04 maio 2019

RETROSPETIVA: «FLASH GORDON»



  Ao som da eletrizante banda sonora dos Queen, o herói interplanetário imaginado por Alex Raymond voltou a salvar o Universo, mas não o próprio filme. Uma extravagante ópera espacial a meio caminho entre o ridículo e o sublime que continua a ser reverenciada por muitos cinéfilos.

Titulo original: Flash Gordon 
Ano: 1980
País: EUA/ Reino Unido
Duração: 111 minutos
Género: Ficção Científica / Aventura / Super-heróis
Produção: Dino De Laurentiis Company
Realização: Mike Hodges 
Argumento: Lorenzo Sample Jr. e Michael Allin 
Distribuição: Universal Pictures 
Elenco: Sam J. Jones (Flash Gordon), Melody Anderson (Dale Arden), Max Von Sydow (Imperador Ming), Topol (Hans Zarkov), Ornella Muti (Princesa Aura), Timothy Dalton (Príncipe Barin), Brian Blessed (Príncipe Vultan), Peter Wyngarde (Klytus) e Mariangela Melato (Kala)
Orçamento: 35 milhões de dólares
Receitas: 27, 2 milhões de dólares (valor referente apenas ao mercado doméstico)

No reino do improviso

Por certo um dos mais caros improvisos da história da 7ª Arte, à primeira vista Flash Gordon tinha tudo para ser um sucesso. Ao orçamento milionário somava-se um elenco estelar, um realizador consagrado e uma das mais icónicas bandas sonoras de sempre. Apesar de tudo isso, o filme naufragou nas bilheteiras, sendo ainda hoje apontado como exemplo de trash movie. O que correu mal, afinal? Como foi possível uma promissora ópera espacial descambar numa espalhafatosa marcha dos desalinhados?
Revisitar os segredos de bastidores de Flash Gordon equivale a elencar os capítulos de um desastre anunciado. Difícil é perceber o exato momento em que o projeto descarrilou e entrou numa roda viva.
Para melhor percebermos o que se passou, temos de começar por retroceder no tempo; mais precisamente até meio da década de 1970. Quando George Lucas, então um jovem e desconhecido cineasta que crescera a ler as histórias de Flash Gordon, procurou obter os direitos da personagem junto do produtor italiano Dino De Laurentiis. Adaptar o seu ídolo de infância ao grande ecrã era um sonho antigo de George Lucas. Face à recusa de De Laurentiis, o realizador decidiu criar (com os resultados sobejamente conhecidos) a sua própria saga espacial. O sucesso retumbante de Star Wars seria, de resto, o mote para o lançamento de Flash Gordon. E, como mais adiante se perceberá, uma das causas do seu fracasso.
Com a revitalização do género ficção científica em curso, De Laurentiis percebeu que a conjuntura seria propícia ao regresso de Flash Gordon ao grande ecrã, após uma longa ausência de quase 30 anos. Frederico Fellini, seu compatriota, foi o primeiro realizador escolhido para capitanear o projeto. Apesar do cineasta italiano ter adquirido os direitos da personagem, acabaria, inexplicavelmente, por nunca fazer o filme. Fellini seria, ainda assim, homenageado no filme ao emprestar o seu nome à mascote da Princesa Aura.

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Falecido em 2010, Dino De Laurentiis
 produziu em vida mais de 250 filmes, 

