04 setembro 2019

RETROSPETIVA: «A MÁSCARA DE ZORRO»


  Nas ricas terras californianas à mercê da tirania e da ganância estrangeiras, a chama da liberdade é reavivada pelo regresso de um lendário cavaleiro de capa e espada. Porque mais importante do que o homem por trás da máscara é o que ela continua a representar: justiça para os opressores e esperança para os oprimidos.

Título original: The Mask of Zorro
Ano: 1998
País: EUA
Duração: 137 minutos
Género: Ação e Aventura
Produção: Amblin Entertainment 
Realização: Martin Campbell
Argumento: John Eskow, Ted Elliott e Terry Rossio 
Distribuição: TriStar Pictures 
Elenco: Antonio Banderas (Alejandro Murrieta / Zorro), Anthony Hopkins (Dom Diego de la Vega / Zorro), Catherine Zeta-Jones (Elena Montero), Stuart Wilson (Dom Rafael Montero) e Matt Letscher (Capitão Harrison Love)
Orçamento: 95 milhões de dólares
Receitas: 250,3 milhões de dólares

Herói centenário

Há precisamente um século, Zorro (palavra espanhola para "raposa") desembainhava pela primeira vez a sua espada em defesa dos pobres e oprimidos. Saído da imaginação de Johnston McCulley, prolífico autor americano de literatura de cordel, aquele que foi um dos primeiros justiceiros mascarados - e, por inerência, precursor dos super-heróis modernos - estreou-se em setembro de 1919 na novela pulp The Curse of Capristano (A Maldição de Capristano), publicada em cinco partes na revista All-Story Weekly.
Longe de imaginar o impacto cultural da sua criação, McCulley concebeu Zorro para ser o protagonista de uma única história. Tanto assim que, no final da novela que o apresentou aos leitores, o herói revelava publicamente a sua verdadeira identidade.
Dom Diego de la Vega, um dândi fútil e efeminado filho de um abastado proprietário de terras da Califórnia, servia de insuspeito alter ego a Zorro, o misterioso cavaleiro de capa e espada que punia  com denodo criminosos e tiranetes.

Johnston McCulley
Johnston McCulley (1883-1958).

A Maldição de Capristano teve honras de capa
 em All-Story Weekly.
Atendendo às características de Zorro, é possível que o herói tenha sido inspirado em personagens históricas da América Latina. Entre essas presumíveis fontes de inspiração, Joaquín Murrieta, um fora da lei mexicano do século XIX adepto do chamado "banditismo social", prefigura-se como a mais provável.
Outra possível influência na criação de Zorro poderá ter sido Sir Percival Blakeley. Notabilizado como Pimpinela Escarlate, foi uma personagem literária saída da pena da escritora britânica Emma Orczy, em 1905. Tal como Zorro, Sir Percival era um mestre do disfarce e criou uma identidade secreta para combater o terror revolucionário instalado após a queda da Bastilha.
A este conjunto de hipotéticas influências, há que acrescentar aquela que mais prima pela obviedade:  Robin Hood, antepassado e modelo de todos os justiceiros sociais. Alguns historiadores identificam ainda semelhanças entre o modus operandi de Zorro e o de William Lamport, um aventureiro católico irlandês que, em meados do século XVII, instigou diversas revoltas dos camponeses mexicanos contra o colonialismo espanhol.
A despeito da sua matriz literária, foi através do cinema que Zorro se tornou um dos maiores ícones da cultura popular do século XX. Logo em 1920, o herói foi transposto pela primeira vez ao grande ecrã. Douglas Fairbanks foi o primeiro ator a trajar de negro em The Mark of Zorro, filme mudo que, com algumas liberdades poéticas, adaptava A Maldição de Capristano. Iniciava-se, assim, a longa tradição cinematográfica de Zorro, que não se restringe às produções hollywoodescas que protagonizou ao longo dos anos. Do México a Itália, passando pela Índia, foram vários os países que lançaram filmes nele baseados.

