09 janeiro 2020

RETROSPETIVA: «BATMAN»

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  Gotham City, a bicentenária capital da corrupção, serve de arena ao duelo mortal entre o Homem-Morcego e o Palhaço do Crime, com centenas de vidas inocentes em jogo. Na viragem da década de 80, um filme com o toque burlesco de Tim Burton relançou a Bat-Mania e revolucionou todo um género.

Título original: Batman
Ano: 1989
País: Estados Unidos da América
Duração: 126 minutos
Género: Ação, Aventura e Super-Heróis
Produção: Warner Bros. Pictures e Guber-Peters Company
Realização: Tim Burton
Argumento: Sam Hamm e Warren Skaaren
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Elenco: Michael Keaton (Bruce Wayne / Batman); Jack Nicholson (Jack Napier / Joker); Kim Basinger (Vicky Vale); Robert Wuhl (Alexander Knox); Michael Gough (Alfred); Pat Hingle (Comissário Gordon); Billy Dee Williams (Harvey Dent); Jack Palance (Carl Grissom); Jerry Hall (Alicia); Tracey Walter (Bob); William Hootkins (Tenente Eckhardt) e Lee Wallace (Mayor Borg)
Orçamento: 35 milhões de dólares
Receitas: 411,5 milhões de dólares

Anatomia de um clássico

Com uns quantos percalços de permeio, a longa-metragem do Cavaleiro das Trevas esteve em desenvolvimento durante uma década. A reboque do êxito de Superman, The Movie no ano anterior, as primeiras ideias começaram a ser gizadas em 1979. Em outubro desse ano,  enquanto na banda desenhada - efeito de algum estiolamento criativo - a popularidade do Batman mirrava de mês para mês, o produtor Michael E. Uslan adquiriu à DC Comics os respetivos direitos cinematográficos. Coincidência ou não, pouco tempo antes a estação televisiva CBS publicitara a sua intenção de produzir um telefilme cómico intitulado Batman in Outer Space, com o propósito de reviver o espírito kitsch da série dos anos 60.
Michael Uslan tinha de facto em mente algo muito diferente. Ambicionava apresentar ao público uma versão séria e definitiva do Batman consentânea com o conceito imaginado em 1939 por Bob Kane e Bill Finger: um justiceiro sombrio e atormentado que caçava criminosos a coberto da noite.

E Uslan
Michael Uslan foi o artífice do filme do Batman.
Nos meses seguintes, Uslan bateu à porta de vários estúdios de Hollywood, esbarrando no desinteresse destes em produzir um projeto com aquelas características. Columbia Pictures e United Artists foram duas das companhias que rejeitaram a proposta.
Embora naturalmente desapontado, Uslan recusou-se a deitar a toalha ao chão. Decidiu então escrever ele próprio um argumento. Intitulada Return of the Batman (O Regresso do Batman), a história serviria para melhor apresentar a sua visão da personagem aos responsáveis dos estúdios. Apenas para ser novamente brindado com a indiferença destes. Importa ter presente que naquela época os filmes de super-heróis eram ainda um género menor apelativo apenas para nichos restritos do público.
A sorte de Uslan começou a mudar no verão de 1980. Durante a Comic Art Convention de Nova Iorque, a Warner Bros. aceitou o seu projeto, na expectativa de conseguir replicar o sucesso da franquia do Homem de Aço, cujo segundo filme estrearia no final desse mesmo ano.
Apesar desse pequeno avanço, o projeto continuaria a aboborar nos três anos seguintes. Em 1983, Tom Mankiewicz escreveu um novo argumento com foco nas origens do Batman e de Dick Grayson, o primeiro Robin a acolitar o Cavaleiro das Trevas.  Joker e Rupert Thorne (um implacável barão do crime introduzido em 1977 no cânone do Batman) seriam os vilões e Silver St. Cloud o interesse romântico de Bruce Wayne.
Esta nova versão do enredo era baseada em Batman: Strange Apparitions, minissérie saída da pena de Steve Englehart e publicada originalmente entre maio de 1977 e outubro de 1978 em Detective Comics, um dos títulos mensais estrelados pelo Homem-Morcego.

