Al Simmons, oficial das Forças Especiais enviado em missão suicida, aceita servir o Inferno na sua batalha final contra o Céu. Só assim poderá reencontrar a sua amada e vingar-se de quem o traiu. Mas muda de ideias ao perceber o que está verdadeiramente em jogo.
Apesar de fiel ao conceito original, aquele que foi o primeiro filme de super-heróis com um protagonista negro, ficou preso no Purgatório por conta de alguns pecadilhos.
Título original: Spawn (subtitulado no Brasil como O Soldado do Inferno)
Ano: 1997
País: Estados Unidos da América
Género: Ação/Terror/Fantasia
Duração: 96 minutos
Realização: Mark A.Z. Dippé
Produção: Todd McFarlane Entertainment
Argumento: Alan B. McElroy
Distribuição: New Line Cinema
Elenco: Michael Jai White (Al Simmons/Spawn); John Leguizamo (Palhaço/Violador); Martin Sheen (Jason Wynn); Theresa Randle (Wanda Blake Simmons-Fitzgerald); Nicol Williamson (Cagliostro); D.B. Sweeney (Terry Fitzgerald); Melinda Clarke (Jessica Priest); Frank Welker (voz de Malebolgia)
Orçamento: 40 milhões de dólares
Receitas: 87,8 milhões de dólares
Desenvolvimento: Em larga medida, a ascensão meteórica da Image Comics* em meados da década de 1990 ficou a dever-se a Spawn. Foi ele, sem sombra de dúvida, o expoente máximo de uma editora que, apesar de neófita, disputava, à época, o pódio das vendas à Marvel e à DC.
"Nascido nas trevas. Comprometido com a justiça." Assim era apresentado Spawn num dos cartazes promocionais do seu filme. |
Criado em 1992 por Todd McFarlane, Spawn, atraiu logo nesse ano a atenção da Columbia Pictures, que expressou o seu interesse em adaptá-lo ao cinema. As negociações nesse sentido acabariam contudo por não chegar a bom porto. Motivo: McFarlane sentia que o estúdio não lhe estaria a conceder suficiente controlo criativo sobre o projeto.
Em virtude dessa circunstância, McFarlane preferiu vender os direitos do filme à New Line Cinema - pelo simbólico preço de 1 dólar - em troca de supervisão criativa e das respetivas receitas de merchandising.
Ele próprio um fã de super-heróis, o, à data, presidente da New Line Cinema, Michael DeLuca, congratulou-se com a possibilidade de transpor ao grande ecrã uma personagem tão popular como Spawn. Importa notar que, nos anos que antecederam o lançamento do filme, o Soldado do Inferno era o campeão de vendas no ultracompetitivo mercado dos comics.
DeLuca acreditava, no entanto, ser possível manter a atmosfera lúgubre e violenta das histórias do Spawn sem alienar o filão adolescente, pelo que a película receberia classificação etária "para maiores de 13".
Como em qualquer produção deste género, os efeitos visuais seriam um dos vetores mais importantes. Mais ainda quando o projeto em causa exige uma miríade deles.
Assim, num primeiro momento, os efeitos especiais ficaram a cargo da Pull Down Your Pants, uma recém-fundada empresa do ramo que tinha como sócios três ex-artistas da Industrial Light & Magic (também ela ligada à produção): Mark A.Z. Dippé, Clint Goldman e Steve "Spaz" Williams.
Apesar de nunca antes se ter sentado na cadeira de realizador, Dippé foi o escolhido para dirigir a película. Goldman, por seu turno, tornar-se-ia coprodutor, ao passo que "Spaz" chamaria a si a supervisão dos efeitos especiais. O enredo, esse, foi confiado a Alan B. McElroy, que além de diversos números do título regular de Spawn, escrevera igualmente alguns episódios da sua série animada.
Praticamente um ilustre desconhecido, Michael Jai White (que, um par de anos antes, protagonizara um telefilme biográfico de Mike Tyson), foi o eleito para encabeçar um elenco no qual avultavam os consagrados Martin Sheen e John Leguizamo.
White considerou Al Simmons uma personagem aliciante e Spawn uma das figuras mais trágicas que alguma vez conheceu no cinema. Segundo ele, o grande desafio do papel consistiu em obter a simpatia dos espectadores para com um assassino ao serviço do Governo e recém-regressado do Inferno. Mais penoso seria, porém, o processo de caracterização a que o ator foi sujeito.
