08 junho 2017

GALERIA DE VILÕES: MERCENÁRIO



  Devido aos seus talentos únicos, é um dos mais cotados assassinos do submundo nova-iorquino. Quase sempre uma sentença de morte para os seus alvos, as suas sangrentas credenciais incluem duas ex-namoradas do Demolidor, por quem desenvolveu uma perturbadora obsessão. 

Denominação original: Bullseye (vocábulo inglês que designa o centro de um alvo e, por extensão, qualquer lançamento ou disparo que o atinja)
Licenciadora: Marvel Comics
Criadores: Marv Wolfman (história) e John Romita Sr. (arte conceitual)
Estreia: Daredevil #131 (março de 1976)
Alter egos: Lester,  Benjamin Poindexter e Leonard
Local de nascimento: Queens, Nova Iorque
Parentes conhecidos: Kingmaker (pai, falecido), mãe não-identificada; Nathan (irmão, falecido), os Wilkerson (família de acolhimento)
Ocupação: Assassino a soldo
Base operacional: Nova Iorque
Afiliações: Ex- soldado do Exército dos EUA; ex-operacional da NSA (sigla inglesa para Agência de Segurança Nacional); ex-membro do Tentáculo, dos Vingadores Sombrios e dos Thunderbolts; ex-sicário do Rei do Crime*, do Homem Púrpura e de Mysterio. 
Armas, poderes e habilidades: Atendendo ao caráter único dos seus talentos, especulou-se durante algum tempo que o Mercenário poderia ser um mutante. Sucessivas análises ao seu ADN refutariam contudo essa hipótese.
Apesar da sua natureza humana, o Mercenário nasceu com uma pontaria quase infalível e com a assombrosa habilidade de lançar virtualmente qualquer objeto com a força e precisão suficientes para o converter num projétil letal. Nas suas mãos, uma simples carta de baralho pode servir para lacerar a garganta de uma pessoa. Outra das suas mais notórias proezas consistiu em matar alguém com um palito arremessado a uma distância de várias centenas de metros.
A sua letalidade decorre igualmente da sua proficiência no manuseamento de todo o tipo de armas. A despeito de ser um exímio franco-atirador, a sua preferência recai habitualmente sobre as de arremesso, como os shurikens ou as adagas sai. Antes da ressurreição de Elektra, o Mercenário gostava de exibir aquela que usara para empalar a ex-amante do Demolidor, apenas para provocar o herói.

Shurikens são as armas prediletas do Mercenário.

Com uma condição física equivalente à de um atleta olímpico, após ter ficado paralisado na sequência de uma queda ocorrida durante um confronto com o Demolidor, o Mercenário teve a sua fisiologia incrementada por implantes de adamantium. Além de lhe proteger os ossos de fraturas, o revestimento metálico permite-lhe a execução de manobras e acrobacias interditas ao comum dos mortais. Tendo o processo em causa sido conduzido pelo próprio Lorde Vento Negro (Lord Dark Wind, no original), o qual incluiu um tratamento herbáceo para prevenir os efeitos de uma eventual rejeição do organismo do Mercenário ao metal injetado.
Recorde-se, a este propósito, que Lorde Vento Negro foi o inventor do procedimento de implantação de adamantium. Foi aliás nas suas anotações incompletas que os cientistas do Programa Arma X se basearam para o aplicar a Wolverine, que só sobreviveu graças ao seu fator de cura mutante.
Em complemento a tudo isto, o Mercenário é também um mestre das artes marciais. Mesmo desarmado, é um adversário de respeito mesmo quando tem pela frente outros lutadores de alto gabarito.
Meticuloso, o Mercenário tem por hábito estudar até o mais ínfimo detalhe dos seus alvos: histórico familiar, boletim clínico, relacionamentos, habilidades, etc. Informação que utiliza depois para tentar antecipar os movimentos dos seus oponentes em combate. Não raro, essa compulsão extravasa o campo profissional e adentra a esfera pessoal, como sucedeu com Elektra, por quem, a exemplo do Demolidor, desenvolveu em tempos uma perturbadora obsessão.
Após sofrer um ferimento na cabeça, durante um brevíssimo período de tempo, o Mercenário conseguia pressentir telepaticamente a presença do Demolidor. Tão depressa como se manifestou, o referido poder desvaneceu-se sem deixar vestígios.

