Ainda em choque após a passagem do cortejo de horrores que a estropiou, Gotham City vê-se transformada numa imensa Terra de Ninguém retalhada por malfeitores. Em meio à anarquia e ao desespero, Batman e seu aliados lutam, numa frente desunida, para manter vivo o espírito da cidade mártir.
Última grande saga do Homem-Morcego no século XX, inseriu personagens icónicas e influenciou a trama de O Cavaleiro das Trevas Renasce.
Última grande saga do Homem-Morcego no século XX, inseriu personagens icónicas e influenciou a trama de O Cavaleiro das Trevas Renasce.
Título original: No Man's Land
Licenciadora: Detective Comics (DC)
País: EUA
Data de publicação: Janeiro a dezembro de 1999
Argumento: Greg Rucka, Jordan B. Gorfinkel, Chuck Dixon, Scott Beatty, Paul Dini, Bob Gale, Devin K. Grayson, Kelley Puckett, Larry Hama e Bronwyn Carlton
Arte: Greg Land, Andy Kuhn, Alex Maleev, Dale Eaglesham, Frank Teran, Phil Winslade, Damion Scott, Dan Jurgens, Mike Deodato, Tom Morgan, Mat Broome e Sergio Cariello
Categoria: Crossover
Séries mensais abrangidas: Azrael, Batman, Batman Chronicles, Batman: Shadow of the Bat, Catwoman, Detective Comics, Legends of the Dark Knight, Nightwing e Robin
Guia de leitura: http://batmanytb.com/comics/storyarcs/nomansland.php
Heróis: Batman, Robin, Asa Noturna, Batgirl, Oráculo, Azrael, Caçadora, Comissário Gordon, Harvey Bullock e Renee Montoya
Vilões: Joker, Pinguim, Duas-Caras, Espantalho, Bane, Máscara Negra, Ventríloquo, Crocodilo, Chapeleiro Louco, Lince, Talião, Senhor Frio, Cara de Barro, Senhor Zsasz, Arlequina e Lex Luthor
Coadjuvantes: Leslie Thompkins, Sarah Essen, David Cain, Hera Venenosa, Mulher-Gato e Superman
Cenários: Gotham City
Histórico de publicação
Batman impotente perante o martírio da sua cidade. |
Histórico de publicação
Obra de grande envergadura e alcance, Batman: No Man's Land foi a última saga do Cavaleiro das Trevas produzida no século passado. Estendeu-se por todo o ano de 1999 e abarcou por completo o catálogo de títulos mensais do herói, incluindo alguns spin-offs e edições especiais.
No total, a saga e respetivas ramificações abrangeram 80 edições mensais, 4 volumes especiais e uma graphic novel (Batman: Harley Quinn, que introduziu Arlequina no universo canónico da DC). Tudo somado, foram mais de 400 páginas e um vastíssimo rol de personagens. Números deveras apreciáveis a refletir a monumentalidade de uma história com lugar de destaque na memorabilia recente do Cavaleiro das Trevas.
Devido à sua considerável extensão, a trama primária de No Man's Land foi segmentada em vários arcos autónomos que nela entroncavam. Seguindo a estratégia editorial aplicada aos crossovers envolvendo as séries periódicas do Superman, a coerência narrativa da saga foi possibilitada através da interligação dos diversos títulos estrelados pelo Batman. Desse modo, cada capítulo da história apresentado num deles tinha sequência direta noutro. Com a vantagem adicional de assim se reduzir o tempo de espera dos leitores que, em vez de um mês, teriam de aguardar apenas uma semana pelos desenvolvimentos da intriga.
O primeiro dos 5 volumes antológicos de No Man's Land. |
À publicação avulsa de No Man's Land seguiu-se, entre 1999 e 2001, o lançamento de uma antologia composta por 5 volumes de capa dura, que compilava o núcleo da saga. Levando em atenção o elevado número de edições não coligidas, em 2011 a DC lançaria nova compilação, desta feita contendo a versão integral da história. Que, logo em 2000, tivera direito, também, a adaptação literária no formato de uma novela da autoria de Greg Rucka (ver Noutros Segmentos Culturais).
Ainda inédita em terras lusas, a primeira edição na língua de Camões de No Man's Land ficou a cargo da brasileira Abril que, entre 2000 e 2001, a publicou, sob o título Terra de Ninguém, nas páginas de Batman e Batman: Vigilantes de Gotham.
No ano passado seria a vez da Eaglemoss reeditar Terra de Ninguém no Brasil, numa coleção especial de 6 volumes encadernados que apenas podiam ser encomendados online. Como bónus, a compilação incluía Cataclismo (Cataclysm, em inglês). Recorde-se que essa, a par de Contagion e Legacy, foi uma das sagas a montante dos eventos originalmente narrados em No Man's Land.
