma. Consistindo esta num escudo indestrutível de formato circular (originalmente triangular), feito de uma liga metálica única composta por aço e vibranium (à qual foi retroativamente acrescentado protoadamantium). Igualmente eficaz em manobras defensivas e ofensivas, foi projetado pelo Dr. Myron McClain, cientista contratado na II Guerra Mundial pelo Presidente Roosevelt para criar uma blindagem impenetrável para os tanques americanos. Contudo, provavelmente devido à ausência de um catalisador adequado, todas as tentativas subsequentes para reproduzir a liga foram malsucedidas, pelo que o escudo do Capitão América (tal como o próprio) é exemplar único em todo o mundo.
Décadas de prática e uma aerodinâmica perfeita possibilitam que o Capitão América arremesse o seu escudo com precisão quase infalível. Numa espetacular demonstração de destreza, consegue atingir sucessivamente múltiplos alvos com um único lançamento antes de o escudo retornar à sua mão, como se de um bumerangue se tratasse.

O Capitão América recebeu o seu escudo das mãos do Presidente Roosevelt.


O escudo do Capitão América pode imitar um bumerangue.

Confecionado com um tecido retardador de fogo, o uniforme do Capitão América é forrado com uma fina cota de malha metálica que lhe proporciona proteção adicional contra objetos perfurantes ou disparos de baixo calibre. Originalmente, a máscara era uma peça independente que, além de lhe deixar o pescoço exposto, podia ser facilmente arrancada. Para evirar que o herói tivesse a sua identidade civil comprometida, esse pormenor depressa foi retificado.
Quando não está ao serviço dos Vingadores, o Sentinela da Liberdade faz-se habitualmente transportar numa potente Harley Davidson modificada pelo departamento de engenharia mecânica da S.H.I.E.L.D. É também um piloto exímio de aeronaves, especificamente do sofisticado jato dos Vingadores.
O Soro do Supersoldado não aperfeiçoou apenas o metabolismo de Steve Rogers; exacerbou também os seus predicados. A sua coragem, integridade e altruísmo fazem dele o reverso virtuoso do Caveira Vermelha (o supersoldado nazi que o precedeu) e uma fonte de inspiração para outros heróis.
É esse aliás o maior dom do Sentinela da Liberdade: o de manter acesa a chama imortal da esperança  quando o espírito humano é entenebrecido pelo desespero. Desde os seus tempos de meninice, Steve Rogers sempre se ergueu em defesa de outros fracos e oprimidos. Um dos motivos porque, segundo Hércules, até os deuses do Olimpo admiram o mais valente dos homens nascidos na Terra dos Bravos.

O Supersoldado em ação.

Fraquezas: A despeito de todos os aprimoramentos físicos concedidos pelo Soro do Supersoldado, Steve Rogers possui praticamente todas as vulnerabilidades inerentes à sua condição de simples humano. Não é à prova de bala (embora os seus reflexos lhe permitam desviar-se de disparos), tampouco dispõe de um fator de cura acelerada (conquanto o seu processo de cicatrização seja mais rápido). Podendo, portanto, ser ferido - ou até morto - com relativa facilidade, se atingido por explosões, rajadas energéticas ou impactos violentos. Ademais, a sua longevidade é um efeito colateral da fórmula milagrosa que o transformou no soldado supremo. Se esta for drenada da sua corrente sanguínea, Rogers envelhecerá décadas em poucos dias. Processo que o debilitará profundamente e que, no limite, lhe será fatal.
Tantas vezes explorada por velhos inimigos, como o Caveira Vermelha ou o Barão Zemo, a maior fraqueza do Capitão América radica, paradoxalmente, na força das suas convicções. Steve Rogers é um homem fora do tempo, cidadão mental de uma época em que o mundo era um quadro a preto e branco e de contornos bem definidos. Mas, como ele aprendeu a duras penas, o mundo mudou sem recuo. Começando pelos próprios EUA, que durante as décadas em que Rogers permaneceu em animação suspensa viveram alguns dos capítulos mais negros da sua história.
O Sonho Americano definha no cinismo da classe política, na amoralidade da elite financeira e na apatia da juventude. Os nobres ideais pelos quais Rogers sempre se bateu são constantemente colocados em xeque. Os inimigos de ontem são os aliados de hoje (e vice-versa). Ideologias outrora repudiadas são agora ensinadas nas universidades. O patriotismo passou de moda e os americanos estão descrentes do futuro. O próprio Capitão América é conotado com o imperialismo ianque. Em face de tudo isto, Steve Rogers já mal reconhece o seu país. 
De tão idealizado que foi o seu legado ao longo dos anos. Rogers teme por vezes não estar à altura dos complexos desafios do mundo moderno, onde parece não haver lugar para aquilo que ele simboliza. Essas crises de confiança, ainda que passageiras, levam-no a questionar o seu verdadeiro papel numa época tão diferente daquela que lhe definiu o caráter.
Pode ser pesado o fardo de uma lenda viva. Especialmente quando não se tem ninguém para ajudar a suportá-lo. Todos os entes queridos de Rogers partiram há muito; fantasmas de um passado tão trágico quanto glorioso. Apesar do seu estatuto de relíquia museológica, o Capitão América sofre de um mal do século XXI: a solidão em si mesmo.