Além do uso de lentes de contacto amarelas que lhe irritavam os olhos e de uma máscara que lhe dificultava a respiração, White tinha de submeter-se a quatro longas horas de maquilhagem antes de entrar em cena. Valeu-lhe a sua longa experiência como lutador de artes marciais, que lhe garantiu a concentração e a força de vontade necessárias para suportar o enorme desconforto causado pelas próteses que faziam parte do seu elaborado figurino.
Dispondo inicialmente de um orçamento de 20 milhões de dólares, devido à escala e complexidade dos respetivos efeitos visuais, o custo final de Spawn cifrar-se-ia no dobro desse montante, ou seja, 40 milhões de dólares. Um terço dos quais seriam alocados precisamente à vertente técnica que incluía os efeitos especiais.
Uma vez que o cronograma da produção previa apenas 63 dias para as filmagens, estas decorreram a um ritmo frenético. Clint Goldman entendeu, ainda assim, ser esse um prazo excessivamente longo. Motivo pelo qual desembolsou 1 milhão de dólares para contratar também a Santa Barbara Studios, empresa de efeitos especiais responsável pela conceção das sequências digitais ambientadas no Inferno. Investimento avultado que permitiu encurtar em uma semana a rodagem da película.
Desenvolvidos por 22 empresas de 3 países (EUA, Canadá e Japão) e engajando um total de 70 profissionais, os efeitos especiais de Spawn demoraram perto de 11 meses a serem finalizados. E mesmo assim, mais de metade deles só foi entregue duas semanas antes da estreia do filme. Que aconteceu no primeiro dia de agosto de 1997, arrecadando logo no primeiro fim de semana em cartaz 19,7 milhões de dólares. Seria essa, de resto, a melhor receita de bilheteira obtida por Spawn em terras do Tio Sam.
*Trajetória da Image em: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/02/fabricas-de-mitos-image-comics.html
Enredo: Coronel das Forças Especiais dos EUA ao serviço de uma agência secreta dirigida por Jason Wynn, Al Simmons é designado para uma missão de sabotagem numa fábrica norte-coreana de armamento bioquímico. Tudo não passa, porém, de uma cilada montada pelo seu superior.
Em virtude dessa circunstância, McFarlane preferiu vender os direitos do filme à New Line Cinema - pelo simbólico preço de 1 dólar - em troca de supervisão criativa e das respetivas receitas de merchandising.
Todd McFarlane e Spawn: criador e criatura unidos pelo sucesso. |
DeLuca acreditava, no entanto, ser possível manter a atmosfera lúgubre e violenta das histórias do Spawn sem alienar o filão adolescente, pelo que a película receberia classificação etária "para maiores de 13".
Como em qualquer produção deste género, os efeitos visuais seriam um dos vetores mais importantes. Mais ainda quando o projeto em causa exige uma miríade deles.
Assim, num primeiro momento, os efeitos especiais ficaram a cargo da Pull Down Your Pants, uma recém-fundada empresa do ramo que tinha como sócios três ex-artistas da Industrial Light & Magic (também ela ligada à produção): Mark A.Z. Dippé, Clint Goldman e Steve "Spaz" Williams.
Apesar de nunca antes se ter sentado na cadeira de realizador, Dippé foi o escolhido para dirigir a película. Goldman, por seu turno, tornar-se-ia coprodutor, ao passo que "Spaz" chamaria a si a supervisão dos efeitos especiais. O enredo, esse, foi confiado a Alan B. McElroy, que além de diversos números do título regular de Spawn, escrevera igualmente alguns episódios da sua série animada.
Praticamente um ilustre desconhecido, Michael Jai White (que, um par de anos antes, protagonizara um telefilme biográfico de Mike Tyson), foi o eleito para encabeçar um elenco no qual avultavam os consagrados Martin Sheen e John Leguizamo.
White considerou Al Simmons uma personagem aliciante e Spawn uma das figuras mais trágicas que alguma vez conheceu no cinema. Segundo ele, o grande desafio do papel consistiu em obter a simpatia dos espectadores para com um assassino ao serviço do Governo e recém-regressado do Inferno. Mais penoso seria, porém, o processo de caracterização a que o ator foi sujeito.