A coletânea da Eaglemoss incluía Cataclismo, a saga que preludiou Terra de Ninguém. |
Prelúdio
Devastada por um sismo de magnitude 7.6 na escala de Richter depois de ter enfrentado uma violenta epidemia de Ébola lançada pela Ordem de São Dumas, Gotham City anseia pela reabilitação. Em vez disso, suportado por uma controversa deliberação do Congresso, o Governo federal ordena que a cidade seja colocada sob quarentena por tempo indeterminado.
Uma vez evacuada parte da população, as pontes que ligam Gotham ao continente são dinamitadas e os militares erguem barricadas nas restantes vias de acesso com o intuito de impedir a entrada ou saída de pessoas.
Isolada do mundo, Gotham converte-se numa imensa Terra de Ninguém disputada por diversas fações criminosas. Entregues a si próprios, os sobreviventes que se recusaram a abandonar a cidade podem apenas contar com a proteção da Bat-Família e de um pequeno contingente policial chefiado pelo Comissário Gordon.
Devastada por um sismo de magnitude 7.6 na escala de Richter depois de ter enfrentado uma violenta epidemia de Ébola lançada pela Ordem de São Dumas, Gotham City anseia pela reabilitação. Em vez disso, suportado por uma controversa deliberação do Congresso, o Governo federal ordena que a cidade seja colocada sob quarentena por tempo indeterminado.
Uma vez evacuada parte da população, as pontes que ligam Gotham ao continente são dinamitadas e os militares erguem barricadas nas restantes vias de acesso com o intuito de impedir a entrada ou saída de pessoas.
Isolada do mundo, Gotham converte-se numa imensa Terra de Ninguém disputada por diversas fações criminosas. Entregues a si próprios, os sobreviventes que se recusaram a abandonar a cidade podem apenas contar com a proteção da Bat-Família e de um pequeno contingente policial chefiado pelo Comissário Gordon.
A destruição da Bat-caverna após o terramoto que arrasou Gotham. |
Ao tomar conhecimento do protocolo de evacuação e quarentena prestes a ser implementado em Gotham City, Bruce Wayne apressa-se a viajar para Washington com o propósito de usar a sua influência para tentar reverter a medida e assegurar que a cidade continuará a receber assistência por parte das autoridades. Estas mantêm-se, porém, irredutíveis, e os esforços do milionário acabam por redundar em fracasso.
Perante a prolongada ausência do Batman, o Comissário Gordon conclui que também o herói terá virado costas a Gotham. Amargurado pela presumida deserção do seu velho aliado, Gordon recusa-se a pronunciar sequer o nome do Cavaleiro das Trevas e chama a si a missão de proteger os cidadãos de bem que, por motivos diversos, desobedeceram à ordem de evacuação.
Gordon e os seus homens levam a sério o lema "Proteger e servir". |
Disfarçada de Batgirl e apoiada por Oráculo, também a Caçadora patrulha as ruas da cidade procurando restaurar alguma ordem. Cedo percebe que os meliantes a temem mais agora que ostenta o símbolo do morcego. Tirando proveito dessa vantagem, a heroína reclama uma parcela de território para si, colocando os respetivos habitantes sob sua proteção.
Ao regressar por fim a Gotham, Batman autoriza a Caçadora a continuar a portar o manto da Batgirl e pede-lhe ajuda para expulsar alguns dos bandos criminosos que vêm aterrorizando a população. À medida que aumenta o número de zonas da cidade sob o controlo da Bat-Família cresce também a esperança no coração dos cidadãos. Contudo, quando o Duas-Caras e seus asseclas invadem os domínios do Homem-Morcego, a Caçadora falha em repeli-los. Envergonhada, a heroína considera-se indigna do legado da Batgirl e reassume a sua identidade original.
Batman, Caçadora e Oráculo: o Morcego e as Aves de Rapina unidos na defesa do que resta do seu habitat. |
Esse ímpeto libertador acaba, contudo, refreado por uma cisão nas fileiras policiais. Em protesto contra a suposta maciez dos métodos de Gordon, William Petit, um belicoso tenente da SWAT, decide comandar o seu próprio esquadrão. Cujas ações brutais, inspiradas pelo militarismo do seu líder, repugnam Gordon profundamente.
Gotham recebe entretanto a inesperada visita do Superman. Determinado a contrariar a anarquia que por lá grassa, o Homem de Aço logo percebe que essa seria uma missão mais espinhosa do que ele previra e bate em retirada. Regressando, todavia, mais tarde como Clark Kent para visitar Batman e ensinar os gothamitas a tirarem o melhor proveito possível da agricultura que lhes vai garantindo o sustento numa cidade cuja economia colapsou.
