07 abril 2020

HERÓIS EM AÇÃO: ARQUEIRO VERDE



  Inspirado pelo seu herói de infância - o lendário Robin Hood -, um caçador urbano de pontaria infalível distribui justiça na ponta de cada flecha. Os seus alvos: o crime organizado, a corrupção política e um sistema forte com os fracos e fraco com os fortes.

Denominação original: Green Arrow 
Editora: Detective Comics (DC)
Criadores: Mort Weisinger (história) e George Papp (arte conceptual)
Estreia: More Fun Comics nº73 (novembro de 1941)
Identidade civil: Oliver Jonas "Ollie" Queen
Espécie: Humano
Local de nascimento: Star City, Califórnia
Parentes conhecidos: Robert e Moira Queen (pais, falecidos); Dinah Lance / Canário Negro (ex-cônjuge); Connor Hawke/ Arqueiro Verde II (filho); Robert (filho); Roy Harper / Ricardito (filho adotivo); 
Ocupação: Empresário, filantropo, aventureiro, vigilante, ativista ambiental e ex-mayor de Star City.
Base operacional: Star City (anteriormente, Seattle)
Afiliações: Ex-parceiro de Ricardito/Arsenal; ex-parceiro da Canário Negro; ex-parceiro do Lanterna Verde Hal Jordan; ex-membro da Liga da Justiça e dos Renegados, lidera atualmente a Equipa Flecha e as Indústrias Queen.
Némesis: Malcom Merlyn 
Poderes e parafernália: Oliver Queen é um mestre arqueiro de gabarito mundial; muito provavelmente, o melhor da história da modalidade. Além da sua pontaria virtualmente infalível, há registo de outras proezas extraordinárias. Disparar flechas à razão de 29 por segundo ou atingir com precisão cirúrgica alvos tão minúsculos como uma gota de água a sair da torneira encabeçam a lista. Outra das suas especialidades consiste em neutralizar armas de fogo atirando flechas para o interior dos respetivos canos.
Impressionados por essas e outras façanhas, os seus colegas da Liga da Justiça começaram a suspeitar que Ollie seria na verdade um meta-humano. Também o Departamento de Operações Extranormais, a agência federal americana responsável pela monitorização de atividades meta-humanas, coligiu um ficheiro confidencial acerca do Arqueiro Esmeralda. As conclusões da investigação permanecem, todavia, no segredo dos deuses.
Até prova em contrário, as habilidades inatas de Ollie no manejo do arco e flecha foram sublimadas graças ao treino intenso e à rigorosa disciplina. Não resultando, portanto, de qualquer vantagem biológica ou superpoder latente.
Se o arco funciona quase como uma extensão natural do corpo de Ollie, a sua proficiência com outro tipo de armas não é menos notável. Quando dispara uma metralhadora, por exemplo, a precisão do seu tiro é irrepreensível ao ponto de rivalizar com a do próprio Pistoleiro (conhecido por nunca falhar o alvo).

O Arqueiro Verde é capaz de proezas sobre-humanas.
Mas será ele um superser?
Da tradicional parafernália do Arqueiro Verde fazem parte arcos simples ou compostos (que lhe possibilitam disparar múltiplas setas em simultâneo) e uma aljava onde transporta flechas padrão e/ou especiais. De entre estas, a mais icónica é, sem dúvida, a flecha luva de boxe, usada para esmurrar adversários à distância. A gama com funções especiais inclui ainda, entre muitos outros itens, flechas-boleadeiras, flechas-rede, flechas-gancho, flechas com ponta explosiva e até uma flecha de kryptonita especificamente concebida para derrubar kryptonianos. A fim de contrariar a sua dependência relativamente às flechas especiais, com o tempo Ollie foi privilegiando cada vez mais a utilização das flechas simples.
Revestida com uma fina cota metálica, a túnica do Arqueiro Verde garante-lhe proteção eficaz contra esfaqueamentos e disparos de armas de pequeno calibre, evitando a perfuração de órgãos vitais. Em versões mais recentes do seu uniforme, a discreta mascarilha foi substituída por um sofisticado par de óculos com lentes infravermelhas para visão noturna.

