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11 setembro 2018

HERÓIS EM AÇÃO: SPAWN


  Um pacto faustiano arvorou um soldado de consciência pesada a general das legiões infernais. Apanhado no fogo cruzado da guerra entre o Céu e o Inferno, vagueia pela Terra como um pária, levando a sua justiça profana a homens, anjos e demónios.

Licenciadora: Image Comics 
Criador: Todd McFarlane 
Estreia: Spawn nº1 (maio de 1992)
Identidade civil: Albert "Al" Francis Simmons
Espécie: Humano desmorto imbuído com necroplasma
Local de nascimento: Detroit, Michigan 
Parentes conhecidos: Wanda Blake (viúva)
Ocupação: Ex-militar, ex-agente secreto, é atualmente um vigilante urbano
Base operacional: Cidade dos Ratos, Nova Iorque 
Afiliações: Fuzileiros Navais dos EUA, CIA, A6 e Inferno
Armas, poderes e habilidades: É no necroplasma que reside a fonte dos muitos poderes e habilidades de Spawn. A cada Hellspawn são providenciadas 9999 unidades dessa substância de que é composto o próprio Malebolgia, o demónio que concebe uma dessas Crias Infernais a cada meio século. Uma vez esgotado o suprimento, o usuário é devolvido sem embargo ao Inferno.
Para economizar as suas reservas de necroplasma, Spawn, fazendo uso do treino tático militar recebido em vida, usa frequentemente uma grande variedade de explosivos e armas de fogo de grande calibre.
Imortalidade, regeneração espontânea, teletransporte, superforça e rajadas de energia necroplásmica são alguns dos poderes comuns a todos os Hellspawns. No entanto, apenas Spawn detém igualmente algumas habilidades únicas, como pressentir a morte de alguém ou detetar emoções negativas como ódio ou raiva.
A par destes talentos inatos, o Soldado do Inferno tem no seu traje simbiótico a sua maior arma. Trata-se na verdade de um parasita chamado K7-Leetha que se alimenta do necroplasma existente no organismo do seu hospedeiro - embora também possa retirar sustento da maldade humana.
Conectado ao sistema nervoso central de Spawn, o traje permite-lhe criar correntes e espigões, bem como animar a respetiva capa como se de uma entidade autónoma se tratasse. Para assegurar a sobrevivência de ambos, K7-Leetha também protege o seu usuário quando este se encontra inconsciente.
Al Simmons é ele próprio uma arma viva: mestre das artes marciais, franco-atirador de elite e perito em guerrilha urbana. Por tudo isto, Spawn é uma bem afinada máquina de matar temida e cobiçada tanto pelas forças do Céu como pelas do Inferno.

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Um Soldado Infernal armado até aos dentes.
Fraquezas: Apesar do absurdo nível poder de que dispõe - a bem dizer, limitado apenas pela sua imaginação - Spawn padece de algumas vulnerabilidades potencialmente fatais. Uma delas reside no chamado Mundo Verde (Greenworld, no original). Trata-se de uma dimensão sobrenatural onde os poderes do Soldado Infernal são drenados. Quando visita esse lugar, o herói é igualmente assombrado pelos furiosos fantasmas do seu passado, dificultando-lhe assim sobremaneira a concentração no combate que é chamado a travar.
Spawn foi transportado pela primeira vez ao Mundo Verde quando ganhava vantagem na sua contenda com o Violador. Ferido e enfraquecido, foi graças à intercessão da Mãe (a entidade omnipotente criadora do Universo, Deus e Satã) que logrou levar de vencida o seu implacável antagonista.
Os poderes de Spawn são também anulados de cada vez que ele adentra na Zona Morta (The Dead's Zone), um beco nova-iorquino que é na verdade uma ínfima parcela do Paraíso. Uma vez que nesse solo sagrado não se aplicam as leis da Terra nem do Inferno, o Justiceiro das Trevas vê-se despojado da sua imortalidade.

Spawn em apuros no Mundo Verde.

