17 junho 2016

RETROSPETIVA: «HOMEM DE AÇO»




   Fazendo um corte radical com o passado, Zack Snyder apresentou ao mundo a sua arrojada visão do Super-Homem, num filme, onde, pela primeira vez em muito tempo, a principal ameaça não era Lex Luthor nem os cristais de kryptonita. Polarizador de opiniões, o novo conceito continua a ser tão amado quanto odiado. Serviu, ainda assim, o duplo propósito de transpor para o cinema a versão moderna do herói, lançando de caminho as bases para o Universo Estendido DC.

Título original: Man of Steel
Ano: 2013
País: Estados Unidos da América/Reino Unido
Género: Ação/Aventura/Fantasia
Duração: 143 minutos
Realização: Zack Snyder
Argumento: David S. Goyer
Elenco: Henry Cavill (Kal-El/Clark Kent/Super-Homem); Amy Adams (Lois Lane); Michael Shannon (General Zod); Antje Traue (Faora); Russell Crowe (Jor-El); Ayelet Zurer (Lara Lor-Van);Kevin Costner (Jonathan Kent); Diane Lane (Martha Kent) e Laurence Fishburne (Perry White)
Companhias produtoras: Legendary Pictures, Syncopy Films e DC Entertainment
Orçamento: 225 milhões de dólares
Receitas: 668 milhões de dólares
Distribuição: Warner Bros.

Tal como o filme de 1978,
 Man of Steel fez-nos crer que um homem pode voar.

Produção e desenvolvimento: Tomada a decisão de reiniciar a franquia cinematográfica do Super-Homem, em junho de 2008 a Warner Bros. começou a receber propostas de realizadores, argumentistas e de escritores de banda desenhada. Dentre estes últimos, Grant Morrison, Mark Waid e Geoff Jonhs foram os nomes mais sonantes a manifestar vontade de colaborar  no projeto.
Na origem dessa decisão por parte da Warner estivera a fraca prestação de Superman Returns dois anos antes. No entanto, à parte alguns contactos exploratórios com realizadores, o projeto pouco ou nada evoluiu ao longo do ano seguinte.
Até que, em agosto de 2009, uma decisão judicial restituiu 50% dos direitos da origem do Super-Homem à família de Jerry Siegel (que, com Joe Shuster, criara o herói em 1938). Esta deliberação não se revestiu, porém, de efeitos retroativos. Por conseguinte, o tribunal decretou que a Warner Bros. não devia royalties aos familiares de Siegel referentes às películas anteriormente produzidas. Em contrapartida, caso não fosse iniciada até 2011 a rodagem de um filme baseado no Homem de Aço, o clã Siegel poderia processar a Warner pela perda de receitas financeiras decorrente dessa não produção. Cláusula que teve o condão de acelerar o cronograma de um projeto que até aí não atava nem desatava.
Assim, em outubro de 2010, Zack Snyder (Watchmen) foi anunciado como o realizador de uma película que pretendia demarcar-se da franquia iniciada em 1978 com Superman, The Movie e que chegara ao fim em 2006 com Superman Returns. Snyder não foi, contudo, o único cineasta a ser sondado pela Warner, tampouco foi a primeira escolha dos produtores. Antes dele, Darren Aronofsky (Cisne Negro), Matt Reeves (Projeto Cloverfield) e até Ben Affleck (que nesse mesmo ano dirigira The Town) foram outras das hipóteses em cima da mesa.

Zack Snyder, o controverso realizador de Man of Steel.

