Enredado nas teias do Destino, um jovem inadaptado aprende uma dolorosa lição de vida: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e perigosas inimizades. Conseguirá ele ser o herói que uma Nova Iorque ferida no seu orgulho tanto precisa?
Título original: Spider-Man
Ano: 2002
País: Estados Unidos da América
Duração: 121 minutos
Género: Ação / Fantasia / Super-heróis
Produção: Columbia Pictures, Marvel Enterprises e Laura Ziskin Productions
Realização: Sam Raimi
Argumento: David Koepp
Distribuição: Sony Pictures Releasing
Elenco: Tobey Maguire (Peter Parker / Homem-Aranha); Willem Dafoe (Norman Osborn / Duende Verde); Kirsten Dunst (Mary Jane Watson); James Franco (Harry Osborn); Cliff Robertson (Ben Parker), Rosemary Harris (May Parker); J.K. Simmons (J. Jonah Jameson) e Joe Manganiello (Flash Thompson)
Orçamento: 139 milhões de dólares
Receitas globais: 825 milhões de dólares
Anatomia de um clássico
Na ressaca do fracasso comercial de Super-Homem III (1983), os filmes de super-heróis tornaram-se apostas de altíssimo risco que os grandes estúdios de Hollywood não se podiam dar ao luxo de fazer. Ainda assim, em 1985, a Cannon Films adquiriu à Marvel Comics os direitos de adaptação daquele que era, à época, o maior ativo da empresa capitaneada por Stan Lee: o Homem-Aranha. Além dos 225 mil dólares pagos à cabeça, o negócio previa ainda uma percentagem sobre as receitas de bilheteira. Ficando, no entanto, salvaguardado que, caso o filme não fosse lançado num prazo de cinco anos, os direitos reverteriam novamente para a Casa das Ideias.
Tobe Hooper, que à data finalizava Massacre no Texas 2, foi o primeiro realizador cooptado para o projeto. Menahem Golan e Yoram Globus, proprietários da Cannon e futuros produtores de Super-Homem IV: Em Busca da Paz (1987), interpretaram erradamente o conceito do Homem-Aranha, tomando-o por uma espécie de versão delirante do Lobisomem. Refletindo esse equívoco, Leslie Stevens, criador da série de ficção científica No Limiar da Realidade, escreveu um argumento no qual Peter Parker, um jovem fotógrafo freelance, servia de cobaia a um experimento científico envolvendo radiação. A metamorfose daí resultante transformaria Peter numa espécie de tarântula humana com oito braços, corpo coberto por uma espessa pelagem e fortes inclinações suicidas.
Naturalmente desagradado com esta abordagem, Stan Lee exigiu que fosse escrito um novo argumento mais fiel ao conceito original. Com assinatura de Ted Newsom e John Brancato, a nova versão do enredo tinha o Doutor Octopus como antagonista, embora o apresentasse como mentor de Peter Parker, um promissor estudante de ciências. Joseph Zito, que dirigira o bem sucedido Invasão EUA (1985), sucedeu a Tobe Hooper na cadeira de realizador.
Nova revisão do argumento solicitada por Zito resultou na inclusão de um inédito sidekick para o Doutor Octopus. Entretanto, a Cannon alocara 20 milhões de dólares para o projeto - orçamento digno de uma super-produção à luz dos padrões da época.
Apesar de nenhum casting ter sido concluído, Zito sugeriu Scott Leva para o papel principal. Com uma carreira construída, essencialmente, como duplo (conquanto possuísse alguma experiência de representação), Leva posara em tempos como Homem-Aranha para fotos promocionais da Marvel. Outro nome equacionado para cabeça de cartaz foi o de Tom Cruise, ao mesmo tempo que o próprio Stan Lee sinalizou o seu interesse em interpretar J. Jonah Jameson.
Doutor Octopus foi o primeiro vilão escolhido para o filme do Escalador de Paredes. |
A braços com grandes dificuldades de tesouraria após os dispendiosos Super-Homem IV e Mestres do Universo, a Cannon cortou para metade o orçamento inicialmente previsto para o projeto, levando Zito a bater com a porta. Logo seguido por Menahem Golan que, após dissolver a sociedade com o primo, assumiu os destinos da 21st Century Film Corporation., levando consigo os direitos de adaptação do Escalador de Paredes.
Tendo ainda como ponto de partida o argumento com o Doutor Octopus, Golan contactou a empresa canadiana de efeitos especiais Light and Motion Corporation. Depois de, numa prática consagrada na indústria cinematográfica, ter vendido à Viacom os direitos televisivos do filme não produzido.
Em meados de 1994, logo após o lançamento de A Verdade da Mentira, o realizador James Cameron, autor de clássicos como Aliens e Exterminador Implacável, submeteu um novo argumento da sua autoria à apreciação dos produtores. Além da origem clássica do Homem-Aranha, esta nova versão da história tinha Homem-Areia e Electro como vilões, culminando com uma batalha épica no cimo do World Trade Center. Com muitas licenças poéticas relativamente ao cânone, o argumento de Cameron incluía ainda uma controversa cena de sexo de Peter Parker (retratado como um adolescente libidinoso) e Mary Jane na Ponte do Brooklyn.
Para frustração de boa parte dos fãs, Cameron acabaria no entanto por se desvincular do projeto para dirigir o oscarizado Titanic. E, como um mal nunca vem só, a MGM, a nova dona da 21st Century, processou a Marvel Comics por alegada fraude no negócio com a Cannon. No corolário de uma longa e penosa disputa judicial, os tribunais determinaram que o contrato originalmente celebrado com Golan expirara, pelo que os direitos do Homem-Aranha reverteram para a Marvel, que, por esses dias, lutava desesperadamente pela sua sobrevivência financeira.