entre eles Barbarella (1968).
De Laurentiis não esmoreceu e escolheu então o britânico Nicolas Roeg para escrever e dirigir a almejada longa-metragem baseada no aventureiro interplanetário imaginado por Alex Raymond (perfil disponível neste blogue). Roeg realizara em 1976 The Man Who Fell to Earth, obra cultuada pelos fãs de ficção científica. Prefigurando-se, portanto, como o homem certo para a função. Algo que o tempo (e De Laurentiis) se encarregariam de desmentir.
Após um ano de isolamento autoimposto ( período em que leu todo o material relacionado com Flash Gordon a que conseguiu deitar a mão), Roeg apresentou a sua proposta de argumento a De Laurentiis. Este não ficou, porém, nada impressionado com o que leu e vetou-a sem apelo nem agravo. Ao que parece, a abordagem de Roeg não primava pela fidelidade às histórias canónicas. O próprio reconheceria mais tarde ter feito uma arrojada reinterpretação do conceito original, infundindo-o de elementos metafísicos, como apresentar Flash Gordon como uma espécie de messias simbólico.
Precavendo novas divergências criativas - e já após a inevitável demissão de Roeg -, De Laurentiis contratou Mentor Hubner para desenhar os storyboards que serviriam de suporte gráfico à produção. Emulando a sofisticada estética das tiras originais, as ilustrações de Hubner invocavam amiúde painéis de banda desenhada.
Em paralelo, Sam Peebles, autor de um dos mais emblemáticos episódios de Star Trek, escrevia uma nova versão do enredo. A qual nunca viria a ser conhecida, já que, por razões que a própria razão desconhece, De Laurentiis dispensou os serviços de Peebles e contratou Lorenzo Sample Jr., seu habitual colaborador com quem havia trabalhado recentemente no remake de King Kong. Sample fora também argumentista e produtor-executivo da série televisiva de Batman com Adam West, celebrizada pelos seus elementos kitsch.
A diretiva de De Laurentiis era clara: ele queria que o filme fosse divertido e fiel ao material original. O problema é que, no seu entendimento, isso significava ser necessariamente engraçado, algo que Flash Gordon nunca foi.
De Laurentiis prosseguia entretanto a sua demanda por um realizador. Após ter recebido uma "nega" de outro seu patrício, Sergio Leone, a sua escolha recairia sobre Mike Hodges. Nascido em terras de Sua Majestade, Hodges alcançara a consagração ao dirigir Get Carter, em 1971.

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Mike Hodges foi o 8º realizador cogitado
 para dirigir Flash Gordon.
Com o projeto em marcha avançada, seguiu-se a escolha do elenco. Kurt Russell era o preferido de De Laurentiis para interpretar Flash Gordon. Por considerar a personagem unidimensional, o ator recusou, no entanto, o papel. Já Arnold Schwarzenegger seria descartado devido ao seu denso sotaque austríaco. Abrindo dessa forma caminho a um protagonista improvável.
Um ilustre desconhecido praticamente sem experiência de representação, Sam J. Jones foi o eleito para assumir o papel que pertencera no passado a Buster Crabbe e Steve Holland. Ao que consta, Jones chamara a atenção da madrasta de De Laurentiis ao participar num episódio de The Dating Game, programa televisivo que, nos anos 60 e 70, promovia encontros às cegas, e que, entre outros, retirou do anonimato Tom Selleck e Farrah Fawcett. Mais habituado a posar para revistas como a Playgirl, o currículo de ator de Sam Jones resumia-se a uma pequena participação em 10, filme erótico em que contracenara com Bo Derek.

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Sam Jones numa produção fotográfica para a Playgirl.
Outra das escolhas pessoais de De Laurentiis, Melody Anderson relutou em aceitar o papel de Dale Anderson. A exemplo de Kurt Russel, a atriz considerava a sua personagem demasiado monótona. Se o apolíneo Flash Gordon era um arquétipo varonil, de Dale Arden esperava-se que fosse a típica rapariga da porta ao lado. Graças à insistência de De Laurentiis, Melody Anderson acabaria mesmo por aceitar aquele que, ironicamente, seria o papel mais importante da sua medíocre carreira.
Quem aceitou de bom grado interpretar o crudelíssimo Imperador Ming foi Max Von Sydow, admirador incondicional de Flash Gordon desde os seus verdes anos. A sua prestação dramática destoaria aliás num filme  em que vários dos seus colegas pareciam atuar em piloto automático (ou não saber, de todo, representar).
Entre os inúmeros estorvos nocivos que marcaram a rodagem da película, destacou-se desde logo a barreira linguística. Metade da equipa era britânica, a outra italiana e nem sempre era fácil a comunicação entre elas. Apesar de fluente em Inglês, De Laurentiis contratou uma conterrânea para lhe traduzir todos os textos para italiano. Sucede que os conhecimentos da senhora em relação à língua de Shakespeare eram, na melhor das hipóteses, rudimentares, o que deu azo a todo o tipo de equívocos, para desespero do realizador Mike Hodges. Que, a dada altura, perdeu por completo o controlo da produção.
Um bom exemplo do regabofe instalado no set foi a partida de futebol americano improvisada por Sam Jones em plena Sala do Trono. Apesar de inspirada, a cena não constava no guião, tão-pouco a coreografia de cheerleader executada por Melody Anderson. Saltar para a frente da câmara enquanto gritava "YEAH!" foi outro improviso de Sam Jones, uma vez que ninguém fazia ideia de como terminar o filme.