Já a escolha do argumentista foi mais consensual. Recomendado por Chris Nolan pelo seu estupendo trabalho na trilogia do Cavaleiro das Trevas (2005-12), David S. Goyer assumiu as despesas do enredo. Privilegiando uma narrativa não linear, a história idealizada por Goyer está igualmente impregnada de elementos religiosos que remetem para a mitologia cristã. Muitos críticos viram nela uma alegoria para a Paixão de Cristo. O Super-Homem assume-se, de facto, com um salvador vindo dos céus disposto ao sacrifício supremo em prol da Humanidade. Ademais, no seu diálogo com o Professor Hamilton, o herói revela estar na Terra há 33 anos. Idade que Jesus Cristo teria aquando da sua crucificação.
Escolhido o realizador e a restante equipa, as filmagens arrancaram em agosto de 2011 em Chicago, transferindo-se depois para a Califórnia e, por fim, para Vancouver, no Canadá. Com uma duração inicialmente prevista de dois meses, a rodagem do filme só terminaria, contudo, em fevereiro do ano seguinte. Facto para o qual terá contribuído a recusa de Zack Snyder em filmar em 3D ( por conta das limitações técnicas desse formato), obrigando a uma posterior reconversão do filme.
Numa entrevista concedida à Entertainment Weekly em abril de 2013 (dois meses antes da estreia de Man of Steel), o presidente executivo da Warner, Jeff Robinov, levantou um pouco do véu acerca do filme e da sua importância para o futuro do Universo Estendido DC: "Haverá referências a outros super-heróis que não o Super-Homem porque o filme servirá de precursor de uma franquia mais abrangente. O seu tom obscuro servirá de bitola a futuras produções". Com efeito, quando Zod destrói um satélite em órbita geossincrónica, é possível ler a inscrição Wayne Enterprises, indicando a presença do Batman naquele contexto (ver Sequela).

Duas das referências a Batman em Man of Steel.

Figurino: Man of Steel apresenta um traje do Super-Homem redesenhado por James Acheson e Michael Wilkinson. Notoriamente inspirada no visual contemporâneo do herói, saído de Os Novos 52 (mas também com óbvias influências de Kingdom Come), a vestimenta preserva o esquema cromático e a icónica insígnia peitoral com um S estilizado. Adotando, no entanto, tons menos garridos  do que os tradicionalmente usados na banda desenhada e em anteriores adaptações ao pequeno e ao grande ecrã. Estética moderna que dispensa igualmente o clássico calção encarnado sobre as calças que, até 2011, fora uma das imagens de marca do herói, dentro e fora dos quadradinhos.
Por outro lado, devido ao peso excessivo que um traje real acarretaria, a armadura de combate kryptoniana envergada pelo General Zod no filme foi totalmente gerada com recurso a tecnologia digital. Garantindo dessa forma que a prestação de Michael Shannon não seria prejudicada pela  sua reduzida liberdade de movimentos.


Figurino de Man of Steel versus uniforme de Os Novos 52:
descubram as diferenças.

Enredo: Com o seu núcleo planetário altamente instável em consequência de décadas de mineração intensiva motivada pelo exaurimento dos seus recursos naturais, Krypton enfrenta um cenário de destruição iminente. Indiferente aos dramáticos avisos de Jor-El, um dos maiores cientistas kryptonianos, o Conselho Regente menospreza a ameaça e prima pela inércia.
Quando a situação se torna insustentável, Jor-El sugere uma evacuação em larga escala, a fim de salvar o maior número possível de vidas. Antes, porém, que o plano possa ser posto em marcha, o General Zod, chefe supremo da guilda militar e velho amigo de Jor-El, lidera um golpe de Estado para depor o Conselho antes que seja tarde de mais.
Pressentindo o fatídico destino de Krypton, Jor-El rouba o Códice (dispositivo que armazena o genoma kryptoniano) e infunde-o nas células do seu filho recém-nascido. Kal-El é, de resto, o primeiro bebé em séculos a ser concebido através do método tradicional de procriação, uma vez que os kryptonianos há muito se vinham reproduzindo artificialmente com recurso a câmaras de gestação que também pré-programavam a função social de cada ser nelas gerado.
Após celebrarem brevemente o nascimento do seu único filho, Jor-El e a sua esposa, Lara Lor-Van, concordam em enviá-lo para a Terra a bordo do protótipo da nave espacial projetada em segredo pelo cientista.


