De vilão descartável decalcado de uma grotesca personagem do cinema mudo a arqui-inimigo do Batman ligado a vários dos momentos mais trágicos da vida do herói. Assim se poderia resumir a escabrosa história do Príncipe Palhaço do Crime, sempre pronto a matar com um sorriso nos lábios. Não fosse o mistério em redor da sua origem e a sua personalidade anárquica fazerem dele um enigma indecifrável até para o melhor detetive do mundo.
Denominação original: The Joker (inicialmente batizado de Galhofeiro pela Ebal, seria como Coringa que a personagem se notabilizaria em Terras Tupiniquins)
Licenciador: Detective Comics (DC)
Primeira aparição. Batman nº1 (junho de 1940)
Criadores: Bill Finger (história) e Bob Kane / Jerry Robinson (arte conceptual)
Identidade civil: Desconhecida
Local de nascimento: Desconhecido
Parente conhecidos: Jeannie (possível esposa falecida), Loonie Machin/Anarquia (possível filho ) e Melvin Reipan (primo falecido)
Afiliação: Líder e fundador da Liga da Anarquia do Joker, membro fundador da Liga da Injustiça e ex-membro do Gangue da Injustiça
Base de operações: Gotham City
Armas, poderes e habilidades: Embora desprovido de superpoderes, o Joker possui uma fisiologia única em consequência do banho químico que originou a sua transformação. Além da coloração da sua pele, cabelo e lábios lhe conferir a aparência de um palhaço diabólico, nas veias do vilão corre sangue venenoso. Sendo ele, contudo, imune não só ao próprio veneno como a uma gama de outras substâncias tóxicas.
Presumivelmente por causa dessas singularidades fisiológicas, o eterno némesis do Batman denota uma elevada resistência à dor física. Facto que, em certa medida, ajuda a compreender a sua natureza masoquista. Não raro, o Joker parece desfrutar das tareias que lhe são aplicadas pelo Cavaleiro das Trevas ou por algum dos seus acólitos. Resultando, por isso, inútil o recurso à violência como meio de travar as suas velhacarias.
Descrito desde sempre como um génio fora-da-lei, o Joker rivaliza em inteligência com o Batman. Particularmente dotado nas áreas da química e da engenharia, possui também créditos firmados como perito em explosivos. Disfarce e escapismo são outras das suas especialidades, o que explica a imensa facilidade com que o vilão constantemente se evade do Asilo Arkham (instituição psiquiátrica destinada a acolher criminosos insanos).
A despeito da sua compleição franzina, o Palhaço do Crime em diversas ocasiões demonstrou ser um lutador hábil. Chegando mesmo a derrotar o Homem-Morcego no mano a mano sem recurso a trapaças. À sua agilidade felina o vilão alia um estilo de combate caótico que confunde os adversários, fazendo-os baixar a guarda. Quando isso não basta, o Joker não hesita em lançar mão à sua vasta parafernália de acessórios. Dentre os quais se destacam - citando apenas os mais icónicos - os charutos explosivos, as flores que esguicham ácido ou os botões de choques elétricos na palma da mão. Todos eles inspirados em partidas inofensivas, todos eles altamente letais.
Na execução dos seus planos tresloucados e genocidas, o Flagelo de Gotham é frequentemente adjuvado no terreno por chusmas de lacaios por ele encarados como carne para canhão. Outra coisa que não dispensa nas suas campanhas de caos e destruição é o seu arsenal de destruição em massa onde pontificam todo o tipo de bombas (incluindo nucleares).
No entanto, a coqueluche do seu arsenal é, sem sombra de dúvida, o terrífico Gás do Riso (também designado como Veneno do Joker). Trata-se de uma substância altamente tóxica e letal que, quando inalada, ingerida ou inoculada, provoca o riso compulsivo nas suas vítimas que assim morrem literalmente de tanto rir. O Gás do Riso serviu, de resto, como cartão de visita do Palhaço do Crime na sua primeira aparição.
Em resposta ao poder de fogo e à sofisticação tecnológica do Batmobile, ao longo dos anos o Joker concebeu três modelos do seu espampanante Jokermobile (Coringa-móvel, no Brasil). Equipado com metralhadoras à frente e à retaguarda, o primeiro desses veículos era à prova de bala e servia de meio de transporte ao vilão nos seus fulminantes raides em Gotham City.
Considerado demasiado lamechas, o Jokermobile seria retirado de circulação pelo Palhaço do Crime logo no início do seu tumultuoso relacionamento com a Arlequina*.
*Prontuário da personagem disponível em: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/05/nemesis-arlequina.html
Presumivelmente por causa dessas singularidades fisiológicas, o eterno némesis do Batman denota uma elevada resistência à dor física. Facto que, em certa medida, ajuda a compreender a sua natureza masoquista. Não raro, o Joker parece desfrutar das tareias que lhe são aplicadas pelo Cavaleiro das Trevas ou por algum dos seus acólitos. Resultando, por isso, inútil o recurso à violência como meio de travar as suas velhacarias.
Descrito desde sempre como um génio fora-da-lei, o Joker rivaliza em inteligência com o Batman. Particularmente dotado nas áreas da química e da engenharia, possui também créditos firmados como perito em explosivos. Disfarce e escapismo são outras das suas especialidades, o que explica a imensa facilidade com que o vilão constantemente se evade do Asilo Arkham (instituição psiquiátrica destinada a acolher criminosos insanos).
A despeito da sua compleição franzina, o Palhaço do Crime em diversas ocasiões demonstrou ser um lutador hábil. Chegando mesmo a derrotar o Homem-Morcego no mano a mano sem recurso a trapaças. À sua agilidade felina o vilão alia um estilo de combate caótico que confunde os adversários, fazendo-os baixar a guarda. Quando isso não basta, o Joker não hesita em lançar mão à sua vasta parafernália de acessórios. Dentre os quais se destacam - citando apenas os mais icónicos - os charutos explosivos, as flores que esguicham ácido ou os botões de choques elétricos na palma da mão. Todos eles inspirados em partidas inofensivas, todos eles altamente letais.