James Cameron queria Leonardo DiCaprio como Homem-Aranha. |
Em 1999, a Marvel licenciou os direitos do Homem-Aranha à Columbia, uma subsidiária da Sony Pictures Entertainment. Ao cabo de mais de uma década de tentativas frustradas, o filme do Homem-Aranha recebeu finalmente luz verde para ser produzido.
Da mudança de estúdio decorreu nova mudança de direção. David Fincher (Clube de Combate) encabeçava a lista de potenciais realizadores, mas seria descartado devido à sua recusa em filmar a origem do Homem-Aranha.
Sam Raimi foi o senhor que se seguiu, em janeiro de 2000. A sua confessa paixão por super-heróis e pelo Escalador de Paredes, em particular, foi determinante para sua escolha.
Chamado a reescrever o argumento de James Cameron, David Koepp despromoveu o Doutor Octopus a vilão secundário, em favor do Duende Verde. Raimi considerou no entanto que as duas personagens se ofuscariam mutuamente, e ordenou a supressão do primeiro. Em contrapartida, manteve um dos elementos mais controversos do argumento de Cameron: as teias orgânicas. Recorde-se que, na banda desenhada, Peter Parker inventou o fluido de teias sintéticas para municiar os seus lançadores manuais. Raimi considerava esse conceito implausível para um jovem estudante do secundário.
Com o elenco definido, após muitas especulações sobretudo em volta do papel principal, as filmagens de Homem-Aranha arrancaram oficialmente a 8 de janeiro de 2001,com Nova Iorque e Los Angeles como panos de fundo.
Sam Raimi trocando impressões com Tobey Maguire e Kirsten Dunst durante a rodagem do filme que o consagraria. |
A produção ficou marcada por alguns incidentes. Um ex-segurança da Sony furtou vários uniformes do Homem-Aranha, cada um avaliado em 50 mil dólares. Seguindo uma pista fornecida pela ex-mulher do larápio, as autoridades encontraram ainda na sua morada um Bat-traje propriedade da Warner Bros, misteriosamente desaparecido durante a rodagem de Batman & Robin (1997). Mais trágico foi o episódio que envolveu um dos operários que participava na construção dos sets. Quando uma empilhadora convertida em grua improvisada tombou, o homem morreu esmagado.
A 29 de abril de 2002, o Mann Village Theater, um dos mais mais antigos e emblemáticos cinemas de Los Angeles, engalanou-se para receber a antestreia de Homem-Aranha. Quatro dias mais tarde, a 3 de maio, teve lugar a estreia nacional de um filme que entrou para os anais da 7ª Arte ao ser o primeiro a arrecadar 100 milhões de dólares no primeiro fim de semana em exibição. Com receitas globais que ultrapassaram os 820 milhões de dólares, tornou-se a adaptação de super-heróis mais rentável até àquele momento.
Enredo
Durante uma visita de estudo, Peter Parker e a sua turma do liceu visitam um laboratório de bioengenharia onde se encontra patente uma exposição de aranhas. Nem Harry Osborn, o seu melhor amigo, nem Mary Jane Watson, a sua paixoneta secreta, se apercebem da picada desferida na mão de Peter por uma aranha geneticamente modificada.
De regresso a casa dos tios, com quem mora desde a morte dos pais, Peter sente-se febril e cai num sono pesado povoado por sonhos bizarros.
Enquanto isso, Norman Osborn, pai de Harry e presidente executivo da Oscorp, tenta garantir um contrato militar de vital importância para a sua empresa. Após uma demonstração fracassada, Norman, ignorando os avisos do seu assistente, testa em si mesmo um soro experimental. A fórmula incrementa-lhe as capacidades físicas mas, como efeito colateral, deixa Norman mentalmente instável.
Na manhã seguinte, um atónito Peter descobre que a sua miopia foi, literalmente, curada da noite para o dia. Também o seu corpo, habitualmente franzino, desenvolveu massa muscular, conferindo-lhe um porte atlético.
Na escola, Peter faz outra descoberta surpreendente: o seu organismo é agora capaz de produzir teias altamente resistentes. Ao tentar livrar-se delas, atinge acidentalmente com um tabuleiro de comida Flash Thompson, o valentão que há anos o arrelia.Peter evita no entanto ser espancado por Flash, graças a uma espécie de sexto sentido que o alerta para o perigo. A sua força e agilidade sobre-humanas deixam rapidamente o brutamontes fora de combate, perante o olhar incrédulo de Mary Jane.
Fazendo tábua rasa do conselho do seu tio Ben ("Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades."), Peter inscreve-se num torneio de luta-livre. O plano consiste em usar os seus novos poderes para ganhar o dinheiro de que precisa para comprar um carro, com o qual tenciona impressionar Mary Jane. Apesar de se apresentar disfarçado de Aranha Humana, o locutor anuncia-o como Homem-Aranha.
Peter sai vitorioso do combate mas é enganado pelo promotor do mesmo, recebendo uma quantia muito inferior àquela que lhe havia sido prometida. Consequentemente, quando um ladrão armado irrompe pelo escritório do promotor, Peter nada faz para impedir a sua fuga.
Mais tarde, porém, Peter encontra o seu tio moribundo na rua, depois de ter resistido a uma tentativa de carjacking. Peter parte no encalço do assassino, apenas para descobrir que se trata do mesmo ladrão que deixara escapar minutos atrás. Encurralado num armazém abandonado, o criminoso cai por uma janela e morre.