Flechas especiais para alvos especiais.
No período pré-Crise, o Arqueiro Verde, à semelhança do Batman, dispunha de uma frota de veículos temáticos. Nela pontificava o lendário Flechamóvel (Arrowcar, no original), um carro com várias modificações, como assentos reclináveis capazes de catapultar os seus ocupantes. À medida que as histórias do Arqueiro Esmeralda iam adquirindo contornos menos pueris, esse envoltório espampanante foi desaparecendo. Por estes dias, o defensor de Star City e seus aliados da Equipa Flecha preferem deslocar-se em potentes motociclos.
Com vastos recursos financeiros ao dispor, quando decidiu abraçar uma carreira como vigilante urbano Oliver Queen contratou os melhores mestres de artes marciais que o dinheiro podia comprar, sendo por isso exímio no combate corpo a corpo. Anos de treino físico intenso fizeram dele um atleta de nível olímpico e um acrobata fora de série. É comum ver o Arqueiro Verde, epítome da sincronia, disparar flechas ao mesmo tempo que executa saltos impossíveis sem nunca falhar o alvo.
O Arqueiro Verde é, ademais, um talentoso e obstinado caçador. Na floresta ou na selva de betão, consegue facilmente seguir o rasto das suas presas por mais esquivas que estas sejam. E não se deterá perante nada, pois extrai grande prazer da caçada.

A Equipa Flecha catapultada para nova aventura.
Fraquezas: Carismático, sedutor e com o porte garboso de um cavaleiro andante, Oliver Queen é um colecionador de aventuras galantes. Mulheres bonitas são, comprovadamente, um dos seus pontos fracos. Vicissitude que o torna permeável aos ardis de qualquer femme fatale. Shado, assassina da Yakuza e ex-aliada do Arqueiro Verde, violou-o quando ele se encontrava delirante, concebendo assim um filho dele, Robert.
A atávica promiscuidade de Ollie já lhe valeu numerosos dissabores tanto no plano profissional como  no pessoal. Recorde-se, a este propósito, que foi por causa dela que o seu casamento com Dinah Lance chegou ao fim. Certos comportamentos de Ollie sugerem mesmo que poderá ser viciado em sexo.
Se a luxúria é o pecado capital de Oliver Queen, o álcool parece ser a sua serpente tentadora. Quando deprimido, Ollie tende a consumi-lo como se de alento líquido se tratasse. Um mau hábito que remonta aos seus tempos de juventude, quando, para fugir ao tédio da sua vida de playboy, se embriagava e se entregava a todo o tipo de excessos.
Conhecido por ferver em pouca água, Ollie age frequentemente por impulso. Com preocupante frequência coloca-se em situações perigosas em nome de uma boa causa. O caso mais extremo foi quando, indiferente aos apelos do Super-Homem, se martirizou para salvar Metrópolis de um ataque biológico planeado por ecoterroristas.

A morte (temporária) do Arqueiro Verde foi
 um dos momentos mais marcantes da década de 90.

De Batman genérico...

Receando a erosão dos seus campeões de vendas, em finais de 1941 a DC começou a procurar alternativas a Batman e Super-Homem. Se a este último a Mulher-Maravilha, apresentada em outubro desse ano, serviu de contraparte feminina, no caso do Cavaleiro das Trevas houve necessidade de desenvolver um conceito genérico com os atributos do original. À época editor dos títulos do Homem de Aço, Mort Weisinger chamou a si essa tarefa, na qual seria assistido por George Papp, cocriador de Congo Bill.
Sugestivamente crismado de Arqueiro Verde, o néofito fez a sua primeira aparição em More Fun Comics nº73, volume datado de novembro de 1941. Segundo consta - a par da óbvia influência de Robin Hood -, Green Archer, adaptação cinematográfica do romance homónimo de Edgar Wallace, terá sido a principal fonte de inspiração de Weisinger.