Além do uso de lentes de contacto amarelas que lhe irritavam os olhos e de uma máscara que lhe dificultava a respiração, White tinha de submeter-se a quatro longas horas de maquilhagem antes de entrar em cena. Valeu-lhe a sua longa experiência como lutador de artes marciais, que lhe garantiu a concentração e a força de vontade necessárias para suportar o enorme desconforto causado pelas próteses que faziam parte do seu elaborado figurino.
Michael Jai White (dir.) atento às indicações de Dippé durante a rodagem de Spawn. |
Uma vez que o cronograma da produção previa apenas 63 dias para as filmagens, estas decorreram a um ritmo frenético. Clint Goldman entendeu, ainda assim, ser esse um prazo excessivamente longo. Motivo pelo qual desembolsou 1 milhão de dólares para contratar também a Santa Barbara Studios, empresa de efeitos especiais responsável pela conceção das sequências digitais ambientadas no Inferno. Investimento avultado que permitiu encurtar em uma semana a rodagem da película.
Desenvolvidos por 22 empresas de 3 países (EUA, Canadá e Japão) e engajando um total de 70 profissionais, os efeitos especiais de Spawn demoraram perto de 11 meses a serem finalizados. E mesmo assim, mais de metade deles só foi entregue duas semanas antes da estreia do filme. Que aconteceu no primeiro dia de agosto de 1997, arrecadando logo no primeiro fim de semana em cartaz 19,7 milhões de dólares. Seria essa, de resto, a melhor receita de bilheteira obtida por Spawn em terras do Tio Sam.
A caracterização de Spawn revelou-se um autêntico suplício para Michael Jai White. |
As cenas mostrando a capa viva do herói foram algumas das mais difíceis de conceber. |
*Trajetória da Image em: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/02/fabricas-de-mitos-image-comics.html
Noutro dos posters promocionais do filme, Spawn dividia protagonismo com o Palhaço e o seu meu horripilante alter ego. |
Jessica Priest, outra das assassinas de elite às ordens de Wynn, é incumbida por ele de executar Simmons. Cujo cadáver é, em seguida, queimado por Wynn, com as labaredas daí resultantes a provocarem uma enorme explosão na fábrica.
Chegado ao Inferno, Simmons depara-se com um dos seus regentes chamado Malebolgia. O demónio propõe-lhe um pacto faustiano: se Simmons aceitar servi-lo por toda a eternidade e comandar as suas legiões demoníacas durante o Armagedão, poderá regressar à Terra para rever a sua noiva, Wanda Blake.
Simmons aceita os termos do acordo com Malebolgia e regressa ao mundo dos vivos. Mas logo percebe ter sido trapaceado pelo demónio. Passaram cinco anos e Wanda está agora casada com Terry Fitzgerald, o melhor amigo do ex-noivo. Com o casal mora também a pequena Cyan, filha de Simmons nascida após a morte do pai.
Enquanto procura ajustar-se à nova e dolorosa realidade, Simmons é interpelado pelo Palhaço, um demónio enviado por Malebolgia para lhe servir de guia nos ínvios caminhos do Mal.
Quase ao mesmo tempo, Simmons trava conhecimento com um misterioso ancião de seu nome Cagliostro, também ele um antigo Soldado do Inferno. Mas que conseguira libertar a sua alma, combatendo agora sob o estandarte celestial.
É ele quem informa Simmons de que Jason Wynn é agora um poderoso senhor da guerra que desenvolveu o Heat 16, uma arma biológica capaz de erradicar a Humanidade da face da Terra.
Durante uma festa organizada por Wynn, Simmons ataca o seu antigo comandante, mata Jessica Priest e consegue escapar graças à armadura de necroplasma que faz dele um Spawn, um general do Inferno.
Na esteira do incidente, o Palhaço convence Wynn a implantar cirurgicamente um dispositivo no coração que libertará o Heat 16 na atmosfera caso os seus sinais vitais cessem. Wynn concorda, pois sabe que isso servirá para dissuadir novos atentados contra a sua vida.
Malebolgia tem no entanto outros planos. O mestre infernal de Spawn deseja provocar o Apocalipse. Ordenando, por isso, ao seu servo que tire a vida a Wynn.
Perante a recusa de Spawn em levar a cabo a missão que lhe foi atribuída por Malebolgia, o Palhaço transforma-se no Violador - um demónio hediondo - e espanca-o quase até à morte.