Lágrimas de uma lenda viva.


Primus inter pares

No final de 1940, com a Europa sitiada pela blitzkrieg alemã e a guerra a rondar os noticiários internacionais, a opinião pública americana dividia-se entre o intervencionismo e o isolacionismo. Apesar da prevalência deste último, o presidente-executivo da Timely Comics, Martin Goodman, tinha a firme convicção de que a entrada dos EUA no conflito era uma inevitabilidade. Nesse sentido, encarregou o seu editor-chefe e o seu diretor artístico - respetivamente, Joe Simon e Jack Kirby (ambos recém-contratados à Fox Comics) - de criarem um herói patriótico capaz de traduzir esse dever moral dos sobrinhos do Tio Sam.
Filhos de imigrantes judaicos fugidos às perseguições no Velho Continente, Simon e Kirby repudiavam o antissemitismo de Hitler com o mesmo denodo com que celebravam o Sonho Americano que permitira aos seus pais terem vidas condignas. Enquadrados por esses sentimentos díspares, decidiram fazer uma declaração política a favor do intervencionismo americano, numa fase em que essa corrente de pensamento carecia de um porta-voz forte.
Simon começou por batizar o neófito de Super-American. Mas, dada a profusão de supers por aqueles dias, depressa o renomeou Capitão América. No entanto, não foi ele o primeiro herói de inspiração patriótica da história dos comics. Essa honra pertenceu ao Escudo (The Shield, no original), lançado em janeiro de 1940 pela MLJ/Archie Comics. 

O Escudo (MLJ/Archie Comics) foi o primeiro herói patriótico
 da história dos quadradinhos americanos.

Precedendo em nove meses a entrada dos EUA na II Guerra Mundial, o Capitão América fez a sua estreia em Captain America Comics #1 (março de 1941). A circunstância de isso ter acontecido num título próprio - e não num qualquer almanaque, como era da praxe - sinalizava a confiança que a Timely tinha no valor do seu novo ativo.
Logo nessa primeira história, Simon e Kirby atribuíram ao Capitão América as idiossincrasias que o diferenciavam dos super-heróis mais populares e o tornariam tão apelativo aos leitores. Ao contrário do Super-Homem e do Batman, Steve Rogers não nasceu com poderes divinos nem herdou uma fortuna imensa. Era, ao invés, um jovem franzino cuja fragilidade física contrastava com o vigor dos seus ideais. Alguém inconformado com o avanço da tirania e disposto a morrer pela liberdade.
Apesar de o Capitão América ter superado todas as expectativas comerciais, nem todos se reviam na mensagem que ele transmitia. Nas semanas seguintes ao lançamento da sua revista, Simon e Kirby receberam ameaças de morte enquanto grupos isolacionistas protestavam ruidosamente diante do edifício da Timely. Temendo pela segurança dos autores, o mayor La Guardia - apoiante confesso do intervencionismo - atribuiu-lhes uma escolta policial.
A esses protestos somou-se uma acusação de plágio por parte da MLJ, que descortinara evidentes semelhanças entre o escudo triangular do Capitão América e o traje do seu Escudo. Em consequência disso, o Sentinela da Liberdade passou a portar um disco côncavo a partir de Captain America Comics #2. Por sugestão de Stan Lee, o novo escudo seria convertido em arma de arremesso na edição seguinte.