Mort Weisinger (cima) e George Papp ,
os criadores do Arqueiro Verde.

Da amálgama desses dois conceitos resultou um vigilante mascarado que, descontando o aspeto visual, foi totalmente decalcado do Batman. Senão vejamos: ambos tinham playboys milionários como alter egos (Bruce Wayne e Oliver Queen); ambos eram acolitados por adolescentes (Robin e Ricardito); ambos se faziam transportar em veículos temáticos (Batmóvel e Flechamóvel); ambos eram convocados através de sinais luminosos projetados no céu noturno (Bat-sinal e Sinal-flecha); ambos usavam cavernas secretas localizadas no subsolo das respetivas mansões (Batcaverna e Caverna da Flecha) e, como se tudo isso não bastasse, ambos tinham palhaços assassinos como arqui-inimigos (Joker e Bull's Eye).
Usados inicialmente para preencher o alinhamento de More Fun Comics, Arqueiro Verde e Ricardito precisaram apenas de quatro meses para destronar Espectro e Senhor Destino como astros principais dessa mítica série mensal da Idade de Ouro. Contudo, alguns historiadores da 9ª Arte atribuem mais essa proeza a Ricardito do que propriamente ao seu mentor.
Sidekicks juvenis eram, por aqueles dias, extremamente apelativos para o público do mesmo segmento etário, facto que ajuda a sustentar essa tese. Se levarmos em consideração que o grosso da audiência das historietas de super-heróis era composto por crianças e adolescentes, facilmente se percebe que Ricardito, tal como Robin antes dele, terá sido um engodo eficaz para atrair os leitores mais jovens.

De convidados, Arqueiro Verde e Ricardito
 rapidamente fizeram de More Fun Comics a sua casa.
Os fãs da Equipa Flecha (outra analogia com a Dupla Dinâmica) tiveram, porém, de esperar quase dois anos para ficarem a conhecer a origem dos seus ídolos. Em março de 1943, More Fun Comics nº89 levantou finalmente o véu que cobria o passado de Arqueiro Verde e Ricardito.
Na história em questão, saída da pena de Joseph Samachson (curiosamente, um ex-escriba de Batman), Oliver Queen era apresentado como um antropólogo fascinado pela cultura nativa americana a viver tranquilamente numa reserva indígena. Um belo dia, quando realizava uma exploração arqueológica, descobrira acidentalmente uma mina de ouro abandonada.
Após ter sobrevivido a um sequestro motivado por essa descoberta, Oliver adotou um pequeno órfão chamado Roy Harper, que se tornaria seu fiel escudeiro numa cruzada contra o crime financiada pela sua recém-adquirida fortuna. Movia-os no entanto mais a adrenalina do que o sentimento de dever.

Green Arrow - More Fun Comics #89
More Fun Comics nº89 revelou a origem do Arqueiro Esmeralda,
muito diferente daquela que hoje conhecemos.
Sem embargo para a sua longevidade nos quadradinhos, o Arqueiro Verde nunca deixou de ser um simples vigilante urbano. Enquanto Batman enfrentava supervilões com cada vez maior frequência, o Robin Hood de Star City continuava a limpar as ruas da sua cidade de bandidos comuns, distribuindo justiça na ponta de cada flecha disparada.
Apesar de nunca ter alcançado os níveis de notoriedade de alguns dos seus contemporâneos, o Arqueiro Verde logrou a proeza de sobreviver-lhes. Foi, de resto, uma das raras personagens da Idade de Ouro a escapar incólume à sangria editorial motivada pelo declínio dos comics no pós-guerra, bem como às subsequentes releituras a que, anos depois, seriam sujeitos outros heróis clássicos, como Flash, Lanterna Verde ou Átomo.
Mais uma vez, essa circunstância não ficou a dever-se ao mérito da personagem, mas sim à influência do seu criador. Mort Weisinger manteve o Arqueiro Verde no alinhamento de More Fun Comics, primeiro, e no de Adventure Comics, depois. Ambos os títulos eram agora estrelados por Superboy, que funcionava como uma espécie de seguro de vida para qualquer personagem a ele associada. Associação que seria reforçada quando, em 1959, uma história dada à estampa em Adventure Comics nº 259 revisitava o encontro entre o jovem Oliver Queen e o Rapaz de Aço, assim transformados em velhos amigos.
A viragem da década de 1960 traria, porém, profundas transformações na vida do Arqueiro Verde. Após tantos anos a viver à sombra do Batman, Oliver Queen, agora impelido pelo ativismo social, pôde finalmente rasgar novos caminhos, assumindo uma trajetória divergente em relação ao Cavaleiro das Trevas.

