02 fevereiro 2017

CLÁSSICOS da 9ª ARTE: «WOLVERINE - O VELHO LOGAN»

 
  Agora um simples homem de família assombrado por um terrível segredo do seu passado, Logan luta pela sobrevivência num Amanhã inquinado pela violência e pela desesperança. Mas conseguirá fazê-lo sem libertar a fera assassina que jurou manter cativa até ao último dia da sua vida? 
   Dos mesmos autores de Guerra Civil, esta é a saga que serviu de mote ao novo filme do Wolverine, que marcará também a despedida de Hugh Jackman do papel que lhe garantiu um lugar na iconografia popular deste século. 

Título original: Wolverine - Old Man Logan
Data de publicação: Julho de 2008 a setembro de 2009
Títulos abrangidos: Wolverine  vol. 3 nº66 a 72 (inclusive) e Wolverine Giant Size Old Man Logan nº1
Licenciador: Marvel Comics
Autores: Mark Millar (história) e Steve McNiven (arte)
Protagonistas: Logan/Wolverine e  Clint Barton/Gavião Arqueiro (Hawkeye)
Vilões: Caveira Vermelha (Red Skull), Doutor Destino (Doctor Doom), Hulk, Gangue do Hulk (Hulk Gang), Ashley Barton/Spider-Girl, Venom, SHIELD e Moloides (Moloids)
Coadjuvantes: Clã Logan (Maureen, Scotty e Jade), Ultron 8, Tonya Parker, Emma Frost e Raio Negro (Black Bolt)
Cenários: Diferentes pontos da Amerika, território geográfico que, na realidade paralela onde se desenrola a trama, equivale, grosso modo, aos EUA pré-colapso.

Cemitério de heróis a céu aberto
em Wolverine nº67.
Edições em Português: Já dada à estampa dos dois lados do Atlântico, a saga foi primeiramente publicada no Brasil pela Panini, entre agosto de 2009 e março de 2010, nos números 57 a 64 de Wolverine, o título a solo do herói mutante. Quatro anos volvidos, em setembro de 2014, seria a vez de a Salvat a reeditar, no âmbito da sua Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel. Ainda por Terras de Vera Cruz, e novamente com a chancela da Panini, em agosto do ano passado chegou às bancas brasileiras uma série periódica epónima, da qual já foram lançados até ao momento meia dúzia de números.
Em Portugal, O Velho Logan integrou a segunda série da coleção Heróis Marvel da Levoir, numa edição única que remonta a finais de 2012.




De cima para baixo: a edição portuguesa da Levoir,
a reedição brasileira da Salvat e
o 1º número da série mensal epónima da Panini.
Enredo: Em 2059, os EUA foram conquistados por um conluio de supervilões encabeçado por Magneto, Doutor Destino, Abominação e Caveira Vermelha. Na curta guerra que antecedeu a queda do país, os heróis foram sumariamente derrotados e praticamente varridos do mapa. Aos poucos sobreviventes não restou outra alternativa senão a clandestinidade, a partir da qual assistem, impotentes, ao reinado de terror imposto pelos vencedores
Rebatizado de Amerika, o território geográfico dos antigos EUA foi retalhado ao sabor da ganância dos seus novos governantes, dando lugar a um mosaico de feudos nos quais cada suserano dita a sua lei sem prestar contas a ninguém.
Não demoraram no entanto a eclodir violentas disputas territoriais entre os antigos aliados. Na sequência delas, Abominação foi assassinado pelo Hulk, que assim lhe arrebatou os seus domínios. Destino idêntico sofreu Magneto às mãos de um novo e implacável Rei do Crime. Já o Caveira Vermelha, instalado na Casa Branca, autoproclamou-se Presidente da Amerika e fundou um regime decalcado do III Reich.
À margem dessas insanas guerras pelo poder, Logan e a sua família lutam diariamente pela sobrevivência numa fímbria de terra ressequida localizada em Sacramento, a antiga capital da Califórnia agora uma coutada do Hulk.
Sem dinheiro para pagar o tributo mensal aos seus senhorios da Gangue do Hulk (os obtusos netos do Gigante Verde, fruto da sua relação incestuosa com a Mulher-Hulk, sua prima), o antigo X-Man aceita de bom grado o trabalho que lhe é oferecido por Clint Barton. Outrora o Vingador conhecido como Gavião Arqueiro, Barton é agora um ancião cego que precisa da ajuda de Logan para atravessar o país até à capital da Nova Babilónia. O objetivo é entregar uma encomenda secreta e ilícita que Logan presume serem drogas.

