23 abril 2021

CLÁSSICOS DA 9ªARTE: «BATMAN - ASILO ARKHAM»


  Ao transpor os altos portões do Palácio da Loucura, assombrado por males e segredos indizíveis, o Homem-Morcego sente-se como o filho pródigo de volta a casa. Preso nos infernos pessoais dos seus inimigos e à mercê dos seus demónios interiores, ele sabe que a derradeira batalha será travada dentro da própria mente.

Título original: Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth 
Editora: DC
País: Estados Unidos da América
Data de lançamento: Outubro de 1989
Autores: Grant Morrison (argumento) e Dave McKean (ilustrações)
Personagens: Batman, Joker, Duas-Caras, Dr. Charles Cavendish, Maxie Zeus, Espantalho, Máscara Negra, Chapeleiro Louco, Cara-de-Barro, Drª Ruth Adams, Amadeus Arkham, Comissário James Gordon
Cenários: Departamento de Polícia de Gotham City, Asilo Arkham
Edições em português: A primeira edição em língua portuguesa desta obra foi lançada em dezembro de 1990 pela Abril brasileira. Só em 2005, sob os auspícios da Devir, ganharia finalmente uma versão em português europeu. Uma década mais tarde, em 2015, seria reeditada em terras lusas pela Levoir, no quarto volume da coleção 75 Anos do Batman. Todas as edições dadas à estampa nas duas margens do Atlântico adotaram o formato americano, alternando, porém, entre as capas duras e as capas moles. 

A mais recente reedição da obra em Portugal,
lançada pela Levoir em 2020.


Prisão sem grades

"Nos manicómios faltam ainda celas para homens honestos."  
           - Emanuel Wertheimer (filósofo húngaro) - 

Qualquer super-herói que se preze possui uma galeria privada de supervilões, sobrevindo daí a necessidade de um lugar onde possa trancafiá-los longe dos inocentes que jurou proteger. Para o Batman, esse lugar é o Asilo Arkham. Trata-se do mais infame hospital psiquiátrico da banda desenhada - ainda que, durante a maior parte do tempo, mal se diferencie de uma prisão convencional.
Pedra angular do burlesco imaginário do Homem-Morcego, o Asilo Arkham já marcou presença em diferentes segmentos culturais além dos comics. Do cinema à animação, passando pelos jogos de vídeo, o Palácio da Loucura granjeou um estatuto mediático quase tão importante como a própria Gotham City.
A despeito dessa sua proeminência, o Asilo Arkham encerra ainda muitos (e sórdidos) segredos no interior das suas paredes. Segredos sobre os quais vários escritores - com Grant Morrison à cabeça - têm tentado verter alguma luz. Sempre que o fazem, emerge da obscuridade outro capítulo aterrador da história de um lugar que muitos, a começar pelo próprio fundador, acreditam estar amaldiçoado. Passemos, então, em revista alguns deles.
Localizado nos arrabaldes de Gotham City, o Asilo Elizabeth Arkham para Criminosos Insanos - é essa a sua designação oficial, em homenagem à demencial matriarca do clã Arkham - fez a sua primeira aparição em Batman #258 (outubro de 1974). Pese embora um sanatório não identificado tivesse sido previamente referenciado, designadamente em algumas aventuras do Homem-Morcego na Idade de Ouro, foi nessa história, assinada por Dennis O'Neil e Irv Novick, que o Arkham adquiriu canonicidade. 
Da sua lista inicial de residentes VIP fazia parte o Duas-Caras, cuja evasão foi premonitória do embaraçoso historial de fugas, escândalos e motins que manchariam de forma indelével a reputação da instituição. Com efeito, apesar do contínuo influxo de novos pacientes, ficou claro desde o início que praticamente qualquer pessoa poderia escapar dessa espécie de prisão sem grades. Em vez de reclusos, o Arkham parece ter hóspedes que lá permanecem apenas enquanto assim o desejarem.

Duas-Caras foi o primeiro inimigo do Batman a evadir-se do Arkham.

