04 setembro 2015

GALERIA DE VILÕES: REI DO CRIME




   Escalou a pulso a íngreme hierarquia do submundo do crime organizado nova-iorquino, removendo todos os escolhos que apanhou pelo caminho. Chegado ao topo, vergou heróis e erigiu um poderoso império governado pela sua mão férrea.


Nome original da personagem: Kingpin
Criadores: Stan Lee (história) e John Romita (arte)
Primeira aparição: The Amazing Spider-Man nº50 (julho de 1967)
Licenciadora: Marvel Comics
Identidade civil: Wilson Grant Fisk
Local de nascimento: Nova Iorque
Parentes conhecidos: Vanessa Fisk (esposa falecida), Richard Fisk (filho falecido), Rebecca Fisk (nora falecida) e Maya Lopez (filha adotiva falecida)
Afiliação: Ex-diretor-executivo das Indústrias Fisk, dos Emissários do Mal, da Controlo de Danos e da fação de Las Vegas da HIDRA; atual líder da liga de ninjas assassinos conhecida como Tentáculo e de uma coalização de organizações criminosas da Costa Leste.
Base de operações: Outrora, o Rei do Crime teve como quartéis-generais a Torre Fisk e uma mansão em Las Vegas; presentemente prefere a mobilidade no terreno.
Armas, poderes e habilidades: Mesmo desprovido de capacidades sobre-humanas, o Rei do Crime é dotado de uma descomunal força física que lhe permite, por exemplo, levantar centenas de quilos sem grande esforço ou esmigalhar ossos e crânios de pessoas ou animais com as próprias mãos. Devido à sua maciça corpulência, é comum os seus adversários tomarem-no por obeso. Ignorando que Wilson Fisk é na verdade uma montanha de puro músculo graças às suas singulares características fisiológicas.
  Proficiente em esgrima, sumo e diversas outras artes marciais, o Rei do Crime é um combatente temível, cuja velocidade e resistência são frequentemente subestimadas. Com consequências dolorosas, ou até mesmo fatais, para os seus oponentes...
  Como principal arma, o Rei do Crime usa uma bengala especial apetrechada com raios laser. Em função da distância e da intensidade das rajadas disparadas, os resultados podem variar entre o simples atordoamento ou a total vaporização dos seus alvos. Na gravata usa também um broche de diamante contendo uma dose concentrada de gás soporífero destinado a neutralizar ameaças mais próximas. No capítulo defensivo, é habitual o vilão envergar um colete à prova de bala feito de kevlar dissimulado sob a sua sumptuosa indumentária.
  Extremamente inteligente e perspicaz, o Rei do Crime é apreciador da cultura clássica e mestre autodidata em ciência política e economia. Circunstâncias que lhe permitem controlar de forma hábil e implacável uma vasta gama de negócios lícitos e ilícitos, mas sempre altamente lucrativos. Preferindo, no entanto, quase sempre exercer a sua influência a partir dos bastidores, manipulando tudo e todos a seu belo prazer ao mesmo tempo que evita ilaquear-se nas teias da Justiça.

Figurino clássico de um vilão de peso.

Histórico de publicação: Segundo a ideia original de Stan Lee, o Rei do Crime corresponderia ao protótipo do padrinho da Máfia. No entanto, o seu parceiro criativo, John Romita, baseou-se na aparência física de Sydney Greenstreet (ator britânico notabilizado nos  anos 40 pelos seus papéis vilanescos no teatro e no cinema), conferindo-lhe dessa forma traços que pouco fariam lembrar os de um italo-descendente. Consequentemente, Lee reciclou a neófita personagem num inescrupuloso empresário americano
  Debutando num arco de histórias publicado nos números 50,51 e 52 de The Amazing Spider-Man (julho a setembro de 1967), Wilson Fisk foi inicialmente retratado como um tradicional chefe do crime organizado, embora com uma particular apetência por executar o  trabalho sujo. O próprio termo Kingpin (designação original da personagem) remete para  a nomenclatura do submundo do crime organizado, referindo-se a uma espécie de suserano medieval a quem outros chefes criminosos prestam tributo e vassalagem.

Foi nesta edição de The Amazing Spider-Man que, em 1967, o Rei do Crime teve a sua estreia oficial.
Sydney Greenstreet, o opulento ator britânico que serviu de modelo para Wilson Fisk.