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Silver St. Cloud (cima) e Rupert Thorne
seriam personagens-chave no enredo original
de Batman.
Marshall Rogers, um dos ilustradores da referida minissérie, foi contratado para desenvolver a arte conceptual. Tudo parecia agora bem encaminhado, em especial após o anúncio de maio de 1985 como data de lançamento do filme, cujo orçamento ascenderia aos 20 milhões de dólares.
Tom  Mankiewicz queria um ator desconhecido para Batman (o que não impediu que nomes sonantes como Mel Gibson e Kevin Costner fossem equacionados), William Holden para Comissário Gordon, David Niven para Alfred Pennyworth e Peter O'Toole como Pinguim. Contudo, as mortes repentinas dos dois primeiros deitaram por terra tais pretensões.
Sucessivamente reescrito (nove vezes por outros tanto autores), o argumento de Mankiewicz continuou no entanto a servir de base ao desenvolvimento da película. Na banda desenhada, as ovacionadas obras O Regresso do Cavaleiro das Trevas e A Piada Mortal (já aqui esmiuçadas) tinham devolvido ao Batman o seu fulgor de outrora. Facto que encorajou a Warner Bros. a apostar numa adaptação cinematográfica do herói.
Após o sucesso financeiro de Pee-wee's Big Adventure (1985), a Warner Bros. contratou Tim Burton para dirigir o projeto. Uma escolha de alto risco, atendendo à inexperiência do realizador cujo currículo, à data, se resumia ao filme citado e duas curtas-metragens.

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Tim Burton foi a surpreendente escolha para dirigir Batman.
Em março de 1986, Steve Englehart foi incumbido de aplicar novo tratamento ao argumento de Tom Mankiewicz. Joker e Rupert Thorne mantiveram o seu estatuto de antagonistas, ao passo que a participação do Pinguim foi reduzida a um cameo. Silver St. Cloud e Dick Grayson seriam os coadjuvantes principais numa história que impressionou os executivos da Warner. Englehart considerava, porém, excessivo o número de personagens, pelo que removeu o Pinguim e Dick Grayson da trama.
Paralelamente, Tim Burton confiou a Sam Hamm (um aficionado da Nona Arte) a missão de escrever um guião alternativo. Hamm optou por não apresentar uma típica história de origem, privilegiando antes os flashbacks para desvendar o mistério em redor desta. Segundo ele, ninguém queria ver Bruce Wayne a treinar para se transformar no Batman...
Hamm substituiu também Silver St. Cloud por Vicky Vale (um dos mais duradouros interesses amorosos de Bruce Wayne) e Rupert Thorne pela sua própria criação, Carl Grissom. Numa revisão posterior, Dick Grayson seria igualmente suprimido da trama.
Apesar do entusiasmo suscitado pelo argumento de Hamm, a Warner Bros. estava agora menos disposta a avançar com o projeto, que parecia destinado a voltar à estaca zero. Durante esse novo impasse, o enredo de Hamm foi contrabandeado em várias lojas de comics americanas.

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O argumento de Batman teve a assinatura de Sam Hamm.
O ponto de viragem definitivo deu-se na primavera de 1988. O sucesso de Beetlejuice (Os Fantasmas Divertem-se), dirigido por Tim Burton e protagonizado por Michael Keaton, foi determinante para a Warner Bros. dar finalmente luz verde ao filme do Batman. A ideia era lançá-lo no ano seguinte enquadrado pelas comemorações do cinquentenário do herói. Sem tempo a perder, o projeto entrou em velocidade de cruzeiro.
Em meio à atmosfera de expectativa gerada por essa informação, rebentou uma aguerrida controvérsia. Quando os fãs do Cavaleiro das Trevas descobriram que seria Tim Burton a dirigir o filme, e que  seria Michael Keaton (veterano de comédias) a emprestar o seu franzino corpo ao guardião de Gotham, as reações negativas não se fizeram esperar. Motivadas, essencialmente, pelo receio de que o filme viesse a mimetizar o histrionismo da série televisiva com Adam West.