Uma das mais memoráveis cenas de Flash Gordon
foi na verdade um improviso de Sam Jones.
Como se isso não bastasse, Sam Jonse, uma bomba de testosterona, envolveu-se em várias escaramuças nos intervalos das filmagens. De uma delas resultou um enorme arranhão na face que só seria disfarçado com recurso a uma cirurgia plástica, e que deixou De Laurentiis à beira de um ataque de nervos. O limiar crítico da paciência do produtor seria, porém, ultrapassado após nova tropelia de Jones. Alegadamente devido à falta de pagamento, o ator não regressou ao set após as férias natalícias.
Com o protagonista em paradeiro incerto quando faltava ainda fazer a edição final, coube a um ator anónimo dobrar as suas falas no filme. Nada que impedisse Jones de processar De Laurentiis por violação contratual. Tal como o restante elenco, o contrato de Jones contemplava duas sequelas, as quais foram inviabilizadas pelo fracasso comercial daquele que deveria ter sido o primeiro capítulo de uma trilogia.
Mesmo os que desprezam Flash Gordon já em algum momento das suas vidas vibraram ao som do eletrizante tema principal da sua banda sonora com a assinatura dos Queen. No entanto, se tivesse dependido da vontade de Mike Hodges, esta teria ficado a cargo dos Pink Floyd. De Laurentiis nunca tinha sequer ouvido falar nos Queen, cujo empresário foi determinante para a sua inclusão no projeto. Depois do exemplo pioneiro dos The Who em Tommy (1975), Flash Gordon tornou-se, assim, um dos primeiros filmes a ter uma banda sonora composta, produzida e interpretada por um grupo rock.

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Da autoria dos Queen, a banda sonora de Flash Gordon
 é uma das mais icónicas da história do cinema.
Sob uma revoada de críticas e elogios, a estreia mundial de Flash Gordon teve lugar a 5 de dezembro de 1980. No mercado norte-americano, as suas receitas ficaram, porém, muito abaixo do esperado. A culpa, segundo Lorenzo Sample Jr., foi de Star Wars, que instituíra um novo paradigma para o género.
Mesmo com um orçamento três vezes inferior, o capítulo inaugural da saga de George Lucas cativara o público com uma trama sólida e efeitos especiais convincentes. Ou seja, tudo aquilo que faltava a Flash Gordon. Que, com o tempo, se transformaria num obra de culto para cinéfilos de todo o mundo, sendo amplamente referenciada em filmes como Ted (2012).

Enredo

Para aliviar o tédio, o Imperador Ming do planeta Mongo diverte-se a causar furacões, sismos e outros desastres aparentemente naturais na Terra.
Em Nova Iorque, o astro do futebol americano Flash Gordon embarca num pequeno avião onde viaja também Dale Arden, uma agente de viagens. Em pleno voo, o cockpit da aeronave é atingido por fragmentos de rocha incandescente e os pilotos desaparecem sem deixar rasto.
Flash assume os comandos do avião e, a muito custo, consegue aterrá-lo na estufa do Dr. Hans Zarkov. O destrambelhado cientista acredita que as catástrofes que vêm assolando o mundo têm origem extraterrestre, e que algo (ou alguém) anda a interferir com a órbita da Lua.
Convicto da sua teoria, Zarkov construíra em segredo um foguete espacial para poder investigar os estranhos fenómenos atmosféricos. Quando o seu assistente se recusa a embarcar na nave, Zarkov, de pistola em punho, obriga Flash e Dale a acompanharem-no na sua jornada nas estrelas.
O foguete espacial de Zarkov despenha-se no exótico planeta Mongo e o trio de ocupantes é imediatamente capturado por soldados e levado à majestática presença do Imperador Ming. Feitas as devidas apresentações, o déspota, tomado pela lascívia, ordena que Dale seja incluída no seu harém. Flash ainda procura resistir, mas é subjugado e deixado inconsciente.