Altos e baixos de uma carreira infernal

No início da década de 1990, um pequeno, porém influente, grupo de autores de banda desenhada, descontentes com a sua condição de meros avençados das grandes editoras, resolveu avançar com a criação da sua própria empresa. Entre os fundadores da Image Comics - que, no seu auge, chegou a ocupar o segundo lugar no pódio de vendas liderado pela Marvel - despontavam estrelas em ascensão como Jim Lee, Marc Silvestri e Todd McFarlane. Este último, em particular, granjeara estatuto de vedeta por conta do seu aclamado trabalho nas histórias do Homem-Aranha, nas quais acumulara as funções de argumentista e ilustrador.
A entrada em cena da Image Comics teve um efeito telúrico na indústria dos quadradinhos, arrancando-a ao marasmo e revolucionando de caminho a produção desse tipo de conteúdos. Para o êxito inicial da neófita editora muito contribuiu a enorme popularidade de McFarlane e da sua criação: Spawn, um anti-herói sintonizado com o ar do tempo, cujos métodos extremos fariam escola.
O primeiro número de Spawn, lançado em maio de 1992, vendeu uns impressionantes 1,7 milhões de exemplares, transformando rapidamente o Soldado do Inferno num epifenómeno de sucesso. Consequentemente, Spawn seria também alçado a porta-estandarte da Image Comics - estatuto que aliás conserva até hoje.
Numa carreira até aí marcada por mais altos do que baixos, o título mensal de Spawn atingiria novo pico de popularidade em 1997, ano em que chegou aos cinemas o filme do Soldado do Inferno.
A película ficou, contudo, aquém do esperado e as vendas de Spawn entraram em declínio. Longe do fulgor de outrora, o Justiceiro das Trevas anda há muito arredado do Top de vendas. Situação que poderá vir a inverter-se à boleia da anunciada segunda longa-metragem do herói (ver Noutros media).

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Spawn nº1 foi uma das revistas mais vendidas de sempre.
Veterano de disputas legais

Em 1993, Todd McFarlane contratou Neil Gaiman para escrever Spawn nº9. No contexto dessa empreitada, o escriba britânico inseriu Ângela, Cogliostro e uma versão medieval de Spawn na mitologia do Soldado do Inferno. A arte conceitual das três personagens ficou a cargo de McFarlane e, mesmo após a saída de Gaiman, elas continuaram a ser utilizadas tanto nas histórias de Spawn como na linha de bonecos inspirada nelas. Cogliostro teve, inclusive, papel de relevo no filme do Justiceiro das Trevas.
Reconhecendo-lhe o estatuto de cocriador, durante vários anos McFarlane pagou a Gaiman os respetivos royalties. Até que, um belo dia, cessou de fazê-lo, alegando ser ele o detentor de todos os direitos das personagens que compõem a mitologia de Spawn e fazendo ainda notar que aquelas três em particular haviam sido criadas quando Gaiman era seu assalariado.
Face a esta reviravolta, em 2002 Neil Gaiman processou judicialmente o seu antigo empregador. McFarlane, por sua vez, respondeu com outro processo, empurrando dessa forma o caso para a barra do tribunal.