Vai um passou-bem? |
No entanto, a coqueluche do seu arsenal é, sem sombra de dúvida, o terrífico Gás do Riso (também designado como Veneno do Joker). Trata-se de uma substância altamente tóxica e letal que, quando inalada, ingerida ou inoculada, provoca o riso compulsivo nas suas vítimas que assim morrem literalmente de tanto rir. O Gás do Riso serviu, de resto, como cartão de visita do Palhaço do Crime na sua primeira aparição.
Em resposta ao poder de fogo e à sofisticação tecnológica do Batmobile, ao longo dos anos o Joker concebeu três modelos do seu espampanante Jokermobile (Coringa-móvel, no Brasil). Equipado com metralhadoras à frente e à retaguarda, o primeiro desses veículos era à prova de bala e servia de meio de transporte ao vilão nos seus fulminantes raides em Gotham City.
Considerado demasiado lamechas, o Jokermobile seria retirado de circulação pelo Palhaço do Crime logo no início do seu tumultuoso relacionamento com a Arlequina*.
*Prontuário da personagem disponível em: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/05/nemesis-arlequina.html
Abram alas para o Jokermobile! |
Conceção: Persistem até hoje muitas dúvidas quanto à "paternidade" tripartida do vilão que viria a tornar-se o maior inimigo do Batman e um importante ícone da cultura popular. Creditados como autores do Joker, Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson apresentaram em vida narrativas díspares relativamente ao processo de conceção de tão fascinante personagem.
Com efeito, o único ponto em que todos eles convergiam é que Finger usou uma estampa do ator Conrad Veidt como modelo para o visual do Príncipe Palhaço do Crime. Coprotagonista de The Man Who Laughs (O Homem Que Ri), Veidt interpretava nessa produção do cinema mudo datada de 1928 Gwynplaine, um aleijão com um tétrico sorriso entalhado na face. Observando as primeiras representações gráficas do Joker, saltam à vista desarmada as semelhanças entre ambos. Sendo portanto este um facto inconteste.
Jerry Robinson sempre alegou, no entanto, que essa não teria sido a única fonte de inspiração do trio na hora de definir o figurino do Joker. Até exalar o seu último suspiro em 2011, Robinson jurou a pés juntos ter partido dele a ideia para a aparência da personagem destinada a apadrinhar o número inaugural da primeira série regular do Homem-Morcego em 1940. Segundo ele, o conceito final resultou da combinação da grotesca figura de Gwynplaine com o seu esboço de uma carta de jogar com a efígie de um Coringa (não necessariamente por esta ordem, como mais abaixo se perceberá).
Versão categórica e repetidamente desmentida por Bob Kane. Em entrevista concedida no ano de 1994 ao jornalista Frank Lovece, o também cocriador de Batman foi perentório: «O Joker foi uma criação minha e de Bill Finger. Certo dia, Bill mostrou-me um livro com a fotografia de Conrad Veidt caracterizado como Gwynplaine, apontou para ela e disse-me: "Aqui temos o Joker!" Em seguida, ele escreveu a história e eu fiz os esboços. Só depois o Jerry me mostrou uma carta com um Coringa que ele havia desenhado. A qual concordámos usar nas primeiras aparições da personagem. Nada mais do que isso. Por mais que afirme o contrário, Jerry Robinson não teve rigorosamente nada a ver com a criação do Joker. E ele sabe-o.»
Declarações que chocam de frente com a versão dos acontecimentos fornecida em 2009 numa das últimas entrevistas dadas em vida por Jerry Robinson. Fica aqui o seu depoimento na primeira pessoa, para que tirem as vossas próprias conclusões: "O Joker surgiu devido à necessidade de mais histórias para alimentar o novo título mensal do Batman. A ideia para o nome surgiu-me por causa do baralho de cartas que na altura costumava trazer comigo. Em vez de um gângster clássico, tinha em mente uma figura exótica. Uma cujo visual fosse simultaneamente bizarro e intimidante ao ponto de não deixar ninguém indiferente. E que fosse capaz de pôr à prova as capacidades do herói. Alguém que estivesse para o Batman como o Professor Moriarty está para Sherlock Holmes. Logo na primeira reunião que tive com Bill Finger e Bob Kane, mostrei-lhes o meu esboço da carta do Coringa. Bill comentou que ela lhe fazia lembrar Conrad Veidt em The Man Who Laughs. Foi essa a sequência dos acontecimentos. Só depois de eu ter mostrado o meu projeto para o visual da personagem é que Bill fez referência a Gwynplaine. Bill usou a minha ideia para escrever a história de estreia do Joker. Eu e Bob desenvolvemos o visual da personagem. Todos estivemos, portanto, envolvidos no processo criativo.»
Apesar dos veementes desmentidos de Bob Kane (conhecido pela sua irredutibilidade em dividir os créditos de algumas das suas criações), Jerry Robinson viu vários estudiosos da 9ª Arte confirmarem o seu contributo na conceção e desenvolvimento do Joker. Tese que continua, porém, a ser posta em causa por outros especialistas. Tão insanáveis como estas contradições foram as divergências que ditaram o corte de relações entre mestre e pupilo.
Na altura um mancebo de 17 anos, Jerry Robinson conhecera Bob Kane em 1939 quando este, impressionado com o seu talento, o contratara para seu assistente. Ao cabo de alguns meses a trabalhar como letrista e arte-finalista, Robinson foi o escolhido para assumir a arte da novíssima série regular do Homem-Morcego. Tendo sido nessa qualidade que foi chamado a participar na conceção do principal antagonista do herói.