Jor-El e Lara: os pais biológicos do Super-Homem.
Ao descobrir o plano de Jor-El, Zod mata o seu velho amigo mas não consegue reaver o Códice. Ordena então a destruição da pequena nave que se eleva nos céus de Krypton, mas as suas forças são entretanto subjugadas pelos militares fiéis ao Conselho.
Levados a tribunal marcial, Zod e o seus subordinados são condenados por sedição e sentenciados ao exílio perpétuo na Zona Fantasma. Para estarrecimento de Lara, Zod tem ainda tempo de jurar que encontrará o filho dela, aonde quer que Jor-El o tenha enviado.
Horas depois, o núcleo de Krypton entra em convulsão, provocando a implosão do planeta. Com as gigantescas ondas de choque a libertarem acidentalmente os prisioneiros da Zona Fantasma que, assim, se convertem nos últimos sobreviventes de uma civilização extinta.
Seguindo as coordenadas programadas por Jor-El, a nave transportando Kal-El aterra nas redondezas de Smallville, uma pequena e pachorrenta cidade do Kansas. Encontrado por Jonathan e Martha Kent, um casal de modestos agricultores sem filhos, o bebé é perfilhado por eles e batizado como Clark Kent.

Jonathan e Martha Kent adotam
 o pequeno órfão vindo das estrelas.
À medida que vai crescendo e as suas extraordinárias habilidades se vão desenvolvendo, Clark é visto como uma aberração pelos seus colegas de escola. Quando a situação ameaça ficar fora de controlo, Jonathan Kent revela ao filho as suas verdadeiras origens, mostrando-lhe em seguida o local onde escondera durante todos aqueles anos o foguete espacial que o trouxera ao nosso mundo.
A pedido de Jonathan, Clark promete manter em segredo a sua origem e poderes. Promessa que cumpre mesmo quando, anos depois, vê o pai ser estraçalhado por um tornado diante dos seus olhos. Consumido pela culpa, Clark embarca numa solitária jornada que o leva a vários pontos do globo. Sempre em busca de um propósito para a sua existência, ele usa identidades falsas para conservar o anonimato mas as suas ações não passam totalmente despercebidas.
Lois Lane, uma veterana jornalista do Daily Planet, é escalada pelo seu editor, Perry White, para investigar a descoberta de uma pretensa nave extraterrestre no Ártico. Fazendo-se passar por um dos operários destacados para o local das escavações, Clark infiltra-se na nave e aciona o computador de bordo, utilizando uma chave deixada por Jor-El no seu foguete. Isso permite-lhe interagir com o holograma que serve de avatar à consciência preservada do seu pai biológico. É, pois, pela voz dele que Clark fica a saber que o seu nome verdadeiro é Kal-El e que é o Último Filho de Krypton, enviado para a Terra para servir de farol à Humanidade e evitar que o nosso planeta sofra destino idêntico ao do seu mundo natal. Sendo, para isso, presenteado com um traje cerimonial kryptoniano ostentando no peito o brasão familiar da Casa de El. Um símbolo de esperança em Krypton.

O reencontro (virtual) de pai e filho na Fortaleza da Solidão.

De repente, porém, o sistema de segurança automatizado da nave é acidentalmente acionado por Lois Lane que seguira furtivamente Clark até ao seu interior. Atingida pelos lasers de uma das sentinelas robóticas, a repórter é salva pelo filho adotivo dos Kents que usa a sua visão de calor para lhe cauterizar o ferimento. Após a partida da jovem, Clark veste pela primeira vez o uniforme de Super-Homem, ensaiando de seguida os primeiros voos no exterior da Fortaleza da Solidão.
Regressada a Metrópolis, Lois procura convencer Perry White a autorizar a publicação do seu artigo expondo a presença na Terra de um alienígena com poderes semidivinos. Em virtude da inconsistência das provas apresentadas, Perry recusa, porém, fazê-lo. Obstinada, Lois decide então rastrear os movimentos do seu misterioso salvador, acabando por localizá-lo em Smallville.
Após um breve encontro junto ao túmulo de Jonathan Kent, durante o qual Clark lhe relata a sua história, Lois compromete-se a guardar segredo sobre a sua existência.

Lois Lane, a intrépida repórter foi
 a primeira a descobrir o segredo de Clark Kent.