Originalmente, as celas do Arkham eram idênticas às de qualquer prisão. Com o tempo, porém, os internos foram autorizados a personalizá-las. Joker, Duas-Caras e Maxie Zeus foram os primeiros a beneficiar desta prerrogativa, com o Príncipe Palhaço do Crime a optar por decorar a sua com uma gigantesca carta do Coringa e um manequim do Batman.
Boa parte da inspiração por trás do Asilo Arkham derivou de uma cidade homónima do Massachusetts que serve de cenário a numerosas passagens de Mitos de Cthulu, de H.P. Lovecraft. Os pacientes do Arkham espelham, de facto, a filosofia dessa obra literária, na qual a existência de males antigos e poderosos é usada como metáfora para a insignificância da condição humana aos olhos dessas divindades. Um conceito, como se percebe, análogo à eterna luta do Batman contra as forças maléficas que incessantemente flagelam a sua cidade natal; aquelas que ele procura desesperadamente trancar no Asilo Arkham.
Oficialmente inaugurado em 1921, o Asilo Arkham teve como fundador e primeiro administrador Amadeus Arkham. O tenebroso hospital que tantos calafrios causa aos gothamitas começou por ser uma mansão vitoriana, ex-propriedade de Jason Blood. Mestre do Ocultismo, Blood terá aprisionado vários demónios e espíritos malignos nas catacumbas do palácio, antes de vendê-lo. Especula-se que será essa a verdadeira origem da maldição que impende sobre o lugar, desde sempre assombrado pelo caos e pela depravação.
Mesmo após a reconstrução do edifício original - parcialmente destruído durante a fuga em massa instigada por Bane em A Queda do Morcego -, permanecem resquícios da sua arquitetura gótica. Destacando-se as sinistras gárgulas que lhe adornam a fachada e o imponente portão principal que franqueia o acesso à propriedade. 

Asilo Arkham, o Palácio da Loucura.

À crónica incapacidade do Arkham de manter psicopatas presos, acresce a sua desastrosa política de Recursos Humanos. De administradores a terapeutas, foram vários os seus ex-funcionários a regredir para a condição de alienados inimputáveis. 
De tão elevada, a prevalência de inimigos do Batman que integraram outrora a equipa médica do Arkham parece evidenciar que o asilo está a funcionar ao contrário. Em vez de os psiquiatras trabalharem para estabilizar os pacientes, são estes que os empurram para o abismo da insanidade. Casos paradigmáticos desta inversão de papéis são a Drª Harleen Quinzel e o Dr. Jonathan Crane. Ambos promissores profissionais de saúde mental contagiados pela loucura dos seus pacientes, transformaram-se, respetivamente, na Arlequina e no Espantalho.
Perante este quadro perturbador, escusado será dizer que o Arkham falha miseravelmente naquela que deveria ser a sua função primordial: reabilitar criminosos antissociais. À falta de melhor alternativa, é lá, porém, que o Batman continua a depositar os freaks cujo propósito de vida se resume a fazer de Gotham um gigantesco circo de horrores.

Joker, loucura elevada ao seu expoente máximo.


Arquitetos do surreal

"A alma humana é um manicómio de caricaturas."
       - Fernando Pessoa (poeta português) -

Na segunda metade da década de 1980, a indústria dos comics passava por uma profunda transformação. O mote realista dado por O Regresso do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, fora novamente glosado por Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, acrescentando-lhe dose generosa de cinismo. Duas sagas iconoclásticas da DC que, ao mesmo tempo que desconstruíam convenções do género super-heroico, expunham fórmulas narrativas inovadoras e apelativas a audiências mais maduras.
À boleia dessa revolução conceptual, um jovem escriba britânico de pluma incisiva chegou à contracultura, determinado em deixar a sua marca. O seu nome era Grant Morrison e o que propunha era uma espécie de terceira via. Uma que ficaria a meio caminho entre os lugares-comuns das histórias com justiceiros fantasiados e o realismo incensado por Miller e Moore nas respetivas obras.
Arkham Asylum - A Serious House on Serious Earth (subtítulo retirado da última estrofe do poema Church Going, de Philip Larkin) foi a primeira história do Homem-Morcego assinada por Morrison antes de ele se tornar um dos mais prolixos autores da personagem.

Grant Morrison & Dave McKean, a Dupla Dinâmica da Velha Albion.