Logan e Clint Barton: dois homens e um destino.
Ao longo da sua extenuante jornada rumo à Costa Leste, a parelha de antigos heróis depara-se com numerosos perigosos e distrações. Num primeiro momento, resgatam Ashley Barton, filha de Clint e neta de Peter Parker (o Homem-Aranha), das manápulas do novo Rei do Crime. Embora aparente aspirar a uma carreira heroica como Spider-Girl, os planos da jovem são na verdade pouco nobres. Após tirar a vida ao seu algoz, Ashley anuncia a sua intenção de reclamar para si o território do Rei do Crime, o qual abrange a antiga área metropolitana de Las Vegas.
Retomando a sua viagem, Logan e Clint sobrevivem por uma unha negra à vaga de destruição levada a cabo por um enxame de Moloides. Esta raça humanoide praticamente destituída de inteligência que durante largos anos serviu o Toupeira (velho inimigo do Quarteto Fantástico), vem afundando cidades inteiras abaixo da superfície por meio de ataques subterrâneos para destruir as respetivas fundações.
Ainda mal recompostos do susto, Logan e Clint veem-se logo depois perseguidos por um enorme e faminto dinossauro importado da Terra Selvagem e infundido pelo simbionte Venom. Segundos antes de o monstro os abocanhar, os dois são, contudo, teleportados para a Zona Proibida por Emma Frost e Raio Negro (respetivamente, a ex-Rainha Branca do Clube do Inferno e o ex-monarca dos Inumanos).
Logan e Clint fogem do apetite do  T-Rex Venom.
À medida que a aventura prossegue e as peripécias se sucedem, é enfatizada a ideia de que a persona Wolverine está morta e enterrada desde a noite em que os vilões lançaram o seu devastador blitzkrieg. Consequência direta desses infaustos acontecimentos, Logan jurou não mais desembainhar as suas garras de adamantium.
Através de flashbacks, é revelado que nessa noite fatídica um grupo composto por aproximadamente 40 supervilões sitiou a Mansão X, lar dos X-Men. Incapaz de localizar os seus companheiros de equipa e temendo pelas vidas dos jovens pupilos lá alojados, Wolverine chacinou os intrusos sem dó nem piedade.
Quando cessou por fim o seu frenesim homicida, o herói percebeu, horrorizado, que tudo não passara de uma ilusão gerada por Mystério, mestre da manipulação sensorial e arqui-inimigo do Homem-Aranha. Os atacantes eram, afinal, os restantes X-Men, que agora jaziam mortos num lago de sangue.
Psicológica e emocionalmente devastado por esse trágico incidente, Logan abandonou a mansão e cambaleou até uma linha de caminho de ferro com o propósito de cometer suicídio. Apesar de atropelado por um comboio a alta velocidade, Logan sobreviveu porque o seu fator de cura mutante conseguiu rapidamente regenerar os ossos e tecidos danificados do seu corpo. Impedido de pôr termo à própria vida, o amargurado herói decretou o fim de Wolverine, o seu lado animalesco a quem culpava pela morte dos amigos.
Chegados finalmente ao seu destino, Logan e o seu companheiro de viagem entregam o misterioso pacote a um presumível grupo da resistência clandestina que se opõe à tirania do Caveira Vermelha. O pacote não contém, afinal, narcóticos mas sim um suprimento do Soro do Supersoldado suficiente para criar um exército. Trata-se do composto químico que deu origem ao Capitão América e que deveria agora servir para formar uma nova geração de Vingadores.
A entrega revela-se, contudo, uma cilada. Os supostos membros da resistência são na verdade operacionais da SHIELD, a antiga agência federal de contraterrorismo, reconvertida na polícia secreta do Caveira Vermelha. Sem hesitar, os agentes crivam Logan e Clint de balas, matando ambos e levando consigo o suprimento de Soro do Supersoldado.
Salvo uma vez mais pelo seu poder regenerativo, Logan sobrevive e desperta em plena sala de troféus do Caveira Vermelha, entre os trajes e acessórios de vários dos super-heróis tombados em combate. Mesmo sem fazer uso das suas garras metálicas, Logan desbarata num ápice os sequazes do vilão antes de o decapitar com o escudo do Capitão América.