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A primeira aventura cinematográfica de Zorro em 1920.
Em resposta à demanda pública alimentada pelo sucesso da longa-metragem The Mark of Zorro, Johnston McCulley, ignorando o final da história original, publicou três novas novelas de Zorro. Entre 1922 e 1941, foram lançadas The Further Adventures of Zorro, Zorro Rides Again e The Sign of Zorro. Nenhuma delas reproduziria, porém, o estrondoso sucesso de A Maldição de Capristano que, com uma tiragem de mais de 50 milhões de exemplares, continua a ser um dos livros mais vendidos de sempre.
Referência incontornável do imaginário coletivo, o enorme lastro mediático de Zorro inclui folhetins radiofónicos, peças de teatro, séries televisivas, jogos de vídeo e, claro, banda desenhada. Mas foi no cinema que o herói viveu os seus dias de glória. E foi essa glória que, como a seguir se perceberá, A Máscara de Zorro se propôs resgatar da pátina do esquecimento.

Crónica de bastidores

Em outubro de 1992, a TriStar Pictures e a Amblin Entertainment (produtora detida por Steven Spielberg) planeavam o lançamento de uma longa-metragem de Zorro no ano seguinte. Com esse objetivo em mente, contrataram o argumentista Joel Gross para escrever o enredo. A escolha não foi aleatória: os produtores tinham ficado impressionados com a qualidade da adaptação de Gross do clássico Os Três Mosqueteiros para um filme epónimo que acabaria por nunca ver a luz do dia.
Spielberg pretendia inicialmente conciliar a produção com a direção do projeto. Tão logo Gross terminou de escrever o enredo, em março de 1993, a TriStar entrou em fase de pré-produção, dando luz verde à criação de material promocional. Quando, em dezembro desse ano, Spielberg desistiu de assumir ele próprio a direção do projeto, o realizador dinamarquês Mikael Solomon foi o escolhido para a função.
Já depois de confirmar a contratação de Sean Connery para o papel de Dom Diego de la Vega, Solomon anunciou que a maior parte do elenco seria composta por atores latinos ou hispânicos. Estávamos em agosto de 1994 e a pré-produção foi acelerada devido à intenção do realizador arrancar com as filmagens dentro de pouco mais de meio ano. Prazo que se revelaria uma miragem, em consequência do abandono quase simultâneo do projeto por parte de Connery e Solomon.
Na ribalta por conta do êxito de Desperado, Robert Rodríguez foi o senhor que se seguiu. Os produtores tinham ficado surpreendidos com as técnicas de baixo orçamento do cineasta texano para rodar filmes de ação. Em vez de uma produção milionária, Spielberg e os seus associados pretendiam agora um filme low cost, na linha de El Mariachi ou Desperado.
Além dessa nova orientação, Rodríguez trouxe consigo o espanhol Antonio Banderas para o papel principal. Ironicamente, seriam constrangimentos orçamentais a levar Rodríguez a bater com a porta, em junho de 1996. Por essa altura, já sucessivos adiamentos haviam inviabilizado a desejada estreia natalícia.

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Antonio Banderas foi indicado por Robert Rodríguez.
Banderas permaneceu contudo vinculado ao projeto. Que, logo no final desse mesmo mês, passaria a ser capitaneado por Martin Campbell. O que só se propiciou porque o realizador neozelandês rejeitou o convite para dirigir 007 - O Amanhã Nunca Morre. Entretanto, foi-lhe apresentada uma nova versão do argumento assinada por Ted Elliott, Terry Rossio e John Eskow, e que pouco tinha em comum com o original.
Após ser submetido a uma cirurgia laser às costas, Anthony Hopkins (que, num primeiro momento, recusara o papel devido a problemas lombares) foi o eleito para interpretar Dom Diego de la Vega. Ficava, assim, completo o elenco onde pontificava também Catherine Zeta-Jones.