  Ainda com Stan Lee a escrever as suas histórias, nas suas aparições posteriores o Rei do Crime foi progressivamente adquirindo características mais próximas das de um supervilão. Uma delas consistia na utilização de uma parafernália de dispositivos exóticos para enfrentar os heróis mascarados que ocasionalmente obstavam aos seus desígnios.

Stan Lee (esq.) e Joh Romita numa fotografia autografada de 1976.

  Através da sua participação em Daredevil no início dos anos 80 -  título à época escrito e ilustrado por Frank Miller - operou-se uma profunda transformação no Rei do Crime. De vulgar mafioso passou a grande senhor do crime organizado movendo-se sorrateiramente nos interstícios da Lei. Ganhando a personagem dessa forma maior dimensão e substância dentro do Universo Marvel.
  Depois de anos a ter como principal entrave aos seus estratagemas o Homem-Aranha, o vilão tornou-se assim inimigo jurado do Demolidor. Ao Escalador de Paredes e ao Homem Sem Medo, com o tempo Fisk acrescentaria o Justiceiro à sua (extensa) lista de ódios de estimação.


Suserano do submundo.

Biografia: De raízes humildes, Wilson Fisk teve uma infância triste em Nova Iorque, muito por conta da chacota e das intimidações de que era alvo na escola devido ao seu excesso de peso. Cansado de tanta humilhação, ele começou a treinar-se em combate corpo a corpo, explorando a sua já então impressionante força física. Recursos que usou para subjugar os seus antigos agressores, obrigando-os depois a juntarem-se à sua recém-formada quadrilha.
  Embora pequeno e formado por delinquentes juvenis, as ações do grupo logo chamaram a atenção de Don Rigoletto. Um influente mafioso de quem Fisk se tornaria guarda-costas e, posteriormente, braço direito. Anos mais tarde, porém, Fisk assassinaria o seu empregador, assumindo o controlo da sua quadrilha e dos seus negócios. Começando dessa forma a trilhar o sinuoso caminho que o conduziria ao trono do submundo da Cidade Que Nunca Dorme.
  À medida que expandia a sua influência e trepava a hierarquia do crime organizado, Wilson Fisk foi fazendo alguns inimigos de peso. Entre eles, o grupo terrorista HIDRA e o sindicato do crime conhecido como Maggia. As duas organizações conjugaram esforços para atacar o império do Rei do Crime, forçando-o a uma retirada estratégica para o Japão. País onde Fisk investiu no tráfico de especiarias para recuperar a sua fortuna.
  Tão logo dispôs de recursos financeiros suficientes, Fisk regressou a Nova Iorque determinado a derrubar a Maggia. Tendo, para esse efeito, instigado uma sangrenta guerra entre as várias quadrilhas que operavam na cidade. Em meio ao caos instalado, a sua intervenção serviu o duplo propósito de pacificar a situação e de reassumir o controlo da maior parte do crime organizado.
  Enquanto circulavam rumores sobre uma eventual saída de cena do Homem-Aranha, Wilson Fisk procurou formar uma coalização entre os diferentes ramos mafiosos da Costa Leste com o intuito de contrariar a hegemonia da Maggia. Chegou mesmo a ordenar o sequestro de J. Jonah Jameson, o irascível diretor do Clarim Diário que o expusera publicamente como Rei do Crime. Vendo, no entanto, os seus planos frustados pela ação do recém-regressado herói aracnídeo.

Aula prática de como esmagar uma aranha.