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Todd McFarlane (esq.) e Neil Gaiman
 protagonizaram uma longa batalha judicial vencida pelo segundo.
Agora ao serviço da Marvel Comics, Gaiman contou desde o primeiro instante com o suporte financeiro da sua nova entidade patronal. Isto porque, a montante desta acirrada disputa legal, estava a propriedade de outra personagem - Miracleman - que Gaiman reimaginara para a defunta Eclipse Comics, mas cujos direitos de publicação haviam entretanto sido adquiridos por McFarlane. Ciente do potencial de Miracleman, Gaiman reclamava parte dos seus direitos para em seguida os negociar com a Marvel.
Esta querela acessória seria, contudo, descartada pelo tribunal, que optou por manter o foco nas personagens introduzidas por Gaiman em Spawn nº9.
Desconsiderando os muitos argumentos apresentados por McFarlane e pela sua equipa de advogados, o tribunal deliberou a favor de Gaiman, a quem reconheceu  o estatuto de cocriador e, por inerência, o direito a receber metade dos proventos resultantes da exploração comercial das suas personagens.
De nada valeria o recurso interposto por McFarlane, uma vez que o veredito seria confirmado em segunda instância.
Vencido mas não convencido, McFarlane excluiu o volume que desencadeara  o litígio com Gaiman da compilação que reunia os doze primeiros números de Spawn. Curiosamente, o mesmo seria inserto em Spawn Origins: Volume 1, edição de luxo lançada em meados de 2009. Três anos antes de McFarlane e Gaiman sanarem por fim o seu conflito, com o segundo a garantir em exclusivo a propriedade de Ângela - personagem cujos direitos venderia em 2013 à Marvel.
Este não foi, porém, o único processo judicial que McFarlane teve de enfrentar por conta de Spawn. Mesmo sabendo ser esse o nome de um conhecido jogador canadiano de hóquei no gelo, McFarlane (também ele originário do país que tem o ácer como símbolo nacional) batizou como Tony Twist um padrinho mafioso das histórias do Soldado do Inferno.
Nada lisonjeado com o gesto, o verdadeiro Tony Twist avançou para tribunal por considerar que o seu compatriota lucrara com o uso indevido do seu nome. O juiz reconheceu-lhe razão e condenou McFarlane a pagar-lhe uma indemnização no valor de 15 milhões de dólares. Graças à celebração de um acordo extrajudicial, McFarlane acabaria no entanto por desembolsar apenas um terço dessa maquia.

Tony Twist
Tony Twist, um ídolo do desporto canadiano.

Origem 

Al Simmons era um tenente-coronel dos Marines e um veterano de guerra condecorado. Era também um assassino altamente treinado com muitas missões de execução, dentro e fora do território estadunidense, no currículo.
Depois de ter salvado a vida do Presidente dos EUA quando este foi vítima de um atentado, Simmons foi aclamado como herói nacional e posteriormente recrutado pela CIA. Ao fim de algum tempo seria transferido para a A6, um ramo autónomo dos serviços de inteligência especializado em missões sigilosas.
Sempre sob as ordens do seu inescrupuloso superior, Jason Wynn, Simmons continuou a liquidar presumíveis inimigos dos EUA. Quando começou a questionar a legitimidade de algumas das suas missões, tornou-se um incómodo para Wynn, que prontamente ordenou a sua morte.
Durante aquela que deveria ter sido apenas mais uma missão clandestina no estrangeiro, Simmons foi traído e assassinado por Chapel, seu amigo e camarada de armas.

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Al Simmons, um soldado marcado para morrer.
Pelos seus muitos crimes cometidos em vida, Simmons foi enviado para o Inferno. No Oitavo Círculo do reino infernal fez um pacto com o demónio Malebolgia para voltar à Terra para junto de Wanda Blake, a sua amada esposa.
Em contrapartida, Simmons aceitou ser transformado num Spawn, um general do exército de Malebolgia infundido com poder infernal e apetrechado com uma armadura simbiótica. A sua missão seria comandar as legiões infernais durante o Armagedão, a batalha final entre o Bem e o Mal.
Assim que regressou ao mundo dos vivos, Spawn percebeu ter sido trapaceado por Malebolgia. Cinco anos haviam decorrido desde a sua morte às mãos de Chapel e Wanda estava agora casada com Terry Fitzgerald, o melhor amigo de Simmons.
O ordálio de Spawn torna-se ainda mais insuportável com a descoberta de que o casal composto pela sua ex-mulher e pelo seu ex-melhor amigo tinha também uma filha chamada Cyan. Ficando assim demonstrado que fora a esterilidade de Simmons a inviabilizar uma gravidez de Wanda.

A cada 50 anos uma nova Cria Infernal
 é concebida por Malebolgia, arquiduque do Inferno.
Confuso por causa da sua nova e inesperada existência como Spawn - que incluía uma pele completamente queimada e feições irreconhecíveis - Simmons começa a ser atormentado por um sinistro palhaço anão. Este é na verdade Violador, um servo demoníaco de Malebolgia investido da missão de supervisionar a ação e o desenvolvimento dos poderes do Soldado Infernal.