Escapando ao fogo cruzado entre Kane e Robinson, Bill Finger optou por manter-se sempre à margem da polémica em redor do contributo de cada um deles na criação do Joker. Ainda que muitos vissem nele a chave para o mistério, limitou-se a admitir certa vez que, além da foto de Conrad Veidt, se baseara também numa imagem que vira em tempos num parque de diversões de Coney Island (Nova Iorque), a qual fazia lembrar a cabeça de um palhaço sinistro. Tratar-se-ia de uma pista, de uma tomada de posição ou de uma mera trivialidade?
A resposta, essa, Bill Finger levou-a consigo para o túmulo em 2011. Numa daquelas amargas ironias em que é pródigo, quis o Destino que esse fosse o ano em que a 9ª Arte se enlutaria devido ao desaparecimento de enfiada dos três criadores do Palhaço do Crime. Para trás ficou uma charada aparentemente insolúvel. Tão insolúvel quanto o próprio Joker que, qual Esfinge do mundo moderno, mata quem o não consegue decifrar.
Não obstante, quando as circunstâncias assim o justificam, o Palhaço do Crime não tem pejo em unir forças com outros supervilões, especialmente se o Batman for um inimigo comum. Quase sempre, no entanto, essas alianças pontuais dão para o torto devido à propensão do Joker para o caos e a anarquia. A única exceção foi mesmo a Arlequina que, durante uma temporada, foi sua amante e parceira no crime.
Ainda que ao longo dos anos tenham sido levadas a cabo inúmeras tentativas para escalpelizar e classificar a demência do Joker, continua por fazer um diagnóstico consistente. Existem contudo fortes indícios de que a mesma resultará da amálgama de um extenso catálogo de psicopatologias presidido pela psicopatia violenta, sadismo, niilismo e narcisismo.
No entanto, embora a insanidade mental do Joker seja consensual, em Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth (história saída da pena de Grant Morrison em 1989), é sugerido que o vilão possuirá na verdade algum de tipo de perceção extrassensorial extremamente apurada que lhe permite ver o que mais nenhum ser humano consegue.
A validar esta proposição, o facto de, em diversas ocasiões, ele ter revelado perfeita consciência de que é uma personagem de banda desenhada, chegando mesmo a interpelar diretamente os leitores. Na história em causa é igualmente sugerido que ele será destituído de personalidade própria, limitando-se, ao invés, a escolher aquela que mais lhe convém num determinado momento. Dessa suposta resiliência emocional resulta uma personalidade poliédrica onde coabitam facetas tão distintas como a do galhofeiro inofensivo e a do maníaco homicida.
Por fim, importa salientar que, apesar de ter no Batman a sua obsessão primária, o Joker já defrontou outras figuras cimeiras do Universo DC, designadamente o Super-Homem e a Mulher-Maravilha.
Com efeito, o único ponto em que todos eles convergiam é que Finger usou uma estampa do ator Conrad Veidt como modelo para o visual do Príncipe Palhaço do Crime. Coprotagonista de The Man Who Laughs (O Homem Que Ri), Veidt interpretava nessa produção do cinema mudo datada de 1928 Gwynplaine, um aleijão com um tétrico sorriso entalhado na face. Observando as primeiras representações gráficas do Joker, saltam à vista desarmada as semelhanças entre ambos. Sendo portanto este um facto inconteste.
Jerry Robinson sempre alegou, no entanto, que essa não teria sido a única fonte de inspiração do trio na hora de definir o figurino do Joker. Até exalar o seu último suspiro em 2011, Robinson jurou a pés juntos ter partido dele a ideia para a aparência da personagem destinada a apadrinhar o número inaugural da primeira série regular do Homem-Morcego em 1940. Segundo ele, o conceito final resultou da combinação da grotesca figura de Gwynplaine com o seu esboço de uma carta de jogar com a efígie de um Coringa (não necessariamente por esta ordem, como mais abaixo se perceberá).
A carta desenhada por Jerry Robinson e Conrad Veidt como Gwynplaine. . |
Declarações que chocam de frente com a versão dos acontecimentos fornecida em 2009 numa das últimas entrevistas dadas em vida por Jerry Robinson. Fica aqui o seu depoimento na primeira pessoa, para que tirem as vossas próprias conclusões: "O Joker surgiu devido à necessidade de mais histórias para alimentar o novo título mensal do Batman. A ideia para o nome surgiu-me por causa do baralho de cartas que na altura costumava trazer comigo. Em vez de um gângster clássico, tinha em mente uma figura exótica. Uma cujo visual fosse simultaneamente bizarro e intimidante ao ponto de não deixar ninguém indiferente. E que fosse capaz de pôr à prova as capacidades do herói. Alguém que estivesse para o Batman como o Professor Moriarty está para Sherlock Holmes. Logo na primeira reunião que tive com Bill Finger e Bob Kane, mostrei-lhes o meu esboço da carta do Coringa. Bill comentou que ela lhe fazia lembrar Conrad Veidt em The Man Who Laughs. Foi essa a sequência dos acontecimentos. Só depois de eu ter mostrado o meu projeto para o visual da personagem é que Bill fez referência a Gwynplaine. Bill usou a minha ideia para escrever a história de estreia do Joker. Eu e Bob desenvolvemos o visual da personagem. Todos estivemos, portanto, envolvidos no processo criativo.»
Desde a sua estreia em Batman nº1 (1940) que o Joker revelou a sua natureza psicótica e homicida. |
Apesar dos veementes desmentidos de Bob Kane (conhecido pela sua irredutibilidade em dividir os créditos de algumas das suas criações), Jerry Robinson viu vários estudiosos da 9ª Arte confirmarem o seu contributo na conceção e desenvolvimento do Joker. Tese que continua, porém, a ser posta em causa por outros especialistas. Tão insanáveis como estas contradições foram as divergências que ditaram o corte de relações entre mestre e pupilo.