A escolha de Michael Keaton para fazer de Batman deixou os fãs
à beira de um ataque de nervos.
Nos meses seguintes, os escritórios da Warner Bros. foram inundados com 50 mil cartas de fãs furiosos com a escolha de Keaton para o papel principal. Sam Hamm e Michael Uslan também não viram a escolha com bons olhos. Por contraponto à euforia com que foi recebida a notícia de que o Joker seria interpretado por Jack Nicholson.
Nicholson apresentou, porém, um caderno de exigências antes de assinar o seu contrato. Entre outras coisas, o ator exigiu ser cabeça de cartaz, receber uma percentagem das receitas de bilheteira e definir o seu próprio cronograma para a gravação das suas cenas.
Sean Young (Blade Runner) foi a primeira atriz escalada para o papel de Vicky Vale, mas um acidente de equitação nas vésperas do arranque das filmagens deixou-a incapacitada. Dada a urgência em encontrar uma substituta adequada, a escolha recairia sobre Kim Basinger, com disponibilidade imediata para integrar o elenco.

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Sean Young quase vestiu a pele de Vicky Vale.
Nada disto tranquilizou, porém, os fãs. Para contrariar os rumores negativos acerca da produção, Bob Kane, cocriador do Batman, foi contratado como consultor criativo. Curiosamente, Kane também começara por torcer o nariz à escolha de Michael Keaton para interpretar a sua criação suprema.
O enorme interesse mediático suscitado pela produção demoveu Tim Burton de rodar o filme nos estúdios da Warner Bros, em Los Angeles. A fim de prevenir eventuais atos de espionagem, as filmagens foram transferidas para o Reino Unido. Mais concretamente, para os Estúdios Pinewood, nos arrabaldes londrinos.
Apesar do secretismo em torno da produção, a polícia britânica seria chamada na sequência do furto de duas bobines (contendo cerca de 20 minutos de filmagens). Material que, de resto, nunca seria recuperado. Também o diretor de marketing seria aliciado por desconhecidos com uma avultada soma em dinheiro a troco das primeiras imagens de Jack Nicholson como Joker.
Além dos constantes achaques de Tim Burton, a produção ficou marcada por uma apreciável derrapagem orçamental estimada entre os 5 e os 15 milhões de dólares. Acrescendo ainda a greve dos guionistas de Hollywood que terá prejudicado a qualidade do enredo. Com Sam Hamm impedido de retocá-lo devido à sua adesão ao boicote, coube a Warren Skaaren (argumentista de Beetlejuice) executar essa tarefa. Foi, aliás, da sua autoria uma das cenas mais controversas do filme, na qual Alfred concede a Vicky Vale acesso à Bat-Caverna.
Depois de já ter colaborado com Tim Burton em Pee-wee's Big Adventure e Beetlejuice, Danny Elfman foi o eleito para compor a banda sonora da película. Nela seriam também incluídas canções de Prince, apesar dos protestos de Tim Burton. O cineasta considerava a música de Prince demasiado comercial para um projeto autoral como Batman.
Concluída a rodagem em janeiro de 1989, Batman chegaria às salas de cinema americanas em junho desse ano. Verdadeiro fenómeno de bilheteira, foi o segundo filme mais rentável de 1989 (superado apenas por Indiana Jones e a Grande Cruzada) e relançou a Bat-Mania à escala planetária.
As Bodas de Ouro do Homem-Morcego ganharam, assim, um brilho especial e os fãs puderam dormir descansados.

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De roupa a guloseimas, passando por cereais de pequeno-almoço,
a Bat-Mania instalou-se um pouco por todo o lado.

Enredo

Num beco esconso de Gotham City, um incauto casal de turistas e o seu filho são assaltados à mão armada. Minutos depois, quando os dois meliantes dividem entre si o produto do roubo no telhado de um edifício próximo, são atacados por um sinistra figura vestida de negro que invoca um morcego gigante.
Apesar das omissões da Polícia, Alexander Knox, astuto repórter do Gotham Globe, prossegue a sua investigação sobre a presumível existência de um vigilante fantasiado de morcego, cujos avistamentos têm sido cada vez mais frequentes.