Longe dali, Norman Osborn, envergando o protótipo de um exoesqueleto roubado à Oscorp, interrompe um ensaio de tecnologia militar desenvolvida pela Quest Aeroespacial. Do ataque resultam vários mortos e feridos.
Logo após a sua cerimónia de graduação, Peter começa a usar as suas habilidades aracnídeas para combater o crime e a injustiça. Criando, para esse efeito, a identidade de Homem-Aranha e uma fantasia alusiva.
À medida que as aparições do Homem-Aranha aumentam de frequência, J. Jonah Jameson, o irascível editor do jornal Daily Bugle, contrata Peter como fotógrafo freelance, uma vez que ele é o único a conseguir imagens nítidas do novo vigilante mascarado.
Ao tomar conhecimento dos planos do Conselho de Administração da Oscorp de forçá-lo a vender a sua empresa à Quest, Norman decide cortar o mal pela raiz. Novamente disfarçado de Duende Verde, assassina todos os membros do Conselho durante o Festival da Unidade Mundial.
Quando o Homem-Aranha intervém, o Duende Verde, impressionado com as habilidades do seu adversário, oferece-lhe um lugar a seu lado. Peter recusa e os dois envolvem-se numa violenta escaramuça, com o Escalador de Paredes a receber um profundo corte no antebraço antes de o Duende Verde desaparecer por entre uma revoada de risadas maníacas.
No jantar de Ação de Graças em casa de May Parker, Norman deteta o ferimento no antebraço de Peter, deduzindo ser ele o Homem-Aranha. Nessa mesma noite, o Duende Verde ataca e aterroriza a tia May. Os ferimentos da idosa obrigam à sua hospitalização, deixando Peter transtornado e temendo pela segurança dos seus entes queridos.
No dia seguinte, Mary Jane confidencia a Peter a sua paixoneta pelo Homem-Aranha, que a salvou em numerosas ocasiões. Harry chega no exato instante em que o casal dá as mãos, presumindo que era a Peter que a namorada acabara de confessar os seus sentimentos.
Consumido pelo ciúme, Harry conta ao pai que Peter e Mary Jane estão enamorados, revelando inadvertidamente a maior fraqueza do Homem-Aranha.
Nessa noite, o Duende Verde sequestra Mary Jane e um teleférico apinhado de crianças. Enquanto segura ambos no alto de uma ponte, o vilão obriga o Homem-Aranha a escolher qual deles salvará.
No entanto, embora a muito custo, o Homem-Aranha consegue salvar Mary Jane e os passageiros do teleférico. Simultaneamente, o Duende Verde vê-se bombardeado por civis que, ao presenciarem a dramática cena, tomam o partido do herói.
Furioso, o Duende Verde arrasta o Homem-Aranha para um edifício devoluto, espancando-o brutalmente. Quando o vilão, prestes a levar a melhor, anuncia a sua intenção de matar Mary Jane, Peter recupera o alento e derrota-o.
O Duende Verde revela então a sua verdadeira face, e Peter nem quer acreditar que se trata do pai do seu melhor amigo. Ao mesmo tempo que implora por perdão, Norman aciona o controlo remoto do seu planador, para direcioná-lo contra Peter. Alertado pelo seu sentido de aranha, Peter desvia-se do ataque e Norman acaba empalado pelo próprio aparato.
Antes de exalar o seu último suspiro, Norman pede a Peter que não conte a Harry acerca do Duende Verde. Peter aquiesce e transporta o corpo inerte de Norman até à sua mansão. É no entanto surpreendido pela chegada de Harry que, perante aquele quadro, toma o Homem-Aranha como assassino do seu pai.
No funeral de Norman, Harry jura vingança contra o Homem-Aranha e diz a Peter que, agora que também ficou órfão, ele é a única família que lhe resta.
Mary Jane, por sua vez, declara o seu amor por Peter. Mas ele, sentindo-se na obrigação de protegê-la dos inimigos do seu alter ego, esconde os seus verdadeiros sentimentos, respondendo-lhe que apenas poderão ser amigos. Os dois trocam um beijo fugaz e, enquanto Peter se afasta, à memória de Mary Jane acode a lembrança da noite em que os seus lábios tocaram os do Homem-Aranha.
Enquanto abandona o cemitério, de semblante carregado e sob um céu carrancudo, Peter rememora as palavras do seu tio Ben sobre responsabilidade, e aceita a sua missão de vida como Homem-Aranha.
Trailer:
De regresso a casa dos tios, com quem mora desde a morte dos pais, Peter sente-se febril e cai num sono pesado povoado por sonhos bizarros.
Enquanto isso, Norman Osborn, pai de Harry e presidente executivo da Oscorp, tenta garantir um contrato militar de vital importância para a sua empresa. Após uma demonstração fracassada, Norman, ignorando os avisos do seu assistente, testa em si mesmo um soro experimental. A fórmula incrementa-lhe as capacidades físicas mas, como efeito colateral, deixa Norman mentalmente instável.
Na manhã seguinte, um atónito Peter descobre que a sua miopia foi, literalmente, curada da noite para o dia. Também o seu corpo, habitualmente franzino, desenvolveu massa muscular, conferindo-lhe um porte atlético.
A picada de uma aranha mudará para sempre a vida de Peter Parker. |
Fazendo tábua rasa do conselho do seu tio Ben ("Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades."), Peter inscreve-se num torneio de luta-livre. O plano consiste em usar os seus novos poderes para ganhar o dinheiro de que precisa para comprar um carro, com o qual tenciona impressionar Mary Jane. Apesar de se apresentar disfarçado de Aranha Humana, o locutor anuncia-o como Homem-Aranha.