À deriva no espaço sideral, Zod e a sua tripulação buscam antigas colónias kryptonianas. Mas depressa concluem que nenhuma delas terá sobrevivido. Depois de terem intercetado uma transmissão de emergência feita a partir da nave encontrada por Clark no Ártico, eles deduzem que o filho de Jor-El deverá estar perto dela e traçam rota para o nosso planeta.
Chegados à órbita terrestre, os renegados kryptonianos emitem uma comunicação à escala global exigindo que Kal-El se renda, sob a ameaça de uma guerra sem quartel contra o mundo que o acolheu.
Determinado em evitar a morte de milhares de vidas inocentes, o Super-Homem resolve entregar-se ao Exército estadunidense que, por sua vez, o entrega a Faora, a lugar-tenente de Zod. Inesperadamente, Lois é também levada para bordo da espaçonave kryptoniana.
Cara a cara com o filho de Jor-El, Zod revela enfim o seu tenebroso plano: transformar a Terra num novo Krypton. Perante a recusa de Kal-El em juntar-se a ele, Zod ordena a Jax-Ur, seu consultor científico, que lhe extraia o Códice. Com o qual o vilão pretende produzir uma nova gesta de colonizadores geneticamente modificados para repovoar a Terra após o extermínio dos humanos.
No último momento, porém, o Super-Homem e Lois Lane conseguem escapar da nave graças à ajuda do holograma de Jor-El. Sem perder tempo, os dois regressam à Terra para avisar o Exército americano das reais  intenções de Zod. Este envia Faora e outro dos seus soldados para recapturar Kal-El. Seguindo-se uma violenta refrega entre o trio de kryptonianos que transformam Smallville num campo de batalha. Com a ajuda dos militares, o Super-Homem consegue levar a melhor, embora saiba estar iminente uma ameaça muito pior.
Furioso, Zod ordena o processo de terraformação. Acionados os gigantesco engenhos estrategicamente posicionados sobre Metrópolis e ao sul do Oceano Índico, a destruição assume proporções bíblicas.
Zod e seus comparsas.

Disposto a imolar-se para salvar o seu mundo adotivo, o Super-Homem consegue, a muito custo, destruir um dos engenhos, sendo o outro devolvido à Zona Fantasma por Lois Lane, graças à chave e às instruções de Jor-El.
Agora o único sobrevivente da armada kryptoniana, Zod jura vingar a morte da sua tripulação, matando o maior número possível de terráqueos. Tentando desesperadamente aplacar a fúria destruidora do seu compatriota, o Super-Homem trava com ele um combate épico nos céus de Metrópolis.
Encurralado numa estação de comboios, Zod recusa render-se e usa a sua visão de calor para tentar incinerar um pequeno grupo de passageiros. Indiferente às súplicas do Super-Homem para que poupe a vida daquelas pessoas, o vilão continua a tentar atingi-las com os seus lasers oculares, obrigando o herói a matá-lo, partindo-lhe o pescoço. Enquanto o cadáver de Zod jaz no chão, o Homem de Aço solta um lancinante grito de angústia que gela a alma de Lois Lane.
Assumindo-se publicamente como o defensor da Humanidade, o Super-Homem inutiliza um satélite usado pelos militares para monitorizá-lo e convence-os a deixarem-no operar de forma independente. Para ter acesso a informação privilegiada, Clark Kent começa, paralelamente, a trabalhar como repórter no Daily Planet. Contando com a cumplicidade de Lois Lane para manter a sua identidade secreta.


Trailer:




Curiosidades:
* Henry Cavill - o primeiro ator não americano a encarnar o Homem de Aço -  recusou recorrer ao consumo de esteroides anabolizantes ou a qualquer tipo de manipulação digital por forma a aumentar artificialmente a sua massa muscular para o papel. Optou, ao invés, por um exigente programa de preparação física nos meses que antecederam o arranque das filmagens. Programa esse que, além de um intenso trabalho de ginásio, incluiu também um rigoroso regime alimentar. Em poucas semanas, Cavill  obteve um teor de gordura corporal de apenas 7%, equivalente ao dos fisiculturistas profissionais durante as competições. O ator britânico recusou igualmente depilar o peito para as cenas em que exibia o seu tronco nu. Justificando essa recusa com a aparência viril dada por John Byrne ao Super-Homem em Man of Steel, arco de histórias que revisitou a origem do herói após Crise nas Infinitas Terras, e que serviu de inspiração ao título e a importantes segmentos da película;

O invejável porte físico
 de Henry Cavill em Man of Steel.