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Spawn teve no Violador (em baixo  sob o disfarce de Palhaço) 
o seu primeiro arqui-inimigo.
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A viver entre outros detritos humanos nos becos de Nova Iorque, Spawn é entronizado Rei da Cidade dos Ratos, uma das zonas mais degradadas da cidade ocupada por indigentes e sem-abrigo. É nesse sítio a transbordar de imundice e desespero que trava amizade com Cogliostro, um velho sempre envolto em mistério que parece saber muito acerca do Céu, do Inferno e do próprio Malebolgia.
Foi, de resto, com a ajuda de Cogliostro que Spawn aprendeu a controlar os seus poderes infernais, os quais usaria entretanto para derrotar Ângela, uma escultural Caçadora de Hellspawns ao serviço de Deus.
Embora nesta fase inicial da sua carreira, o Soldado Infernal agisse como um implacável anti-herói que tinha como principais alvos a Máfia e outros bandidos comuns, não tardaria a consciencializar-se do papel crucial que lhe estava reservado na guerra que opunha as forças de Deus às de Satã.
Enquanto esse dia não chegava, continuou a levar a sua justiça profana a homens, anjos e demónios.


Justiceiro das Trevas.

Principais coadjuvantes

*Cogliostro: Este misterioso indigente que, em vários momentos, serviu de mentor a Spawn é na verdade Caim, o primogénito de Adão e Eva. Ao tirar a vida ao seu irmão Abel, tornou-se o primeiro assassino da história da Humanidade, sendo por isso enviado para o Inferno. De onde seria recambiado depois de ter aceite comandar as legiões demoníacas de Malebolgia. Foi o primeiro Hellspawn e sobrevive graças aos resíduos de necroplasma que ainda existem no seu corpo. Apesar deste passado pouco recomendável, exerceu sempre uma influência positiva sobre Al Simmons, procurando orientá-lo para o Bem;

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Sempre enigmático,
Cogliostro era muito mais do que um simples mendigo.
*Violador/Palhaço: Filho de um demónio e de uma humana, é o mais velho dos Irmãos Flebíacos (criados por Malebolgia para propagar o caos e o sofrimento) e, inicialmente, cabia-lhe supervisionar as ações de Spawn, certificando-se de que ele obedecia aos desígnios do seu mestre. Perante a insubordinação do Soldado Infernal, tornar-se-ia o seu primeiro arqui-inimigo. Para dissimular a sua horrenda aparência, o Violador usava o disfarce de um palhaço deformado que refletia a sua visão dos humanos, pelos quais nutre um profundo desprezo;
*Malebolgia: Soberano do Oitavo Círculo do Inferno, é o mais poderoso dos duques de Satã e o criador de todos os Hellspawns que já comandaram as suas hordas demoníacas. O seu corpo foi formado 70 mil anos atrás por um antigo regente do Inferno com recurso a rios de necroplasma;
*Ângela: Uma formidável guerreira celestial, cuja destreza em combate lhe valeu posição de destaque no exército de Deus, foi criada a partir de centenas de almas de mulheres sacrificadas. Tinha como desporto de eleição caçar Spawns, cujos emblemas usava depois como troféus. Al Simmons também começou por estar na sua mira, mas ambos acabariam por forjar a mais improvável das alianças. Desde a sua migração para o Universo Marvel, em 2013, Ângela foi reimaginada como a filha perdida de Odin, arrebatando a Thor o título de primogénito de Asgard;


Para Ângela Spawn era um troféu de caça.
*Sam Burke: Detetive veterano do departamento de homicídios da Polícia de Nova Iorque, com o seu colega Twitch Williams investigou alguns dos mais macabros crimes cometidos por adversários do Spawn, de quem é aliado. A sua força bruta apenas encontra paralelo no seu voraz apetite;
*Twitch Williams: De seu nome verdadeiro Maximillion Steven Percival Williams III, descende de uma abastada família de aristocratas e é considerado um prodígio. O seu domínio do cálculo e da trigonometria fez dele o melhor atirador ao serviço da polícia nova-iorquina.

Uma parelha de detetives muito especial.