Após uma longa reflexão acerca da melhor abordagem, Morrison decidiu estabelecer um paralelismo entre a construção da narrativa e a arquitetura de uma casa. Nesse sentido, o passado de Amadeus Arkham seria uma alegoria para as fundações do edifício, ao passo que os símbolos e metáforas invocariam os pisos superiores. De permeio, passagens secretas e corredores labirínticos ligariam segmentos da trama e levariam o leitor a percorrer os recantos do Palácio da Loucura, ele próprio reflexo da psique distorcida dos seus moradores.
Qual arquiteto do surreal, Morrison elegeu como matérias-primas bastas referências a Alice no País das Maravilhas, aos arquétipos Junguianos, ao Tarô e até à Física Quântica. Nessa complexa empreitada teve como sócio outro súbdito de Sua Majestade, o escocês Dave McKean, cuja arte imprimiu um toque abstrato à história. 
O resultado final foi uma obra ímpar na história da 9ª Arte e um dos maiores best-sellers (mais de 600 mil exemplares vendidos) da Editora das Lendas. Ao Batman realista sucedia, assim, o Batman onírico.

Do outro lado do espelho

"Alice: Como sabes que sou louca?
Gato: Só podes ser. Se não fosses, não terias vindo aqui."
            - in  Alice no País das Maravilhas -

Na viragem da década de 1920, o jovem Amadeus Arkham testemunhou, impotente, o declínio mental da sua mãe; estuário de loucura que desaguaria no suicídio. Já adulto, Amadeus fundou o Asilo Arkham, uma instituição psiquiátrica orientada para a reabilitação de criminosos insanos, mantendo-os afastados do sistema penal. 
No presente, é Dia das Mentiras e o Comissário Gordon informa Batman que o Asilo Arkham foi tomado pelos lunáticos, que ameaçam matar todo o pessoal, a menos que o Cavaleiro das Trevas concorde em ir ao encontro deles. Entre os reféns encontram-se Pearl, uma jovem copeira; a Drª Ruth Adams, a nova terapeuta; e o Dr. Cavendish, o atual administrador da instituição. Os amotinados são liderados pelo Joker que, para estimular o Batman a obedecer às suas exigências, mata um dos guardas a sangue-frio. 

Batman não tem como escapar ao jogo mortal do  Joker.

Por sua vez, o Duas-Caras soçobrou ainda mais na sua demência como resultado da bem-intencionada, porém desadequada, terapia ministrada pela Drª Adams. Desde que ela lhe confiscou a sua moeda riscada, substituindo-a por um dado de seis faces e, depois, por um baralho de Tarô, Harvey Dent ficou incapaz de tomar mesmo as decisões mais simples, como ir à casa de banho. 
Chegado ao Arkham, Batman é coagido a jogar às escondidas com os seus inimigos. O Joker concede-lhe uma hora para percorrer os corredores labirínticos e encontrar uma saída antes que ele e os restantes pacientes vão no seu encalço. Previsivelmente, o Palhaço do Crime faz batota, encurtando o tempo para apenas dez minutos. 
À medida que penetra nas lúgubre entranhas do Arkham, Batman luta contra o seu subconsciente, onde a loucura se insinua. Enredado em delírios, o herói encontra, por fim, um compartimento secreto no alto de uma das torres do asilo; uma divisão intocada desde a época em que a propriedade serviu como residência familiar do clã Arkham. 

Sem a sua moeda, Duas-Caras é um destroço humano.