Na altura um mancebo de 17 anos, Jerry Robinson conhecera Bob Kane em 1939 quando este, impressionado com o seu talento, o contratara para seu assistente. Ao cabo de alguns meses a trabalhar como letrista e arte-finalista, Robinson foi o escolhido para assumir a arte da novíssima série regular do Homem-Morcego. Tendo sido nessa qualidade que foi chamado a participar na conceção do principal antagonista do herói.
Escapando ao fogo cruzado entre Kane e Robinson, Bill Finger optou por manter-se sempre à margem da polémica em redor do contributo de cada um deles na criação do Joker. Ainda que muitos vissem nele a chave para o mistério, limitou-se a admitir certa vez que, além da foto de Conrad Veidt, se baseara também numa imagem que vira em tempos num parque de diversões de Coney Island (Nova Iorque), a qual fazia lembrar a cabeça de um palhaço sinistro. Tratar-se-ia de uma pista, de uma tomada de posição ou de uma mera trivialidade?
A resposta, essa, Bill Finger levou-a consigo para o túmulo em 2011. Numa daquelas amargas ironias em que é pródigo, quis o Destino que esse fosse o ano em que a 9ª Arte se enlutaria devido ao desaparecimento de enfiada dos três criadores do Palhaço do Crime. Para trás ficou uma charada aparentemente insolúvel. Tão insolúvel quanto o próprio Joker que, qual Esfinge do mundo moderno, mata quem o não consegue decifrar.
Da esq. para a dir.: Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson, três imortais da 9ª Arte. |
Evolução: Eis um dado surpreendente para muito boa gente: apesar do forte impacto que viria a ter no microcosmos do Homem-Morcego - e, a bem dizer, em todo o Universo DC - o Joker foi criado com um prazo de validade muito curto. Era suposto não ter sobrevivido para além do primeiro número de Batman. A explicação é simples: Bill Finger receava que a presença recorrente de um vilão nas histórias do herói o fizesse parecer inepto aos olhos dos leitores.
Destinado a sucumbir com o coração trespassado por um punhal, a morte do Joker chegou mesmo a ser desenhada. Valeu pois a intervenção providencial do então editor do Cruzado Encapuzado, Withney Ellsworth, que ordenou a inclusão de um painel adicional mostrando que o vilão continuava vivo. Assim se evitou o que teria sido seguramente um erro histórico.
Retratado como um serial killer impiedoso e amoral que matava sempre com um sorriso nos lábios, o Palhaço do Crime marcaria presença em nove das primeiras doze edições de Batman. Desta sua assiduidade na série adviria o seu estatuto de arqui-inimigo do herói e, mais tarde, da Dupla Dinâmica (após o surgimento de Robin).
Já com largas dezenas de mortes no currículo, o Joker viu no entanto ser aplacada a sua compulsão homicida quando a DC entendeu que poderia aumentar as vendas da sua linha de super-heróis se a direcionasse para o público infantil. Fruto dessa nova estratégia comercial da editora, ainda na chamada Idade de Ouro dos comics o vilão passou gradualmente de assassino de sangue-frio a histrião inofensivo. Ou, se preferirem, de ameaça a anedota...
Outro fator que concorreu para essa transfiguração foi o estabelecimento, em 1954, do Comics Code Authority. Surgido em resposta às acusações feitas pelo psiquiatra alemão Fredric Wertham no seu livro Sedução dos Inocentes (publicado nesse mesmo ano em terras do Tio Sam) de que os quadradinhos eram responsáveis, entre outros flagelos sociais, pelo aumento da violência e delinquência juvenil, o código pretendia regular os conteúdos neles publicados. Em linha com esse objetivo, foram terminantemente proibidas as cenas escabrosas - herdadas da literatura pulp - que envolvessem sexo ou violência excessiva. Escusado será dizer que uma personagem com as idiossincrasias do Joker jamais passaria no crivo dos censores.
A partir de 1964, ano em que Julius Schwartz assumiu o cargo de editor dos títulos do Batman, o Joker começou a aparecer com cada vez menor frequência nas histórias da Dupla Dinâmica. Schwartz não fazia segredo da sua antipatia pela personagem e quase a sentenciou ao ostracismo. Do qual o Palhaço do Crime foi salvo graças ao carisma da sua versão televisiva interpretada por Cesar Romero na série Batman, exibida originalmente no biénio 1966-68 (ver Noutros media).
O enorme êxito da série não evitou, contudo, o declínio das vendas das revistas da Dupla Dinâmica. Apostado em inverter essa tendência, Carmine Infantino(1) sucedeu a Julius Schwartz e logo tratou de amenizar o registo infantil (e apatetado) que vinha pautando as histórias de Batman e Robin. Embora longe ainda das suas raízes de maníaco homicida, o Joker readquiriu nessa fase um certo grau de perigosidade, passando a cometer crimes mais elaborados e a dar mostras do seu sórdido sentido de humor. Receita insuficiente, ainda assim, para evitar a sua queda na obscuridade.
Após quatro anos fora do radar, a Ameaça Risonha voltaria a dar um ar da sua (des)graça em 1973. Revivido - e redefinido- pela dupla composta pelo escritor Dennis O'Neil e pelo ilustrador Neal Adams (2), o vilão não só foi parcialmente devolvido às suas origens, como viu a sua insanidade mental confirmada (como se dúvidas houvesse quanto a ela). Assim se explicando a opção por enfiá-lo numa cela acolchoada do Asilo Arkham em vez de mandá-lo para trás das grades de uma qualquer prisão. A própria fisionomia da personagem foi retocada nesta fase. Neal Adams dotou o Joker de uma silhueta mais esguia e de um rosto mais afilado, duas características que se tornariam sua imagem de marca daí em diante.
