25 agosto 2016

GALERIA DE VILÕES: PISTOLEIRO



   Quando uma bala perdida lhe mudou as agulhas do destino, Floyd Lawton jurou não mais falhar um alvo. Depois de anos por conta própria a puxar o gatilho pelo preço certo, juntou-se ao Esquadrão Suicida. Se para desafiar a morte ou expiar os seus pecados, só ele o saberá.

Denominação original: Deadshot
Licenciador: Detective Comics (DC)
Criadores: David Vern Reed (história) e Lee Sayre Schwarz (arte conceitual)
Primeira aparição: Batman nº59 (julho de 1950)
Identidade civil: Floyd Lawton
Parentes conhecidos: George Lawton (pai), Genevieve Pitt (mãe), Edward Robert Lawton (irmão falecido), Susan Lawton (ex-esposa), Zoe Lawton (filha) e Edward Lawton (filho falecido)
Afiliação: Sexteto Secreto (Secret Six), Esquadrão Suicida (Suicide Squad) e Killer Elite
Base de operações: Gotham City
Armas, poderes e habilidades: Embora desprovido de dons sobre-humanos, o Pistoleiro possui recursos suficientes para fazerem dele um adversário temível, mesmo quando tem pela frente pesos-pesados do Universo DC. Além da pontaria virtualmente infalível que lhe valeu o título de Melhor Assassino do Mundo, é proficiente no combate corpo a corpo, tendo já lutado de igual para igual com o Batman e o Arqueiro Verde.
Exímio no manuseamento tanto de armas brancas como de fogo, o Pistoleiro tem acesso a um impressionante arsenal. Além das suas icónicas metralhadoras de pulso, tem uma predileção especial por uma espingarda de precisão com mira telescópica. Arma que, nas suas mãos, se torna uma certidão de óbito para qualquer alvo que respire.
Fluente em russo - idioma que terá aprendido durante a juventude por supostas motivações políticas -, Floyd Lawton tem no bilinguismo outra importante ferramenta de trabalho.

Estático ou em movimento,
alvo algum escapa à pontaria do Pistoleiro.
Personalidade: Múltiplas avaliações psicológicas efetuadas ao longo dos anos coincidem na conclusão de que Floyd Lawton despreza o valor da vida humana (incluindo da sua), entregando-se frequentemente a exercícios autodestrutivos. Alguns especialistas que o examinaram (avultando entre eles Marnie Herrs, psicanalista residente da penitenciária de Belle Reeve) sustentam mesmo a tese de que ele terá aceitado fazer parte do Esquadrão Suicida apenas porque o encara como um instrumento para acelerar o próprio fim.
Este seu desejo de morrer torna o Pistoleiro um adversário extremamente imprevisível, ao ponto de se automutilar para atingir determinado objetivo. Foi o que aconteceu, por exemplo, durante a refrega que o pôs frente a frente com o Lanterna Verde Kyle Rainer na saga Crise de Identidade (Identity Crisis). Pressentindo a derrota iminente, o Melhor Assassino do Mundo não hesitou em disparar sobre si mesmo, antecipando o impulso do herói em salvar-lhe a vida. Conseguindo dessa forma que o seu oponente baixasse momentaneamente a guarda, o que quase custou a vida ao incauto Lanterna. Mesmo a esvair-se em sangue, o Pistoleiro conseguiu mirar nele, ferindo-o com gravidade. Nessa como em outras missões suicidárias, Lawton não escondeu o seu desapontamento por ter sobrevivido.
A concordância de Lawton em colaborar com a força-tarefa de criminosos descartáveis usados pelo Governo americano em missões sigilosas de alto risco é, porém, passível de outra leitura. Alguns psicanalistas que elaboraram o seu perfil psicológico creem ter sido essa a forma por ele encontrada para se redimir dos inúmeros pecados cometidos no passado.