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Martin Campbell trocou James Bond por Zorro.
As filmagens, iniciadas no final de janeiro de 1997, tiveram essencialmente lugar nos Estúdios Churubusco, localizados nos arredores da Cidade do  México. E não ficaram isentas de percalços: devido a problemas de saúde de Martin Campbell, as gravações estiveram suspensas durante quatro dias consecutivos. Também uma remessa de adereços (incluindo a lâmina de plástico da espada de Zorro) ficou retida na alfândega por mais de uma semana, para desespero da produção.
Desses e de outros contratempos resultou uma derrapagem orçamental de 10 milhões de dólares, bem como um apreciável desvio ao cronograma estabelecido. Não obstante, durante a fase de pós-produção, Martin Campbell e Steven Spielberg concordaram em dar um toque menos deprimente ao final da história. Em vez de Dom Diego a morrer nos braços de Elena, o filme terminaria com o casamento feliz desta com Alejandro Murrieta. Esta versão alternativa foi adicionada três messes após o término das filmagens.
A 17 de julho de 1998, A Máscara de Zorro chegou finalmente aos cinemas norte-americanos. No Velho Continente, o filme atraiu a atenção da realeza espanhola. Pela primeira vez em sete anos, o então monarca D. Juan Carlos I compareceu à glamorosa antestreia madrilena acompanhado pela Rainha Sofia e pela Princesa Elena. Desconhecendo-se, no entanto, se a Família Real tomou partido pelo herói mexicano interpretado por um dos seus súbditos, se pelo vilão castelhano que evocava os tempos gloriosos do Império Espanhol...

Enredo

Em 1821, nos derradeiros dias da Guerra da Independência do México, Dom Diego de la Vega, um aristocrata californiano, defende os camponeses da opressão colonialista como Zorro, um misterioso cavaleiro mascarado. Após interferir numa execução pública ordenada por Dom Rafael Montero, o tirânico Governador do território, Zorro regressa a casa ferido.
Horas depois, Montero e um grupo de soldados invadem o solar de Dom Diego, cujo ferimento o denuncia. Da escaramuça que se segue resulta a morte acidental de Esperanza, esposa de Dom Diego. Não satisfeito com a captura do rival, Montero leva consigo Elena, a filha bebé de Dom Diego e da malograda Esperanza, para criar como sua ao retornar a Espanha.
Vinte anos se passam e Montero, agora um simples civil, regressa à Califórnia na companhia de Elena, uma esbelta jovem que herdou a beleza da mãe. O inesperado ressurgimento de Montero motiva Dom Diego a escapar do cárcere onde permanecia aprisionado desde a noite fatídica em que fora espoliado dos afetos da sua família.

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Rafael Montero tem no capitão Harrison Love o seu homem de mão.
Durante a sua atribulada fuga, Dom Diego cruza-se com Alejandro Murrieta, um ladrão maltrapilho que, em criança, salvara a vida de Zorro. Tomando o sucedido por um sinal do Destino, Dom Diego faz de Alejandro seu protegido, treinando-o para ser o seu sucessor.
Alejandro reluta, porém, em seguir o espartano regime que lhe é imposto pelo seu benfeitor. Enquanto é treinado na arte da esgrima na caverna secreta situada sob as ruínas do antigo solar de Dom Diego, Alejandro sonha com o dia em que vingará a morte do seu irmão, Joaquín Murrieta. Semanas antes, Alejandro testemunhara, impotente, a decapitação de Joaquín executada pela espada do capitão Harrison Love, braço direito de Rafael Montero.
Ainda antes de completar o treino, Alejandro, a coberto da noite e de uma máscara improvisada, rouba um garanhão negro estacionado na guarnição local. Proeza que lhe vale uma severa reprimenda por parte de Dom Diego, que lhe faz notar que Zorro é um defensor dos fracos, não um reles ladrão de cavalos ou um aventureiro inconsequente.
Intrigado acerca dos desígnios do antigo rival, Dom Diego incumbe Alejandro de conquistar a confiança de Montero.