Peter sai vitorioso do combate mas é enganado pelo promotor do mesmo, recebendo uma quantia muito inferior àquela que lhe havia sido prometida. Consequentemente, quando um ladrão armado irrompe pelo escritório do promotor, Peter nada faz para impedir a sua fuga.
Mais tarde, porém, Peter encontra o seu tio moribundo na rua, depois de ter resistido a uma tentativa de carjacking. Peter parte no encalço do assassino, apenas para descobrir que se trata do mesmo ladrão que deixara escapar minutos atrás. Encurralado num armazém abandonado, o criminoso cai por uma janela e morre.
A morte do tio Ben ensina uma dolorosa lição a Peter. |
Logo após a sua cerimónia de graduação, Peter começa a usar as suas habilidades aracnídeas para combater o crime e a injustiça. Criando, para esse efeito, a identidade de Homem-Aranha e uma fantasia alusiva.
À medida que as aparições do Homem-Aranha aumentam de frequência, J. Jonah Jameson, o irascível editor do jornal Daily Bugle, contrata Peter como fotógrafo freelance, uma vez que ele é o único a conseguir imagens nítidas do novo vigilante mascarado.
Ao tomar conhecimento dos planos do Conselho de Administração da Oscorp de forçá-lo a vender a sua empresa à Quest, Norman decide cortar o mal pela raiz. Novamente disfarçado de Duende Verde, assassina todos os membros do Conselho durante o Festival da Unidade Mundial.
Quando o Homem-Aranha intervém, o Duende Verde, impressionado com as habilidades do seu adversário, oferece-lhe um lugar a seu lado. Peter recusa e os dois envolvem-se numa violenta escaramuça, com o Escalador de Paredes a receber um profundo corte no antebraço antes de o Duende Verde desaparecer por entre uma revoada de risadas maníacas.
A aranha não será presa fácil do duende. |
No dia seguinte, Mary Jane confidencia a Peter a sua paixoneta pelo Homem-Aranha, que a salvou em numerosas ocasiões. Harry chega no exato instante em que o casal dá as mãos, presumindo que era a Peter que a namorada acabara de confessar os seus sentimentos.
Consumido pelo ciúme, Harry conta ao pai que Peter e Mary Jane estão enamorados, revelando inadvertidamente a maior fraqueza do Homem-Aranha.
Nessa noite, o Duende Verde sequestra Mary Jane e um teleférico apinhado de crianças. Enquanto segura ambos no alto de uma ponte, o vilão obriga o Homem-Aranha a escolher qual deles salvará.
No entanto, embora a muito custo, o Homem-Aranha consegue salvar Mary Jane e os passageiros do teleférico. Simultaneamente, o Duende Verde vê-se bombardeado por civis que, ao presenciarem a dramática cena, tomam o partido do herói.
Mary Jane salva pelo seu herói. |
O Duende Verde revela então a sua verdadeira face, e Peter nem quer acreditar que se trata do pai do seu melhor amigo. Ao mesmo tempo que implora por perdão, Norman aciona o controlo remoto do seu planador, para direcioná-lo contra Peter. Alertado pelo seu sentido de aranha, Peter desvia-se do ataque e Norman acaba empalado pelo próprio aparato.
Antes de exalar o seu último suspiro, Norman pede a Peter que não conte a Harry acerca do Duende Verde. Peter aquiesce e transporta o corpo inerte de Norman até à sua mansão. É no entanto surpreendido pela chegada de Harry que, perante aquele quadro, toma o Homem-Aranha como assassino do seu pai.
No funeral de Norman, Harry jura vingança contra o Homem-Aranha e diz a Peter que, agora que também ficou órfão, ele é a única família que lhe resta.
Mary Jane, por sua vez, declara o seu amor por Peter. Mas ele, sentindo-se na obrigação de protegê-la dos inimigos do seu alter ego, esconde os seus verdadeiros sentimentos, respondendo-lhe que apenas poderão ser amigos. Os dois trocam um beijo fugaz e, enquanto Peter se afasta, à memória de Mary Jane acode a lembrança da noite em que os seus lábios tocaram os do Homem-Aranha.
Enquanto abandona o cemitério, de semblante carregado e sob um céu carrancudo, Peter rememora as palavras do seu tio Ben sobre responsabilidade, e aceita a sua missão de vida como Homem-Aranha.
Trailer:
Prémios e nomeações
Nomeado para dois Óscares (Melhores Efeitos Especiais e Melhor Som), Homem-Aranha perderia a corrida em ambas as categorias para dois adversários de peso - respetivamente, O Senhor dos Anéis: As Duas Torres e o musical Chicago. Conquistou, no entanto, o People's Choice Award de Melhor Filme e, graças à partitura composta por Danny Elfman, o Saturn Award para Melhor Banda Sonora.
A título individual, Kirsten Dunst viu a sua interpretação (considerada demasiado apagada por alguns críticos) ser distinguida com o MTV Movie Award para Melhor Atriz.