Recuperado o fulgor de outros tempos, em 1975 o Joker foi o primeiro vilão a dispor de uma série mensal em nome próprio. Apesar do insucesso da iniciativa editorial (foram lançados somente nove fascículos), ao longo do resto da década, o Palhaço do Crime tornar-se-ia uma das figuras de proa da Editora das Lendas.
Na esteira do aclamado trabalho de O'Neill e Adams, a equipa criativa que lhes sucedeu (constituída por Steve Englehart e Marshall Rogers) enfatizou ainda mais a natureza psicótica do Joker, conferindo frequentemente um toque surreal às suas maquinações. De caminho a personagem teve o seu figurino enriquecido, sendo-lhe acrescentando um sobretudo púrpura e um elegante chapéu a condizer.
Mais janota do que nunca e em consonância com o processo de adultização do Universo DC encetado no início da década de 1980, o Joker tornar-se-ia mais sombrio e violento. Depois de, em The Dark Knight Returns (1986), ter sido retratado como uma celebridade deprimida devido ao desaparecimento do seu ódio de estimação, o Joker ficaria para sempre ligado a dois dos momentos mais trágicos na vida do Batman: a morte do Robin Jason Todd em Death in the Family (3) e o estropiamento de Barbara Gordon em The Killing Joke (4).
No entanto, dificilmente alguma versão pregressa do Joker terá sido tão sádica e assustadora como aquela que em 2011 foi apresentada em The New 52. Enquanto o escritor Scott Snyder explorava a sua relação simbiótica com o Batman, Greg Capullo dotou-o de um visual que apenas poderá ser descrito como aterrador. Em vez do seu tradicional aprumo, o vilão apresentava-se agora sujo e desgrenhado por conta da missão de que se autoinvestira (levar a desarmonia e a desconfiança ao seio da Bat-Família). Removido cirurgicamente, o seu rosto converteu-se numa máscara de pele morta presa à cabeça com recursos a ganchos e arames. Um verdadeiro pesadelo de arrepiar!
Dado como morto no final da saga Endgame (2014), o Joker seria ressuscitado, já este ano, no âmbito de Rebirth, o mais recente reboot do Universo DC. Para assombro de muitos leitores, foi anunciado que, ao longo de todo este tempo, terão sido, afinal, três os homens a assumir o legado do Palhaço do Crime. E, à laia de bónus, está prometida para breve a revelação do verdadeiro nome do vilão. Arriscam um palpite? Ou preferem esperar para ver?
1 e 2) Perfis disponíveis em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/06/eternos-carmine-infantino-1925-2013.html e http://bdmarveldc.blogspot.pt/2014/06/eternos-neal-adams-1941.html
3 e 4) Resenhas alargadas das sagas em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/12/do-fundo-do-bau-morte-de-robin.html e http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/09/classicos-revisitados-piada-mortal.html
Destinado a sucumbir com o coração trespassado por um punhal, a morte do Joker chegou mesmo a ser desenhada. Valeu pois a intervenção providencial do então editor do Cruzado Encapuzado, Withney Ellsworth, que ordenou a inclusão de um painel adicional mostrando que o vilão continuava vivo. Assim se evitou o que teria sido seguramente um erro histórico.
O desfecho trágico do primeiro embate entre o Batman e o Joker seria emendado à última hora. |
Já com largas dezenas de mortes no currículo, o Joker viu no entanto ser aplacada a sua compulsão homicida quando a DC entendeu que poderia aumentar as vendas da sua linha de super-heróis se a direcionasse para o público infantil. Fruto dessa nova estratégia comercial da editora, ainda na chamada Idade de Ouro dos comics o vilão passou gradualmente de assassino de sangue-frio a histrião inofensivo. Ou, se preferirem, de ameaça a anedota...
Outro fator que concorreu para essa transfiguração foi o estabelecimento, em 1954, do Comics Code Authority. Surgido em resposta às acusações feitas pelo psiquiatra alemão Fredric Wertham no seu livro Sedução dos Inocentes (publicado nesse mesmo ano em terras do Tio Sam) de que os quadradinhos eram responsáveis, entre outros flagelos sociais, pelo aumento da violência e delinquência juvenil, o código pretendia regular os conteúdos neles publicados. Em linha com esse objetivo, foram terminantemente proibidas as cenas escabrosas - herdadas da literatura pulp - que envolvessem sexo ou violência excessiva. Escusado será dizer que uma personagem com as idiossincrasias do Joker jamais passaria no crivo dos censores.
O Joker domesticado da Idade de Prata dos comics. |
O enorme êxito da série não evitou, contudo, o declínio das vendas das revistas da Dupla Dinâmica. Apostado em inverter essa tendência, Carmine Infantino(1) sucedeu a Julius Schwartz e logo tratou de amenizar o registo infantil (e apatetado) que vinha pautando as histórias de Batman e Robin. Embora longe ainda das suas raízes de maníaco homicida, o Joker readquiriu nessa fase um certo grau de perigosidade, passando a cometer crimes mais elaborados e a dar mostras do seu sórdido sentido de humor. Receita insuficiente, ainda assim, para evitar a sua queda na obscuridade.
Após quatro anos fora do radar, a Ameaça Risonha voltaria a dar um ar da sua (des)graça em 1973. Revivido - e redefinido- pela dupla composta pelo escritor Dennis O'Neil e pelo ilustrador Neal Adams (2), o vilão não só foi parcialmente devolvido às suas origens, como viu a sua insanidade mental confirmada (como se dúvidas houvesse quanto a ela). Assim se explicando a opção por enfiá-lo numa cela acolchoada do Asilo Arkham em vez de mandá-lo para trás das grades de uma qualquer prisão. A própria fisionomia da personagem foi retocada nesta fase. Neal Adams dotou o Joker de uma silhueta mais esguia e de um rosto mais afilado, duas características que se tornariam sua imagem de marca daí em diante.