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Diego de la Vega treina Alejandro Murrieta para ser o novo Zorro.
Sob o disfarce de Dom Alejandro del Castillo y García, um nobre espanhol de visita à Califórnia, e com Dom Diego a fazer-se passar por seu criado, Alejandro infiltra-se na glamorosa festa organizada por Montero na sua hacienda.  De tão convincente, a sua representação rende-lhe a admiração de Elena e o convite para participar numa reunião secreta organizada por Montero.
Perante um grupo de aristocratas espanhóis, Montero expõe o seu audacioso plano para retomar a Califórnia, agora um território disputado pelo México e pelos Estados Unidos da América. A ideia consiste em comprar a Califórnia ao general Santa Anna para, em seguida, proclamá-la uma república independente controlada por Montero e seus aliados. Um negócio que seria financiado pelo próprio ouro de Santa Anna.
Alejandro e os restantes nobres são então levados por Montero até uma mina de ouro secreta, onde camponeses, mendigos e prisioneiros são usados como mão de obra escrava. Alejandro nem quer acreditar no que os seus olhos veem, mas finge concordar com o plano de Montero.
Enquanto isso, Dom Diego, ainda disfarçado de criado, aproveita uma oportunidade para se aproximar de Elena, sem lhe revelar a sua verdadeira identidade. Os dois conversam brevemente e a jovem confidencia-lhe nunca ter conhecido a mãe por esta esta ter morrido durante o parto.
Dias depois, ao passear num mercado, Elena é reconhecida pela sua velha ama, que lhe revela os nomes dos seus verdadeiros pais: Dom Diego e Esperanza de la Vega. Revelação que deixa a jovem aturdida e sem saber no que acreditar.
Determinado a frustrar os planos do rival, Dom Diego incumbe o novo Zorro de roubar o mapa da mina secreta de Montero. O herói mascarado invade o solar de Montero e, após um vibrante duelo de espadas com o capitão Love, consegue apossar-se do documento.
Prestes a escapar, Zorro é confrontado por Elena que tenta, em vão, reaver o mapa roubado ao homem que acredita ser seu pai. Antes de desaparecer na noite, o mascarado pespega um ardente beijo na boca de Elena, deixando-a arquejante de indignação e volúpia.

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A bela Elena está longe de ser uma donzela indefesa.
Temendo a implacável retribuição do general Santa Anna caso este venha a descobrir o logro de que foi vítima, Montero, pressionado pelo capitão Love, ordena a destruição imediata da mina de ouro, bem como a morte de todos os trabalhadores. Graças à sua astúcia de velha raposa, Dom Diego antecipa o plano de Montero e incumbe Zorro de libertar os operários da mina, enquanto ele próprio parte ao resgate de Elena.

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A espada de Zorro sempre pronta a trespassar a injustiça.
Apesar de se sentir traído pelo seu mentor, Zorro cumpre a missão que lhe foi confiada. Não muito longe dali, na hacienda de Montero, Dom Diego encurrala o velho rival e prepara-se para consumar enfim a sua almejada vingança.
Montero consegue, no entanto, escapulir-se, usando Elena como escudo humano. Obrigado a depor a espada, Dom Diego é prontamente capturado pelos homens de Montero. Enquanto é levado para uma cela, grita o nome da flor cujo perfume Elena reconhecera ao desembarcar na Califórnia. A jovem percebe, assim, estar em presença do seu verdadeiro progenitor e logo cuida de libertá-lo. Sem tempo a perder, pai e filha rumam à mina de ouro secreta.
Rafael Montero e o capitão Love são mortos, respetivamente, nos seus duelos com Dom Diego e Zorro. Em seguida, Zorro e Elena libertam os trabalhadores da mina antes que as primeiras cargas explosivas comecem a detonar.
No exterior da mina, Zorro e Elena deparam-se com um moribundo Dom Diego. Antes de exalar o seu último suspiro, Dom Diego dá a sua bênção a Alejandro para que despose a sua filha.
Volvido um ano, Alejandro e Elena estão casados e são os pais babados do pequeno Joaquín, o filho bebé do casal assim batizado em honra de Joaquín Murrieta. Quando pensa que Elena não está a ouvir, Alejandro relata ao pequeno Joaquín os feitos heroicos do seu avô, o Zorro original.