Resgatado por Cagliostro, Spawn aprende com ele a controlar a sua armadura. Cagliostro põe-no também ao corrente do plano de Wynn e do Violador para assassinar Wanda, Cyan e Terry.
Instantes após ter enviado um email a um amigo jornalista a incriminar Jason Wynn, Terry é surpreendido pela presença deste em sua casa com Cyan como refém.
Wynn destrói o computador de Terry e sequestra toda a família. Spawn entra em cena e quase mata o seu antigo superior. Para evitar a hecatombe que daí resultaria, Spawn extrai o dispositivo ligado ao coração de Wynn, em vez de destruí-lo.
Furioso, o Violador envia Spawn e Cagliostro para o Inferno, onde são ambos rapidamente subjugados pelas legiões de Malebolgia. No último momento Spawn consegue, porém, escapar levando consigo Cagliostro. Já recomposto da refrega, o Violador segue-lhes no encalço.
De volta à Terra, Spawn usa as suas correntes sencientes para decapitar o Violador. Mas nem isso é suficiente para o silenciar.
Ao mesmo tempo que a sua face começa a derreter como a de um boneco de cera, o demónio profere impropérios e juras de vingança.
Jason Wynn é preso e Al, percebendo que deixou de ter lugar no mundo de Wanda e Cyan, empreende uma solitária cruzada como justiceiro das trevas.
Chegado ao Inferno, Simmons depara-se com um dos seus regentes chamado Malebolgia. O demónio propõe-lhe um pacto faustiano: se Simmons aceitar servi-lo por toda a eternidade e comandar as suas legiões demoníacas durante o Armagedão, poderá regressar à Terra para rever a sua noiva, Wanda Blake.
A última missão de Al Simmons valeu-lhe um passaporte para o Inferno. |
Enquanto procura ajustar-se à nova e dolorosa realidade, Simmons é interpelado pelo Palhaço, um demónio enviado por Malebolgia para lhe servir de guia nos ínvios caminhos do Mal.
O sinistro Palhaço esconde um segredo ainda mais sinistro. |
É ele quem informa Simmons de que Jason Wynn é agora um poderoso senhor da guerra que desenvolveu o Heat 16, uma arma biológica capaz de erradicar a Humanidade da face da Terra.
Durante uma festa organizada por Wynn, Simmons ataca o seu antigo comandante, mata Jessica Priest e consegue escapar graças à armadura de necroplasma que faz dele um Spawn, um general do Inferno.
Na esteira do incidente, o Palhaço convence Wynn a implantar cirurgicamente um dispositivo no coração que libertará o Heat 16 na atmosfera caso os seus sinais vitais cessem. Wynn concorda, pois sabe que isso servirá para dissuadir novos atentados contra a sua vida.
Spawn tem velhas contas a ajustar com Jason Wynn. |
Perante a recusa de Spawn em levar a cabo a missão que lhe foi atribuída por Malebolgia, o Palhaço transforma-se no Violador - um demónio hediondo - e espanca-o quase até à morte.
Resgatado por Cagliostro, Spawn aprende com ele a controlar a sua armadura. Cagliostro põe-no também ao corrente do plano de Wynn e do Violador para assassinar Wanda, Cyan e Terry.
Instantes após ter enviado um email a um amigo jornalista a incriminar Jason Wynn, Terry é surpreendido pela presença deste em sua casa com Cyan como refém.
Wynn destrói o computador de Terry e sequestra toda a família. Spawn entra em cena e quase mata o seu antigo superior. Para evitar a hecatombe que daí resultaria, Spawn extrai o dispositivo ligado ao coração de Wynn, em vez de destruí-lo.
Violador à solta. |
De volta à Terra, Spawn usa as suas correntes sencientes para decapitar o Violador. Mas nem isso é suficiente para o silenciar.
Ao mesmo tempo que a sua face começa a derreter como a de um boneco de cera, o demónio profere impropérios e juras de vingança.
Jason Wynn é preso e Al, percebendo que deixou de ter lugar no mundo de Wanda e Cyan, empreende uma solitária cruzada como justiceiro das trevas.