Dr. Hans Zarkov (Chain Topol), Dale Arden (Melody Anderson) e Flash Gordon (Sam J. Jones)
Flash, Dale e Zarkov num tête-à-tête com Ming (em baixo, ladeado por Klytus, chefe da sua polícia secreta).
Max von Sydow no papel do Imperador Ming
Intuindo a ameaça que Flash Gordon poderá representar para o seu poderio, Ming ordena a sua execução e a reprogramação mental de Zarkov, cujo brilhante intelecto pretende colocar ao seu serviço.
Transportado para uma câmara subterrânea, Flash Gordon recebe uma injeção letal. No entanto, seduzido pela Princesa Aura ( filha de Ming), o médico responsável pela execução aplica-lhe um antídoto que reverte o processo.
Durante a fuga que se segue, Flash vê Zarkov a ser lobotomizado por Klytus, o tenebroso chefe da polícia secreta de Ming. Sem tempo para acudir ao amigo, Flash parte com Aura para Arbória, reino governado pelo Príncipe Barin, o amante secreto da princesa.
A meio da viagem a bordo de uma nave roubada, Aura, rendida aos encantos de Flash, ensina-o a usar um comunicador telepático para contactar Dale. A jovem rejubila ao saber que Flash está afinal vivo e, encorajada por ele, consegue escapulir-se para fora dos aposentos de Ming após drogar uma das suas aias.
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Flash recebe a inesperada ajuda da filha de Ming.
Dado o alerta, Klytus envia Zarkov para intercetar Dale, ignorando que o cientista resistira à reprogramação mental a que fora submetido. Dale informa Zarkov que Flash está vivo e, juntos, escapam de Mingo City, a capital de Mongo. A sua fuga é, contudo, interrompida pelos Homens-Falcão do Príncipe Vultan, sendo levados para Sky City, a cidade flutuante que serve de lar ao povo alado.
Flash e Aura chegam, entretanto, a Arbória. Acedendo ao pedido da amante, o Príncipe Barin oferece guarida a Flash, prometendo mantê-lo são e salvo.
No entanto, tão logo Aura abandona Arbória, Barin, consumido pelo ciúme, impele Flash a participar num antigo ritual de iniciação. Consistindo este em enfiar a mão através dos buracos abertos no tronco oco de uma árvore, dentro do qual repousa um escorpião cujo veneno causa uma morte lenta e agonizante precedida de loucura.
Depois de Flash ter conseguido escapar à picada letal, Barin força-o a nova tentativa. Numa manobra de distração, Flash finge ter sido picado pelo escorpião e coloca-se em fuga. Com Barin no seu encalço, são ambos capturados pelos Homens-Falcão.
No palácio imperial, Klytus informa Ming de que Flash Gordon está vivo e este concede-lhe plena autoridade para descobrir o responsável. Acabada de regressar a Mongo, a Princesa Aura é presa e sujeita às sádicas sevícias de Kala e Klytus, os torcionários de Ming.
Extorquida a confissão de Aura, Ming condena a filha ao degredo na lua gelada de Frigia. Mas apenas depois de o seu enlace com Dale Arden ter sido consumado.
Em Sky City, Flash e Barin são obrigados a travar um duelo mortal para diversão de Vultan e horror de Dale e Zarkov. Apesar de levar a melhor sobre o seu adversário, Flash poupa a vida de Barin, que assim se torna seu aliado.