Curiosidades
*Criação conjunta de Stan Lee e Steve Ditko, a estreia do Homem-Aranha ocorreu em agosto de 1962, nas páginas de Amazing Fantasy #15. Menos de um par de anos volvidos, em julho de 1964, os mesmos autores introduziriam o Duende Verde (Green Goblin, no original), em Amazing Spider-Man #14. Apesar de, desde então, ter reclamado para si o estatuto de némesis do Escalador de Paredes, o Duende Verde não foi o primeiro supervilão a participar nas histórias do herói aracnídeo. Essa honra coube ao Camaleão, outro antagonista clássico do Homem-Aranha que, conforme o nome sugere, possui a habilidade de mimetizar a fisionomia de outrem. O Duende Verde foi, contudo, o primeiro inimigo do Homem-Aranha a descobrir a identidade secreta do herói;
*O filme apresentou o primeiro confronto entre o Homem-Aranha e o Duende Verde em ação real. Até então, os dois apenas haviam medido forças na banda desenhada e em séries de animação;
*Homem-Aranha marcou igualmente a estreia em ação real de vários dos coadjuvantes clássicos do Escalador de Paredes, designadamente Mary Jane Watson, Flash Thompson, Norman Osborn ou o próprio Tio Ben. Em 1977, The Amazing Spider-Man, série televisiva protagonizada por Nicholas Hammond (que faz um cameo no filme), preterira essas e outras personagens em favor de outras criadas propositadamente para o pequeno ecrã;
*Na versão canónica, Mary Jane é sobrinha de Anna Watson, vizinha e melhor amiga de May Parker. Apesar das visitas frequentes a casa da tia, MJ só travaria amizade com Peter Parker no campus da Universidade Empire State, onde ambos estudavam. Contudo, no reboot Ultimate Marvel MJ, à semelhança do que é mostrado no filme, é apresentada como a rapariga da porta ao lado por quem Peter nutre uma paixão platónica desde o início da puberdade;
*No filme, a fonte dos poderes de Peter Parker é uma aranha geneticamente modificada para combinar as melhores habilidades de várias espécies. Nos quadradinhos, a responsável pela metamorfose de Peter foi uma aranha radioativa. Se na vida real o animal morreria tão-logo fosse irradiado, a sobrevivência da sua prima geneticamente aprimorada seria altamente provável. Do mesmo modo, a transmissão das suas habilidades a um ser humano por via de um picada seria teoricamente possível;
*Contrariamente a Tobey Maguire - que admitiu nunca ter lido uma história do Homem-Aranha na vida - Sam Raimi é um ávido colecionador de comics, estimando-se que possua mais de 25 mil itens dessa natureza no seu acervo pessoal. Foi esse o motivo que tornou a sua escolha para dirigir o filme tão popular entre os fãs do Escalador de Paredes;
*26 milhões de dólares foi o cachê recebido por Tobey Maguire (escolha pessoal de Sam Raimi) ao assinar o contrato que previa a sua participação numa hipotética sequela;
*Antes de, por sugestão da esposa de Sam Raimi, lhe ser atribuído o papel de Harry Osborn, James Franco chegou a fazer testes para Homem-Aranha. Despeitado, Franco troçaria depois da prestação de Tobey Maguire, comparando-o com um "homem-rã". Maguire acusou o toque e a tensão entre os dois atores - que contracenaram em toda a trilogia - foi uma constante no decurso das filmagens. Em entrevistas concedidas a posteriori, Maguire reconheceu que a rivalidade entre ambos ainda subsiste;
*A primeira cena gravada foi aquela que mostra Peter a regressar febril a casa após a visita de estudo durante a qual foi picado por uma "super-aranha";
*O figurino inicialmente concebido para o Duende Verde era mais parecido com o da banda desenhada. Além de orelhas e dentes pontiagudos, a máscara teria embutidas lentes de contacto amarelas. Por ter sido considerado demasiado sinistro para um filme que se queria para toda a família, o visual foi descartado pela produção. Os testes de ecrã realizados com ele podem, porém, ser encontrados no YouTube;
*Depois de Willem Dafoe ter dispensado duplos para as cenas mais arriscadas, o traje do Duende Verde entretanto aprovado foi sujeito a diversas modificações. O objetivo era torná-lo mais ágil e elegante do que o robusto modelo original. Compostos por 5800 peças, os novos paramentos demoravam uma hora a ser vestidos por Dafoe;
*Em vez das tradicionais teias negras da BD, o figurino cinematográfico do Homem-Aranha foi debruado com teias prateadas, de modo a criar profundidade. Sem elas, a equipa de efeitos visuais não conseguia imprimir realismo às cenas em que o herói usavas as suas teias para se balançar pela cidade;
*Além de desconfortável, o modelo original do uniforme do Homem-Aranha - confecionado como uma peça única, - obrigava Tobey Maguire a despir-se por completo de cada vez que tinha de satisfazer alguma necessidade fisiológica. A solução encontrada consistiu em criar uma discreta abertura nas calças que permitia ao ator aliviar-se sem ter de ficar em pelota;
*A principal dificuldade sentida por Tobey Maguire durante a gravação da icónica cena do beijo de cabeça para baixo trocado com Mary Jane sob chuva intensa foi ter as fossas nasais constantemente inundadas de água;
*A sequência em que o Homem-Aranha se esquiva das lâminas voadoras do Duende Verde num prédio em chamas foi filmada com recurso à mesma técnica fotográfica de Matrix (1999);
*Na primeira versão do seu tradicional cameo, Stan Lee surgia como um vendedor ambulante que procurava convencer Peter a comprar um par de óculos iguais aos que Ciclope usara em X-Men. Também Bruce Campbell (Evil Dead), Lucy Lawless (Xena, a Princesa Guerreira), dois velhos amigos de Sam Raimi, e Ted Raimi (irmão do realizador) tiveram direito a pequenas participações no filme;
