20 junho 2014

ETERNOS: NEAL ADAMS (1941 - ...)


     Reabilitou Batman e outras personagens emblemáticas da DC, cativando dessa forma toda uma nova safra de leitores. Lenda viva da nona arte, notabilizou-se também pela defesa dos direitos autorais dos seus pares.

Biografia e carreira: Neal Adams nasceu em Governors Island (Nova Iorque), a 15 de junho de 1941, no seio de uma família judaica. Frequentou a School of Industrial Art (espécie de escola profissional vocacionada para as artes gráficas situada em Manhattan), onde se diplomou em 1959.
     Nesse mesmo ano, o jovem (tinha apenas 18 anos) e ambicioso Adams enviou uma amostra do seu trabalho para a DC Comics, na esperança de se tornar um ilustrador freelancer ao serviço da Editora das Lendas. Quando esta rejeitou o seu portefólio, Adams não esmoreceu e tentou a sua sorte junto da Archie Comics. Conseguiu então fazer-se contratar e assumiu a arte das aventuras da lenda do Velho Oeste, Bat Masterson, publicadas sob a forma de tiras diárias num jornal.
     Entre 1962 e 1966, Adams ganhou projeção ao ilustrar outra tira de jornal, baseada em Ben Casey, popular série televisiva transmitida pelo canal ABC que retratava o dia da dia num hospital.

A arte de Neal Adams na tira inaugural de Ben Casey (novembro de 1962)

     Após uma saída pouco pacífica da Archie Comics, Neal Adams enveredou pela arte comercial ao serviço de uma agência publicitária. Um trabalho que não lhe enchia as medidas, motivando-o por isso a tentar nova aproximação à DC no ano seguinte.
     Com efeito, em meados de 1967, Adams acabou mesmo por ser contratado pela Editora das Lendas para desenhar uma história do Desafiador (Deadman, no original), inserida no título Strange Adventures. Esta foi, de resto, a primeira personagem da DC para cuja revitalização contribuiu.
      O traço realista de Adams deixou os leitores impressionados e não tardou a que se tornasse o principal capista da DC. Entre os variadíssimos trabalhos produzidos nessa qualidade, destacam-se as capas de Action Comics nº356  e Superman's Girl Friend, Lois Lane nº79, ambas datadas de novembro de 1967 e estreladas pelo Homem de Aço.
 
A premiada capa de Strange Tales nº207, uma das primeiras produzidas por Neal Adams.
   
      Nos derradeiros dias da chamada Idade da Prata dos Quadradinhos, Adams foi desafiado a desenhar um história do Homem-Elástico da autoria de Gardner Fox (argumentista prolífico e criador, entre outros, da versão moderna do Gavião Negro). Não obstante tratar-se de uma personagem secundária do Universo DC, a história em questão seria publicada em Detective Comics, título icónico onde, em 1939, se estreara um certo Homem-Morcego.
      Apesar do seu crescente sucesso ao serviço da DC, a verdade é que Adams continuava a colaborar com a editora na qualidade de freelancer. Razão pela qual não viu problema em trabalhar em simultâneo para  a sua principal concorrente. A partir de 1969, Neal Adams começou a desenhar várias histórias dos X-Men para a Marvel Comics. Durante esse período teve como parceiros criativos argumentistas veteranos, como Roy Thomas e Dennis O'Neil.
       Foi precisamente com este último que Neal Adams, sob a orientação de Julius Schwartz (editor-chefe da DC na altura), devolveu o tom sombrio e intenso às histórias de Batman, demarcando-o em definitivo do registo pueril da série televisiva homónima, exibida entre 1966 e 1968 pela ABC. O contributo de Adams para a reabilitação do herói passou ainda pela introdução na sua mitologia de duas novas e carismáticas personagens: R'as al Ghul (1970) e Morcego Humano (1971). Deve-se-lhe igualmente a revitalização do principal némesis do Cruzado Encapuzado. Com Adams, o Joker voltou às suas origens, sendo retratado como um homicida psicótico que se deleita com o caos que provoca.

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Graças ao traço realista de Adams, Batman readquiriu a sua tonalidade obscura.

    Se a revitalização de Batman foi bem acolhida pelos fãs, já a nova abordagem da dupla Neal Adams/Dennis O'Neil ao Lanterna Verde e ao Arqueiro Verde foi controversa. Nas páginas do novo título conjunto - Green Lantern/Green Arrow - de duas personagens com pouco em comum,  à parte uma notória afinidade pela cor verde, temas como o racismo, a poluição e a toxicodependência foram amplamente explorados. Embora o trabalho desenvolvido pela dupla à frente da série lhes tenha valido alguns prémios e de ter inaugurado uma nova tendência na indústria dos comics, as vendas ficaram aquém do esperado e, três anos após ter sido lançado, Green Lantern/Green Arrow foi cancelado.