  Nos anos seguintes, Wilson Fisk esmerou-se em projetar uma fachada de legítimo homem de negócios e de filantropo, fazendo generosas doações a instituições de caridade. Granjeando desse modo a simpatia de parte da opinião pública ao mesmo tempo que desviava as atenções das suas atividades clandestinas.
  No auge do seu poder, Fisk conheceu Vanessa (cujo apelido de solteira se desconhece), aquela que viria tornar-se sua esposa e o grande amor da sua vida. No ano seguinte, o casal teve um filho a quem deram o nome de Richard. No entanto, a harmonia familiar seria seriamente abalada com a descoberta de Vanessa acerca da verdadeira natureza dos negócios do marido. (Pese embora não seja claro se ela já não estaria ciente dessa realidade.)
  Escandalizada com o facto de ter casado com um criminoso, Vanessa exigiu a Fisk que abdicasse do seu império. Caso contrário, ameaçava partir para longe levando com ela o filho de ambos.
 Temendo perder as duas únicas pessoas que amava no mundo, o Rei do Crime aposentou-se temporariamente e a família Fisk rumou outra vez a terras do Sol Nascente para uma espécie de exílio dourado. Que chegou ao fim quando alguns mafiosos usaram arquivos contendo provas irrefutáveis de delitos cometidos por alguns dos antigos rivais de Fisk como engodo para atraí-lo de volta a Nova Iorque.
  Alheio a tudo isto, Richard Fisk só descobriria que o seu pai era um senhor do crime quando já andava na faculdade. Após obter o diploma, o jovem informou os pais da sua intenção de passar uma temporada na Europa. Meses depois da sua partida para o Velho Continente, Fisk e Vanessa receberam a notícia de que o filho teria morrido num acidente de esqui.
  Tudo não passara, todavia, de uma macabra encenação levada a cabo por Richard, ressentido pelo facto de o seu pai ser um fora da lei. Disfarçado de um mafioso rival, o filho pródigo do Rei do Crime retornou a Nova Iorque com o fito de pôr um ponto final ao reinado de terror do seu progenitor.
  Ignorando ter como adversário alguém do seu sangue, o Rei do Crime empreendeu uma guerra sem quartel contra aquele que considerava ser uma ameaça não negligenciável contra os seus interesses. Com o conflito ao rubro, o Homem-Aranha interveio, tornando-se um alvo a abater para ambos os contendores.
  Revelada enfim a verdadeira identidade do seu rival, o Rei do Crime ficou em choque ao descobrir que se tratava do próprio filho, dado como morto anos atrás. Atendendo às súplicas de Vanessa, Fisk poupou a vida de Richard e concordou em desfazer-se do seu império criminoso. Não sem antes tentar, uma vez mais, liquidar um certo Escalador de Paredes.

Justiça cega para um Rei do Crime.

  Mesmo reformado, o Rei do Crime assumiria, pouco tempo depois, a direção-executiva da fação de Las Vegas da HIDRA. Altura em que cometeu um erro crasso que quase custaria a vida à sua esposa. Pressionado pelas autoridades, Fisk acedeu a fornecer-lhes os ficheiros que incriminavam os seus antigos lugares-tenentes. Em retaliação, estes sequestraram Vanessa e encenaram a sua execução.
  Transtornado pela aparente morte da mulher que amava, Fisk retomou a sua vida à margem da Lei. Tirando proveito do seu profundo conhecimento das fraquezas das diversas quadrilhas e comprometendo-se a estabilizar toda a Costa Leste, o Rei do Crime conseguiu rapidamente retomar as rédeas do submundo. Obteve também a fidelidade do volátil assassino de aluguer conhecido como Mercenário, a quem prometeu incluir na sua folha de pagamentos.
  Numa jogada de mestre, o Rei do Crime ofereceu ao Demolidor os ficheiros que incriminavam os mafiosos que continuavam sublevados, exortando o herói a entregá-los às autoridades. Circunstância que levaria à prisão de todos aqueles que lhe eram incómodos, abrindo assim caminho à sua substituição por elementos da sua confiança.
  Percebendo que isso atrapalharia os planos do seu némesis, o Homem Sem Medo recusou-se, porém, a entregar o referido material às autoridades. Depois de também fracassar na sua tentativa de manipular o herói contra o Tentáculo, o Rei do Crime ordenou ao Mercenário que o eliminasse de uma vez por todas. Entretanto, continuou a financiar secretamente a campanha eleitoral de Randolph Cherryh, candidato a mayor de Nova Iorque e sua marioneta no palco político.
  Sempre empenhado em reforçar o seu poder de fogo, o Rei do Crime conseguiu contratar também os serviços da ninja assassina chamada Elektra. Tratava-se da escultural filha de um empresário grego assassinado anos atrás por mafiosos e que, nos tempos de faculdade, vivera um tórrido romance com Matt Murdock, o alter ego do Demolidor. Este, por sua vez, encontrou Vanessa Fisk viva, mas amnésica. Aproveitando essa valiosa moeda de troca, o Diabo da Guarda propôs ao Rei do Crime devolver-lhe a sua adorada esposa se ele se comprometesse a deixar de financiar Cherryh.
   O vilão aceitou os termos do acordo mas, agastado por mais este revés às mãos do Demolidor, ordenou a Elektra que assassinasse Foggy Nelson. Advogado da Cozinha do Inferno, este era simultaneamente aliado do Homem Sem Medo e sócio e melhor amigo de Matt Murdock.
  Ao reconhecer Foggy, com quem privara ocasionalmente nos tempos de faculdade, Elektra hesitou e deixou-o escapar com vida. Acabando, contudo, morta às mãos do Mercenário. Mesmo sem o saber, o Rei do Crime sangrara o coração do seu arqui-inimigo.
  Algum tempo depois, Karen Page, outra ex-namorada de Matt Murdock e atual viciada em heroína, revelou a um traficante que o advogado cego e o Demolidor eram a mesma pessoa. Informação que logo chegou ao Rei do Crime.
  Sem hesitar, o vilão colocou em marcha um terrível plano de vingança que levaria à queda do seu maior inimigo. Consistindo a primeira etapa em arrasá-lo financeiramente, para de seguida o incriminar pelo pretenso suborno de uma testemunha que teria cometido perjúrio em tribunal contra Wilson Fisk. Em consequência disso, Matt teve a sua licença para exercer advocacia cassada.
 Profundamente perturbado a nível psicológico, Matt desenvolveu severos sintomas de paranoia e confrontou o Rei do Crime. Apenas para acabar selvaticamente espancado por ele antes de ser enfiado inconsciente dentro da bagageira de um carro que foi posteriormente lançado às águas de um rio na periferia de Nova Iorque. A ideia era fazer com que a morte do advogado caído em desgraça parecesse acidental. Porém, ele conseguiu milagrosamente escapar com vida..
  Convicto da morte do Demolidor, o Rei do Crime baixou a guarda e permitiu um xeque-mate do seu adversário. Não só teve as suas atividades ilegais expostas publicamente pelo Demolidor como perdeu Vanessa, levada por Matt Murdock para um esconderijo europeu. Falido e derrotado, o vilão parecia ter batido no fundo do poço.
  No entanto, sob circunstâncias difusas, Wilson Fisk tornou-se acionista do conglomerado Stark-Fujikawa, resgatando parte do poderio e influência que detivera outrora. Suficientes, ainda assim, para abrir caminho à reconstrução do seu império criminoso em Nova Iorque. Que, sob a sua mão de ferro, continuou a prosperar.