*O clímax do filme é baseado em A Morte de Gwen Stacy, originalmente publicada em The Amazing Spider-Man #121 (junho de 1973). Nessa história clássica do Homem-Aranha com assinatura de Gerry Conway e Gil Kane, o Duende Verde rapta Gwen Stacy, o primeiro grande amor de Peter Parker, deixando-a suspensa no cimo de uma ponte. Ao tentar salvá-la de uma queda fatal, o herói acaba acidentalmente por matá-la. No filme, Mary Jane faz as vezes da sua malograda antecessora, com a diferença de que sobrevive para participar nas sequelas. Já a morte do Duende Verde, empalado pelo próprio planador, é extremamente fiel à história original;
*Durante a cena do funeral de Norman Osborn, é possível ver um túmulo adjacente com o apelido "Stacy" inscrito na lápide. Trata-se de uma possível alusão à morte do Capitão George Stacy, pai de Gwen e que, na BD, perdeu a vida durante um recontro entre o Homem-Aranha e o Doutor Octopus. Embora ausente do filme, Gwen Stacy marcaria presença em Homem-Aranha 3 (2007);
*O primeiro teaser trailer do filme mostrava um grupo de assaltantes a fugirem de helicóptero depois de terem roubado um banco. O voo da aeronave era então subitamente travado por uma gigantesca teia de aranha, que a deixava presa no espaço entre as duas torres do World Trade Center. Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 ditaram, porém, a retirada do trailer original e a subsequente produção de um novo. Idêntico destino tiveram os primeiros cartazes promocionais do filme, que mostravam o reflexo das Torras Gémeas nas lentes polarizadas da máscara do Homem-Aranha. A maior parte deles não foi, todavia, recuperada, tratando-se de artigos muito cobiçados por colecionadores;
*Da banda sonora oficial do filme faz parte um cover dos Aerosmith do tema musical que acompanhava o genérico de abertura de Spider-Man, série animada cujas três temporadas foram originalmente emitidas pelo canal ABC, entre 1967 e 1970;
*Escrita pelo próprio Stan Lee e ilustrada pelo britânico Alan Davis, a adaptação oficial de Homem-Aranha aos quadradinhos foi lançada pela Marvel Comics em junho de 2002 com duas capas variantes: uma com assinatura de John Romita Jr., outra com uma imagem do filme. Esta última serviria de frontispício à versão colocada à venda na cadeia de supermercados Wallmart, bem como à edição portuguesa publicada pela Devir nesse mesmo ano.
Veredito: 81%
A espera foi longa mas valeu a pena. No dealbar do novo milénio, o Homem-Aranha, o mais famoso dos inquilinos da Casa das Ideias, recebeu, por fim, uma valorosa adaptação cinematográfica que, a um só tempo, pulverizou recordes de bilheteira e elevou a fasquia de qualidade dos filmes de super-heróis ao extremo. Obrigando, dessa forma, produções análogas a avultados investimentos em efeitos especiais inovadores e elencos estelares.
Paradoxalmente, a razão do sucesso de Homem-Aranha reside no seu registo popular isento de floreados narrativos ou pretensiosismos metafísicos. O seu mérito principal consiste, portanto, em agradar quer aos fãs (a maioria, pelo menos) quer ao público casual que apenas conhece de raspão a mitologia do Escalador de Paredes.
O filme apresenta uma história simples e divertida mas que encerra uma importante lição de vida sobre a necessidade de assumirmos novas responsabilidades e aceitarmos as consequências das nossas decisões. Claro que essa mensagem é repassada de forma superficial, sendo facto consabido que complexidade existencial e super-produções hollywoodescas raramente casam bem.
Sem embargo para a sua espetacularidade e eficácia, as cenas de ação, tradicionalmente complicadas de gerir, ocupam uma pequena parte do filme; apenas o suficiente para entreter a audiência. No cômputo geral estão bem construídas, sendo completadas com efeitos especiais convincentes. Ficando, contudo, patente que a preocupação primordial do argumento assenta na evolução psicológica das personagens (com óbvio enfoque no protagonista) em detrimento de recitais de pancadaria e explosões. Sam Raimi dá mostras do seu talento de cineasta ao evitar o exagero visual que perpassa por outras produções do género.
Outro ponto de interesse do filme é a banda sonora assinada pelo veterano Danny Elfman. Mesmo sem criar nenhum tema icónico, Elfman logrou compor belas melodias que enquadram na perfeição a história que se desenrola aos olhos dos espectadores.
De entre os elementos de destaque, o elenco, apesar de transpirar talento, é aquele que convence sem deslumbrar. Por contraponto à fraca atuação de Kirsten Dunst - que desempenha um papel frágil e pouco apelativo - a interpretação de Willem Dafoe é digna de vénia. Apesar de continuar a ser o meu intérprete favorito do herói aracnídeo, Tobey Maguire poderia - e deveria - ter incutido um pouco mais de carisma à sua personagem. Qualquer verdadeiro fã do Cabeça de Teia sentiu falta das suas piadinhas infames, que nos arrancam gargalhadas e deixam os criminosos à beira de um ataque de nervos.
Em suma, Homem-Aranha é uma película bastante divertida e de fácil entendimento que, graças a múltiplos elementos técnicos e narrativos de qualidade, garantiu lugar de destaque no imaginário coletivo e, em particular, na memória afetiva dos fãs que há muito ansiavam por ver o seu ídolo a balançar-se de teia em teia no grande ecrã.