Floyd Lawton: nascido para matar, marcado para morrer.
Já a afinidade do Pistoleiro com Rick Flag (comandante operacional do Esquadrão Suicida) é explicada pelos trágicos antecedentes familiares do vilão, especificamente pela morte do irmão que ele idolatrava (ver Origem). Havendo, de resto, fortes indícios de que Edward Lawton terá sido, se não a única, pelo menos uma das pouquíssimas pessoas com quem Floyd alguma vez se importou verdadeiramente.
Outra das exceções terá sido, porventura, o seu filho Edward. Após a morte do rapaz, Lawton não descansou enquanto não tirou a vida ao seu assassino. Justificando, no entanto, essa conduta como uma ação necessária à salvaguarda da sua reputação profissional. Segundo as suas próprias palavras, o Mal é real e a única forma de curar certas pessoas é metendo-lhes uma bala na cabeça. Importa ressaltar, a este propósito, que o filho de Lawton foi raptado e violado por um pedófilo antes de por ele ser barbaramente assassinado.
Novamente os pareceres dos especialistas em relação a mais este dramático episódio na vida de Floyd Lawton não foram unânimes. Com alguns deles a sugerirem que tudo não passaria de uma estratégia para camuflar as emoções, mercê da sua inabilidade em lidar com a própria dor e de fazer o luto pelo filho.
Dono de uma personalidades profundamente antissocial - temperada por um certo enviesamento moral -, o Pistoleiro tem na misoginia outro dos seus traços de caráter mais vincados. Questionado sobre as suas relações com o sexo oposto, assume sem pudor a sua preferência por prostitutas e acompanhantes. Justificando essa opção pela sua incapacidade inata em entender o que pretendem as mulheres num relacionamento convencional. Sentindo-se, por isso, muito mais confortável em perspetivar o sexo como uma simples transação comercial destituída de vínculos afetivos.
Regendo-se por um código ético draconiano, o Pistoleiro corresponde ao epítome do profissionalismo. Uma vez remunerado, ele nunca deixa inacabado o serviço para o qual foi contratado. Qualquer alvo seu está, portanto, marcado para morrer.

O Melhor Assassino do Mundo.
Origem e evolução da personagem: Conceito primordialmente desenvolvido por David Vern Reed e Lew Sayre Schwartz, o Pistoleiro fez a sua estreia oficial ainda na Idade do Ouro, nas páginas de Batman nº59 (edição datada de junho de 1950). Poucos pormenores foram, contudo, revelados sobre a respetiva origem e motivações nas suas escassas aparições durante esse período.
De facto, apenas em meados dos ano 80 do século passado - coincidindo com a fase seminal do Esquadrão Suicida - é que os antecedentes e a personalidade do vilão seriam devidamente aprofundados. Cortesia da dupla criativa composta pelo escritor John Ostrander e pelo artista Luke McDonnell. A esta r(e)evolução da personagem, seguir-se-ia uma outra, já este século, à luz de Os Novos 52. Mas vamos por partes. Comecemos, então, pela sua origem clássica.
Floyd Lawton nasceu literalmente em berço de ouro, no seio de uma família particularmente abastada. George Lawton, o patriarca, acumulara fortuna graças à especulação imobiliária, ao passo que a sua esposa, Genevieve Pitt, descendia de uma poderosa linhagem de banqueiros. Descrito como a antítese de Floyd, Edward, o seu irmão mais velho, era tratado como um pequeno príncipe pelos pais. Por conta dessa circunstância, Floyd cresceu à sombra do irmão, o que não o impediu de idolatrá-lo.
Fazendo eco do velho adágio que diz que o dinheiro não compra a felicidade, o clã Lawton vivia em constante desarmonia. Adúltero e abusivo, George maltratava a esposa, o que a levou a pedir aos filhos que pusessem fim ao seu ordálio, matando o pai. No entanto, apenas Edward acedeu de pronto à súplica materna. Floyd, por sua vez, tentou avisar o pai da conspiração em curso, acabando trancafiado pelo irmão numa pequena arrecadação instalada na propriedade da família.
Quando Floyd conseguiu finalmente evadir-se, levou consigo uma espingarda de caça, resoluto em impedir que o irmão manchasse as mãos com o sangue paterno.
Entretanto, no interior da mansão, já o pai jazia agonizante no chão da biblioteca, atingido por um disparo do filho mais velho. Que agora se preparava para lhe dar um tiro de misericórdia.
Perante este macabro cenário, Floyd trepou rapidamente a uma árvore e mirou de forma a apenas desarmar Edward. Contudo, no exato momento em que premia o gatilho, o ramo em que se encontrava empoleirado cedeu ao seu peso e ele acabou por atingir mortalmente o irmão. Já o pai, esse, sobreviveu ao atentado, mas ficaria paralisado até ao último dia da sua vida.
Foi assim que, numa cruel ironia do destino que lhe definiria para sempre o caráter, uma bala perdida disparada por Floyd matou a pessoa que ele mais amava salvando a vida àquela que ele mais odiava.