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Flash e Barin num duelo mortal.
Klytus e os seus sequazes chegam a Sky City, mas são mortos por Barin e Flash. Temendo as previsíveis represálias por parte de Ming, o Príncipe Vultan ordena a evacuação da cidade, deixando o quarteto de forasteiros entregue à sua sorte.
Ming desembarca em Sky City e, impressionado com as façanhas de Flash Gordon, oferece-lhe a regência de um território de Mongo em troca da sua lealdade. Perante a firme recusa do seu interlocutor, Ming ordena a prisão de Barin, Dale e Zarkov e a destruição do reino dos Homens-Falcão.
Deixado para morrer, Flash encontra um jet ski voador e consegue escapar à iminente destruição de Sky City. Enquanto cruza os céus de Mongo, o herói entra em contacto com Vultan, refugiado com o seu povo em Arbória, e convence-o a participar numa ofensiva contra Mingo City.
Montado no seu jet ski voador, Flash finge atacar sozinho a capital de Mongo. Ato contínuo, Kala envia Ajax, um imponente foguetão de guerra, para intercetá-lo. A nave é emboscada pelos Homens-Falcão e Flash assume os comandos, investindo com ela sobre Mingo City. Quase em simultâneo, a Princesa Aura liberta Barin e Zarkov da masmorra onde se encontravam confinados.
Sam J. Jones como Flash Gordon
Flash lidera o ataque dos Homens-Falcão a Mingo City.
Ao mesmo tempo que a sumptuosa cerimónia de casamento de Ming e Dale Arden tem início e Flash se aproxima de Mingo City, Kala ativa um campo de força para rechaçar o ataque. Vultan informa Flash que o campo de força só poderá ser atravessado numa manobra suicida. Sem hesitar, Flash voluntaria-se para pilotar o Ajax, abrindo caminho para a invasão dos Homens-Falcão.
Numa tentativa desesperada para evitar o sacrifício de Flash, Barin e Zarkov invadem a sala de comando a partir da qual é ativado o campo de força. Kala recusa-se a desativá-lo e é morta por Barin.
Sem saberem como desativar os escudos, Barin pede a Zarkov que continue a tentar fazê-lo enquanto ele se dirige ao Setor Alfa 9. É lá que se encontram os geradores atómicos que alimentam o campo de força, o qual Barin consegue desligar segundos ante da colisão fatal.
Flash aponta Ajax para o salão do palácio imperial onde decorre o casamento, e Ming é empalado pela antena pontiaguda que adorna a proa da nave.
Gravemente ferido, Ming recusa a oferta de Flash de lhe poupar a vida se ele deixar a Terra em paz. Em resposta, Ming usa o seu anel energético para tentar matar Flash. Mas o aparato claudica e nada acontece. Ming aponta então o anel sobre si próprio, sendo aparentemente vaporizado segundos antes de terminar a contagem decrescente para a destruição do nosso mundo.
Com Mongo libertado do jugo imposto por Ming, Aura e Barin são aclamados como os novos governantes e Vultan é nomeado comandante supremo do Exército Imperial.
Zarkov confidencia a Flash e Dale que não sabe como irão regressar a casa. Barin convida-os a ficarem mas Dale anseia por voltar ao bulício de Nova Iorque.
A cena final mostra o anel de Ming a ser apanhado do chão ensanguentado por uma mão enluvada. Os créditos começam a rolar no ecrã ao som da ferina gargalhada do vilão até surgir a palavra "Fim" antes de lhe ser acrescentado um ponto de interrogação.

Trailer 




Prémios e nomeações: Apesar das várias indicações para prémios de grande prestígio, designadamente os BAFTA e os Saturn Awards (respetivamente, nas categorias de melhor banda sonora e melhor filme de ficção científica), Flash Gordon não logrou arrecadar nenhum deles. A título individual, porém, Max Von Sydow teve o seu currículo abrilhantado com um Marshall Trophy para melhor ator secundário. Em sentido inverso, Sam Jones foi nomeado para o Razzie Award de pior ator e dividiria com Melody Anderson o Stinker Award para pior casal protagonista.

Curiosidades

*Alex Raymond criou Flash Gordon em 1934 para competir diretamente com Buck Rogers, aventureiro espacial de matriz literária surgido meia dúzia de anos antes. As tiras de Flash Gordon depressa ofuscaram as do rival, sendo adaptado ao cinema pouco tempo depois. Entre 1936 e 1940, o herói protagonizou três séries no grande ecrã (Flash Gordon, Flash Gordon Trips to Mars e Flash Gordon Conquers de Universe) estreladas pelo ex-nadador olímpico Buster Crabbe. Ironicamente, Crabbe interpretaria também Buck Rogers numa produção similar;
*Originalmente um jogador de polo, na sua longa-metragem Flash Gordon é apresentado como um astro do futebol americano por ser esse um desporto muito mais popular em terras do Tio Sam;

FLASH GORDON - 70 ANOS DE GIBIS -  :: Breve Histórico sobre GIBIS - Década de 1940 - Belíssimo desenho de Alex Raymond, seu criador.