Apontamentos

*Algumas edições de Spawn foram lançadas fora de ordem. Os números 19 e 20 foram, respetivamente, entalados entre os números 24 e 25 e 25 e 26 da série. Embora ninguém saiba ao certo o que terá originado esta insólita circunstância, há quem a atribua a algum tipo de problema técnico que poderá ter obstado ao cumprimento dos prazos de entrega;
*Quando, ainda adolescente, Todd McFarlane criou os primeiros esboços daquela que viria a ser a sua criação suprema, o visual de Spawn invocava o de um guerreiro espacial saído de uma qualquer história de ficção científica. Desta versão primitiva da personagem estavam ausentes alguns dos seus elementos definidores, mormente as correntes e os espigões.;

O visual primitivo do Spawn.
*Em resposta ao défice de super-heróis afro-americanos que considerava existir, McFarlane resolveu usar Al Simmons para contrariar essa subrepresentatividade dos negros na indústria dos quadradinhos. Receando, contudo, que os leitores se focassem na vertente racial, Spawn teve a sua face horrivelmente desfigurada por queimaduras ao ponto de ser quase impossível percecionar o tom da sua pele:
*Após o anúncio do seu afastamento da série mensal do Soldado Infernal, Todd McFarlane escreveu cerca de uma vintena de histórias de Spawn sob o pseudónimo Will Carlton. Uma vez mais, não existem certezas sobre o que terá motivado esta pantomima. Não falta, contudo, quem esteja convicto de que McFarlane, dono de uma personalidade no mínimo peculiar, o terá feito por simples diversão;
*Outra conhecida excentricidade de McFarlane consiste em dar o nome de pessoas reais às suas personagens. Hábito que, como já vimos, lhe rendeu alguns amargores no passado. Al Simmons, por exemplo, era o nome do seu antigo colega de quarto nos tempos de faculdade. Já Terry Fitzgerald é homónimo de um amigo e colaborador de longa data de McFarlane. Que também não teve pejo em emprestar à esposa de Al Simmons o nome da sua própria cara-metade;
*Apesar das suas capacidades de regeneração espontânea, num dos seus encontros com o Batman, Spawn impediu a cicatrização do ferimento que lhe fora infligido no rosto por um Batarangue. Preferindo, em vez disso, usar um simples cordão de sapatos para suturar grosseiramente a ferida, assim permanecendo durante várias semanas. Foi essa a forma encontrada pelo Soldado Infernal para preservar um último vestígio de humanidade;

O ferimento que serviu de lembrete
 da humanidade perdida por Al Simmons.
*Para evitar pagar direitos de autor a Rob Liefeld - cofundador da Image Comics e criador de Chapel, o primeiro assassino de Al Simmons - aquando da produção do filme de Spawn, McFarlane decidiu simplesmente alterar a identidade do carrasco. Ainda que haja sido criada especificamente para esse efeito, Jessica Priest seria retroativamente inserida na continuidade do Soldado Infernal, adquirindo assim estatuto canónico;
*A linha de bonecos de Spawn lançada pela McFarlane Toys - depois de falhado um acordo comercial com a Mattel -  revolucionou a indústria de figuras de ação baseadas em super-heróis. Muito mais detalhados e concebidos como itens colecionáveis de elevada qualidade, os bonecos de Spawn estabeleceram um novo paradigma obrigando a concorrência a reinventar-se;
*Spawn figura em 60º lugar na lista das 200 melhores personagens de banda desenhada de todos os tempos organizada pela revista Wizard. Já no Top 100 da plataforma digital de entretenimento IGN,  o ex-servo de Malebolgia ocupa a 36ª posição.

Noutros media

No mesmo ano em que o filme do Soldado do Inferno (já aqui esmiuçado) chegava aos cinemas de todo o mundo civilizado, estreava também a sua primeira série animada. No ar entre 1997 e 1999, no canal HBO, Todd McFarlane's Spawn conquistou dois Emmys e outros tantos Golden Reel Awards.
Uma nova série animada sem qualquer relação com a anterior estará atualmente em desenvolvimento, embora o respetivo título e data de estreia continuem no segredo dos deuses.
Confirmado está o nome do ator que irá suceder a Michael Jai White no papel de Soldado do Inferno. Jammie Foxx irá protagonizar o reboot de Spawn que, após sucessivos adiamentos, se encontra em fase de pré-produção.