O Sentinela da Liberdade esmurra Hitler
 na polémica capa de Captain America Comics #1 (março de 1941).

Após a entrada dos EUA na guerra, o Capitão América consolidou o seu estatuto de campeão de vendas da Timely, com a sua revista mensal a alcançar uma tiragem média de um milhão de exemplares. Apesar de isso indiciar uma audiência mais abrangente, as crianças constituíam a maior parte dos seus leitores. Para muitas delas, Steve Rogers representava os seus entes queridos destacados para o exterior. Cientes disso, Simon e Kirby criaram um clube de fãs (os Sentinelas da Liberdade) e atribuíram um adjunto juvenil ao Capitão América. Tal como o Menino-Prodígio da Distinta Concorrente, Bucky Barnes (homenagem de Simon ao ex-capitão da equipa de basquetebol da sua escola) depressa se tornou um ídolo para os mais novos. 
A enorme popularidade do Capitão América pavimentou caminho para um regimento de epígonos que marchavam sob os estandartes da liberdade e do oportunismo. Captain Freedom (Harvey Comics), Uncle Sam (Quality Comics) e The Flag (Ace Magazines) foram alguns dos muitos concorrentes que disputaram ao Sentinela da Liberdade o título de patriota supremo. Mas o Capitão América provou ser primus inter pares, ofuscando os rivais com o brilho dos seus ideais.
Com o declínio dos super-heróis no pós-guerra, o Capitão América resistiu até 1949, ano em que a sua revista - renomeada Captain America Weird Tales nos seus números finais - foi cancelada. Como tantos outros heróis da Idade de Ouro, o Sentinela da Liberdade parecia condenado a desaparecer nos alçapões da História. Até que em 1953, à boleia do sucesso da série televisiva do Homem de Aço, a Atlas Comics (sucessora da Timely e antecessora da Marvel) reviveu brevemente o Capitão América. 
Nos alvores da Guerra Fria e do macarthismo, o redivivo herói embarcou numa feroz cruzada contra o comunismo. Porém, a fraquíssima adesão dos leitores a este novo alinhamento ideológico ditou novo cancelamento da série ao fim de apenas três edições. 

Sob o selo da Atlas Comics, o Capitão América
 ganhou o epíteto de Commie Smasher (Esmagador de Comunas).

Após uma década longe da vista e do coração, o Capitão América seria novamente revivido, desta feita por Stan Lee e Jack Kirby. Agora sob o selo da Marvel Comics,  Avengers #4 (março de 1964) marcou o regresso definitivo da Lenda Viva.
Agora um homem fora do tempo, Steve Rogers procurava ajustar-se a um mundo muito diferente daquele que conhecera, ao mesmo tempo que aprendia a lidar com os sentimentos de culpa em relação à morte de Bucky. Ingredientes dramáticos que lhe permitiram recuperar o seu lugar de direito no panteão da Marvel. De figura anacrónica, passou a herói intemporal.
A evolução do Capitão América reflete, com efeito, a transformação da sociedade americana desde a II Guerra Mundial. Antes dos EUA entrarem no conflito, ele foi símbolo do intervencionismo numa nação fechada sobre si mesma. Nos anos da guerra, foi instrumento de propaganda nacionalista e militarista num mundo a preto e branco. A escala de cinzentos do pós-guerra forçou-o a despir a pele de cruzado moral. Independentemente de tudo isso, o Capitão América chega aos nossos dias com o seu prestígio incólume. O que significa que as notícias sobre a morte do Sonho Americano são manifestamente exageradas.