Reflexos de um mundo distópico: símbolos nazis na Casa Branca
 e o sinistro empório de troféus do Caveira Vermelha.
Sem tempo a perder, Logan usa algumas peças da armadura do Homem de Ferro para voar de volta a casa, carregando consigo uma mala a abarrotar de notas, que deveria ter servido de pagamento da encomenda trazida por ele e por Clint, e que ele tenciona agora usar para saldar o seu débito à Gangue do Hulk.
No entanto, ao chegar a casa Logan encontra os corpos em decomposição da sua mulher e filhos, massacrados pelos descendentes do Gigante Verde durante a sua ausência. Consumido pela dor e pela sede de vingança, ele quebra finalmente a sua promessa, permitindo que a fera sanguinária que nele habita venha novamente à tona.
Depois de estraçalhar a Gangue do Hulk, Wolverine fica cara a cara com o próprio Banner. Que, mesmo envelhecido e na sua forma humana, exibe uma força descomunal. Enquanto os dois se digladiam animados pelo mais puro ódio mútuo, Banner revela que a morte da família de Logan serviu um duplo propósito: instilar medo aos seus servos e despertar a fúria assassina de Wolverine. Tudo porque o Hulk se sentia entediado devido ao seu estatuto de regente absoluto e à ausência de rivais capazes de lhe proporcionarem uma luta condigna. Desejo que o antigo X-Man não se faz rogado em conceder-lhe.


Logan acerta contas com a Gangue do Hulk
 antes de servir de repasto ao monstro.
Assumindo a sua forma monstruosa, o Hulk é agora maior do que alguma vez foi, derrotando por isso sem dificuldade Wolverine e devorando-o de seguida. Nas entranhas do gigante, Logan regenera-se rapidamente e, numa sórdida reinterpretação da alegoria bíblica protagonizada por Jonas, usa as suas garras para esventrar o seu verdugo a partir de dentro. O Golias Esmeralda tomba sem vida e, ao preparar-se, para abandonar o covil do brutamontes, Wolverine encontra Bruce Banner Jr., o seu filho bebé.
Um mês depois, com a ajuda dos vizinhos, Logan constrói um pequeno memorial para a sua família desaparecida. Sem nada que o prenda àquele causticado pedaço de deserto californiano, ele decide partir com a missão de colocar um ponto final no regime opressivo imposto pelos malfeitores após o ocaso dos heróis. Como novo parceiro  de aventuras, tem agora Bruce Banner Jr., cuja fisiologia mutante continua em crescimento acelerado. E assim caminham os dois, lado a lado, em direção ao pôr do sol...

Apontamentos:

* Além de fisicamente deformados devido à consanguinidade radioativa dos seus antepassados, os membros da Gangue do Hulk são descritos como praticantes de canibalismo;
* Edição datada de setembro de 2008, Wolverine nº67 foi dedicada à memória de Michael Turner, artista notabilizado pelo seu trabalho tanto ao serviço da Marvel como da DC, falecido três meses antes após perder a batalha que vinha travando contra um cancro particularmente agressivo. Tinha 37 anos;
* Problemas de agenda por parte de Mark Millar e Steve McNiven ditaram o atraso no lançamento de Wolverine nº72, edição que incluía o penúltimo capítulo da saga e que só chegaria às bancas depois do nº73. Já a sua capa é uma homenagem a Red Skull's Deadly Revenge, história clássica publicada originalmente em julho de 1942, nas páginas de Captain America Comics nº16. Nela, o Caveira Vermelha também enverga o uniforme do Sentinela da Liberdade numa grotesca paródia aos ideais por ele representados;