Cartada mortal.
Fraquezas: Recorrentemente diagnosticado como um perigoso psicopata com um pronunciado viés sádico, o Mercenário possui de facto uma mente volátil, o que o torna suscetível a surtos psicóticos quando perde as estribeiras. 
Mesmo quando balança entre a razão e a insanidade, o Mercenário aproveita o seu trabalho de assassino contratado para satisfazer a sua compulsão homicida e para levar a cabo a sua vingança pessoal contra o Demolidor.
É igualmente propenso a paranoias e a delírios esquizofrénicos. Como, de resto, ficou demonstrado na ocasião em que, de tão obcecado com o Demolidor, se convenceu ser ele próprio o Homem Sem Medo. Ou quando passou a vislumbrar o rosto do herói em qualquer pessoa com quem se cruzava. Em ambos os casos, os seus distúrbios psíquicos foram preponderantes para a sua derrota.
Exames médicos posteriores revelariam, contudo, que os seus devaneios eram parcialmente causados por um tumor cerebral, que lhe foi entretanto cirurgicamente removido.
Ignora-se, por outro lado, se esse facto terá alguma correlação com o seu daltonismo, ou se essa sua condição será de origem genética. Certo é que, em determinados contextos, ela lhe pode causar constrangimentos, designadamente no que à identificação de um alvo diz respeito.
Por outro lado, apesar da sua mira quase perfeita, já denotou algumas dificuldades em atingir alvos em movimento.

Por vezes, a mente do Mercenário prega-lhe partidas.
Como quando passou a ver o Demolidor em cada rosto na multidão.
Histórico de publicação: Apesar de na sua primeira aparição, em Daredevil nº131 (março de 1976), o Mercenário ter sido desenhado por Bob Brown, os créditos da sua arte conceitual pertencem a John Romita Sr, que com o escritor Marv Wolfman** divide a "paternidade" da personagem.
Conhecido pelo seu sentido de humor torpe, o Mercenário parece divertir-se a ludibriar quem o investiga. Em 2004, a minissérie Bullseye: Greatest Hits propôs-se derramar alguma luz sobre o passado do vilão. Nela, ele afirmava chamar-se Leonard e relatou mesmo alguns pormenores biográficos. Mas logo se percebeu que boa parte deles (ou, quiçá, a totalidade) eram forjados.
No rescaldo de Civil War***, o escritor britânico Warren Ellis assumiu as histórias de Thunderbolts, incorporando o Mercenário no renovado elenco da equipa. Da qual, durante a saga Dark Reign (sequência direta de Secret Invasion), se transferiria para os Vingadores Sombrios. Assumindo nessa fase o codinome Gavião Arqueiro.

O Mercenário anuncia ao que vem em Daredevil nº131 (1976).
Ao mesmo tempo que se evidenciava em Dark Avengers, o Mercenário/Gavião Arqueiro protagonizou Dark Reign: Hawkeye, minissérie em 5 volumes com assinatura de Mark Diggle e Tom Raney. Ainda na sua qualidade de Vingador Sombrio, desempenhou papel crucial no crossover Dark Avengers/ Uncanny X-Men, publicado no verão de 2009.
Aparentemente morto pelo Demolidor em Shadowland nº1 (setembro de 2010), o Mercenário ressurgiria meses depois, nas páginas de Daredevil Vol.3 nº26. Apesar de ter milagrosamente sobrevivido aos graves ferimentos infligidos pelo seu velho inimigo, era agora um prisioneiro do próprio corpo. Quando finalmente recuperou a sua mobilidade, procurou vingar-se do Homem Sem Medo, acabando, no entanto, cego e desfigurado ao cair num tanque com resíduos radioativos.