...a justiceiro social.

Esse ponto de viragem aconteceria em 1969, quando Neal Adams vestiu o Arqueiro Verde com um uniforme da sua autoria acrescentando-lhe um cavanhaque que se tornaria outra das suas imagens de marca. Porém, nem sempre o hábito faz o monge. Mais importante do que essa transformação visual foi, sem dúvida, a radical alteração da personalidade do herói.
Sob a batuta de Dennis O'Neil, escritor engajado com as causas de esquerda, Oliver Queen, nascido em berço de ouro, assumiria o papel de porta-voz dos mais desfavorecidos. O vigilante urbano evoluía assim para um justiceiro social, e o Arqueiro Verde demarcava-se finalmente do Batman.

O novo visual do Arqueiro Verde (aqui recriado por García-López)
foi apresentado em The Brave and the Bold nº85 (setembro de 1969).
Nessa sua nova encarnação, Oliver Queen era o herdeiro de um poderoso conglomerado empresarial, as Indústrias Queen, que tinha Robin Hood como ídolo de infância. Antes do acidente que lhe mudaria a vida para sempre, Ollie vivia insulado numa bolha de privilégio, tendo como único propósito divertir-se.
Tudo mudaria quando, em mais uma noite de farra a bordo do seu iate, Oliver caiu ao mar acabando por dar à costa numa ilha deserta ao largo da Califórnia onde permaneceria vários anos. Essa temporada longe da civilização aguçou-lhe o engenho na sobrevivência e a destreza inata no manejo do arco e da flecha. Mas fê-lo sobretudo colocar as coisas em perspetiva. Apesar da sua existência solitária, Ollie sentia-se mais feliz do que nunca.
Quando, por fim, conseguiu sair da ilha e regressar a Star City, Oliver Queen tinha abraçado uma missão sagrada: combater a corrupção e a injustiça que enquistavam a sua cidade. E decidiu fazê-lo à imagem e semelhança de Robin Hood, embora sem a parte de roubar aos ricos para dar aos pobres. Classe social da qual ele próprio viria a fazer parte quando as manigâncias de um sócio inescrupuloso o espoliaram da sua fortuna. Em consequência desse revés, Oliver desenvolveu uma aguda consciência social que lhe afinaria ainda mais a pontaria.
Entretanto, o Arqueiro Verde ganhara um novo némesis: Malcom Merlyn (vulgo Arqueiro Negro) provou ser um desafio à altura dos talentos de Oliver Queen. A renhida disputa entre ambos pelo título de mestre arqueiro supremo prossegue até hoje.
Malcolm Merlyn (Prime Earth) | DC Database | Fandom
Um rival de pontaria implacável.
Emparelhado com o Lanterna Verde Hal Jordan numa fracassada tentativa de suster o declínio de vendas da série mensal do Gladiador Esmeralda, em 1970 o Arqueiro Verde coprotagonizou uma breve, porém aclamada, fase pautada pelas preocupações sociais.
Em digressão pela América profunda, os dois heróis de personalidades assimétricas testemunhavam de perto alguns dos maiores problemas que, tal como no mundo real, os EUA enfrentavam por aqueles dias: racismo, corrupção, poluição ambiental e um crescente sentimento antiguerra motivado pelo eternizar do conflito no Vietname.
Embora acusasse o seu compagnon de route de alheamento em relação a essas questões mundanas, seria o Arqueiro Verde a ser surpreendido pela toxicodependência de Roy Harper. De tão absorvido pela sua cruzada quixotesca, Oliver Queen não vira o que se passava bem debaixo do seu nariz.
Publicada nos números 85 e 86 de Green Lantern, a história, ainda com assinatura da dupla Adams/ O'Neil, marcou o fim da inocência dos super-heróis e alertou os leitores para o flagelo social representado pelo consumo de drogas. Em reconhecimento pelo serviço público prestado, o mayor de Nova Iorque louvou os autores numa carta aberta.