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Flash Gordon pelo traço do seu criador (cima)
 e interpretado por Buster Crabbe.
*Envergar os sumptuosos paramentos de Ming requeria apreciável esforço físico da parte de Max Von Sydow, já que o peso dos mesmos ultrapassava os 30 quilos. Devido ao desconforto que daí advinha, o ator conseguia apenas manter-se de pé durante breves minutos;
*Ming destrói planetas em tributo ao grande deus Daizan, palavra japonesa para "crueldade extrema";
*A T-shirt branca com o logótipo "Flash" estampado no peito foi ofertada por uma fã anónima. Sam Jones fez questão de usá-la em diversas cenas, na expectativa de poder vir a conhecer a misteriosa mulher cuja identidade nunca foi, porém, revelada;
*O apalpão de Vultan a Dale Arden foi um improviso de Brian Blessed, sendo portanto genuína a reação surpreendida de Melody Anderson ao atrevimento do colega com quem contracenava;
*Antes de ceder a cadeira de realizador a Mike Hodges, Nicolas Roeg escolhera Debbie Harry (à época, vocalista da banda new wave Blondie) para o papel de Dale Arden. Ming, por seu turno, teria sido interpretado por Keith Carradine, o meio-irmão do lendário David Carradine, da não menos lendária série televisiva Kung Fu;
*O símbolo de Ming inclui um esquadro e um compasso estilizados, elementos tradicionalmente conotados com a Maçonaria. O tirano de Mongo faz também a saudação maçónica em dois momentos distintos da película;
*Os efeitos psicadélicos nos céus de Mongo foram obtidos com recurso à mistura de tintas multicoloridas em tanques cheios de água e criativamente iluminados;
*Nas tiras originais, Kala (no filme, uma general do Exército Imperial de Ming) era a soberana dos Homens-Tubarões de um reino submarino de Mongo. Inexistente no cânone (e também nas séries clássicas que o filme homenageia), Klytus foi uma inovação cinematográfica. No primeiro rascunho do enredo, ambas as personagens possuiriam poderes psíquicos e estava igualmente prevista a participação de Thun, o Homem-Leão que, na BD, é um fiel aliado de Flash Gordon. Apesar de omisso na película, Thun figurava em alguns dos cartazes promocionais distribuídos nos cinemas de vários países meses antes da estreia oficial de Flash Gordon;

Thun, o Homem-Leão figurava num
 dos cartazes promocionais de Flash Gordon.
*Artista das histórias de Flash Gordon na segunda metade da década de 1960, coube a Al Williamson ilustrar a adaptação oficial do filme aos quadradinhos. Williamson nunca disfarçou contudo o seu desagrado quer em relação a esta releitura do herói quer em relação à escolha do ator para representá-lo. Publicado originalmente pela Whitman em 1981, esse volume especial seria lançado no ano seguinte em Portugal pela TV Guia;

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Em Portugal, a adaptação oficial do filme
 foi lançada em 1982 pela TV Guia.
*A par do Reino Unido, Itália foi outro dos países onde Flash Gordon foi bem-sucedido nas bilheteiras. Facto que ficou a dever-se, essencialmente, à participação de duas beldades autóctones: Ornella Muti (Princesa Aura) e Mariangela Melato (Kala);
*Cunhado em 1941 por Wilson Tucker, o termo "space opera" (ópera espacial) não possui qualquer relação com música. Define, sim, um subgénero da ficção científica que enfatiza a aventura melodramática, as batalhas interplanetárias e o romance cavalheiresco ambientados principalmente no espaço sideral. O termo é também um trocadilho com "soap opera", nome dado aos folhetins radiofónicos dos anos 30 e 40 vulgarmente patrocinados por fabricantes de sabão;

Veredito: 63% 

Flash Gordon é um daqueles estranhos exemplares cinematográficos que tem de ser visto com o espírito certo para ser devidamente compreendido e apreciado. Aos olhos de um espectador desconhecedor das tiras originais ou das séries clássicas do herói, o filme, pelo seu envoltório espampanante, surgirá como um hino ao mau gosto. Isto porque toda a estética que, na década de 1930, Alex Raymond considerava avançada foi conservada em cada detalhe da película.
Trocando por miúdos, a ideia era recriar toda a atmosfera das histórias clássicas, com figurinos carnavalescos, cores berrantes e um ingénuo maniqueísmo. Elementos que reforçam o apelo nostálgico do filme, cujo valor intrínseco varia, obviamente, consoante o lugar que ocupa na memória afetiva de cada um. Sendo, naturalmente, mais suscetível de agradar aos fãs da velha guarda do que aos mais jovens. Mas mesmo estes ficarão, por certo, rendidos à sensacional banda sonora dos Queen.
Depois de Superman, the Movie, Flash Gordon foi o segundo filme de super-heróis que vi quando era ainda pessoa de palmo e meio. Mesmo após tantos anos, continua a ser, para mim, sinónimo de pura diversão e uma das mais bem conseguidas adaptações de BD.