Inspirado pelo seu patrono, o povo de Gotham luta pela sua cidade. |
Alheio a esta guinada no curso dos acontecimentos, o Comissário Gordon forja uma aliança provisória com o Duas-Caras a fim de recuperar um setor vital da cidade. Traído pelo vilão, Gordon fica sob a mira de David Cain, o assassino profissional contratado pelo Duas-Caras para liquidar o antigo comandante do DPGC.
Gordon é, no entanto, salvo in extremis por Cassandra Cain, a filha de David Cain, por ele treinada para ser uma arma humana. Recrutada por Oráculo, a jovem, que tem no mutismo a sua marca distintiva, torna-se a nova portadora do manto da Batgirl e junta-se à Bat-Família na defesa de Gotham.
Capturado pelo Duas-Caras, Gordon é novamente salvo da morte certa por uma mulher. Graças à astúcia e persuasão da detetive Renee Montoya, sua antiga subordinada, o Comissário sobrevive a mais um dia.
Dá-se então o reencontro de Gordon com o Batman. Após uma longa e tensa conversa entre ambos, o Cavaleiro das Trevas, apostado em restaurar a confiança do seu velho aliado, remove a máscara. Gordon, porém, recusa-se a olhar para a face exposta do herói. Sanadas as divergências, os dois concordam em unir forças para reconquistar Gotham.
Gordon recusa-se a conhecer a verdadeira face do Cavaleiro das Trevas. |
Quando o Joker tenta sabotar as obras em curso, é rechaçado por Bane, cujos préstimos Luthor garantira a troco da promessa de lhe pagar o suficiente para comprar a sua ilha natal. Apesar do seu desejo de vingança em relação ao Batman, Bane é convencido pelo seu némesis a abandonar Gotham antes de ser atraiçoado por Luthor.
Cedendo à pressão mediática e popular, o Governo federal anuncia o levantamento da quarentena imposta a Gotham, ordenando, em simultâneo, a imediata reabertura das vias de acesso à cidade. Que, assim, volta a fazer oficialmente parte dos EUA.
Findo o pesadelo, Gordon e os seus homens são condecorados mas, no dia de Natal, a base do tenente Petit é atacada pela quadrilha do Joker. Petit sucumbe ao ataque e a Caçadora, que tentara impedir a carnificina, sobrevive por um triz.
Luthor chega a Gotham com muitas promessas na bagagem. |
Destroçado pela morte da sua cara-metade, Gordon só a muito custo resiste ao impulso de fazer justiça pelas próprias mãos. Batman persuade-o a poupar a vida do Palhaço do Crime, pois só assim o espírito de Gotham poderá perdurar.
Apesar disso, Gordon não hesita em premir o gatilho quando o Joker lhe pergunta, de forma trocista, se ele tem um filho. O disparo atinge o joelho do vilão que, indiferente à dor, solta gargalhadas histéricas ao perceber a ironia da situação. Por causa dele, Barbara Gordon (filha do Comissário, primeira Batgirl e atual Oráculo), estava há anos presa a uma cadeira de rodas(1).
Depois da filha, a mãe: o clã Gordon continua a ser vítima da crueldade do Joker. |
Luthor, por sua vez, vê expostas as suas verdadeiras intenções: destruir os registos prediais de modo a poder depois reclamar a propriedade de boa parte de Gotham com recurso a nomes falsos e a testas de ferro.
Seguindo uma pista anónima, Lucius Fox localiza os documentos originais e, ingenuamente, notifica Luthor do achado. Fingindo-se surpreendido, Luthor tenta matar o diretor-executivo das Indústrias Wayne, mas é impedido por Batman (a verdadeira fonte de Fox). Depois de dizer a Luthor que Gotham não está à venda, o Cruzado da Capa intima o magnata a abandonar a cidade.
Enquanto, um pouco por toda a cidade, multidões eufóricas celebram o Ano Novo, Gordon despede-se da sua malograda esposa. Noutro ponto do cemitério, Batman deposita um ramo de rosas sobre o túmulo dos seus pais antes de partir para nova patrulha noturna na cidade que jurou defender das trevas que constantemente a assediam.