Green Lantern Vol 2 85 | DC Database | Fandom
A chocante revelação que abalou as convicções do Arqueiro Verde.
Anos mais tarde, seria o próprio Oliver Queen a fazer-se eleger mayor de Star City, duplicando dessa forma o serviço prestado à comunidade. Enquanto o Arqueiro Verde ajudava a reduzir os índices de criminalidade na cidade, Ollie empenhava-se em varrer a corrupção dos corredores do poder. Conquanto fugaz e de viés demagógico, a sua carreira política permitiu-lhe testar os anticorpos do status quo dominando pelos ricos e poderosos.
Na continuidade emanada de Crise nas Infinitas Terras, Oliver Queen trocou a sua ensolarada Star City natal pela chuvosa e distante Seattle. Fê-lo na companhia da Canário Negro, aliada e amante de longa de data, com quem sonhava constituir família. No entanto, o destino brindaria o casal com núpcias trágicas, abrindo caminho à sua separação.
Nesse trepidante fase assinada por Mike Grell, as histórias do Arqueiro Esmeralda ganharam uma atmosfera mais sombria e violenta. Refletindo essa mudança de registo, o herói sofreu nova transformação visual: o tradicional chapéu à Robin Hood foi substituído por um capuz que lhe cobria parcialmente as feições e as cores do seu traje foram ligeiramente escurecidas. O justiceiro social idealista cedia assim lugar ao implacável caçador urbano.

Arqueiro Verde e Canário Negro
 tiveram um amargo recomeço em Seattle.
A década de 1990 ficou marcada pela conversão de Oliver Queen ao ativismo ambiental. Cada vez mais radicalizado na defesa dessa causa, o Arqueiro Verde deixou-se seduzir pela perversa líder de um grupo ecoterrorista que planeava a destruição de Metrópolis. Ao tomar consciência das reais intenções dos seus aliados, Ollie sacrificou a própria vida para salvar a Cidade do Amanhã.
Após a morte de Ollie, coube ao seu filho, Connor Hawke (fruto de uma relação extraconjugal), assumir o legado do Arqueiro Verde. Ollie seria no entanto ressuscitado pelo seu velho amigo Hal Jordan, à época avatar do todo-poderoso Espectro.
Tal como o restante panteão da Editora das Lendas, o Arqueiro Verde teve a sua origem revisitada no contexto dos Novos 52. Naquele que foi o penúltimo reboot do Universo DC, Oliver Queen descobriu que a sua passagem pela ilha fizera parte de um rebuscado plano do seu pai que objetivava prepará-lo para lhe suceder na liderança do Clã da Flecha - um dos ramos dos Renegados, organização ancestral à qual pertencia também a sua meia-irmã Emiko Queen (outra novidade introduzida nessa fase).
Ao longo da sua vetusta carreira heroica, o Arqueiro Verde assumir-se-ia também como a bússola moral da Liga da Justiça. Sempre que os seus companheiros se focavam em demasia nas ameaças cósmicas ou extradimensionais, ele lá estava para lhes lembrar que a defesa do cidadão comum era a sua missão mais importante. Sendo por esse princípio cardeal que o Arqueiro Esmeralda rege até hoje a sua conduta.  Sem nunca deixar de contestar um sistema forte com os fracos mas fraco com os fortes. Ou não fosse ele o último dos heróis românticos que matizam o mundo com as cores garridas do seu idealismo mais ou menos inconsequente.