Com a Cidade Que Nunca Dorme a seus pés.

 
Noutros media: Ocupando um muito respeitável décimo lugar na lista dos cem melhores vilões dos quadradinhos elaborada pelo IGN, desde muito cedo que a influência do Rei do Crime se estendeu ao restante panorama audiovisual. Logo em 1967, ano da sua estreia nas histórias do Homem-Aranha, o vilão marcou presença em dois episódios da série de animação Spider-Man. Circunstância reeditada nos anos subsequentes em diversas produções similares com a chancela da Marvel, quase sempre estreladas pelo Escalador de Paredes. A única exceção foi a sua participação num episódio de Spider-Woman (1979-1980).
  No grande ecrã, a primeira aparição da personagem remonta a 1989, ano em que foi produzido o telefilme O Julgamento do Incrível Hulk ( que contava igualmente com a participação do Demolidor). Interpretado por John Rhys-Davies, o Rei do Crime é retratado como um génio criminoso, frio e calculista. Em 2003, foi a vez de Michael Clarke Duncan emprestar o seu imponente corpanzil à personagem na longa-metragem Demolidor (vide resenha já apresentada neste blogue). Escolha controversa, sendo o ator um afrodescendente.
Michael Clark Duncan foi o  Rei do Crime em Demolidor (2003).
 Além do cinema e da TV, o Rei do Crime também fez uma incursão no teatro. Em 2011, na peça musical Spider-Man: Turn Off the Dark, da autoria de Bono e The Edge dos U2 e que revisita a história do Homem-Aranha desde os seus primórdios, o vilão fez uma pequena aparição em cena.
  Já este ano, o Rei do Crime voltou ao pequeno ecrã - e à ribalta -  através da série televisiva baseada na mitologia do Homem Sem Medo. Numa versão muito próxima da original, o vilão é representado por Vicent D'Onofrio. Com a mais-valia de o enredo da série dar a conhecer pormenores fundamentais sobre o meio familiar de Wilson Fisk, fator determinante para uma melhor compreensão das suas motivações.

Vicent D'Onofrio encarna na perfeição Wilson Fisk na série televisiva Demolidor.

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