80 anos ao serviço da Liberdade, da Justiça e do Modo Americano.


Nascido a 4 de Julho

Único filho de um humilde casal de imigrantes irlandeses, Steve Rogers nasceu a 4 de julho de 1920 (ou 1922, dependendo da fonte consultada), no Lower East Side, bairro operário na parte sudeste de Nova Iorque que também serviu de berço aos seus autores. O facto de ter vindo ao mundo no dia em que os EUA celebram a sua independência só pode ser interpretado como um sinal daquilo que os astros lhe haviam reservado.
No entanto, nada fazia prever que aquele menino de saúde frágil viria a ser o soldado supremo e o símbolo de toda uma nação. Pouco mais se sabe sobre a sua infância, além do seu gosto por desenhar e de ter ficado órfão de pai antes de completar o seu sexto aniversário.
Enquanto crescia com as agruras da Grande Depressão, Steve interiorizava os valores que a sua mãe lhe inculcava: honra, patriotismo, espírito de sacrifício em prol do bem maior. Quando Sarah Rogers sucumbiu a uma pneumonia, Steve, na ponta final da puberdade, ficou sozinho e desamparado num mundo que caminhava em passo estugado para a guerra.
Horrorizado com as notícias acerca das atrocidades cometidas pelos nazis na Europa e pelos japoneses na Ásia, Steve sentiu que tinha de fazer algo e tentou alistar-se no Exército. No entanto, devido ao seu extenso catálogo de enfermidades (asma, raquitismo, arritmia cardíaca, etc.), foi classificado como inapto para o serviço militar.

Steve Rogers foi rejeitado pelo Exército,
 devido à sua fraqueza física e à sua saúde precária.

Inconsolável, Steve implorou para que o deixassem lutar pelo seu país, captando assim a atenção do general Chester Phillips. Foi pela mão dele que participou no Projeto Renascimento, um programa científico ultrassecreto que objetivava a criação de um exército de supersoldados capazes de travar as imparáveis hordas nazis que já haviam conquistado metade do Velho Continente. 
Num laboratório subterrâneo em Washington D.C., Steve foi apresentado ao Professor Joseph Reinstein e inoculado com o seu Soro do Supersoldado. Em seguida, foi bombardeado com raios vita, combinação de diferentes tipos de radiação projetada para acelerar e estabilizar os efeitos do composto químico no seu organismo.
Concluída a experiência, Steve estava irreconhecível. O jovem atrofiado dera lugar a um espécime apolíneo. Os festejos foram no entanto interrompidos pelos disparos de um espião nazi, que assim cumpriu a sua missão de assassinar o Professor Reinstein. 


O Soro do Supersoldado transformou o frágil Steve Rogers num Adónis.

Com a morte de Reinstein e a sua fórmula incompleta, Steve tornou-se o único supersoldado do Exército americano. Depois de submetido a um programa de treino intensivo no plano físico e no plano tático, o Capitão América recebeu o seu icónico escudo e a sua primeira missão: confrontar o seu homólogo nazi, o sinistro Caveira Vermelha.
Nos intervalos entre missões, o Capitão América fazia-se passar por um bisonho recruta de Infantaria, em Camp Lehigh (Virgínia). Foi lá que contraiu estreita amizade com Bucky Barnes, um jovem órfão que era a mascote do regimento.  Bucky ofereceu-se para lutar ao lado do Capitão América, depois de descobrir que ele e Steve Rogers eram a mesma pessoa.
Além de Bucky, o Capitão América travou incontáveis batalhas ao lado do Esquadrão Vitorioso e dos Invasores. As suas façanhas tornaram-se lendárias nos quatro cantos do mundo e foram decisivas para a vitória aliada na II Guerra Mundial. Porém, glória e tragédia andam quase sempre de mãos dadas.
Em abril de 1945, nas vésperas da derrocada do III Reich, o Capitão América e Bucky foram dados como mortos. Quando tentavam desativar uma bomba instalada num avião projetado pelo Barão Zemo, Bucky foi apanhado pela explosão do engenho e o Capitão América despencou nas águas geladas do Atlântico Norte.