A perturbadora capa de Wolverine nº72.
* O Velho Logan é, basicamente, um western. Entre paisagens inóspitas e territórios sem lei, são vários os elementos a remeter para esse género outrora muito popular e que, de há uns anos a esta parte, tem vindo a ganhar novo alento em Hollywood;
* Apesar de Wolverine ser virtualmente imortal e  de ter o seu processo de envelhecimento consideravelmente retardado pelo seu fator de cura mutante, esta não é a primeira vez que ele surge retratado como um ancião. Em Wolverine: The End, outro exercício de imaginação ambientado numa linha temporal divergente apresentado aos leitores em 2004, Logan tem 210 anos de idade e os movimentos tolhidos pela artrite;
* Habituado a escrever para um público adulto, Mark Millar não tem pudor em empregar linguagem obscena nas histórias da sua lavra. Estilo no entanto não compaginável com o código de ética da Marvel. Numa solução de compromisso entre o autor e a editora, os palavrões e restantes expressões decorrentes do baixo calão foram camuflados por asteriscos e outros símbolos gráficos. O Velho Logan ensinou, não obstante, os leitores a praguejar em alemão. Exemplo disso é arschkrieher, imprecação dirigida pelo Caveira Vermelha ao herói e que, numa tradução higienizada para português, equivale a "lambe-botas"(embora o termo original remeta para uma certa parte da anatomia onde a luz do Sol não chega);

Um Logan grisalho e tolhido pela artrite
 em Wolverine: The End (2004).

Sequelas: Conforme deixava antever o final em aberto da saga, aquela não seria decerto a última vez que veríamos o Velho Logan em ação. De facto, ele e Bruce Banner Jr. ressurgiriam pouco tempo depois em Fantastic Four, numa história com a assinatura de Millar e que, apesar de escrita antes dos eventos narrados em Old Man Logan, lhes sucedia cronologicamente.
Agora integrados nos Novos Defensores, Logan e Banner Jr. viajam no tempo numa tentativa desesperada de alterar a cadeia de eventos que conduzirá a um futuro ainda mais tenebroso do que aquele que fora apresentado na saga original.
Em 2015, o mundo selvagem do Velho Logan seria um dos principais campos de batalha de Secret Wars. No decurso desse arco de histórias que revolucionou o Universo Marvel, ele chegou mesmo a reunir-se com os colegas de equipa que havia massacrado. Ponto de partida para o seu regresso em grande estilo em All New, All Different Marvel. Na novíssima continuidade da Editora das Lendas, Logan ganhou um título próprio e, aparentemente, o gosto pelas viagens no tempo.
Transportado aos anos que precederam a queda dos heróis e a consequente ascensão dos vilões em O Velho Logan, o antigo X-Man não olha a meios para tentar impedir que a hecatombe se repita.

Novas aventuras para um velho herói.

Logan será uma adaptação fiel?

Logan chegará às salas de cinema portuguesas a 2 de março,
na véspera da sua estreia em terras do Tio Sam.
Salvo raras e honrosas exceções (sendo os Watchmen de Zack Snyder uma delas), Hollywood não costuma primar pela fidelidade na hora de transpor ao grande ecrã sagas emblemáticas com super-heróis. E, a avaliar pela informação posta a circular no ciberespaço e pelos trailers entretanto divulgados, Logan não deverá fugir à regra. Quanto muito será, como é da praxe, vagamente inspirado no material original.
Sem querer vestir a pele sebosa de um spoiler, é ainda assim possível antever três diferenças fundamentais entre o filme e a saga em que se baseia.
Para começar, a maior parte das personagens que abrilhantam Old Man Logan não irão figurar na película. Como é do conhecimento geral, a Marvel partilha com a Fox os direitos de licenciamento do seu Universo Estendido. Motivo pelo qual, no lugar do Gavião Arqueiro (propriedade dos Estúdios Marvel) veremos o Professor Xavier (parte integrante da franquia dos X-Men explorada pela Fox) a acompanhar Logan na sua jornada, cujo destino e propósito se desconhecem.
À semelhança de Captain America: Civil War, Logan terá, portanto, seguramente um rol de personagens bem mais modesto do que o da história que lhe serve de mote. Também alguns dos seus elementos mais icónicos -  com o T-Rex Venom à cabeça - deverão ficar de fora.
Mas nem tudo são contas de subtrair nesta equação. Em contrapartida, iremos ter oportunidade de ver a estreia de X-23 no grande ecrã. Embora ainda como pessoa de palmo e meio, será interessante ver que tipo de papel lhe estará reservado na película, uma vez que, na banda desenhada, é ela a nova Wolverine. Existe, de resto, a expectativa de que essa passagem de testemunho seja mostrada em Logan. Tanto mais que Hugh Jackman já anunciou a sua indisponibilidade para repetir o papel que vem desempenhando desde 2000, e que lhe garantiu já um lugar na iconografia pop deste século. Ingredientes mais do que suficientes para fazer de Logan um dos filmes mais aguardados do ano.
Onde a X-23 irá estar em destaque é neste blogue. Muito em breve, e no seguimento desta resenha, irei publicar um prontuário detalhado daquela que é uma das novas coqueluches da Marvel. Fiquem sintonizados!