*No decorrer das audições para o protagonista, a equipa de produção pediu a Henry Cavill que vestisse o uniforme usado em tempos por Christopher Reeve. Apesar das cores mais vistosas e do calção vermelho por fora das calças, ninguém se riu ao vê-lo assim vestido. Segundo Zack Snyder, esse foi o momento em que teve a certeza de que Cavill era perfeito para o papel. Importa recordar que, anos antes, ele fora preterido em relação a Brandon Routh em Superman Returns (2006);
*Para enfatizar o virar de página que Man of Steel pretendeu representar na filmografia do Último Filho de Krypton, o icónico tema de abertura de John Williams foi substituído por uma partitura musical composta por Hans Zimmer. Foi a primeira vez, desde 1978, que isso aconteceu;
*Quando Jor-El escapa da sede do Conselho, é visível uma lua semidestruída no céu.Trata-se de Wegthor, um satélite natural de Krypton que, na BD original, foi destruído por uma detonação nuclear operada por Jax-Ur. Cientista renegado condenado à Zona Fantasma que, no filme, é interpretado por Mackenzie Gray (ator que, anos antes, encarnara um clone adulto de Lex Luthor num episódio de Smallville). Conforme também é explicado por Jor-El,a destruição parcial de Wegthor motivou o início da exploração espacial kryptoniana;
* Em Man of Steel, a Fortaleza da Solidão é uma astronave kryptoniana enterrada sob o  gelo do Ártico. Conceito que mistura elementos retirados de várias versões do refúgio do herói nos comics: se, por um lado, a sua localização remete para a Idade da Prata, a ideia de que se trataria de um artefacto abandonado séculos antes por exploradores kryptonianos baseia-se tanto em Adventures of Superman (1989) como em The New 52! (2011);
* O monólogo de Jonathan Kent que serve de pano de fundo ao teaser trailer do filme, é uma reprodução textual das palavras do pai adotivo de Kal-El em Superman: Secret Origin, história escrita em 2010 por Geoff Johns, sendo considerada a origem definitiva do Homem de Aço;
*Na banda desenhada World of Krypton, Zero Negro era o nome da organização terrorista responsável pela destruição de Kandor (antiga capital de Krypton) durante uma revolução pelos direitos dos clones escravizados. No filme, era esse o nome da nave do General Zod;
* Faora Ul, a lugar-tenente de Zod, fora rebatizada de Ursa em Superman (1978) e Superman II (1980), recuperando em Man of Steel o seu nome original. Ironicamente, devido ao sucesso de Ursa, a personagem seria posteriormente incorporada no Universo DC, desprovida de qualquer ligação com Faora. Papel  para o qual foi cogitada Gal Gadot, a atriz que emprestou o corpo à Mulher-Maravilha em Batman versus Superman: Dawn of  Justice (vide texto seguinte). Gadot seria, no entanto, descartada por causa da sua gravidez, recaindo a escolha sobre a germânica Antje Traue;

Ursa e Faora: separadas à nascença.
* Na versão primitiva do argumento, Zod era devolvido pelo Super-Homem à Zona Fantasma. Por insistência de Zack Snyder, a cena final entre ambos foi alterada, culminando com a morte do vilão, que teve o pescoço partido por Kal-El. Ao fazer tábua rasa do solene (e raras vezes violado) juramento do herói de nunca tirar vidas, o cineasta pretendia dessa forma que o episódio fosse um lembrete perpétuo para as ações vindouras do Homem de Aço. O resultado prático desta decisão foi, contudo, uma monumental controvérsia que reverbera até hoje nos recantos do ciberespaço, e que ameaça prologar-se até ao fim dos tempos. Com um sem número de fãs a acusarem Snyder de ter subvertido por completo a essência da personagem que é também um símbolo do que de melhor a Humanidade tem para oferecer;
* A data escolhida para a estreia de Man of Steel (junho de 2013) não foi fruto do acaso: foi nesse mês que, 75 anos antes, o Super-Homem debutara nas páginas de Action Comics nº1.
Super-Homem prestes a matar Zod
 na cena mais polémica de todo o filme.