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A sombra do morcego paira sobre Gotham City.
Numa conferência de imprensa na escadaria da Câmara Municipal, o mayor Borg apresenta aos jornalistas Harvey Dent, o novo Promotor público. Em vésperas do bicentenário da fundação de Gotham City, ambos comprometem-se a limpar o crime e a corrupção que maculam a reputação da cidade.
De regresso à redação do Gotham Globe, Knox depara-se com Vicky Vale, a nova fotógrafa do jornal. Une-os a curiosidade de descobrir quem é o misterioso "homem-morcego" que assombra a noite de Gotham. Knox confidencia à colega o seu plano para se infiltrar na festa beneficente que terá lugar na Mansão Wayne. A ideia é confrontar o Comissário Gordon com os rumores sobre a existência de um ficheiro sobre o Batman.
Inquieto com a possibilidade de o novo Promotor descobrir as suas ligações sujas à Axis Chemicals, o barão do crime Carl Grissom encarrega Jack Napier, o seu sádico lugar-tenente, de invadir a fábrica e destruir a documentação comprometedora.

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Carl Grissom tem em Jack Napier o seu braço-direito.
Nessa mesma noite, Knox e Vicky Vale comparecem ao evento beneficente na Mansão Wayne. Questionado por Knox, o Comissário Gordon nega a existência de um vigilante à solta nas ruas de Gotham. Vicky, por sua vez, trava casualmente conhecimento com o discreto anfitrião, Bruce Wayne. A amena cavaqueira entre ambos é, porém, subitamente interrompida quando Alfred, o mordomo de Bruce, requisita a presença do patrão para cuidar de outro assunto.
Num centro de comando secreto instalado no subsolo da Mansão Wayne, Bruce analisa as gravações de videovigilância que mostram a saída apressada do Comissário Gordon depois de ser informado que estava em curso uma operação policial não-autorizada na Axis Chemicals.
Na fábrica, Jack Napier intui ter caído numa emboscada e pede aos seus homens para ficarem alerta. Com o Tenente Eckhardt no comando, a Polícia invade as instalações. Em meio à troca de tiros que se segue, Napier é encurralado por Batman e acaba acidentalmente por cair numa tina de produtos químicos.
No dia seguinte, a morte do lugar-tenente de Carl Grissom é descrita como suicídio. Knox suspeita, todavia, da responsabilidade de Batman pela mesma e pede ajuda a Vicky para o ajudar na investigação. Mas a jovem tem outros planos.
Surpreendentemente, Jack Napier sobreviveu e arrastou-se até ao consultório clandestino de um cirurgião a soldo da Máfia. Malgrado os esforços do médico, os químicos deixaram Jack deformado e desfiguraram-lhe o rosto, que exibe agora um sorriso permanente.
Na sua luxuosa cobertura, Carl Grissom é surpreendido pela aparição de Napier, que o assassina a sangue frio após ter deduzido que fora o ex-patrão quem o denunciara à Polícia. Tudo porque Jack andava a dormir com a amante de Grissom, a escultural Alicia. Jack Napier morreu nessa noite e no seu lugar nasceu Joker, o Palhaço do Crime.
Enquanto isso, Bruce e Vicky desfrutam de um serão tranquilo na Mansão Wayne. Cada vez mais intrigada pelo misterioso milionário, a jovem convida-o para sair mas ele recusa a pretexto de uma suposta viagem de negócios.

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Bruce Wayne e Vicky Vale vivem um romance atribulado.
Num conclave com o sindicato do crime, Joker informa os presentes que, devido à inesperada partida de Carl Grissom, será doravante ele a dirigir os negócios. Não hesitando em eletrocutar um dos seus associados quando este questiona o novo regime.Apesar dessa demonstração de força, no dia seguinte um dos chefes do crime anuncia publicamente que Carl Grissom lhe confiou o controlo do seu império. Ato contínuo, o Joker aparece e mata o rival antes de sair rapidamente de cena, sob o olhar embasbacado de Bruce Wayne. Também escondida nas imediações, Vicky Vale é, sem que se aperceba, fotografada por um dos asseclas do Palhaço do Crime. Que logo desenvolve uma obsessão pela bela fotógrafa.
Com a fábrica abandonada da Axis Chemicals a servir-lhe de esconderijo, Joker desenvolve em segredo o Smilex. Trata-te de um químico que, quando combinado com qualquer produto de higiene ou cosmética, se torna letal. Um pouco por toda a cidade, dezenas de vítimas sucumbem aos seus efeitos e o pânico instala-se.
Dias depois, Vicky Vale recebe um convite de Bruce Wayne para almoçar no Museu de Arte. Apenas para descobrir que se tratava de um engodo do Joker para atraí-la. Aterrorizada pelo vilão, Vicky é salva por Batman após uma espetacular entrada pela claraboia do edifício.