.*Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à variante europeia da Língua Portuguesa;
**Artigos sobre Steve Ditko e A Morte de Gwen Stacy disponíveis para leitura complementar.
A primeira aparição do Duende Verde em Amazing Spider-Man #4 (1964). |
*Homem-Aranha marcou igualmente a estreia em ação real de vários dos coadjuvantes clássicos do Escalador de Paredes, designadamente Mary Jane Watson, Flash Thompson, Norman Osborn ou o próprio Tio Ben. Em 1977, The Amazing Spider-Man, série televisiva protagonizada por Nicholas Hammond (que faz um cameo no filme), preterira essas e outras personagens em favor de outras criadas propositadamente para o pequeno ecrã;
*Na versão canónica, Mary Jane é sobrinha de Anna Watson, vizinha e melhor amiga de May Parker. Apesar das visitas frequentes a casa da tia, MJ só travaria amizade com Peter Parker no campus da Universidade Empire State, onde ambos estudavam. Contudo, no reboot Ultimate Marvel MJ, à semelhança do que é mostrado no filme, é apresentada como a rapariga da porta ao lado por quem Peter nutre uma paixão platónica desde o início da puberdade;
Peter e MJ trocam o primeiro beijo. O início de uma bonita história de amor que acabaria em casamento. |
*Contrariamente a Tobey Maguire - que admitiu nunca ter lido uma história do Homem-Aranha na vida - Sam Raimi é um ávido colecionador de comics, estimando-se que possua mais de 25 mil itens dessa natureza no seu acervo pessoal. Foi esse o motivo que tornou a sua escolha para dirigir o filme tão popular entre os fãs do Escalador de Paredes;
*26 milhões de dólares foi o cachê recebido por Tobey Maguire (escolha pessoal de Sam Raimi) ao assinar o contrato que previa a sua participação numa hipotética sequela;
*Antes de, por sugestão da esposa de Sam Raimi, lhe ser atribuído o papel de Harry Osborn, James Franco chegou a fazer testes para Homem-Aranha. Despeitado, Franco troçaria depois da prestação de Tobey Maguire, comparando-o com um "homem-rã". Maguire acusou o toque e a tensão entre os dois atores - que contracenaram em toda a trilogia - foi uma constante no decurso das filmagens. Em entrevistas concedidas a posteriori, Maguire reconheceu que a rivalidade entre ambos ainda subsiste;
*A primeira cena gravada foi aquela que mostra Peter a regressar febril a casa após a visita de estudo durante a qual foi picado por uma "super-aranha";
*O figurino inicialmente concebido para o Duende Verde era mais parecido com o da banda desenhada. Além de orelhas e dentes pontiagudos, a máscara teria embutidas lentes de contacto amarelas. Por ter sido considerado demasiado sinistro para um filme que se queria para toda a família, o visual foi descartado pela produção. Os testes de ecrã realizados com ele podem, porém, ser encontrados no YouTube;
O visual original do Duende Verde (esq.) foi considerado demasiado assustador para um filme que se queira para toda a família. |
*Em vez das tradicionais teias negras da BD, o figurino cinematográfico do Homem-Aranha foi debruado com teias prateadas, de modo a criar profundidade. Sem elas, a equipa de efeitos visuais não conseguia imprimir realismo às cenas em que o herói usavas as suas teias para se balançar pela cidade;
*Além de desconfortável, o modelo original do uniforme do Homem-Aranha - confecionado como uma peça única, - obrigava Tobey Maguire a despir-se por completo de cada vez que tinha de satisfazer alguma necessidade fisiológica. A solução encontrada consistiu em criar uma discreta abertura nas calças que permitia ao ator aliviar-se sem ter de ficar em pelota;
*A principal dificuldade sentida por Tobey Maguire durante a gravação da icónica cena do beijo de cabeça para baixo trocado com Mary Jane sob chuva intensa foi ter as fossas nasais constantemente inundadas de água;
Um dos beijos mais icónicos e difíceis de executar na história do cinema. |
*Na primeira versão do seu tradicional cameo, Stan Lee surgia como um vendedor ambulante que procurava convencer Peter a comprar um par de óculos iguais aos que Ciclope usara em X-Men. Também Bruce Campbell (Evil Dead), Lucy Lawless (Xena, a Princesa Guerreira), dois velhos amigos de Sam Raimi, e Ted Raimi (irmão do realizador) tiveram direito a pequenas participações no filme;
*O clímax do filme é baseado em A Morte de Gwen Stacy, originalmente publicada em The Amazing Spider-Man #121 (junho de 1973). Nessa história clássica do Homem-Aranha com assinatura de Gerry Conway e Gil Kane, o Duende Verde rapta Gwen Stacy, o primeiro grande amor de Peter Parker, deixando-a suspensa no cimo de uma ponte. Ao tentar salvá-la de uma queda fatal, o herói acaba acidentalmente por matá-la. No filme, Mary Jane faz as vezes da sua malograda antecessora, com a diferença de que sobrevive para participar nas sequelas. Já a morte do Duende Verde, empalado pelo próprio planador, é extremamente fiel à história original;
*Durante a cena do funeral de Norman Osborn, é possível ver um túmulo adjacente com o apelido "Stacy" inscrito na lápide. Trata-se de uma possível alusão à morte do Capitão George Stacy, pai de Gwen e que, na BD, perdeu a vida durante um recontro entre o Homem-Aranha e o Doutor Octopus. Embora ausente do filme, Gwen Stacy marcaria presença em Homem-Aranha 3 (2007);
*O primeiro teaser trailer do filme mostrava um grupo de assaltantes a fugirem de helicóptero depois de terem roubado um banco. O voo da aeronave era então subitamente travado por uma gigantesca teia de aranha, que a deixava presa no espaço entre as duas torres do World Trade Center. Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 ditaram, porém, a retirada do trailer original e a subsequente produção de um novo. Idêntico destino tiveram os primeiros cartazes promocionais do filme, que mostravam o reflexo das Torras Gémeas nas lentes polarizadas da máscara do Homem-Aranha. A maior parte deles não foi, todavia, recuperada, tratando-se de artigos muito cobiçados por colecionadores;
*Da banda sonora oficial do filme faz parte um cover dos Aerosmith do tema musical que acompanhava o genérico de abertura de Spider-Man, série animada cujas três temporadas foram originalmente emitidas pelo canal ABC, entre 1967 e 1970;
*Escrita pelo próprio Stan Lee e ilustrada pelo britânico Alan Davis, a adaptação oficial de Homem-Aranha aos quadradinhos foi lançada pela Marvel Comics em junho de 2002 com duas capas variantes: uma com assinatura de John Romita Jr., outra com uma imagem do filme. Esta última serviria de frontispício à versão colocada à venda na cadeia de supermercados Wallmart, bem como à edição portuguesa publicada pela Devir nesse mesmo ano.