Prémios e nomeações: Nomeado para diversos prémios nas mais variadas categorias, Man of Steel acabaria, no entanto, por arrebatar apenas três deles: um Golden Trailer Award (Melhor Póster Promocional), um MTV Award (Melhor Herói) e um New Now Next Award (Melhor Filme de Verão 2013).
Sequela: Mercê do estrepitoso sucesso de bilheteira de Homem de Aço, logo nas semanas seguintes à sua estreia mundial, Zack Snyder e David S. Goyer anunciaram os seus planos para a produção de uma sequência direta do filme, bem como de uma longa-metragem baseada na Liga da Justiça. Na edição de 2014 da Comic-Con de San Diego, Snyder confirmou que a sequela traria a inédita reunião de Batman e Super-Homem no grande ecrã.
Já depois de, em agosto de 2013, Ben Affleck  ter sido o escolhido para assumir o duplo papel de Bruce Wayne/Batman, em várias entrevistas Snyder avançou que parte substancial do enredo seria inspirada em The Dark Knight Returns (Batman, O Cavaleiro das Trevas), a aclamada saga saída da pena de Frank Miller em 1986. 
Devido ao compromisso de Goyer com outros projetos, em dezembro de 2013 Chris Terrio foi contratado para reescrever o guião do filme. Quase em simultâneo, foi oficializada a escolha da atriz e ex-Miss Israel Gal Gadot para interpretar a Mulher-Maravilha.
O título oficial da película, por outro lado, só seria revelado em maio de 2014: Batman versus Superman: Dawn of Justice (Batman versus Superman: A Origem da Justiça). Depois de várias alterações na data de estreia, esta foi confirmada para 25 de março de 2016 (EUA), em 2D, 3D e IMAX 3D.


Batman versus Superman: Dawn of Justice chegou este ano aos cinemas de todo o mundo.

Prequela: Após muitos rumores e especulações, em dezembro de 2014 foi confirmada a produção de uma série televisiva cuja trama terá lugar aproximadamente 200 anos antes dos eventos mostrados em Man of Steel. Escrita e coproduzida por David S. Goyer, Krypton deverá ir para o ar ainda este ano no canal SyFy.

Cartaz promocional de Krypton,
a série televisiva que servirá de prequela a Man of Steel.


Veredito: 73%


Precedo este meu parecer a Man of Steel com uma breve declaração de interesses (cuja obrigatoriedade deveria ser imposta aos críticos encartados): conforme certifica o título deste blogue, praticamente desde que deixei de gatinhar que elegi o Super-Homem como minha personagem favorita, cresci com os filmes do herói estrelados pelo insuperável Christopher Reeve, emocionei-me com Superman Returns e não perco uma produção dos Estúdios Marvel. Feita esta importante ressalva prévia, permitam-me então dizer de minha justiça.
Sei bem o que a crítica dita especializada (e de língua afiada) escreveu acerca deste magnífico filme: que é demasiado obscuro e violento, que lhe falta romance, que lhe falta humor e por aí fora. Curiosamente, ao seu predecessor - Superman Returns-  parecia faltar o contrário: cenas de ação e dinâmica narrativa.Sem mencionar o fastio que o romance meloso entre o herói e Lois Lane suscitou na generalidade do público. Circunstancialismos de uma película que, como é sabido, tentou fazer reviver no nosso século a versão clássica do Super-Homem saída diretamente da Idade da Prata dos comics. E que, à conta disso, se tornou num dos mais mal-amados filmes de super-heróis da história da 7ª Arte. Ou seja, muitos dos espíritos refinados que desdenham até hoje do registo realista de Man of Steel também não tinham morrido de amores pela versão romantizada do herói apresentada por Bryan Singer há precisamente uma década. Donde se conclui que, muito provavelmente, a sua implicância passará menos pelos filmes do que pelo herói em si. Fator que explica muito do que se tem dito e escrito sobre as mais recentes aventuras cinematográficas do Homem de Aço.
Quem conhece os meandros do chamado fandom super-heroístico, sabe bem quão menosprezado é o Super-Homem hoje em dia. Personagem à qual costumam ser colados adjetivos como "anacrónico", "chato" e "inútil" (citando apenas os mais lisonjeiros).
Obviamente que não foi a pensar na claque anti-Super-Homem (tampouco nos críticos que, não raro, ignoram os cânones dos super-heróis adaptados a outros meios de comunicação) que Zack Snyder pensou enquanto dirigia Man of Steel. Era nos verdadeiros fãs que ele pensava. Reforçando dessa forma o seu estatuto de filmador de histórias aos quadradinhos, granjeado com os igualmente fabulosos 300 e Watchmen.
Enquanto fã de super-heróis - e do Homem de Aço em particular - estou-lhe deveras grato por isso, visto que o resultado final me encheu as medidas. Desde logo porque se demarcou da estafada receita humorística usada pela concorrência em produções do género. Mas já lá irei.