O Capitão América foi a resposta dos EUA
 ao Caveira Vermelha, o supersoldado nazi.

Uma vez mais, porém, o destino tinha outros planos para Steve Rogers. Durante as duas décadas seguintes, permaneceu em animação suspensa, aprisionado num bloco de gelo arrastado pelas fortes correntezas. Até ser acidentalmente descongelado pelo seu ex-aliado Namor e resgatado pelos incrédulos Vingadores - que logo passaria a comandar.
De volta ao mundo dos vivos, o Capitão América passou a enfrentar novas e velhas ameaças. Muitos dos seus antagonistas recorrentes corporizam ideologias contrárias aos valores americanos em defesa dos quais o herói continua a erguer bem alto o seu escudo: Caveira Vermelha (nazismo), IMA (fascismo tecnocrático), Corporação Roxxon (capitalismo amoral), Apátrida (antipatriotismo) e Hydra (terrorismo internacional). Ontem como hoje, o Sentinela da Liberdade mantém-se vigilante e pronto a sacrificar-se pelo seu país.

Guardião espiritual do Sonho Americano.


Miscelânea

*Além de Sentinela da Liberdade, o Capitão América é também cognominado Lenda Viva, Supersoldado, Homem Fora do Tempo, Flagelo de Todo o Mal, Cabeça Alada e Porta-Bandeira;
*Apesar de ter sido o primeiro Capitão América, Steve Rogers não foi o único a portar o escudo e a fazer da Stars and Stripes a sua segunda pele. William Naslund ( vulgo Independente), Jeffrey Mace (Patriota) William Burnside, John Walker (Superpatriota) e, mais recentemente, Bucky Barnes e Sam Wilson (Falcão) foram alguns dos homens que assumiram o legado do Sentinela da Liberdade durante a sua ausência. Infelizmente, nem todos estiveram à altura dele;

Alguns dos homens que já assumiram o legado do Sentinela da Liberdade.

*Steve Rogers é um dos raríssimos humanos dignos de empunharem o Mjolnir. A primeira vez que tal aconteceu foi em Mighty Thor #390 (abril de 1988), durante a invasão de Seth e seus seguidores à Mansão dos Vingadores. Ironicamente, Rogers havia sido pouco tempo antes exautorados pelo Governo americano, tendo sido obrigado a criar um novo alter ego, passando a atender simplesmente por Capitão. Na sequência desses eventos, o Deus do Trovão expressou a sua vontade de que, em caso de morte, o seu martelo encantado deveria ser confiado a Rogers;
*Antes de ser recrutado para o Projeto Renascimento, Steve Rogers era um promissor artista gráfico. Após o seu descongelamento, trabalhou durante algum tempo para a Marvel Comics como ilustrador freelancer. Uma das personagens a quem emprestou o seu traço foi o próprio Capitão América. Ocasionalmente, Rogers criticava os argumentistas por falharem em compreender aquilo que o herói representava;
*Agastados com o revivalismo da sua criação pela Atlas Comics no ano anterior, em 1954 Joe Simon e Jack Kirby criaram uma paródia do Capitão América. Fighting American começou por ser apadrinhado pela Prize Comics antes de, a meio da década seguinte, se transferir para a Harvey Comics, onde encerrou a sua meteórica carreira editorial na Idade de Prata. Impregnadas de subtexto político e humor mordaz, as histórias de Fighting American satirizavam a paranoia anticomunista fomentada pelo macarthismo, à qual o Capitão América dava corpo naquela época;

Fighting American parodiava o Capitão América.