A estreia do Pistoleiro
não mereceu destaque na capa de Batman nº59 (1950) .
Apesar do incidente ter sido abafado para evitar um escândalo que desonraria a família Lawton, nada voltaria a ser como antes. Mais amargo do que nunca, George negou conceder o divórcio a Genevieve, obrigando-a a viver sozinha com uma pequena mesada. Quanto a Floyd, sairia de casa pouco tempo depois, para empreender o seu treino com um reputado assassino profissional chamado David Cain.
Alguns anos depois, Floyd mudou-se para Gotham City, onde se instalou com o seu mordomo numa faustosa mansão a partir da qual levava uma vida de playboy. Aproveitando a ausência temporária da Dupla Dinâmica, criou a persona do Pistoleiro e, com o beneplácito do Comissário Gordon, começou a agir como o novo guardião da cidade. Usando, para esse efeito, uma fatiota que, à parte a mascarilha que lhe assegurava o anonimato, em tudo o mais fazia lembrar a que é até hoje trajada por Mandrake. Sendo o figurino completado por um par de revólveres que, quando disparados, nunca erravam o alvo.
Cada vez mais popular junto da Polícia e dos habitantes de Gotham City, o Pistoleiro chegou mesmo a dispor de um sinal luminoso próprio (em forma de alvo), destronando dessa forma o lendário Bat-sinal.
Retornados a Gotham, Batman e Robin investigaram o misterioso rival e logo o expuseram como a fraude que ele realmente era. O Pistoleiro estava afinal mancomunado com várias organizações criminosas, servindo as suas ações vigilantistas como cortinas de fumo para distrair as autoridades. Após ter deduzido a verdadeira identidade do vilão, o Cruzado Encapuzado mandou-o para trás das grades.
Na sua versão da Idade do Ouro,
o figurino do Pistoleiro fazia lembrar Mandrake.
A par da morte do irmão, essa primeira passagem de Floyd Lawton pelo cárcere, seria outro dos momentos definidores da sua trajetória de vida. Que só continuaria a ser traçada no período subsequente a Crise nas Infinitas Terras (saga em que o Pistoleiro teve uma participação residual).
Ainda com uma longa pena por cumprir, Floyd conseguiu escapar da prisão graças a um monóculo laser que roubara ao Pinguim. Embrutecido pelas agruras do confinamento, deixou de ter qualquer vestígio de preocupação com civis apanhados no fogo cruzado. Culpava igualmente o Batman pela sua desgraça e, envergando agora o uniforme vermelho que se tornaria sua imagem de marca a partir de meados da década de 1980, tentou matar o herói. Fracassou e foi novamente por ele recambiado para a prisão.
Depois de anos a passar pelas portas giratórias do sistema penal americano, o Pistoleiro foi recrutado para a Força-Tarefa X (mais tarde renomeada de Esquadrão Suicida*). Ao lado de outros supercriminosos condenados dispostos a jogarem as próprias vidas em troca de uma redução das respetivas penas, Floyd Lawton passou a usar os seus talentos para, ainda que de uma forma enviesada, tornar o mundo mais seguro. Aos poucos, o supervilão foi assim dando lugar ao anti-herói. Estatuto consolidado na nova continuidade da DC saída de Os Novos 52.
Entre os vários retoques dados à história do Pistoleiro em 2011, releva o facto de o seu filho ter sido inapelavelmente apagado da existência. No processo Floyd Lawton perdeu também o aristocrático bigode que, até então, fora outra das suas imagens de marca. Apresentado nesta sua versão contemporânea como um velho némesis do Batman, é igualmente descrito como um caçador de recompensas.
Condenado a prisão perpétua na sequência de uma tentativa de assassinato de um senador americano, o Pistoleiro foi recrutado para as fileiras do Esquadrão Suicida, recebendo uma redução de pena como contrapartida. Sempre de mira certeira e moral questionável, assumiu-se, pela primeira vez, como líder do grupo.