Jose Luis Garcia Lopez
O Arqueiro Verde foi o primeiro membro não-fundador a ser admitido na Liga da Justiça,
e a sua espessura moral fez dele a consciência da equipa.

Miscelânea

*Durante a Idade de Ouro, o Arqueiro Verde não usava o seu icónico cavanhaque e surgia ocasionalmente com cabelo castanho, em vez da tradicional trunfa loira. Quando, no início dos anos 1980, Roy Thomas reviveu a lendária série All-Star Comics, recuperou essa característica para diferenciar o herói da Terra-2 do seu homólogo da Terra-1. No entanto, aquando da sua morte em Crise nas Infinitas Terras, o Arqueiro Verde clássico exibia novamente o seu visual loiro;
*Num dos muitos paralelismos com a Dupla Dinâmica, nos primórdios das suas carreiras como vigilantes de Star City Arqueiro Verde e Ricardito colecionavam troféus das suas aventuras. Armas, artefactos místicos e uma variedade de outras relíquias compunham a memorabilia que ornamentava a caverna secreta que lhes servia de quartel-general;
*Speedy no original, o imberbe protegido do Arqueiro Esmeralda foi insolitamente batizado de Ricardito no Brasil, pela EBAL. Essa nomenclatura seria preservada pela Abril levando assim à sua consagração editorial em Terras de Vera Cruz. Speedy é, no entanto, a palavra inglesa para "rápido", "veloz" ou, numa tradução mais livre, "ligeirinho". Roy Harper ganhou essa alcunha logo na sua primeira aparição, quando a rapidez com que se esquivava dos golpes levou um dos malfeitores que enfrentava a apelidá-lo dessa forma;
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O eterno Ricardito. 
*Arqueiro Esmeralda, Ás do Arco e Arqueiro de Batalha são os cognomes associados à persona heroica de Oliver Queen;
*O Arqueiro Verde mantém uma relação crispada com o Gavião Negro, seu antigo colega de equipa na Liga da Justiça. Na origem dessa animosidade mútua estão as suas inconciliáveis mundivisões (o primeiro alinha com a esquerda panfletária, o segundo com a direita mais radical), mas também a circunstância de o Gavião Negro ter sugerido a execução sumária do Doutor Luz em Crise de Identidade;
*A morte do Arqueiro Verde na explosão de um avião referencia a realidade alternativa de Batman - O Regresso do Cavaleiro das Trevas. Na saga de Frank Miller, uma versão amarga e envelhecida de Oliver Queen alimenta um ódio de estimação pelo Super-Homem, devido a um incidente não especificado que lhe custou um braço;
*Canário Negro foi consagrada como interesse romântico do Arqueiro Verde em resposta às insinuações maliciosas sobre uma pretensa relação homossexual entre Oliver Queen e Roy Harper. Tal como a Dupla Dinâmica, a Equipa Flecha foi vítima da campanha difamatória de Fredric Wertham, o psiquiatra germânico que odiava super-heróis, e que na sua obra Sedução dos Inocentes  (1954) os acusava de promoverem a delinquência juvenil, a pederastia e toda a sorte de comportamentos desviantes;