Recuperado o fulgor de outros tempos, em 1975 o Joker foi o primeiro vilão a dispor de uma série mensal em nome próprio. Apesar do insucesso da iniciativa editorial (foram lançados somente nove fascículos), ao longo do resto da década, o Palhaço do Crime tornar-se-ia uma das figuras de proa da Editora das Lendas.
Na esteira do aclamado trabalho de O'Neill e Adams, a equipa criativa que lhes sucedeu (constituída por Steve Englehart e Marshall Rogers) enfatizou ainda mais a natureza psicótica do Joker, conferindo frequentemente um toque surreal às suas maquinações. De caminho a personagem teve o seu figurino enriquecido, sendo-lhe acrescentando um sobretudo púrpura e um elegante chapéu a condizer.
O estilo dândi do Palhaço do Crime da Idade de Bronze dos quadradinhos. |
No entanto, dificilmente alguma versão pregressa do Joker terá sido tão sádica e assustadora como aquela que em 2011 foi apresentada em The New 52. Enquanto o escritor Scott Snyder explorava a sua relação simbiótica com o Batman, Greg Capullo dotou-o de um visual que apenas poderá ser descrito como aterrador. Em vez do seu tradicional aprumo, o vilão apresentava-se agora sujo e desgrenhado por conta da missão de que se autoinvestira (levar a desarmonia e a desconfiança ao seio da Bat-Família). Removido cirurgicamente, o seu rosto converteu-se numa máscara de pele morta presa à cabeça com recursos a ganchos e arames. Um verdadeiro pesadelo de arrepiar!
Dado como morto no final da saga Endgame (2014), o Joker seria ressuscitado, já este ano, no âmbito de Rebirth, o mais recente reboot do Universo DC. Para assombro de muitos leitores, foi anunciado que, ao longo de todo este tempo, terão sido, afinal, três os homens a assumir o legado do Palhaço do Crime. E, à laia de bónus, está prometida para breve a revelação do verdadeiro nome do vilão. Arriscam um palpite? Ou preferem esperar para ver?
O lifting malsucedido do Joker em Os Novos 52. |
1 e 2) Perfis disponíveis em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/06/eternos-carmine-infantino-1925-2013.html e http://bdmarveldc.blogspot.pt/2014/06/eternos-neal-adams-1941.html
3 e 4) Resenhas alargadas das sagas em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/12/do-fundo-do-bau-morte-de-robin.html e http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/09/classicos-revisitados-piada-mortal.html
Quem é, afinal, o Príncipe Palhaço do Crime? O mistério subsiste, como verão no texto seguinte. |
Possíveis origens: Ao deixarem em aberto o passado do Joker, os seus criadores rodearam a personagem de uma densa aura de mistério. Alan Moore, Grant Morrison e Paul Dini foram alguns dos argutos escribas que se esforçaram por desvendá-lo. Todos eles tentaram, em vão, resolver uma complexa equação composta por múltiplas variáveis e incógnitas. E apenas uma constante: a obsessão do Palhaço do Crime com o Batman, de quem se assume como antítese perfeita. Esse é, de facto, o único denominador comum no caleidoscópio de versões, mais ou menos críveis, que foram sendo apresentadas ao longo do tempo.
De vítima de um pai alcoólico e abusivo a bobo da corte de um faraó egípcio, foram várias as possibilidades exploradas para estabelecer a origem do Joker. Nenhuma delas trouxe, porém, à superfície a sua verdadeira história.
Quem mais dela se terá acercado foi Alan Moore em A Piada Mortal (1988). Baseando-se num primeiro ensaio realizado em 1951 por Bill Finger, o escritor britânico apresentou o homem predestinado a ser o inimigo figadal do Cavaleiro das Trevas como um comediante fracassado que pagou um preço elevado pelas suas más escolhas.
Reinterpretando essa premissa, em Case Study (2003) Paul Dini descreveu o sinuoso percurso de um delinquente sádico chamado Capuz Vermelho até à sua transformação no Joker. Numa abordagem inovadora à psique do vilão, era sugerido que a sua aparente insanidade mental era na verdade um subterfúgio para escapar à pena capital.
Importa, contudo, ter presente que essas histórias têm geralmente o próprio Joker como narrador, o que equivale a percorrer um labirinto armadilhado vendado e levado pela mão por um amnésico. Ou, parafraseando o Batman: "Como qualquer comediante, ele serve-se do material que mais lhe convém para prender a atenção da plateia."
Personalidade e relacionamentos: Na minissérie Underworld Unleashed (1995-96), o Trapaceiro refere que quando os supervilões querem pregar sustos uns aos outros, contam histórias do Joker. Com efeito, a natureza imprevisível e sanguinária do Palhaço do Crime faz dele uma das personagens mais temidas do Universo DC. Reputação robustecida pelo facto de ele ter sido um dos dois inimigos do Cavaleiro das Trevas (o outro foi o Máscara Negra) a tirar a vida a um dos seus jovens escudeiros. Mesmo aos olhos dos seus pares, o Joker é, por conta dessa e de outras macabras façanhas, a personificação do Mal. Não sendo por isso de admirar que os outros criminosos optem normalmente por manter uma distância prudente em relação a ele.De vítima de um pai alcoólico e abusivo a bobo da corte de um faraó egípcio, foram várias as possibilidades exploradas para estabelecer a origem do Joker. Nenhuma delas trouxe, porém, à superfície a sua verdadeira história.
Quem mais dela se terá acercado foi Alan Moore em A Piada Mortal (1988). Baseando-se num primeiro ensaio realizado em 1951 por Bill Finger, o escritor britânico apresentou o homem predestinado a ser o inimigo figadal do Cavaleiro das Trevas como um comediante fracassado que pagou um preço elevado pelas suas más escolhas.