*Em 1966, Joe Simon moveu uma ação legal contra a Marvel Comics, declarando-se o legítimo detentor dos direitos autorais do Capitão América. A despeito do entendimento alcançado entre as duas partes nesse mesmo ano, o diferendo só ficaria definitivamente resolvido em 2003. No âmbito de um acordo extrajudicial, a Marvel, mesmo considerando improcedentes as reivindicações de Simon, concordou em pagar-lhe royalties referentes à venda de merchandising e ao licenciamento da personagem;
*Steve Rogers é incapaz de embriagar-se. Acelerado pelo Soro do Supersoldado, o seu metabolismo neutraliza, quase instantaneamente, os efeitos do álcool ou de qualquer outra substância psicotrópica por ele consumida;
*Não obstante o duelo entre o Capitão América e o Batman - apresentado em Marvel vs DC (1996) - ter terminado empatado, no mesmo crossover o Sentinela da Liberdade levou a melhor sobre Bane, o vilão que deixara Bruce Wayne paralítico, em Knightfall (1994). Em face dessa proeza, Batman reconhece que, apesar de as habilidade de combate de ambos se equivalerem, o Capitão América seria capaz de derrotá-lo devido às vantagens físicas conferidas pelo Soro do Supersoldado;
*No Universo Amálgama, o Capitão América foi fundido com duas personagens da DC: Super-Homem e Capitão Marvel Jr. Desse processo resultaram, respetivamente, Supersoldado e Capitão América Jr.; 

Clark Kent, o Supersoldado do Universo Amálgama.

*Em resposta ao recrudescimento das tensões raciais nos EUA, em 1969 a Marvel emparelhou o Capitão América com o seu primeiro herói afrodescendente. Falcão seria o  parceiro mais duradouro do Sentinela da Liberdade na sua cruzada em defesa do Sonho Americano;
*No início dos ano 90, a banda de rock escocesa Eugenius, sob ameaça de um processo interposto pela Marvel, foi obrigada a mudar de nome, depois de ter lançado um par de álbuns como Captain America;
*Em fevereiro de 2007, no rescaldo da Guerra Civil, o Capitão América foi alvejado na escadaria do Capitólio, a caminho do seu julgamento. A sua morte (entretanto revertida) causou enorme choque e comoção tanto no Universo Marvel como no mundo real. O New York Times, por exemplo, fez manchete do sucedido, retratando Steve Rogers como expressão e signo do ideal americano;
*A estreia do Capitão América em Terras Tupiniquins remonta a junho de 1943, no 73º número de O Guri, suplemento juvenil do Diário da Noite - o primeiro a ser editado no mesmo formato dos comic books americanos;
*Na lista dos cem melhores super-heróis de todos os tempos, divulgada em 2011 pelo portal de entretenimento IGN, o Capitão América surge em 6º lugar. Dentre os seus congéneres da Casa das Ideias, apenas Homem-Aranha (3º) e Wolverine (4º) conseguiram melhor classificação;
*O Capitão América foi o primeiro herói da Marvel a fazer a transição para o celuloide. Em 1944, Dick Purcell tornou-se o primeiro ator a interpretar o Sentinela da Liberdade em Captain America, série cinematográfica em 15 capítulos produzida pela Republic Pictures - e com assinaláveis diferenças relativamente ao cânone. Antes de se tornar o porta-bandeira do MCU - onde, de 2011 a 2019, foi encarnado por Chris Evans - o Sentinela da Liberdade teve direito a dois telefilmes - Captain America e Captain America: Death Too Soon (ambos de 1979 e estrelados por Reb Brown) - e, em 1990, o filme Captain America (com Matt Salinger como protagonista) foi lançado diretamente em vídeo. O impressionante lastro mediático do Capitão América, refletindo a sua importância no imaginário coletivo, abrange igualmente dezenas de animações, jogos de vídeo e até novelas literárias.

Dick Purcell, Reb Brown, Matt Salinger e Chris Evans encarnaram a Lenda Viva.




*Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à norma europeia da Língua Portuguesa.
*Artigos sobre Joe Simon, Timely Comics e Caveira Vermelha disponíveis para leitura complementar.