Nem tudo foram rosas na relação entre o Arqueiro Verde e Canário Negro.
*Apesar da sua relutância no que concerne ao uso de força letal, o Arqueiro Verde contabiliza oficialmente 17 mortes no seu currículo. Prometeus, o vilão responsável pela morte da filha bebé de Roy Harper, foi uma das suas vítimas mortais. Ficando, porém, implícito que essa estatística pecará por defeito;
*As indesmentíveis semelhanças físicas entre o Arqueiro Verde e Guerreiro (Warlord, criação de Mike Grell) já motivaram todo o tipo de paródias e equívocos. Certa vez, durante a sua passagem por Seattle, o Guerreiro foi alvo de vários ataques ao ser confundido com o Arqueiro Verde pelos criminosos locais;

O gémeo perdido de Oliver Queen?
*Oliver Queen partilha com Dinah Lance o mesmo tipo de sangue raro. Quando a Canário Negro foi severamente ferida numa emboscada em Seattle, uma transfusão do seu parceiro salvou-lhe a vida;
*Desde 2011 que o Arqueiro Verde ocupa um honroso 30º lugar no Top dos 100 Melhores Super-heróis dos Quadradinhos organizado pelo site IGN - 14 posições acima do seu émulo da Casa das Ideias, o Gavião Arqueiro;
*Conhecido pelos seus apurados dotes culinários, Oliver Queen confeciona o chili mais picante do mundo. Consta que, de tão condimentado, até o próprio Super-Homem tem dificuldade em comê-lo;
*Antes da sua participação em Justice League Unlimited (2004-06), o Arqueiro Verde era pouco conhecido do grande público. A sua transição para o segmento audiovisual remonta no entanto a 1973, quando marcou presença num único episódio da série animada Super Friends. No ar entre 2006 e 2007, a sexta temporada de Smallville assinalou a estreia de Oliver Queen em ação real e foi o seu passaporte para a ribalta. Justin Hartley emprestou corpo ao Arqueiro Esmeralda, que se tornaria personagem recorrente nas restantes temporadas da série. De tão meritório, o desempenho de Hartley levou os produtores a cogitarem um spin-off. Projeto que só em 2012 se tornaria realidade, embora num formato diferente. Com Stephen Amell como protagonista, Arrow provou-se um fenómeno de longevidade televisiva ao mesmo tempo que lançava as bases para o chamado Arrowverse, espécie de tubo de ensaio para o universo compartilhado da DC.

Green Arrow V.S. Green Arrow | DC Entertainment Amino
Justin Hartley (esq.) precedeu Stephen Amell no papel
de Arqueiro Esmeralda.


* Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à norma europeia da Língua Portuguesa.
** Artigos sobre Dennis O'Neil, Neal Adams e Crise de Identidade disponíveis para leitura complementar.










4 comentários:

  1. Como eu suspeitava, o texto (muitíssimo bem escrito, como sempre) forneceu informações novas para mim. Só achei que os criadores e roteiristas exageraram na marmelada - mesmo ao nível heroístico - ao colocar como uma das habilidades do cara "disparar flechas à razão de 29 por segundo": eu tentei aqui em casa e o máximo que consegui na melhor tentativa foram 19, e mesmo assim errei o alvo em um dos disparos...
    Parabéns ao Solitário da Fortaleza por mais um belo auxílio a nós, fãs de quadrinhos.
    - Celso Moraes F -

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  2. Obrigado por nos brindar com mais essa bela documentada sobre a nona arte Dunamis,espero pela próxima ansiosamente.

    Notei que a passagem de Mike Grell e Kevin Smith não foram tão abordadas agora,só que isso não atrapalha.

    Fique em boa saúde e boa paz.

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    1. Sou eu quem te está grato pelo interesse demonstrado em seguir os conteúdos que por aqui vou partilhando. Foi por pura economia de narrativa que decidi omitir as fases que referes. No entanto, após ler o teu comentário não resisti a incluir um aditamento sobre elas. Retribuo em dobro os teus votos de boa saúde e boa paz.

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  3. Apesar de este personagem não me atrair, sou obrigado a dar o mérito ao Ricardo pelo primor na escrita e impressionante quantidade de informações. Já pensaste em escrever roteiros de BDs ou mesmo livros?

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