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O Palhaço do Crime corteja Vicky Vale.
A bordo do potente Batmobile, Vicky participa numa alucinante perseguição pelas ruas de Gotham. Segue-se uma fuga apeada e uma breve escaramuça de Batman com os capangas do Joker. Quando o herói fica momentaneamente inconsciente, um dos bandidos tentar remover-lhe a máscara. Do alto de uma plataforma suspensa, Vicky fotografa o momento, na esperança de descobrir a verdadeira identidade do Batman.
Depois de voltar a si e de se desembaraçar dos homens do Joker, Batman vai ao encontro de Vicky e leva-a até à Bat-Caverna. Lá, o Homem-Morcego entrega a Vicky um ficheiro contendo informações sobre como neutralizar os efeitos do Smilex antes de se apoderar do rolo fotográfico da jovem.
Com as informações cedidas pelo Batman a circularem na comunicação social, Vicky recebe a visita de Bruce Wayne no seu apartamento. Embora disposto a revelar-lhe o seu segredo, o milionário é interrompido pela súbita aparição do Palhaço do Crime e do seu séquito. A fim de desviar a atenção do Joker, Bruce provoca-o e acaba baleado à queima-roupa. Antes de premir o gatilho, o vilão brinda Wayne com o seu mantra: "Alguma vez dançaste com o Diabo sob o pálido luar?"
Acode então à memória de Bruce - que escapou ileso graças a uma bandeja metálica usada como colete antibala - a fatídica noite em que os seus pais foram assassinado por alguém que proferira aquelas mesmas palavras.

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Os destinos de Jack Napier e Bruce Wayne ficaram entrelaçados.
Em nova conferência de imprensa, o mayor Borg anuncia o cancelamento das celebrações do Bicentenário por não estarem reunidas as condições de segurança. A transmissão televisiva é, contudo, subitamente interrompida pelo Joker. Que, por sua vez, anuncia que irá organizar uma grandiosa festa nessa noite na qual distribuirá 20 milhões de dólares. Terminando a sua alocução com um desafio ao Batman para um mano a mano.
Longe dali, Bruce Wayne acompanha a par e passo os acontecimentos a partir da Bat-Caverna. Após ser surpreendido pela visita de Vicky Vale, sai para se vingar do homem que lhe roubou a infância.

Batman a postos para a batalha.
Batman começa por mandar o Batmobile destruir a fábrica da Axis Chemicals, mas logo percebe que as instalações estão desertas.
Simultaneamente, pelas ruas de Gotham começa a desfilar a ruidosa parada encabeçada pelo Joker, que incluí vários balões gigantes. Para delírio da multidão, o Palhaço do Crime distribui dinheiro a rodos. Quando as pessoas percebem que se tratam, afinal,  de notas falsas, o Joker ordena que seja libertado o gás tóxico armazenado nos balões. Ato contínuo, dezenas de pessoas sucumbem aos efeitos da substância.
Batman cruza os céus aos comandos do seu Batwing e leva os balões para longe, salvando centenas de vidas inocentes. Ao tentar alvejar o Joker, acaba abatido pelo disparo de um revólver gigante. Vicky corre para os destroços fumegantes do avião, mas é raptada pelo Palhaço do Crime. Ambos sobem então as enormes escadarias que conduzem ao telhado de uma imponente catedral.
Embora ferido, Batman parte no encalço de Joker e de Vicky, derrotando pelo caminho os asseclas do vilão. Por fim, o Homem-Morcego e o Palhaço do Crime confrontam-se no campanário. Joker cai mas consegue arrastar consigo Batman e Vicky, deixando-os a balançar perigosamente na beirada da catedral.
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Mano a mano entre o Homem-Morcego e o Palhaço do Crime.
Gotham é pequena demais para os dois.
Quando Joker está prestes a escapar à boleia da escada de corda de um helicóptero, Batman usa um gancho para o prender a uma gárgula, cujo peso provoca a queda do vilão para a morte.
No rescaldo da batalha, os homens do Joker são capturados pela Polícia e Gotham regressa lentamente à normalidade. O Comissário Gordon recebe também de Batman um sinal luminoso que deverá ser ligado sempre que a cidade precisar da sua ajuda.
Perto dali, Vicky Vale é transportada de limusina para a Mansão Wayne, com Alfred a alertá-la para o previsível atraso do patrão. Que, nesse preciso momento, observa do alto de um edifício o Bat-sinal que ilumina o céu noturno de Gotham.