Trailer:
Curiosidades:
*Antes da escolha incidir sobre o e novato Mark A.Z. Dippé, Tim Burton (Batman) e Alex Proyas (O Corvo) foram os dois realizadores sondados para assumir a direção do filme. Ambos declinaram, contudo, o convite. Já para o papel principal Wesley Snipes (que, no ano seguinte, interpretaria Blade no cinema), Denzel Washington, Will Smith e Cuba Gooding Jr. foram alguns dos atores cogitados.
*Al Simmons era o nome do colega de quarto de Todd McFarlane nos seus tempos de estudante universitário. Wanda, Cyan e Terry Fitzgerald também homenageiam entes queridos do criador de Spawn (respetivamente, a esposa, a filha e o seu melhor amigo).
*Numa entrevista posterior à estreia da película, John Leguizamo contou que, certa vez, durante as filmagens, sentiu uma necessidade urgente de ir à casa de banho. Sucede que o fato de Palhaço demorava uma hora a vestir e outra a despir. Não lhe restando, pois, outro remédio senão aliviar-se dentro dele. Numa outra entrevista, o ator disse que usar o figurino em questão o fazia sentir-se como um pénis com um preservativo enfiado. Confessou ainda ter comido larvas vivas na cena em que a sua personagem devora uma piza em decomposição que encontrara num contentor de lixo.
*Na história original, Al Simmons é assassinado por Capela (Chapel), personagem que, por ser propriedade intelectual de Rob Liefeld, foi substituída no filme por Jessica Priest, criada especificamente para o efeito.
*Outra diferença relativamente aos quadradinhos prende-se com a cor da pele de Terry Fitzgerald. Que passou de negro a branco por exigência do estúdio de modo a prevenir que a predominância de personagens afro-americanas restringisse a audiência do filme a esse segmento social.
Melinda Clarke como Jessica Priest: femme fatale com uma costela sádica. |
*Spaz, o nome do cão de Spawn, era a alcunha de Steve Williams, supervisor dos efeitos visuais do filme;
*Malebolgia foi o nome usado por Dante na Divina Comédia para se referir não ao Diabo propriamente dito mas aos poços transbordantes de insetos situados no sétimo círculo do Inferno, e onde os condenados à danação eterna eram enterrados de cabeça para baixo.
*Numa das cenas do filme, que precede a sua aterradora metamorfose, o Palhaço diz: "Eu não sou o Vingador, o Vitimizador, o Vaporizador ou sequer o Vibrador! Eu sou... o Violador!". Trata-se de uma alusão aos Irmãos Flebíacos, cães de fila do Inferno que, na banda desenha, além do próprio Violador, são compostos por Vaporizador, Vingador, Vandalizador e Vacilador.
*Pese embora no filme Cagliostro seja apresentado como o mentor de Spawn, a sua contraparte histórica foi um ocultista do século XVIII que viajou pela Europa e pelo Egito antes de fundar a Maçonaria Oculta. Era também um notório charlatão que, antes de ser expulso de França, passou pelos calabouços da Bastilha. Acabando mais tarde condenado em Roma por heresia, bruxaria e conjura. Apesar de, nos quadradinhos, a personagem ter como imagem de marca uma longa e espessa barba branca, Nicol Williamson - que teve em Cagliostro o seu derradeiro papel - recusou-se terminantemente a usar uma, mesmo que postiça.
Os Irmãos Flebíacos (Phlebiac Brothers) em reunião familiar. |
Cagliostro antes e depois de uma visita ao barbeiro. |
*Perto do final do filme, Jason Wynn é escoltado para fora da casa de Wanda e Terry por uma parelha de detetives. São eles Sam Burke e Twitch Williams, dois dos mais carismáticos coadjuvantes das histórias de Spawn, que até já tiveram direito a revista própria.
*Na festa que tem Jason Wynn como anfitrião, uma escultural ruiva, usando um vestido verde e uns brincos com o símbolo do Spawn, passeia-se discretamente entre os convivas. Trata-se de Angela, personagem que, antes da sua recente migração para o Universo Marvel, era uma caçadora de Spawns às ordens de Deus.
*Muito antes de Stan Lee se tornar um habitué no Universo Cinemático da Marvel, Todd McFarlane fez um cameo no filme baseado na sua criação suprema. É um dos muitos sem-abrigo que perambulam pela chamada Cidade dos Ratos.