*Prontuário do Esquadrão Suicida em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2014/08/galeria-de-viloes-esquadrao-suicida.html

O homem que nunca falha um tiro
surge mais letal do que nunca em Os Novos 52.
Apontamentos:

* Malgrado a sua incorporação nos cânones da DC reporte ao período que precedeu Crise Nas Infinitas Terras, o Pistoleiro conservou praticamente intocada a sua origem na nova continuidade emanada da saga. Alguns elementos da sua história poderão, contudo, ter sido objeto de revisionismo, devendo, portanto, ser considerados apócrifos;
* Conhecido pelos seus hábitos pouco salutares, Floyd Lawton é fumador, intolerante à lactose e amigo de infância de William Heller (vulgo Dragão Branco, vilão engajado com ideais de extrema-direita). Lawton alega igualmente ser militante comunista, apesar das suas raízes burguesas;
* As armas que o Pistoleiro usa acopladas nos pulsos foram inspiradas em protótipos idênticos desenvolvidos durante a II Guerra Mundial pelos laboratórios militares do Exército britânico;

Poucos saberão que as icónicas armas de pulso
 do Pistoleiro tiveram um modelo real.
Noutros media: Sem escapar ao cada vez mais frequente revisionismo étnico que vem pautando sucessivas adaptações ao panorama audiovisual de personagens de banda desenhada originalmente caucasianas, o Pistoleiro viu recentemente ser alavancada a sua popularidade graças a Suicide Squad. Filme em que é interpretado pelo ator afro-americano Will Smith, e cuja versão retratada coincide largamente com a de Os Novos 52.

Will Smith dá vida ao Pistoleiro em  Suicide Squad (2016).
Esta não foi, porém, a primeira vez que Floyd Lawton participou numa produção de ação real com a chancela da DC. Tomando emprestado o corpo de Bradley Stryker, o Pistoleiro marcou presença em dois episódios da temporada final de Smallville. Seguindo-se participação mais relevante na segunda temporada de Arrow, agora interpretado por Michael Rowe. Ator que repetiu o papel num episódio da segunda temporada de The Flash ambientado na Terra 2.

 Michael Rowe vestiu a pele de Floyd Lawton em Arrow e The Flash.

No campo da animação, desde o início deste século que o  Pistoleiro vem sendo presença regular tanto em filmes como em séries baseadas no Universo DC. Com a sua estreia televisiva a acontecer na série Justice League (2001-04), onde contou com a voz de Michael Rosenbaum (o Lex Luthor de Smallville). Já a sua última aparição num filme animado remonta a 2014, ano de estreia de Batman: Assault on Arkham, no qual assume o comando do Esquadrão Suicida, arranjando ainda tempo para namoriscar com a Arlequina.

O Pistoleiro
 estreou-se na TV em  Justice League.