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1997 marcou a estreia audiovisual de Spawn.
Nesse ano o Soldado do Inferno protagonizou um filme (cima)
e uma premiada série animada.

24 maio 2017

RETROSPETIVA: «SPAWN, O JUSTICEIRO DAS TREVAS»




  Al Simmons, oficial das Forças Especiais enviado em missão suicida, aceita servir o Inferno na sua batalha final contra o Céu. Só assim poderá reencontrar a sua amada e vingar-se de quem o traiu. Mas muda de ideias ao perceber o que está verdadeiramente em jogo.
 Apesar de fiel ao conceito original, aquele que foi o primeiro filme de super-heróis com um protagonista negro, ficou preso no Purgatório por conta de alguns pecadilhos.

Título original: Spawn (subtitulado no Brasil como O Soldado do Inferno)
Ano: 1997
País: Estados Unidos da América
Género: Ação/Terror/Fantasia
Duração: 96 minutos
Realização: Mark A.Z. Dippé
Produção: Todd McFarlane Entertainment 
Argumento: Alan B. McElroy 
Distribuição:  New Line Cinema
Elenco: Michael Jai White (Al Simmons/Spawn); John Leguizamo (Palhaço/Violador); Martin Sheen (Jason Wynn); Theresa Randle (Wanda Blake Simmons-Fitzgerald); Nicol Williamson (Cagliostro); D.B. Sweeney (Terry Fitzgerald); Melinda Clarke (Jessica Priest); Frank Welker (voz de Malebolgia)
Orçamento: 40 milhões de dólares
Receitas: 87,8 milhões de dólares

"Nascido nas trevas. Comprometido com a justiça."
Assim era apresentado Spawn num dos cartazes promocionais
do seu filme.
Desenvolvimento: Em larga medida, a ascensão meteórica da Image Comics* em meados da década de 1990 ficou a dever-se a Spawn. Foi ele, sem sombra de dúvida, o expoente máximo de uma editora que, apesar de neófita, disputava, à época, o pódio das vendas à Marvel e à DC.
Criado em 1992 por Todd McFarlane, Spawn, atraiu logo nesse ano a atenção da Columbia Pictures, que expressou o seu interesse em adaptá-lo ao cinema. As negociações nesse sentido acabariam contudo por não chegar a bom porto. Motivo: McFarlane sentia que o estúdio não lhe estaria a conceder suficiente controlo criativo sobre o projeto.
Em virtude dessa circunstância, McFarlane preferiu vender os direitos do filme à New Line Cinema - pelo simbólico preço de 1 dólar - em troca de supervisão criativa e das respetivas receitas de merchandising.