Uma das melhores ( e mais polémicas) produções da dupla Adams/O'Neill, Green Lantern/Green Arrow não resistiu aos fracos resultados comerciais.
     A partir daí - exceção feita ao trabalho desenvolvido com Batman -, as colaborações de Neal Adams com a DC tornaram-se mais e mais ocasionais. O álbum gigante que apresentava um combate de boxe entre o Super-Homem e o lendário campeão de pesos-pesados Muhammad Ali foi, em 1978, o último trabalho completo que Adams executou para a DC antes de fundar a sua própria editora. A Continuity Associates (mais tarde rebatizada Continuity Studios) produzia inicialmente arte para anúncios publicitários e para guiões cinematográficos. Por ela passaram nomes sonantes da indústria dos quadradinhos, como Jim Starlin, Al Milgrom e Howard Chaykin, apenas para citar alguns.
     Após um longo interregno (a sua última colaboração com a Casa das Ideias remontava a 1981), em 2005 Neal Adams regressou à Marvel para desenhar uma história de 8 páginas em Giant Size X-Men nº3. Cinco anos depois, em 2010, foi a vez de a DC lhe voltar a abrir as portas. Adams foi encarregue de escrever e desenhar os doze volumes da minissérie Batman: Odyssey.

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Exemplo do trabalho feito por Neal Adams para a Marvel.

      Ao frenesim criativo que o caracterizou na década de 1970, Adams aliou um intenso ativismo político, tendo como principal objetivo a unidade dos criadores ao serviço da indústria dos comics. Adams assumiu-se, efetivamente, com um incansável defensor dos direitos autorais dos seus pares. Graças à sua coragem e perseverança, foi introduzida na indústria a prática presentemente comum de devolver a arte original aos seus autores, permitindo-lhes dessa forma retirarem dividendos adicionais, designadamente através da sua venda a colecionadores.
     Em 1987, com a devolução de diversos originais seus e de Jack Kirby por parte da Marvel, Neal Adams venceu esta sua batalha. O seu maior triunfo consistiu, porém, em assegurar o pagamento de créditos acumulados ao longo de décadas a Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Super-Homem. Além desse estorno, Adams garantiu ainda o direito a uma remuneração financeira para ambos.
     Outra das suas singularidades reside no facto de Adams ser um adepto incondicional da Teoria da Expansão da Terra. Trata-se de uma hipótese formulada pelo eminente geólogo australiano Samuel Warren Carey, segundo a qual tanto o nosso planeta como outros corpos celestes se expandem. Um postulado que  põe em xeque, entre outras teses comummente aceites, a existência, nos primórdios da Terra, de um  supercontinente chamado Pangeia. Para difundir a Teoria da Expansão da Terra, Adams produziu um documentário em DVD e posta regularmente vídeos da sua autoria no YouTube.
      Neal Adams vive atualmente com a esposa, Marilyn, em Nova Iorque. O casal tem três filhos: Jason, Joel e Josh. O primeiro é escultor de estátuas e miniaturas de fantasia, ao passo que os seus dois irmãos mais novos trabalham como ilustradores de banda desenhada, produzindo também arte conceptual para programas televisivos. Em 2010, Josh Adams desenhou um pinup do Homem-Morcego, para o  primeiro volume da minissérie Batman: Odyssey, escrita e desenhada pelo seu pai.
  
Neal Adams ladeado pelo filho Josh numa sessão de autógrafos em 2010.
        
Prémios e distinções:  Neal Adams conquistou em 1967 o Alley Award Para Melhor Capa (Strange Adventures nº207). No ano seguinte arrebatou outro destes prémios, desta feita na categoria de Melhor História (Track of the Hook, publicada em The Brave and the Bold nº79 e escrita a meias com Bob Haney). Finalmente, em 1969, foi agraciado com um terceiro Alley Award para melhor desenhista.
      Em 1970 ganhou dois Shazam Awards: um na categoria de Melhor História Individual (No Evil Shall Escape my Sight, em Green Lantern nº76 com Dennis O'Neil) e outro para Melhor Desenhista. No ano seguinte, não foi novamente distinguido nesta categoria, mas tornou a vencer - outra vez com Dennis O'Neil - o galardão para Melhor História Individual (Snowbirds Don't Fly em Green Lantern nº85).
     Finalista nas votações de 1990 e 1991 para o Jack Kirby's Hall of Fame (equivalente bedéfilo aos Óscares cinematográficos), conquistou o seu lugar no panteão da 9ª arte em 1999.

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