Lá dentro, Batman encontra o Dr. Cavendish trajando um vestido de noiva e com uma elegante navalha com cabo de madrepérola encostada à garganta da Drª Adams. Perante a perplexidade do Homem-Morcego, Cavendish revela ter sido a ele orquestrar o motim e ordena-lhe que leia uma entrada assinalada no diário secreto de Amadeus Arkham. 
Ao lê-la, Batman descobre que aquela divisão secreta fora o quarto de Elizabeth Arkham. Durante muitos anos, a mãe de Amadeus Arkham acreditou ser atormentada por uma criatura sobrenatural, chamando constantemente o filho para protegê-la. No dia em que Amadeus teve, finalmente, um vislumbre da criatura - um grande morcego adejando, qual espectro da morte - ele usou uma navalha com cabo de madrepérola para degolar a mãe, libertando-a, assim, do seu sofrimento. No entanto, Amadeus bloqueou essa memória, atribuindo a morte da progenitora ao suicídio. 
A memória suprimida reemergiria, porém, dos recessos do subconsciente de Amadeus quando, anos mais tarde, a sua esposa e filha foram brutalmente assassinadas por um dos seus ex-pacientes. Profundamente traumatizado, Amadeus enfiou o vestido de noiva da mãe e, ajoelhado sobre o sangue da sua família morta, jurou esconjurar o espírito maligno que ele acreditava assombrar a casa. 
Mesmo depois de ter sido encarcerado no próprio manicómio, Amadeus continuou a sua desvairada missão, riscando com as próprias unhas - e até ao dia da sua morte - as palavras de um feitiço no chão e nas paredes da sua cela.

Amadeus Arkham devotou a vida
 a caçar o demónio que enlouqueceu a sua mãe.

Ao descobrir por acaso os diários de Amadeus Arkham, a navalha e o vestido, Cavendish convenceu-se que estaria destinado a terminar o trabalho do seu antecessor. No 1º de abril, data em que a família de Amadeus foi assassinada, ele orquestrou um motim no Arkham para atrair Batman a uma cilada mortal. 
Convicto de que o Homem-Morcego é o espírito que levara Elizabeth Arkham à loucura, Cavendish acusa-o de, ao trazer mais almas insanas, alimentar o mal que habita o asilo. Na refrega que se segue, Batman é ferido e Cavendish deixa cair a navalha, que acaba nas mãos da Drª Adams. Reagindo instintivamente, ela corta a garganta de Cavendish, que sangra até morrer.
No seu caminho de volta, Batman derrota o monstruoso Crocodilo num violento mano a mano. De machado em riste, o Homem-Morcego despedaça, em seguida,  a porta da frente do hospício, proclamando que os pacientes estão livres. 
Enquanto o Joker se oferece para lhe abreviar o sofrimento, Batman devolve a moeda ao Duas-Caras, afirmando que lhe cabe decidir o seu destino. O vilão aquiesce antes de anunciar que, se a moeda cair com a face riscada para cima, o Morcego será morto. Caso contrário, ele poderá ir em paz.

Batman coloca o seu destino nas mãos do Duas-Caras.

Duas-Caras lança a moeda ao ar e declara o Batman livre. Em tom chocarreiro, Joker despede-se do seu inimigo de estimação, dizendo-lhe que, se a vida se tornar insuportável lá fora, haverá sempre uma cela confortável à sua espera no Arkham.
Ao mesmo tempo que Batman desaparece na noite, os prisioneiros regressam calmamente às suas celas. Todos, exceto Duas-Caras. O vilão fita a Lua antes de revelar a moeda com a face riscada para cima na palma da sua mão. Pela primeira vez, ele ignorou a sorte ditada pela sua moeda, aplicando dessa forma uma sentença de vida ao seu velho inimigo. 
Depois de derrubar uma pilha de cartas de Tarô, Duas-Caras recita uma passagem de Alice no País das Maravilhas: "Quem se importa contigo? Não és nada além de um baralho de cartas."

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Apontamentos

*Em 2004, uma edição especial lançada para assinalar o 15º aniversário de Batman - Asilo Arkham continha extensas anotações de Grant Morrison, explicando as influências, o simbolismo e as referências culturais da obra. Na última dessas anotações, o autor considera a história um rebuscado pesadelo simbólico fabricado pelo subconsciente do Batman, sugerindo desse modo o caráter apócrifo dos eventos nela narrados;
*No supramencionado volume, Morrison evoca também um episódio pouco edificante. Sem o seu consentimento, o primeiro rascunho da história foi revisto por vários dos seus pares. A apreciação foi unânime: simbolismo pesado, conceito pretensioso e elementos de terror psicológico risíveis. À laia de dedicatória, Morrison escreveu: "Quem é que se está a rir agora, parvalhões?";
*Morrison criticou a escolha de Dave McKean para ilustrar a sua história. Grande admirador do trabalho de Brian Bolland em A Piada Mortal, teria preferido que tivesse sido ele o seu parceiro criativo;
*Batman - Asilo Arkham é amplamente celebrado pelo trabalho de lettering executado por Gaspar Saladino, atribuindo a cada personagem uma fonte personalizada nos seus diálogos. A prática de tratamentos personalizados de letras generalizou-se pouco tempo depois, especialmente na linha Vertigo, da DC;


As letras respingadas a vermelho simbolizam
 o fluxo caótico emanado do Palhaço do Crime.