Reinterpretando essa premissa, em Case Study (2003) Paul Dini descreveu o sinuoso percurso de um delinquente sádico chamado Capuz Vermelho até à sua transformação no Joker. Numa abordagem inovadora à psique do vilão, era sugerido que a sua aparente insanidade mental era na verdade um subterfúgio para escapar à pena capital.
Importa, contudo, ter presente que essas histórias têm geralmente o próprio Joker como narrador, o que equivale a percorrer um labirinto armadilhado vendado e levado pela mão por um amnésico. Ou, parafraseando o Batman: "Como qualquer comediante, ele serve-se do material que mais lhe convém para prender a atenção da plateia."
Alguém se atreve a ler-lhe os pensamentos? Quem o fez nunca mais foi o mesmo. |
Não obstante, quando as circunstâncias assim o justificam, o Palhaço do Crime não tem pejo em unir forças com outros supervilões, especialmente se o Batman for um inimigo comum. Quase sempre, no entanto, essas alianças pontuais dão para o torto devido à propensão do Joker para o caos e a anarquia. A única exceção foi mesmo a Arlequina que, durante uma temporada, foi sua amante e parceira no crime.
Joker & Arlequina: amor entre desalinhados. |
No entanto, embora a insanidade mental do Joker seja consensual, em Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth (história saída da pena de Grant Morrison em 1989), é sugerido que o vilão possuirá na verdade algum de tipo de perceção extrassensorial extremamente apurada que lhe permite ver o que mais nenhum ser humano consegue.
A validar esta proposição, o facto de, em diversas ocasiões, ele ter revelado perfeita consciência de que é uma personagem de banda desenhada, chegando mesmo a interpelar diretamente os leitores. Na história em causa é igualmente sugerido que ele será destituído de personalidade própria, limitando-se, ao invés, a escolher aquela que mais lhe convém num determinado momento. Dessa suposta resiliência emocional resulta uma personalidade poliédrica onde coabitam facetas tão distintas como a do galhofeiro inofensivo e a do maníaco homicida.
Por fim, importa salientar que, apesar de ter no Batman a sua obsessão primária, o Joker já defrontou outras figuras cimeiras do Universo DC, designadamente o Super-Homem e a Mulher-Maravilha.
Louco ou não? Eis a questão. |
Curiosidades:
* Em 2008, no arco de histórias Batman: Dead to the Rights, depois de capturado uma vez mais pelo Homem-Morcego, o Joker teve as suas impressões digitais analisadas pela Polícia, que assim esperava conseguir finalmente apurar a sua verdadeira identidade. Tarefa que se revelou infrutífera pois o padrão nas pontas dos dedos do vilão fora eliminado pelo ácido que o desfigurou;
* Dentro da categoria de vilões sem habilidades meta-humanas, o Joker é o detentor do recorde absoluto de mortes. Entre as que ele causou direta e indiretamente, estima-se que o número ascenderá aos milhares;
* Além de Príncipe Palhaço do Crime (The Clown Prince of Crime), Duque Pálido da Morte (The Thin White Duke of Death), Arlequim do Ódio (The Harlequin of Hate), A Ameaça Risonha (The Mirthful Menace), Flagelo de Gotham (Gotham's Scourge) e Ás dos Valetes (Ace of Knaves) são algumas das outras sinistras alcunhas do Joker (que a todas faz jus).
* Em 2008, no arco de histórias Batman: Dead to the Rights, depois de capturado uma vez mais pelo Homem-Morcego, o Joker teve as suas impressões digitais analisadas pela Polícia, que assim esperava conseguir finalmente apurar a sua verdadeira identidade. Tarefa que se revelou infrutífera pois o padrão nas pontas dos dedos do vilão fora eliminado pelo ácido que o desfigurou;
* Dentro da categoria de vilões sem habilidades meta-humanas, o Joker é o detentor do recorde absoluto de mortes. Entre as que ele causou direta e indiretamente, estima-se que o número ascenderá aos milhares;
* Além de Príncipe Palhaço do Crime (The Clown Prince of Crime), Duque Pálido da Morte (The Thin White Duke of Death), Arlequim do Ódio (The Harlequin of Hate), A Ameaça Risonha (The Mirthful Menace), Flagelo de Gotham (Gotham's Scourge) e Ás dos Valetes (Ace of Knaves) são algumas das outras sinistras alcunhas do Joker (que a todas faz jus).
Duelo (i)mortal entre o Morcego e o Palhaço. |
Noutros media: Não obstante o seu fortíssimo impacto cultural (em 2006, por exemplo, a revista Wizard elegeu-o o melhor vilão de sempre), só em 1966 (mais de um quarto de século após a sua criação) a influência do Joker extravasou a banda desenhada. Magistralmente interpretado por Cesar Romero (apesar da recusa do ator em rapar o seu farto bigode), o Palhaço do Crime estreou-se com alarido em Batman, série televisiva que nesse ano começara a ser exibida nos EUA. Foi, como vimos, graças a esta sua participação que o vilão escapou ao ostracismo a que, à época, parecia condenado nos comics.
Com o final da referida série ao cabo de três temporadas (e já depois de ter sido um dos maus da fita nela baseada), nas duas décadas seguintes o Joker marcaria presença numa mão cheia de produções animadas protagonizadas pela Dupla Dinâmica e outras personagens DC. The Adventures of Batman (1968) e The New Adventures of Batman (1977) ajudaram a reforçar a sua notoriedade junto do público infantil.
A consagração definitiva do Joker no panorama audiovisual só aconteceria, porém, em 1989. Ano em que o Batman de Tim Burton aterrou nos cinemas de todo o mundo. Num papel que lhe assentava que nem uma luva, Jack Nicholson encarnou uma versão mais violenta do vilão, que reclamava para si o título de primeiro artista homicida do mundo e que tinha como mantra "Alguma vez dançaste com o Diabo sob o pálido luar?". Outro elemento importante era a sua ligação kármica com o Homem-Morcego. Quando ainda não passava de um jovem meliante chamado Jack Napier, fora ele a assassinar os pais de Bruce Wayne, criando assim o Batman. Que, por sua vez, também seria indiretamente responsável pela criação do seu némesis.