Todd McFarlane e Spawn:
criador e criatura  unidos pelo sucesso.
Ele próprio um fã de super-heróis, o, à data, presidente da New Line Cinema, Michael DeLuca, congratulou-se com a possibilidade de transpor ao grande ecrã uma personagem tão popular como Spawn. Importa notar que, nos anos que antecederam o lançamento do filme, o Soldado do Inferno era o campeão de vendas no ultracompetitivo mercado dos comics.
DeLuca acreditava, no entanto, ser possível manter a atmosfera lúgubre e violenta das histórias do Spawn sem alienar o filão adolescente, pelo que a película receberia classificação etária "para maiores de 13".
Como em qualquer produção deste género, os efeitos visuais seriam um dos vetores mais importantes. Mais ainda quando o projeto em causa exige uma miríade deles.
Assim, num primeiro momento, os efeitos especiais ficaram a cargo da Pull Down Your Pants, uma recém-fundada empresa do ramo que tinha como sócios três ex-artistas da Industrial Light & Magic (também ela ligada à produção): Mark A.Z. Dippé, Clint Goldman e Steve "Spaz" Williams.
Apesar de nunca antes se ter sentado na cadeira de realizador, Dippé foi o escolhido para dirigir a película. Goldman, por seu turno, tornar-se-ia coprodutor, ao passo que "Spaz" chamaria a si a supervisão dos efeitos especiais. O enredo, esse, foi confiado a Alan B. McElroy, que além de diversos números do título regular de Spawn, escrevera igualmente alguns episódios da sua série animada.
Praticamente um ilustre desconhecido, Michael Jai White (que, um par de anos antes, protagonizara um telefilme biográfico de Mike Tyson), foi o eleito para encabeçar um elenco no qual avultavam os consagrados Martin Sheen e John Leguizamo.
White considerou Al Simmons uma personagem aliciante e Spawn uma das figuras mais trágicas que alguma vez conheceu no cinema. Segundo ele, o grande desafio do papel consistiu em obter a simpatia dos espectadores para com um assassino ao serviço do Governo e recém-regressado do Inferno. Mais penoso seria, porém, o processo de caracterização a que o ator foi sujeito.
Além do uso de lentes de contacto amarelas que lhe irritavam os olhos e de uma máscara que lhe dificultava a respiração, White tinha de submeter-se a quatro longas horas de maquilhagem antes de entrar em cena. Valeu-lhe a sua longa experiência como lutador de artes marciais, que lhe garantiu a concentração e a força de vontade necessárias para suportar o enorme desconforto causado pelas próteses que faziam parte do seu elaborado figurino.

Michael Jai White (dir.) atento às indicações de Dippé
durante a rodagem de Spawn.
Dispondo inicialmente de um orçamento de 20 milhões de dólares, devido à escala e complexidade dos respetivos efeitos visuais, o custo final de Spawn cifrar-se-ia no dobro desse montante, ou seja, 40 milhões de dólares. Um terço dos quais seriam alocados precisamente à vertente técnica que incluía os efeitos especiais.
Uma vez que o cronograma da produção previa apenas 63 dias para as filmagens, estas decorreram a um ritmo frenético. Clint Goldman entendeu, ainda assim, ser esse um prazo excessivamente longo. Motivo pelo qual desembolsou 1 milhão de dólares para contratar também a Santa Barbara Studios, empresa de efeitos especiais responsável pela conceção das sequências digitais ambientadas no Inferno. Investimento avultado que permitiu encurtar em uma semana a rodagem da película.
Desenvolvidos por 22 empresas de 3 países (EUA, Canadá e Japão) e engajando um total de 70 profissionais, os efeitos especiais de Spawn demoraram perto de 11 meses a serem finalizados. E mesmo assim, mais de metade deles só foi entregue duas semanas antes da estreia do filme. Que aconteceu no primeiro dia de agosto de 1997, arrecadando logo no primeiro fim de semana em cartaz 19,7 milhões de dólares. Seria essa, de resto, a melhor receita de bilheteira obtida por Spawn em terras do Tio Sam.

A caracterização de Spawn revelou-se
um autêntico suplício para Michael Jai White.

As cenas mostrando a capa viva do herói
foram algumas das mais difíceis de conceber.

*Trajetória da Image em: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/02/fabricas-de-mitos-image-comics.html


Noutro dos posters promocionais do filme,
Spawn dividia protagonismo com o Palhaço e o seu meu horripilante
alter ego.
Enredo: Coronel das Forças Especiais dos EUA ao serviço de uma agência secreta dirigida por Jason Wynn, Al Simmons é designado para uma missão de sabotagem numa fábrica norte-coreana de armamento bioquímico. Tudo não passa, porém, de uma cilada montada pelo seu superior.
Jessica Priest, outra das assassinas de elite às ordens de Wynn, é incumbida por ele de executar Simmons. Cujo cadáver é, em seguida, queimado por Wynn, com as labaredas daí resultantes a provocarem uma enorme explosão na fábrica.
Chegado ao Inferno, Simmons depara-se com um dos seus regentes chamado Malebolgia. O demónio propõe-lhe um pacto faustiano: se Simmons aceitar servi-lo por toda a eternidade e comandar as suas legiões demoníacas durante o Armagedão, poderá regressar à Terra para rever a sua noiva, Wanda Blake.