Capa de Bullseye: Greatest Hits nº2 (2004), 
Origem: Quem se aventura a desvendar o mistério em que está envolto o passado do Mercenário corre o sério risco de se perder num labirinto de mentiras e enganos. Que o digam os agentes federais que, certa vez, o sujeitaram a um exaustivo interrogatório quando ele se encontrava confinado numa prisão de alta segurança.
Entre os vários elementos biográficos que o vilão lhes revelou, incluía-se a descrição da sua conturbada infância em Queens, na casa que compartilhava com o seu irmão mais velho e com o pai alcoólico que os molestava. E de como foi entregue aos cuidados de uma família de acolhimento depois de o seu irmão ter ateado fogo à casa numa tentativa fracassada de matar o progenitor.
No liceu, as suas habilidades inatas fizeram dele o astro da equipa de basebol, chegando mesmo a ser-lhe oferecida uma bolsa de estudo. Terá preferido, contudo, jogar nas ligas secundárias onde continuou a sobressair como exímio lançador.
Até ao dia em que aceitou um suborno para falhar todos os arremessos numa partida decisiva. Em resposta às provocações de um jogador adversário, alvejou-o na cabeça com a última bola do jogo, causando-lhe morte instantânea em plena quadra. Indiferente à comoção que varria as bancadas, terá exclamado alegremente "Bullseye!" ("Em cheio!", numa tradução adaptada).
Toda esta informação carece, porém, de confirmação. Tanto mais que o Mercenário já demonstrou ser uma fonte pouco confiável. Chegando mesmo a admitir ter inventado esta história apenas para zombar dos seus captores.

Terá o Mercenário passado ao lado
 de uma fulgurante carreira desportiva?
Certo é que, ao longo dos anos, ele apresentou outras versões dessa narrativa: numa delas, reconhecia ter sido ele o autor do incêndio que quase matara o pai; noutra, garantia tê-lo matado com um tiro na cabeça depois de lhe ter desenhado um alvo na testa enquanto ele dormia.
Alguns indícios sugerem, todavia, que, antes de empreender a sua carreira como assassino a soldo, o Mercenário terá sido um franco-atirador do Exército dos EUA, onde terá sido recrutado para a Agência de Segurança Nacional. Ao serviço da qual terá, alegadamente, viajado pelo mundo antes de ser dispensado com baixa desonrosa. Tudo porque terá, presumivelmente, usado os recursos da agência para montar um esquema de extorsão a narcotraficantes na Nicarágua. Quando este foi desmantelado pelo Justiceiro, o Mercenário desapareceu do radar.
Reapareceria algum tempo depois em Nova Iorque envergando já o seu icónico uniforme. A fim de publicitar os seus serviços de matador profissional, concedeu uma entrevista ao Clarim Diário, atraindo assim a atenção do Demolidor.
Depois de, num primeiro embate, ter levado a melhor sobre o Homem Sem Medo, sofreria uma humilhante derrota na segunda ocasião em que os dois mediram forças. Esse foi, aliás, o primeiro de muitos desaires às mãos do padroeiro da Cozinha do Inferno, tornando-o alvo de chacota nos meandros do submundo da Grande Maçã.
Apesar da mossa que isso causou na sua reputação, o Mercenário foi elevado a assassino-mor do Rei do Crime. Contudo, após nova temporada atrás das grades, ficou furioso ao descobrir que perdera o emprego para Elektra, a enigmática ninja que mantinha um tórrido romance com o Demolidor.



Um dos muitos duelos entre o Mercenário e o Demolidor.
Despeitado, o Mercenário confrontou Elektra, acabando por empalá-la com a sua própria adaga sai. Restaurada a sua reputação, o Mercenário recuperou o seu emprego na organização de Wilson Fisk. Mas foi sol de pouca dura.
Ávido de vingança pela morte da amada, o Demolidor derrotou uma vez o mais o Mercenário. No auge do combate, o vilão despencou do telhado de um prédio.
Paralisado numa cama de hospital e dependendo de um ventilador mecânico para respirar, seria de esperar que os seus dias de assassino contratado tivessem chegado ao fim. E, de facto, assim teria sido se Lorde Vento Negro, um cientista e senhor do crime japonês, não lhe tivesse infundido o esqueleto com adamantium.
Depois de uma curta estada no país do Sol Nascente ao serviço do seu benfeitor, o Mercenário regressaria a Nova Iorque para voltar a integrar a folha de pagamentos do Rei do Crime. O que, uma vez mais, o colocou na mira de um certo herói cego...

A morte de Elektra foi um dos pontos altos
da sangrenta carreira do Mercenário.