Contudo, devido à morte do Palhaço do Crime em Batman, seria preciso esperar quase uma vintena de anos pelo seu regresso ao grande ecrã. Um regresso feito em grande estilo em The Dark Knight (2008), o segundo capítulo da trilogia do Cavaleiro das Trevas dirigida por Christopher Nolan.
Numa representação de tirar o fôlego, e que lhe valeria a atribuição de um Óscar a título póstumo, Heath Ledger transformou o Joker num arauto do caos e da anarquia. No fundo, tudo o que ele desejava era atear fogo a Gotham City para fazer um glorioso churrasco de morcego.
Apesar do seu papel secundário em Suicide Squad (2016), o Joker de Jared Leto dividiu opiniões. Nesta sua nova versão cinematográfica, o Palhaço do Crime surge retratado como um gângster exótico que mantém uma relação turbulenta com a não menos exótica Arlequina (a quem Margot Robbie empresta o seu corpo escultural).
Acresce a estas trepidantes passagens pelo grande ecrã um extenso rol de participações do Joker em jogos de vídeo e animações com a chancela da DC. Dentre estas, aquela que mais marcou toda uma geração de fãs foi, sem dúvida, Batman: The Animated Series (1992-95). Nela, Mark Hamill (o Luke Skywalker da saga Star Wars) emprestou a voz àquela que muitos classificam como a mais bem conseguida versão animada do Príncipe Palhaço do Crime. Cujas risadas sinistras continuarão, dentro e fora dos quadradinhos, a ecoar até ao fim dos tempos...
Da esq. para a dir.: Jared Leto, Cesar Romero, Heath Ledger e Jack Nicholson, 4 Ases de Valetes. . . |
Artigo sensacional, nunca pensei que alguém poderia escrever um artigo sobre meu personagem favorito tão bem! Ao meu caro escritor (R) parabéns!
ResponderEliminarComo sempre, os textos do Ricardo são densos e repletos de informações. Uma pergunta, porém, faço: nos anos 1980, alguns artistas deram a entender que o Curinga seria homossexual com desejos pelo Batman. Na graphic novel Arkham Asilum, ele "enche a mão" no traseiro do herói. Cheguei a ler que houve uma cena em que ele se vestia como a cantora Madonna, mas houve censura. Por fim, a dupla Alan Davis e Mike Barr também compôs um Curinga com poses, trejeitos e falas altamente suspeitas. E como não lembrar da fala: "Batman! Darling!" de O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller.
ResponderEliminarParece que, hoje em dia, essa sexualidade "diversa" só está pendendo para o lado dos heróis e das heroínas. Não se toca no assunto no caso dos vilões. Alguém arrisca um palpite?
Invariavelmente, a densidade dos meus textos empalidece perante o grau de dificuldade das tuas perguntas, Giorgio. E a que agora colocas não foge à regra. É antiga a discussão em torno da orientação sexual de várias das principais personagens que integram a mitologia do Batman, começando pelo próprio. No que ao Joker diz respeito, a sua sexualidade, à semelhança de tantos outros aspetos da sua vida, parece envolta num manto diáfano de mistério. Circunstância que, a meu ver, apenas reforça o fascínio do Palhaço do Crime. Levando na devida conta o seu perfil anárquico, a arriscar um palpite, seria o de que o Joker será um adepto de uma sexualidade sem tabus. No mínimo, considerando os exemplos por ti enunciados, ele poderá ser classificado como um bissexual curioso, embora com clara inclinação para as mulheres. Conforme atesta, de resto, o seu turbulento (e nada platónico) relacionamento com a Arlequina. A propósito dos maneirismos suspeitos do Joker em algumas das interações com o Batman, imputá-los-ia mais à sua veia histriónica, numa tentativa de desarmar o seu circunspeto adversário. Importa notar, por exemplo, que, em "O Cavaleiro das Trevas", fica implícito o estupro de Selyna Kile após o vilão a ter enfiado à força numa fantasia de Mulher-Maravilha. Por fim, quanto à tua observação de que a diversidade sexual penderá apenas para o campo heroico, isso não corresponde completamente à verdade. E nem é preciso procurar exemplos fora do microcosmos do Homem-Morcego para o refutar. Basta ter presente que, na realidade emanada de "Os Novos 52", Arlequina e Hera Venenosa (ambas vilãs, ainda que reclicadas como anti-heroínas) viveram um tórrido romance. Ou seja, nem só os heróis e heroínas estão a ser usados como porta-estandartes do movimento LGBT. Vilões e vilãs também têm servido esse propósito. Tomara que esta minha resposta tenha servido para trazer alguma luz ao assunto em apreço, e não motive um boicote ao meu blogue, decretado por algum ajuntamento de ofendidos crónicos.
EliminarHmmm, confesso que pouquíssima coisa sei sobre os Novos 52. Apesar disso, minha linha de pensamento é outra: Não se colocam vilões como homossexuais, porque, graças a essa nova ordem do politicamente correto, todo e qualquer LGBT não pode ser retratado como má pessoa. Sobre o Joker, não concordo que ele seria heterossexual, uma vez que seu relacionamento com a Arlequina, na BD "Mad Love", era unilateral. A doutora Quinzel se apaixonou por ele, sem correspondência. Não há uma única demonstração de carinho ou respeito, nem sequer de atração física, por parte do Palhaço do Crime. Como em Killing Joke, o Curinga estava acompanhados de dois capangas, o estupro implícito de Barbara Gordon pode ter sido muito bem perpetrado por aqueles. É apenas uma opinião, mas que ele não me parece fanático por mulheres, isso não parece.
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