Trailer



Prémios e nomeações


Foram várias as indicações de A Máscara de Zorro para alguns dos mais cobiçados prémios da 7ª Arte. Destaque para a dupla nomeação aos Óscares em categorias técnicas (Melhor Edição de Som e Melhor Mistura de Som) e para o Saturn Award para Melhor Filme de Ação. 
A título individual, Antonio Banderas e Catherine Zeta-Jones viram as suas meritórias interpretações reconhecidas ao receberem nomeações para os Golden Globe Awards de Melhor Ator e Atriz Revelação.
No entanto, por causa da fortíssima concorrência - desde logo o multipremiado O Resgate do Soldado Ryan - nem o filme nem o seu casal protagonista lograram arrebatar qualquer dos galardões para os quais haviam sido indicados.

Curiosidades

*Antonio Banderas foi o sexto ator a encarnar Zorro em longas-metragens norte-americanas (precederam-no, por ordem cronológica, Douglas Fairbanks, Robert Livingston, Tyrone Power, George Hamilton e Anthony Hopkins) e o primeiro espanhol a desempenhar esse icónico papel, que repetiria em A Lenda de Zorro, sequela lançada em 2005;
*A exigente preparação de Banderas para o papel incluiu, entre outras coisas, um treino de quatro meses com a equipa olímpica espanhola de esgrima. Durante a fase de pré-produção, no México, o ator foi ainda submetido a um programa intensivo de dez horas diárias ministrado pelo lendário espadachim Bob Anderson. Antigo treinador do igualmente lendário Errol Flynn, Anderson ficou impressionado com a habilidade de Banderas no manejo da espada, comparando-o mesmo ao seu mais famoso pupilo. Banderas insistiu também em executar ele próprio muitas das acrobacias da sua personagem, dispensando frequentemente os seus duplos;
*Por considerá-lo demasiado perigoso, Martin Campbell quis inicialmente prescindir do icónico chicote do Zorro. Foi por insistência de Anthony Hopkins que esse adereço foi acrescentado à parafernália do herói. O chicote usado por Hopkins no filme é um modelo personalizado ofertado por Alex Green, seu duplo em Lendas de Paixão;

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Dom Diego usa o chicote para apagar uma fileira de velas,
 numa das mais memoráveis cenas do filme.
*A espanhola Penélope Cruz, a mexicana Salma Hayeck e a colombiana Shakira foram cogitadas para o papel de Elena Montero. Por indicação de Steven Spielberg, que ficara impressionado com a sua prestação em Titanic, a escolha incidiria, contudo, na galesa Catherine Zeta-Jones, cujos traços latinos a adequavam ao biótipo da personagem;
*O efeito deslizante do vestido de Elena após ter sido cortado com precisão cirúrgica pela espada de Zorro foi obtido com recurso a um fino arame preso à indumentária e puxado por um assistente;
*A cena de abertura do filme remete para o rescaldo da Guerra da Independência do México (1810-1821) e o final original, apresentado na edição em DVD, incluía a participação do General Santa Anna (cognominado Napoleão do Oeste) interpretado pelo português Joaquim de Almeida. A grandiosidade da cena ditou, porém, a sua eliminação da versão cinematográfica;
*No rascunho inicial do enredo, Dom Diego de la Vega sobrevivia ao duelo final com Dom Rafael Montero e ocuparia o tempo livre a contar as suas façanhas como Zorro ao neto recém-nascido;
*A máscara que Alejandro Murrieta usa durante o roubo de um cavalo da guarnição local foi feita a partir do lenço que, momentos antes, retirara de uma das patas do animal;
*Nas histórias clássicas de Zorro, Bernardo é o criado mudo de Dom Diego de la Vega, e um dos poucos a conhecerem a verdadeira identidade do herói mascarado. Do mesmo modo que Zorro influenciou a criação de Batman, Bernardo serviu de inspiração a Alfred Pennyworth, mordomo e preceptor de Bruce Wayne;
*O enredo de A Máscara de Zorro incorpora diversos eventos reais e figuras históricas, como Joaquín Murrieta e o seu sócio Jack Três Dedos. Dois bandidos mexicanos com um código de honra muito próprio que, em 1853 (mais uma década depois da data referenciada no filme), foram mortos às mãos de um grupo de Texas Rangers comandados por Harry Love (aqui retratado como Harrison Love, um capitão do Exército estadunidense). A película reproduz ainda um facto macabro: após a execução de Murrieta e Três Dedos, o verdadeiro Harry Love preservou as cabeças decepadas dos dois foras da lei em frascos com álcool, as quais gostava de exibir como troféus.
Joaquín Murrieta, o fora da lei que foi o Zorro da vida real.