*Na festa que tem Jason Wynn como anfitrião, uma escultural ruiva, usando um vestido verde e uns brincos com o símbolo do Spawn, passeia-se discretamente entre os convivas. Trata-se de Angela, personagem que, antes da sua recente migração para o Universo Marvel, era uma caçadora de Spawns às ordens de Deus.
*Muito antes de Stan Lee se tornar um habitué no Universo Cinemático da Marvel, Todd McFarlane fez um cameo no filme baseado na sua criação suprema. É um dos muitos sem-abrigo que perambulam pela chamada Cidade dos Ratos.
Em Spawn, Laura Stepp emprestou por alguns segundos o seu corpo a Angela (acima), ex-caçadora de Spawns agora convertida em primogénita de Odin e, portanto, irmã mais velha de Thor. |
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Prémios e nomeações: Apesar da reação adversa por parte da generalidade da crítica, Spawn arrebatou o prémio para Melhores Efeitos Especiais no Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha. Certame espanhol em que foi igualmente nomeado na categoria de Melhor Filme.
Essa não foi, porém, a única nomeação recebida. Nos Saturn Awards, Spawn levou ao rubro a disputa pelo galardão para Melhor Caracterização.
Por sua vez, Michael Jai White, John Leguizamo e Theresa Randle foram indicados, respetivamente, para Melhor Ator Estreante, Melhor Ator Secundário e Melhor Atriz Secundária nos Blockbuster Entertainment Awards.
Sequela, reboot ou uma mão cheia de nada?
Provisoriamente intitulado Spawn 2, desde 1998 que aquele que seria o segundo capítulo da saga cinematográfica do Soldado do Inferno permanece em banho-maria. Tudo por causa das críticas pouco simpáticas recebidas pelo primeiro filme, e do seu modesto desempenho de bilheteira.
Do projeto pouco se sabe além de que Michael Jai White repetiria o papel principal e que a sequela seria, em boa verdade, um reboot. Isto porque, a exemplo de Batman Begins, serviria para relançar uma franquia que começou coxa. Quem o garantiu foi o próprio Todd McFarlane numa entrevista concedida pouco tempo após a estreia do capítulo inaugural da trilogia do Cavaleiro das Trevas dirigida por Christopher Nolan. Estávamos então em 2005.
Dois anos depois, em 2007, o mesmo McFarlane confirmou, noutra entrevista, a sua intenção de produzir uma segunda longa-metragem de Spawn. Nem que, para isso, tivesse de pagá-la do próprio bolso. Mais dois anos se passaram e nada aconteceu.
Até que, em 2009, McFarlane devolveu alguma esperança aos fãs ao anunciar publicamente que já havia começado a escrever o enredo do novo filme. Baseado, ao que parece, numa história que trazia na cabeça há vários anos. E que seria muito mais aterradora do que aquela que foi apresentada em Spawn. McFarlane pretenderia, aliás, fugir aos clichés do género super-heroico, apesar de este nunca ter sido tão popular junto do grande público.
Seguiram-se vários anos marcados por avanços, recuos e muitos rumores à mistura. Até que, em fevereiro de 2016, McFarlane anunciou ter finalmente pronto o argumento do novo filme. Cuja rodagem, prometeu então, arrancaria dentro de meses. Mais uma vez, ficou-se pelas intenções.
Volvido um ano sobre o bombástico anúncio de McFarlane, são mais as dúvidas do que as certezas em relação a um projeto que parece enguiçado. Apesar disso,o criador de Spawn já começou a levantar a pontinha do véu, revelando alguns pormenores sobre o filme.
Foi assim que os fãs ficaram a saber que se tratará de um thriller sobrenatural com um registo mais macabro do que o primeiro filme e, por conseguinte, mais próximo do material original. Tal como os recentes Deadpool e Logan, a nova aventura cinematográfica de Spawn será pois destinada a uma audiência adulta.
Entretanto, nas últimas semanas começaram a circular rumores na internet acerca da possível contratação do oscarizado Jamie Foxx (Django Libertado) para interpretar o amargurado herói forjado nas entranhas do Inferno.
O tempo dirá, porém, se haverá fogo por detrás de tanta fumaça. Ou se, pelo contrário, será apenas mais uma salva de tiros de pólvora seca...