Miscelânea:

*Enquanto ao serviço do MARTELO (agência de contraterrorismo herdeira da SHIELD, que, entre outras coisas, tutelava os Vingadores Sombrios após os eventos de Invasão Secreta), ao Mercenário foi concedida uma autorização de segurança nível 5, a mais elevada no protocolo da instituição;
*Entre os mais insólitos objetos utilizados pelo Mercenário para matar alguém destacam-se um aviãozinho de papel, um caniche e até um dente que lhe fora arrancado durante uma zaragata, e que ele cuspiu como se de uma bala se tratasse;
*Amigos de longa data, Mercenário e Deadpool têm um passado em comum como soldados da fortuna e partilham praticamente o mesmo grau de insanidade mental;

Deadpool e Mercenário; almas gémeas.
*Prestes a ser executada a sangue-frio pelo Mercenário, Lindy Reynolds, a malograda esposa do herói conhecido como Sentinela, pediu-lhe, à laia de último desejo, que ele lhe revelasse o seu nome verdadeiro. Em resposta, o vilão apresentou-se simplesmente como Ben, numa possível referência a Benjamin Poindexter, o seu alter ego no Universo Ultimate, dimensão paralela povoada pelas versões revistas e atualizadas das principais personagens Marvel. À semelhança de quase todas elas, também o Mercenário teve a sua origem recontada;
*Além de Elektra e Karen Page, o Mercenário tentou matar também Milla Donovan, a ex-esposa (cega de nascença) de Matt Murdock. Na segunda ocasião em que o fez, foi detido pela Viúva Negra, também ela um antigo interesse amoroso do Demolidor;
*Aos olhos de muitos um émulo do Pistoleiro, são dois os aspetos essenciais que distinguem o Mercenário do seu homólogo da DC: a sua preferência por armas brancas e de arremesso em detrimento de armas de fogo, e a ausência de um espartano código de ética. Diferente do Pistoleiro, o Mercenário não tem pundonor em executar mulheres e crianças, tampouco separa negócios de assuntos pessoais.´

À falta de balas, o Mercenário
 pode usar um dente para tirar a vida a alguém.
Noutros segmentos culturais: Desde 2009 que o Mercenário ocupa um mui lisonjeiro 20º lugar na lista dos 100 melhores vilões da banda desenhada elaborada pela plataforma digital de entretenimento IGN. À frente, por exemplo, de outros expoentes de malignidade, como Ultron ou Venom.
Nos últimos anos tem sido também um habitué numa miríade de videojogos baseados no Universo Marvel. No mais recente, Marvel: Future Fight (2015), surge mesmo como personagem jogável.
Foi, no entanto, a sua passagem pelo grande ecrã que notabilizou o Mercenário junto do grande público. Em 2003, interpretado por Colin Farrell, o vilão teve papel de relevo em Daredevil, a primeira (e, até à data, única) longa-metragem do Homem Sem Medo.
Aproveitando a nacionalidade e o sotaque do ator escolhido para lhe dar vida, no filme o Mercenário tem raízes irlandesas. Surgindo também com roupagens muito diferentes daquelas que costuma usar nos quadradinhos. Em vez do tradicional uniforme azul e branco, o vilão enverga uma fatiota de cabedal de que nenhum gótico ou fã de heavy metal desdenharia. Não faltando, claro, o icónico alvo tatuado na fronte.
Tal como a sua contraparte dos comics, a versão cinematográfica do Mercenário tem nos shurikens a sua arma favorita, pese embora o seu arsenal inclua também pequenos objetos à primeira vista inócuos: clipes, cartas de baralho e até amendoins. Uma cena pós-créditos mostra-o, de resto, paralisado numa cama de hospital, sem que isso o impeça de usar uma agulha hipodérmica para empalar uma mosca sem contudo a matar. Murmurando depois, a custo, "Bullseye!". O que, neste contexto, poderá ser literalmente traduzido como "Na mosca!".

Colin Farrell emprestou o seu charme irlandês
ao Mercenário em Daredevil.

*Prontuário do Rei do Crime em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2015/09/galeria-de-viloes-rei-do-crime.html
**Perfil de Marv Wolfman em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2014/09/eternos-marv-wolfman-1946.html
***Resenha alargada de Guerra Civil em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/12/classicos-revisitados-guerra-civil.html