Trailer: 


Prémios e nomeações


Ao conquistar o Óscar para Melhor Direção Artística, Batman tornou-se o segundo filme de super-heróis (depois de Superman, The Movie em 1979) a ser distinguido pela Academia de Hollywood. A esse prestigioso galardão averbou mais oito, quase todos em categorias técnicas. Destaque, por exemplo, para o People Choice's Award para Melhor Filme e para o Grammy para Melhor Composição Instrumental. 
Muita elogiada pela crítica, a atuação de Jack Nicholson rendeu-lhe diversas indicações para Melhor Ator. Também Tim Burton foi nomeado para Melhor Realizador, mas um e outro voltaram para casa de mãos a abanar.

Curiosidades


*Criação de Bob Kane e Bill Finger, Batman estreou-se em maio de 1939, nas páginas de Detective Comics nº27. Menos de um ano depois, em abril de 1940, seria a vez de Joker entrar em cena na edição inaugural de Batman, o primeiro título mensal do herói. Embora imediatamente transformados em arqui-inimigos, no grande ecrã o primeiro confronto entre ambos só aconteceria em 1966. Ano de lançamento de Batman, a primeira longa-metragem do Homem-Morcego - que, contudo, já tivera direito, nos anos 1940, a duas séries cinematográficas. Rodado no intervalo entre as duas primeiras temporadas da série televisiva homónima, o filme funcionou na prática como uma espécie de episódio alargado desta. Adam West e Cesar Romero deram vida, respetivamente, ao Cruzado Encapuzado e ao Palhaço do Crime nesse primeiro duelo em Technicolor;

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Titulada Batman, o Invencível  em Portugal,
a primeira longa-metragem do Homem-Morcego
foi lançada em 1966.

*Então com 61 anos, Adam West expressou, em várias entrevistas posteriores à estreia de Batman, o seu desapontamento por não lhe ter sido concedida a oportunidade de repetir o papel que, duas décadas antes, o celebrizara. Na sua autobiografia editada em 1994, West desmentiu ainda os rumores de que teria sido sondado para interpretar Thomas Wayne na película de Tim Burton. Acrescentando que, mesmo que tal convite tivesse existido, ele tê-lo-ia declinado sem pensar duas vezes;
*Face às hesitações de Jack Nicholson, o papel de Joker foi oferecido a Robin Williams. Quando os produtores o informaram desse facto, Nicholson resolveu aceitá-lo e Williams foi descartado. Ressentido, o ator recusaria interpretar o Charada em Batman Forever (1995), bem como participar em qualquer produção da Warner Bros. enquanto o estúdio não lhe apresentasse um pedido de desculpas formal:
*Tim Curry, John Lithgow, Ray Liotta, James Woods e David Bowie foram outros dos atores cogitados para o papel de Joker. O segundo arrependeu-se amargamente de ter pedido para ser excluído da lista;
*Ao contrário de Jack Nicholson (assumido fã de histórias de super-heróis e, em especial, das do Batman), nem Tim Burton nem Michael Keaton estavam familiarizados com a mitologia do Homem-Morcego. Para suprir essa lacuna, o produtor executivo Michael Uslan providenciou-lhes material de referência da personagem. A Burton foram dadas a ler todas as histórias do herói anteriores à introdução de Robin. Keaton, por sua vez, teve na saga The Dark Knight Returns (O Regresso do Cavaleiro das Trevas) a sua principal fonte de inspiração para o papel. Cuja preparação incluiu, também, uma temporada sozinho em Londres nas semanas que antecederam o início das filmagens;