O renascimento da esperança numa cidade que resiste teimosamente ao contínuo assédio das forças das trevas. |
*Terra de Ninguém serviu para estabelecer as bases da complexa relação entre Renee Montoya e o Duas-Caras. Um (quase) romance proibido entre uma agente da Lei e um senhor do crime, cuja evolução os leitores puderam acompanhar em Gotham Central, série mensal lançada em fevereiro de 2003 e centrada no conturbado quotidiano da força policial gothamita;
*Outra detetive do DPGC, Deborah Tiegel, foi uma das duas benfeitoras que ficaram para trás para poderem tratar dos animais deixados à sua sorte no zoológico de Gotham;
*Por questões éticas, a Liga da Justiça não interveio em Gotham, apesar de o ter feito para impedir que forças externas conquistassem a cidade. Importa esclarecer, a este propósito, que Batman é extremamente zeloso do seu território. Ao ponto, por exemplo, de o próprio Hal Jordan, um dos Lanternas Verdes responsáveis pelo Setor Espacial 2814, ter de requerer autorização prévia para entrar em Gotham;
*Arlequina, a histriónica compagnon de route do Joker, e Cassandra Cain, a enigmática adolescente que viria a ser a terceira Batgirl(2), foram introduzidas em Terra de Ninguém. Apesar de ambas se terem tornado icónicas, apenas no caso da segunda se tratou verdadeiramente de uma estreia, visto que a primeira fizera o seu debute em 1992, num episódio de Batman: The Animated Series. Além de consagrar Arlequina como personagem canónica no Universo DC, a saga serviu também para apresentá-la a Hera Venenosa, de quem se tornaria íntima;
Terra de Ninguém assinalou a estreia de Arlequina e Cassandra Cain no universo DC. |
*Apesar das suas ações pouco filantrópicas, a forma como Lex Luthor ajudou a resolver a crise em Gotham City granjeou-lhe o apoio popular necessário para impulsionar a sua candidatura à Casa Branca no ano seguinte. Eleição que, recorde-se, o magnata venceria com confortável margem.
Ao longo da primeira década deste século, registaram-se duas tentativas frustradas de adaptação televisiva de No Man's Land, ambas remetendo para séries animadas do Batman. Chegou a ser produzida alguma arte conceptual mas os projetos acabaram por nunca receber luz verde por parte da Warner Bros. Motivo: os seus executivos consideraram a história demasiado violenta e sombria para uma audiência maioritariamente composta por crianças e adolescentes.
A adaptação literária de No Man's Land. |
A influência de No Man's Land no enredo de The Dark Knigh Rises é notória também noutros aspetos. Ambas as histórias são ambientadas no inverno e em ambas Batman regressa a Gotham após uma ausência involuntária.
No entanto, por contraponto ao que sucede na saga original, no filme a cidade fica consideravelmente mais despovoada após a evacuação. E, chegado o momento de retomá-la, os civis mantêm-se à margem, ficando implícito que Gotham é uma cidade pela qual não vale a pena lutar. Por outro lado, a agenda de John Daggett - que, na película, faz as vezes de Lex Luthor - é menos ambiciosa, na medida em que objetiva apenas a tomada das Indústrias Wayne, em vez da aquisição pura e simples da cidade. Outra diferença crucial reside no facto de Daggett acabar morto por Bane.Que, por sua vez, também não sobrevive aos eventos por ele desencadeados.
Vale a pena ler?
Mesmo não sendo uma das minhas sagas preferidas do Batman, admito que a premissa de Terra de Ninguém é interessante.
Vários anos antes de o furacão Katrina ter arrasado Nova Orleães, expondo a incapacidade do Governo americano em prestar auxílio aos sobreviventes, esta fábula do Cavaleiro das Trevas assumiu um tom sinistramente profético.
Seja qual for o contexto - real ou ficcional - o colapso da lei e da ordem que antecede a irrupção da anarquia possibilita sempre leituras díspares sobre a moralidade das ações humanas perante a ausência de autoridade. É, pois, esse o grande apelo da intriga porfiada por Greg Rucka e companhia. O que não impede que, por conta da sua extensão, a história se torne a espaços maçadora.
Nota negativa também para a variedade de estilos artísticos, que oscilam entre a excelência e a mediocridade. A fazer lembrar, de resto, o que acontecera em sagas anteriores da Editora das Lendas, nomeadamente em A Morte do Super-Homem (serei o único a detestar o traço de Jon Bogdanove?).
Apesar da ambição (alguns dirão "megalomania") que lhe subjaz, Terra de Ninguém não é uma obra incontornável. É essencialmente recomendada para iniciantes que, de uma assentada, terão oportunidade de ficar a conhecer as figuras-chave da mitologia do Homem-Morcego.
Uma Terra de Ninguém demasiado pequena para acomodar tantas personagens. |
Referências:
1)http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/09/classicos-revisitados-piada-mortal.html
2)http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/09/heroinas-em-acao-batgirl.html
1)http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/09/classicos-revisitados-piada-mortal.html
2)http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/09/heroinas-em-acao-batgirl.html
Hmmm... acho que deitarei meus olhos nessa trama mirabolante caso tenha a oportunidade.
ResponderEliminarQuanto a Job Bogdanove: um bom arte-finalista salva-lhe o lápis.