Veredito: 58%
Vinte anos passados, já quase tudo foi dito acerca de Spawn, havendo portanto pouco a acrescentar. Para grande desgosto dos fãs, boa parte daquilo que foi sendo dito e escrito ao longo desse tempo serviu quase exclusivamente para depreciar um filme que, à partida, teria tudo para ser uma referência dentro do género super-heroico.
Do meu ponto de vista, o grande problema de Spawn foi ter tentado agradar a gregos e a troianos. E, como quase sempre sucede em casos desses, acabou por desagradar a toda a gente. Senão vejamos: para compensar a derrapagem orçamental da produção, McFarlane e companhia tiveram de ir ao encontro de um público mais abrangente. Tendo, para isso, transformado Spawn em algo que ele nunca foi: um super-herói.
Ao fazê-lo, defraudaram as expectativas dos verdadeiros fãs de uma personagem que, pela sua índole e modus operandi, está muito mais próxima do protótipo de anti-herói. Quem, por outro lado, esperava um escuteiro sorridente sempre pronto a resgatar gatinhos do cimo das árvores ou a ajudar velhinhas a atravessar a rua, deverá ter ficado chocado com a violência dos métodos do Soldado do Inferno. Mesmo tendo a sua ética sido amenizada de molde a corresponder a uma classificação etária que, bem vistas as coisas, praticamente só deixava de fora os bebés prematuros.
A par da trama demasiado simplista, é esse o principal pecadilho de Spawn. Que, ainda assim, não merecia a descida ao Inferno que muitos críticos lhe impuseram. Sobretudo quando o comparamos com o inenarrável Batman & Robin, estreado apenas algumas semanas e que, apesar do orçamento três vezes superior ao de Spawn, continua a ser uma nódoa na história do Universo Cinematográfico DC.
Mesmo a esta distância, Spawn - não sendo, de facto, uma obra-prima - continua a ser um filme que cumpre exemplarmente a sua missão de entreter o espectador. Tanto pelo seus inovadores efeitos visuais como pelas espetaculares sequências de ação; quer, ainda, pelo alívio cómico propiciado pelo Palhaço a uma trama carregada de elementos trágicos.
Com efeito, esta é uma daquelas películas em que o herói - tal como se verificou, por exemplo, em O Cavaleiro das Trevas (2008) - é ofuscado pelo carisma do vilão. Não porque Michael Jai White não consiga dar boa conta do recado enquanto Spawn, mas porque o Palhaço - magistralmente interpretado por John Leguizamo- lhe rouba cada cena.
Em suma, o Purgatório onde Spawn ficou preso é, pois, o castigo pela falta de coragem dos seus autores em darem aos fãs o que eles esperavam e mereciam. Erro que espero ver corrigido no prometido reboot da franquia.
Enquanto este sai e não sai, aproveitem para ver - ou rever - o filme original. Verão que vale a pena.
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Essa não foi, porém, a única nomeação recebida. Nos Saturn Awards, Spawn levou ao rubro a disputa pelo galardão para Melhor Caracterização.
Por sua vez, Michael Jai White, John Leguizamo e Theresa Randle foram indicados, respetivamente, para Melhor Ator Estreante, Melhor Ator Secundário e Melhor Atriz Secundária nos Blockbuster Entertainment Awards.
Michael Jai White, Theresa Randle e Jonh Leguizamo na passadeira vermelha da gala de estreia de Spawn. |
Provisoriamente intitulado Spawn 2, desde 1998 que aquele que seria o segundo capítulo da saga cinematográfica do Soldado do Inferno permanece em banho-maria. Tudo por causa das críticas pouco simpáticas recebidas pelo primeiro filme, e do seu modesto desempenho de bilheteira.
Do projeto pouco se sabe além de que Michael Jai White repetiria o papel principal e que a sequela seria, em boa verdade, um reboot. Isto porque, a exemplo de Batman Begins, serviria para relançar uma franquia que começou coxa. Quem o garantiu foi o próprio Todd McFarlane numa entrevista concedida pouco tempo após a estreia do capítulo inaugural da trilogia do Cavaleiro das Trevas dirigida por Christopher Nolan. Estávamos então em 2005.
Dois anos depois, em 2007, o mesmo McFarlane confirmou, noutra entrevista, a sua intenção de produzir uma segunda longa-metragem de Spawn. Nem que, para isso, tivesse de pagá-la do próprio bolso. Mais dois anos se passaram e nada aconteceu.