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A origem do Joker no filme foi fortemente influenciada
 por A Piada Mortal, de Alan Moore. Obra muito louvada pelo
próprio Tim Burton.
*Meticuloso, Michael Keaton transmitiu a Tim Burton a sua preocupação relativamente à facilidade com que a identidade secreta do Batman poderia ser descoberta. Além de sugerir o uso de lentes de contacto, partiu dele a ideia de conferir uma entoação mais cava à voz do herói ao mesmo tempo que mantinha o seu timbre habitual nas cenas como Bruce Wayne. Ideia que faria escola nos vindouros filmes do Homem-Morcego - inclusive na trilogia dirigida por Christopher Nolan, com Christian Bale a empregar a mesma técnica;
*Na opinião de Michael Keaton, a sua experiência em comédias favoreceu a caracterização de Bruce Wayne. A título exemplificativo, o ator cita a cena (por ele sugerida) em que, depois de fazer amor com Vicky Vale, Bruce é visto, qual morcego, a baloiçar-se pendurado de cabeça para baixo numa barra metálica. Segundo Keaton, esse pormenor realçou a personalidade perturbada de Bruce Wayne;
*Com seis metros de comprimento e pesando quase uma tonelada e meia, o Batmobile do filme foi construído a partir do chassis de um Chevy Impala e equipado com um motor do mesmo modelo. Considerado por muitos fãs o mais elegante Batmobile cinematográfico, as suas linhas invocam o Thrust 2, bólide de fabrico britânico propelido a jato que, entre 1983 e 1997, deteve o recorde de velocidade em terra. As chamas expelidas pelo tubo de escape do veículo (do qual foram fabricados dois protótipos) eram reais, tendo sido produzidas com recurso a parafina;
*Por considerar que um uniforme de licra em tons de azul e cinza (cores tradicionalmente conotadas com o Batman) seria pouco intimidante, Tim Burton propôs a sua substituição por um traje totalmente negro. Apesar da reação adversa de alguns fãs, a ideia recebeu o pronto aval de Bob Kane. Tremendamente desconfortável, o traje ajudou no entanto o claustrofóbico Michael Keaton a  melhor interiorizar a natureza sorumbática da sua personagem;
*Michelle Pfeiffer, que à época mantinha uma relação amorosa com Michael Keaton, foi considerada para o papel de Vicky Vale. Por considerar que isso seria constrangedor para ambos, Keaton vetou a ideia. O casal acabaria no entanto por contracenar em Batman Returns, a sequela lançada em 1992;
*A ideia de Bruce Wayne visitar o Beco do Crime todos os anos por ocasião do aniversário da morte dos pais foi inspirada em No Hope in Crime Alley, história da autoria de Denny O'Neil (perfil disponível neste blogue) dada à estampa em Detective Comics nº457 (março de 1976). No filme, Bruce deposita duas rosas no exato local onde os seus pais foram mortalmente alvejados durante um assalto. Pormenor que se tornaria canónico em julho de 2003 numa história do Cavaleiro das Trevas incluída em Detective Comics nº782;
*Apesar de previsto, o cameo de Bob Kane no filme acabaria por não se concretizar. Um súbito problema de saúde do cocriador do Batman impediu-o de gravar a cena  em questão. Era, porém, da sua autoria o esboço do "homem-morcego" usado pelos outros repórteres do Gotham Globe para fazer troça de Alexander Knox (personagem, por sinal, inexistente na banda desenhada);

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Criador e criatura.
*Jack Napier, o alter ego do Joker, foi criado propositadamente para o filme, uma vez que na banda desenhada o nome verdadeiro do vilão permanece um enigma indecifrável. O apelido Napier não foi uma escolha aleatória, sendo de facto uma referência a Alan Napier, o ator britânico que, na série televisiva dos anos 1960, deu vida ao mordomo Alfred Pennyworth;
*No clímax original, Vicky Vale era assassinada pelo Joker, lançando Batman numa espiral de vingança. A versão apresentada no filme, com o trio no cimo de uma catedral, remete para o final de O Corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo. A cena foi redefinida à revelia de Tim Burton;
*A revelação de que o Joker tinha sido o assassino dos pais de Bruce Wayne foi sugerida por Tim Burton. Embora conflituante com o cânone, o twist mereceu a aprovação de Bob Kane. No decurso dos anos, popularizou-se entre os fãs uma teoria preconizando que o Joker não seria o verdadeiro assassino de Thomas e Martha Wayne, mas que Batman projetaria essa ideia em todos os seus inimigos;
*Batman foi o único filme do Cavaleiro das Trevas a revelar a origem do Joker (fortemente influenciada pela Piada Mortal, de Alan Moore) e o único em que o herói enfrenta apenas um vilão;
*Com argumento de Denny O'Neil e ilustrações de Jerry Ordway, a adaptação oficial de Batman aos quadradinhos foi lançada em maio de 1989, precedendo em um mês a estreia da película. No Brasil, seria publicada em outubro desse mesmo ano pela editora Abril.