X-23 (dir.) e a sua versão mini em Logan.

Vale a pena ler?

Precedo a minha análise com uma breve declaração de interesses: Wolverine, personagem que considero absurdamente sobre-estimada nos dias que correm, não tem lugar no meu pódio, tampouco no meu Top 10 de super-heróis das diversas editoras. Sou, por outro lado, fã incondicional de realidades alternativas, esses refrescantes exercícios de imaginação que visam subverter o contexto normal dos nossos heróis de sempre, transplantando-os para outras épocas e/ou lugares.
Para resultar, uma história desse cariz depende de uma série de fatores. Um dos principais é saber usar a personagem certa na ideia certa. E, nesse quesito, Mark Millar é exemplar em O Velho Logan.
Wolverine é o tipo de personagem que combina muito bem com uma narrativa com elementos de road trip. Para mais quando essa jornada tem como cenário um futuro pós-apocalíptico onde impera a lei do mais forte, com um herói que procura manter-se fiel ao seu juramento de não violência. Dilema que, per si, instiga a volúpia literária ao mesmo tempo que convida à reflexão filosófica.
A parceria de Logan com Clint Barton foi igualmente uma escolha acertada. Millar trabalha com ambos de uma maneira tão fenomenal que ora temos Logan como protagonista e Clint como coadjuvante, ora se invertem os papéis de ambos.
Mas a mais-valia desta história reside, a meu ver, menos na fantástica dinâmica dos seus protagonistas do que no contexto que os emoldura. Contornando os lugares-comuns narrativos, Milllar surpreende o leitor ao apresentar-lhe, não o habitual mundo distópico onde surge um qualquer ungido para salvar a humanidade, mas antes uma realidade completamente dominada pela desesperança. Mesmo aqueles que parecem bem intencionados revelam ser na verdade pessoas mesquinhas, impelidas pela ganância ou por quaisquer outros interesses egoístas. Millar pretende com isso sublinhar a ideia de que o heroísmo morreu com os heróis na noite fatídica em que os vilões levaram a melhor.
Bem elaborada, a trama absorve por completo o leitor, habilmente espicaçado na sua curiosidade através do mistério em redor do passado de Logan. Segredo que constitui, de resto, uma das traves-mestras da narrativa, e cuja revelação é passível de deixar qualquer um de queixo caído.
Aplausos também para a arte de Steve McNiven. O seu traço realista, com expressões e semblantes mais duros, casa muito melhor com esta história do que com Guerra Civil (já aqui esmiuçada). Saga a que, aqui e ali, são feitas algumas subtis referências, designadamente nas bem coreografadas cenas de luta. Exceção feita ao derradeiro duelo que opõe Logan a um, a vários títulos, monstruoso Hulk.
O que poderia - e deveria- ter sido o ponto alto da trama, desde logo pela revisitação ao primeiro confronto de ambos aquando da estreia de Wolverine nos quadradinhos, parece, no entanto, ter sido feito em cima do joelho. Não sendo dececionante, o combate final fica muito aquém do desejável tom épico. Nada que retire brilhantismo a uma obra que me surpreendeu pela positiva, pois estava reticente quanto ao seu valor.
Com um enredo denso e emocionante, infundido de toda a crueza que a arte de McNiven consegue transmitir, O Velho Logan é, em suma, uma parábola sobre escolhas e como, além de moldarem o caráter de quem as toma, elas definem o nosso destino. Justificando-se assim o seu desfecho aberto a várias interpretações...

O Velho Logan: crónica de um mundo sem esperança.







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