*Durante a sua preparação para o papel de Joker em O Cavaleiro das Trevas (2008), Heath Ledger recebeu uma cópia de Batman - Asilo Arkham como referência para a sua interpretação. Segundo consta, Ledger terá ficado fascinado com a história, ao ponto de relê-la repetidas vezes;
*O aclamado jogo de vídeo Arkham Asylum (2009) é vagamente baseado na obra de Grant Morrison e Dave McKean. Embora considerada inadaptável pelo seu diretor criativo, a atmosfera do conto foi a principal influência do jogo;
*Na lista das 25 melhores sagas de sempre do Batman divulgada pelo IGN, Batman - Asilo Arkham, surge classificada em 4º lugar, atrás de Piada Mortal, O Regresso do Cavaleiro das Trevas e Ano Um (todas já aqui esmiuçadas).

Vale a pena ler?

Estamos em presença de uma história menos objetiva e muito mais densa do que é apanágio da DC. Em momento algum isso significa, porém, decréscimo de qualidade. Apesar do simbolismo que a permeia, a trama é coerente, abordando uma problemática deveras fascinante: não sendo vitalício, o contrato que nos vincula à racionalidade poderá ser inopinadamente revogado por meio do acionamento da cláusula de insanidade. Mesmo o homem mais sensato poderá, por isso, despencar no negro abismo da sua mente. Bastará que ceda ao peso avassalador da realidade ou à dor de uma tragédia na periferia da vida.
O vulto difuso - quase um borrão em forma de morcego saído de um teste de Rorschach - escolhido pelos autores para representar o Batman é uma metáfora para essa fragilidade da psique humana. Bruce Wayne, Harvey Dent, Amadeus Arkham ou o próprio Joker são pessoas como outras quaisquer. A única coisa que os aparta da "normalidade" é o lado para o qual a sombra de cada um deles aponta. A passagem em que Batman confessa ter medo de entrar no Arkham e sentir-se em casa é fortíssima, e estabelece claramente a ideia de Morrison de manter o protagonista em perpétuo conflito - desta vez, consigo próprio. 
Nem sempre de fácil interpretação, a simbologia de Morrison é um espetáculo à parte. Referências a Jung, Freud, Lewis Carroll e outros autores e conceitos notáveis ajudam a percecionar o Asilo Arkham como um organismo vivo, espécie de monstro arquitetónico que se alimenta do caos e depravação dos seus residentes. Qualquer um que transponha os seus altos portões, incorre numa viagem sem retorno.
Em complemento a tudo isso, a arte de Dave McKean, impressionista e complexa, quase torna palpável o aluvião de delírios nonsense que fomentam a claustrofobia do leitor, arrastado para dentro de um pesadelo sufocante. Dada a importância da estética, esta é uma daquelas histórias que carecem ser lidas a um ritmo mais vagaroso, porquanto só assim se pode apreciar devidamente os quadros surrealistas que preenchem cada página.
A ler de mente aberta, mas não em demasia porque nunca se sabe o que poderá entrar...

Serão Batman e Joker as duas faces da mesma moeda?




*Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à norma europeia da Língua Portuguesa.
*Prontuários do Joker, Duas-Caras e Espantalho disponíveis para leitura complementar.




















3 comentários:

  1. Tal BD não consta das minhas favoritas do Batman. Entretanto, após a leitura do texto, deu-me vontade de dar a ela uma nova chance. Parabéns, Cardoso!
    Dica de vídeo para ti: https://www.youtube.com/watch?v=MpAa53C70_Y

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  2. É, Grant Morrisson é o nome que atribuo a uma de minhas dores...
    Mas até a ele admito um ou dous momentos de notabilidade.

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