Até que, em 2009, McFarlane devolveu alguma esperança aos fãs ao anunciar publicamente que já havia começado a escrever o enredo do novo filme. Baseado, ao que parece, numa história que trazia na cabeça há vários anos. E que seria muito mais aterradora do que aquela que foi apresentada em Spawn. McFarlane pretenderia, aliás, fugir aos clichés do género super-heroico, apesar de este nunca ter sido tão popular junto do grande público.
Seguiram-se vários anos marcados por avanços, recuos e muitos rumores à mistura. Até que, em fevereiro de 2016, McFarlane anunciou ter finalmente pronto o argumento do novo filme. Cuja rodagem, prometeu então, arrancaria dentro de meses. Mais uma vez, ficou-se pelas intenções.
Volvido um ano sobre o bombástico anúncio de McFarlane, são mais as dúvidas do que as certezas em relação a um projeto que parece enguiçado. Apesar disso,o criador de Spawn já começou a levantar a pontinha do véu, revelando alguns pormenores sobre o filme.
Foi assim que os fãs ficaram a saber que se tratará de um thriller sobrenatural com um registo mais macabro do que o primeiro filme e, por conseguinte, mais próximo do material original. Tal como os recentes Deadpool e Logan, a nova aventura cinematográfica de Spawn será pois destinada a uma audiência adulta.
Entretanto, nas últimas semanas começaram a circular rumores na internet acerca da possível contratação do oscarizado Jamie Foxx (Django Libertado) para interpretar o amargurado herói forjado nas entranhas do Inferno.
O tempo dirá, porém, se haverá fogo por detrás de tanta fumaça. Ou se, pelo contrário, será apenas mais uma salva de tiros de pólvora seca...
Jamie Foxx como Al Simmons e Scarlett Johansson como Ângela num novo filme do Spawn? Ver para crer! |
Veredito: 58%
Vinte anos passados, já quase tudo foi dito acerca de Spawn, havendo portanto pouco a acrescentar. Para grande desgosto dos fãs, boa parte daquilo que foi sendo dito e escrito ao longo desse tempo serviu quase exclusivamente para depreciar um filme que, à partida, teria tudo para ser uma referência dentro do género super-heroico.
Do meu ponto de vista, o grande problema de Spawn foi ter tentado agradar a gregos e a troianos. E, como quase sempre sucede em casos desses, acabou por desagradar a toda a gente. Senão vejamos: para compensar a derrapagem orçamental da produção, McFarlane e companhia tiveram de ir ao encontro de um público mais abrangente. Tendo, para isso, transformado Spawn em algo que ele nunca foi: um super-herói.
Quem dera a muitos filmes atuais este grau de fidelidade aos quadradinhos. |
A par da trama demasiado simplista, é esse o principal pecadilho de Spawn. Que, ainda assim, não merecia a descida ao Inferno que muitos críticos lhe impuseram. Sobretudo quando o comparamos com o inenarrável Batman & Robin, estreado apenas algumas semanas e que, apesar do orçamento três vezes superior ao de Spawn, continua a ser uma nódoa na história do Universo Cinematográfico DC.
Mesmo a esta distância, Spawn - não sendo, de facto, uma obra-prima - continua a ser um filme que cumpre exemplarmente a sua missão de entreter o espectador. Tanto pelo seus inovadores efeitos visuais como pelas espetaculares sequências de ação; quer, ainda, pelo alívio cómico propiciado pelo Palhaço a uma trama carregada de elementos trágicos.
Com efeito, esta é uma daquelas películas em que o herói - tal como se verificou, por exemplo, em O Cavaleiro das Trevas (2008) - é ofuscado pelo carisma do vilão. Não porque Michael Jai White não consiga dar boa conta do recado enquanto Spawn, mas porque o Palhaço - magistralmente interpretado por John Leguizamo- lhe rouba cada cena.
Em suma, o Purgatório onde Spawn ficou preso é, pois, o castigo pela falta de coragem dos seus autores em darem aos fãs o que eles esperavam e mereciam. Erro que espero ver corrigido no prometido reboot da franquia.
Enquanto este sai e não sai, aproveitem para ver - ou rever - o filme original. Verão que vale a pena.
Uma cria do Inferno à espera de ser resgatada do Purgatório. |
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