Veredito: 74%

Com uma abordagem leve e divertida, o filme marcou o regresso de Zorro ao grande ecrã após uma prolongada ausência de quase duas décadas. Martin Campbell serviu-nos uma aventura despretensiosa, porém repleta de energia e personagens interessantes interpretadas por um sólido elenco.
Sucessor espiritual da série clássica da Disney com Guy Williams que nos, idos de 50, fez vibrar miúdos e graúdos, A Máscara de Zorro possui algo que se vê cada vez menos nos filmes de ação modernos: um herói confiante que não vacila em fazer a coisa certa. Zorro possui um arreigado sentido de honra e, por isso,  as suas dívidas de sangue são imprescritíveis.
Apresentado como um ladrão sem eira nem beira, Alejandro Murrieta (irmão fictício do lendário Joaquín Murrieta) seduz o espectador antes mesmo de conseguir seduzir a formosa Elena. Mérito de Antonio Banderas que, apesar das suas limitações, confere charme e carisma à sua personagem.
Não por acaso, as melhores cenas do filme - desde logo a vibrante dança entre Alejandro e Elena na festa de Dom Rafael Montero - têm Banderas e Catherine Zeta-Jones como protagonistas. De tão intensa, a química entre ambos é quase palpável.
Em paralelo com os duelos de espadas primorosamente coreografados, esse é, de resto, um fator fundamental para o sucesso da narrativa. Que, apesar da sua simplicidade, não insulta a inteligência do espectador e tem o mérito acrescido de preservar a essência das personagens.
As fazendas, as minas secretas, as masmorras e os cavalos a galope evocam também a tradicional cenografia dos westerns clássicos, transportando-nos a uma época em que os homens eram arquétipos varonis e era perfeitamente percetível a fronteira entre Bem e Mal.
Como não há bela sem senão, o filme tem na excessiva duração do duelo final e em algumas tentativas humorísticas malsucedidas as suas principais pechas narrativas. Provando, ainda assim, ser desnecessário fazer uma análise profunda do  herói e/ou desconstruir o próprio conceito de heroísmo para contar uma boa história. Algo que A Máscara de Zorro faz muitíssimo bem.

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Um herói à moda antiga.






3 comentários:

  1. Como sempre, um texto primoroso, no qual aprendemos bastante. Parabéns, Ricardo!

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  2. Na minha opinião é um dos melhores filmes do Zorro e também é muito melhor que muito filme de super heróis atuais.
    Se fizerem um novo reboot um dia, deveriam usar esse longa como modelo.

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    1. Não podia estar mais de acordo contigo. Também considero esta uma das melhores aventuras cinematográficas do Zorro alguma vez produzidas, e prefiro-a à maioria dos atuais filmes de super-heróis, nos quais, não raro, os nossos ídolos de infância se apresentam quase irreconhecíveis.

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