Man of Steel representa uma nova alvorada
na história cinemática do Super-Homem.
Um dos pontos mais fortes de Man of Steel são, sem sombra de dúvida, as sequências de ação. Primorosamente coreografada e com efeitos visuais simplesmente espetaculares, a batalha final entre o Super-Homem e o General Zod fez vibrar qualquer um. Exceto, claro, os críticos e espectadores de sensibilidade delicada que viram nela um monumento à violência sem sentido. E, possivelmente, uma apologia subliminar da xenofobia, já que temos uma cidade norte-americana semidestruída pela ação de dois alienígenas.
Eu, por outro lado, além de me estar a marimbar para as patetices dos críticos, considero que, nesse quesito específico, Man of Steel bate aos pontos muitas das recentes produções da concorrência. Mas não apenas nesse. Também no que a referências ao material original concerne, este filme é muito mais rico do que algumas das mediocridades saídas dos Estúdios Marvel. Que, como fica mais evidente a cada filme lançado, se limitam a reciclar a mesma fórmula humorística, para gáudio de quem perspetiva os filmes de super-heróis como um subgénero cómico a ser consumido entre mãos-cheias de pipocas em salas de cinema a abarrotar de adolescentes.
Dito de outro modo, se não dispensam graçolas num filme de super-heróis, escusam de ver Man of Steel. Em vez de servir mais do mesmo, a DC tem-se esforçado em criar um estilo próprio, demarcando-se assim do da concorrência. O que não significa que para gostar de um terá de odiar-se o outro. Deixem isso para os pobres de espírito e para os haters (que, no fundo, são a mesmíssima coisa).
Claro que o filme não é perfeito. Nem seria de esperar que o fosse. Afinal, trata-se do primeiro capítulo de uma franquia totalmente nova. Assim, entre as principais falhas a assinalar, destaco o por vezes vertiginoso carrossel de flashbacks que, a espaços, deixam o espectador com a cabeça a andar à roda. Ligeiramente confusa e pouco inovadora, a trama de Man of Steel corresponde, bem vistas as coisas, à mescla dos enredos de Superman e Superman II, devidamente filtrada de dois clichés: Lex Luthor e kryptonita. É pois preciso recuar até 1951 (ano em que estreou Superman and the Mole Men) para encontrarmos um longa-metragem do Homem de Aço que não contasse com a presença de, pelo menos, um desses habitués nas aventuras cinematográficas do herói.
Outro aspeto negativo a salientar é a partitura musical composta por Hans Zimmer. Que, nem por sombras, possui o carisma do icónico tema de abertura que John Williams produziu para os filmes com Christopher Reeve (de quem considero Henry Cavill um digno sucessor). Aqueles que levaram toda uma geração a acreditar que um homem podia voar.Algo em que eu próprio também voltei a acreditar com Man of Steel. Prevendo, por isso, altos voos para o Universo Estendido DC.


    



    
    

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