O filme aos quadradinhos.

Veredito: 90%


Sujeito ao gradual processo de oxidação decorrente da passagem dos anos, constata-se que o enredo de Batman não envelheceu bem em alguns aspetos. Facto compensado por outros elementos como o visual de Gotham (misturando diferentes estilos arquitetónicos, a cidade acabar por ser outra personagem), a elegância do Batmobile e, claro, a magistral representação de Jack Nicholson. Tão magistral que a, espaços, chega a ofuscar o herói, relegado para um plano secundário no próprio filme.
Evidentemente que, neste ponto, Tim Burton tem culpa no cartório ao não explorar como devia a alma torturada de Bruce Wayne. Resumindo a história a um duelo de freaks, Burton tomou claramente partido do Palhaço do Crime em detrimento do Homem-Morcego. 
Mesmo sem aprofundar-se na psicologia de Batman, o filme é eficaz a apresentar as suas motivações. Mas não anula outro efeito negativo dessa abordagem menos centralizada: o facto de se saber muito pouco sobre as origens do herói. Se esse elemento pode soar supérfluo para alguns fãs da personagem, não o é seguramente para o espectador comum.
O verdadeiro ponto fraco de Burton foram, todavia, as cenas de ação. Denunciando a inexperiência do cineasta nesse campo, as lutas e perseguições nem sempre são bem coreografadas, levando a alguma confusão nos momentos de maior adrenalina.
Em contrapartida, Michael Keaton foi uma agradabilíssima surpresa. Mesmo não possuindo os requisitos físicos necessários para o papel, cumpriu exemplarmente a nível psicológico. Nenhum dos atores que o antecederam ou sucederam incorporaram tão primorosamente a melancolia e obstinação que definem aquela que é uma das mais fascinantes personagens dos quadradinhos e um ícone da cultura pop
Batman tem ainda o condão de adaptar certos elementos retirados da banda desenhada que, mesmo afigurando-se demasiado burlescos, nunca deixam de ser divertidos. Infelizmente, o argumento não é um primor; algumas situações são forçadas e algumas personagens importantes (com o Comissário Gordon à cabeça) são desperdiçadas.
Analisando porém a obra com a perspetiva concedida por 30 anos, conclui-se que Batman continua a ser um excelente filme. Desde logo pela sua fidelidade ao conceito adaptado, mas também pela eficiência estética da direção inspirada de Tim Burton. Sem mencionar a importância que teve na evolução do género super-heroico, ao comprovar que era possível imprimir um registo sério a filmes com justiceiros fantasiados.
Que me perdoem, pois, os indefetíveis da trilogia do Cavaleiro das Trevas e as viúvas de Christian Bale, mas Batman continua a ser o meu filme favorito do Homem-Morcego, e Michael Keaton o ator que melhor o interpretou.

Um clássico memorável.




Nota: Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à norma europeia da Língua Portuguesa.

1 comentário:

  1. Eu tinha apenas 13 anos naquele distante ano de 1989, e mesmo assim me enchi de coragem para, sozinho, tomar um trem (comboio, como se diz em Portugal) até a cidade vizinha, aonde havia um cinema de praça exibindo o filme. Cheguei um pouco atrasado, pois a primeira exibição já havia se iniciado, mas não teve problema: ao fim da exibição, eu simplesmente permaneci no mesmo assento até que a segunda exibição iniciasse. Na época, era possível assistir aos filmes quantas vezes se quisesse, desde que você não saísse da sala. Na época, os filmes exibidos no cinema também era em sua maioria legendados, com exceção dos longas animados da Walt Disney. Foi uma experiência fantástica para mim ver aquele Batman, embora eu realmente tenha estranhado que alguém tão pequeno e com ares cômicos como Michael Keaton tenha sido escalado como Bruce wayne.

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