Adicionar legenda |
As duas capas variantes da adaptação oficial do filme. |
Veredito: 81%
A espera foi longa mas valeu a pena. No dealbar do novo milénio, o Homem-Aranha, o mais famoso dos inquilinos da Casa das Ideias, recebeu, por fim, uma valorosa adaptação cinematográfica que, a um só tempo, pulverizou recordes de bilheteira e elevou a fasquia de qualidade dos filmes de super-heróis ao extremo. Obrigando, dessa forma, produções análogas a avultados investimentos em efeitos especiais inovadores e elencos estelares.
Paradoxalmente, a razão do sucesso de Homem-Aranha reside no seu registo popular isento de floreados narrativos ou pretensiosismos metafísicos. O seu mérito principal consiste, portanto, em agradar quer aos fãs (a maioria, pelo menos) quer ao público casual que apenas conhece de raspão a mitologia do Escalador de Paredes.
O filme apresenta uma história simples e divertida mas que encerra uma importante lição de vida sobre a necessidade de assumirmos novas responsabilidades e aceitarmos as consequências das nossas decisões. Claro que essa mensagem é repassada de forma superficial, sendo facto consabido que complexidade existencial e super-produções hollywoodescas raramente casam bem.
Sem embargo para a sua espetacularidade e eficácia, as cenas de ação, tradicionalmente complicadas de gerir, ocupam uma pequena parte do filme; apenas o suficiente para entreter a audiência. No cômputo geral estão bem construídas, sendo completadas com efeitos especiais convincentes. Ficando, contudo, patente que a preocupação primordial do argumento assenta na evolução psicológica das personagens (com óbvio enfoque no protagonista) em detrimento de recitais de pancadaria e explosões. Sam Raimi dá mostras do seu talento de cineasta ao evitar o exagero visual que perpassa por outras produções do género.
Outro ponto de interesse do filme é a banda sonora assinada pelo veterano Danny Elfman. Mesmo sem criar nenhum tema icónico, Elfman logrou compor belas melodias que enquadram na perfeição a história que se desenrola aos olhos dos espectadores.
De entre os elementos de destaque, o elenco, apesar de transpirar talento, é aquele que convence sem deslumbrar. Por contraponto à fraca atuação de Kirsten Dunst - que desempenha um papel frágil e pouco apelativo - a interpretação de Willem Dafoe é digna de vénia. Apesar de continuar a ser o meu intérprete favorito do herói aracnídeo, Tobey Maguire poderia - e deveria - ter incutido um pouco mais de carisma à sua personagem. Qualquer verdadeiro fã do Cabeça de Teia sentiu falta das suas piadinhas infames, que nos arrancam gargalhadas e deixam os criminosos à beira de um ataque de nervos.
Em suma, Homem-Aranha é uma película bastante divertida e de fácil entendimento que, graças a múltiplos elementos técnicos e narrativos de qualidade, garantiu lugar de destaque no imaginário coletivo e, em particular, na memória afetiva dos fãs que há muito ansiavam por ver o seu ídolo a balançar-se de teia em teia no grande ecrã.
.*Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à variante europeia da Língua Portuguesa;
**Artigos sobre Steve Ditko e A Morte de Gwen Stacy disponíveis para leitura complementar.
Como sempre, um respeitável rol de novas informações eu obtenho da gratificante leitura de seu texto. E aquele ladrão de uniformes de super-heróis mereceria figurar em um quadrinho, que sujeito bizarro! (Celso Moraes F)
ResponderEliminarÉ mesmo! Um ladrão de uniformes de super-herói seria um antagonista interessante.
EliminarRelato tão interessante quanto informativo. Parece que sempre há uma história pouco conhecida na trajetória dos personagens como tal, como criações. Questões judiciais, "leituras" pouco ortodoxas, delírios de produtores, e episódios folclóricos, como o roubo dos uniformes.
ResponderEliminarTambém parece que as ideias em torno de um filme sempre traziam bem a mentalidade de cada período, o que me faz ficar grato pelo filme só ter saído depois de 2001 (apesar do efeito 9/11). Quanto tento imaginar um filme nos 90's, especialmente com aquelas querelas em curso, geralmente me vem algo muito ruim à mente.
No fim, foi um filme bem dirigido, bem produzido e com respeito a vários cânones, embora com mudanças forçadas pela época, como a aranha - mutação por radiação já era, é coisa do século XX, da Guerra Fria. Agora a panaceia é no nível do DNA.
Ao final da leitura, fica -se com vontade de fazer uma listinha de outros personagens sobre os quais temos muita curiosidade.
Mais um texto ótimo. Fiquei surpreso ao saber que trocaram a máscara do Duende, que Franco e McGuire não se dão lá muito bem e que a justificativa de Sam Raimi para as teias nos pulsos foi... boba.
ResponderEliminarParabéns, Ricardo!
Só discordo sobre a trilha sonora, o tema principal do filme é tão espetacular quanto o próprio Aranha e os filmes recentes não tem temas á altura.
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