A última missão de Al Simmons
valeu-lhe um passaporte para o Inferno.
Simmons aceita os termos do acordo com Malebolgia e regressa ao mundo dos vivos. Mas logo percebe ter sido trapaceado pelo demónio. Passaram cinco anos e Wanda está agora casada com Terry Fitzgerald, o melhor amigo do ex-noivo. Com o casal mora também a pequena Cyan, filha de Simmons nascida após a morte do pai.
Enquanto procura ajustar-se à nova e dolorosa realidade, Simmons é interpelado pelo Palhaço, um demónio enviado por Malebolgia para lhe servir de guia nos ínvios caminhos do Mal.

O sinistro Palhaço esconde
 um segredo ainda mais sinistro.
Quase ao mesmo tempo, Simmons trava conhecimento com um misterioso ancião de seu nome Cagliostro, também ele um antigo Soldado do Inferno. Mas que conseguira libertar a sua alma, combatendo agora sob o estandarte celestial.
É ele quem informa Simmons de que Jason Wynn é agora um poderoso senhor da guerra que desenvolveu o Heat 16, uma arma biológica capaz de erradicar a Humanidade da face da Terra.
Durante uma festa organizada por Wynn, Simmons ataca o seu antigo comandante, mata Jessica Priest e consegue escapar graças à armadura de necroplasma que faz dele um Spawn, um general do Inferno.
Na esteira do incidente, o Palhaço convence Wynn a implantar cirurgicamente um dispositivo no coração que libertará o Heat 16 na atmosfera caso os seus sinais vitais cessem. Wynn concorda, pois sabe que isso servirá para dissuadir novos atentados contra a sua vida.

Spawn tem velhas contas a ajustar com Jason Wynn.
Malebolgia tem no entanto outros planos. O mestre infernal de Spawn deseja provocar o Apocalipse. Ordenando, por isso, ao seu servo que tire a vida a Wynn.
Perante a recusa de Spawn em levar a cabo a missão que lhe foi atribuída por Malebolgia, o Palhaço transforma-se no Violador - um demónio hediondo - e espanca-o quase até à morte.
Resgatado por Cagliostro, Spawn aprende com ele a controlar a sua armadura. Cagliostro põe-no também ao corrente do plano de Wynn e do Violador para assassinar Wanda, Cyan e Terry.
Instantes após ter enviado um email a um amigo jornalista a incriminar Jason Wynn, Terry é surpreendido pela presença deste em sua casa com Cyan como refém.
Wynn destrói o computador de Terry e sequestra toda a família. Spawn entra em cena e quase mata o seu antigo superior. Para evitar a hecatombe que daí resultaria, Spawn extrai o dispositivo ligado ao coração de Wynn, em vez de destruí-lo.

Violador à solta.
Furioso, o Violador envia Spawn e Cagliostro para o Inferno, onde são ambos rapidamente subjugados pelas legiões de Malebolgia. No último momento Spawn consegue, porém, escapar levando consigo Cagliostro. Já recomposto da refrega, o Violador segue-lhes no encalço.
De volta à Terra, Spawn usa as suas correntes sencientes para decapitar o Violador. Mas nem isso é suficiente para o silenciar.
Ao mesmo tempo que a sua face começa a derreter como a de um boneco de cera, o demónio profere impropérios e juras de vingança.
Jason Wynn é preso e Al, percebendo que deixou de ter lugar no mundo de Wanda e Cyan, empreende uma solitária cruzada como justiceiro das trevas.

Trailer:


Curiosidades:

*Antes da escolha incidir sobre o e novato Mark A.Z. Dippé, Tim Burton (Batman) e Alex Proyas (O Corvo) foram os dois realizadores sondados para assumir a direção do filme. Ambos declinaram, contudo, o convite. Já para o papel principal Wesley Snipes (que, no ano seguinte, interpretaria Blade no cinema), Denzel Washington, Will Smith e Cuba Gooding Jr. foram alguns dos atores cogitados.
*Al Simmons era o nome do colega de quarto de Todd McFarlane nos seus tempos de estudante universitário. Wanda, Cyan e Terry Fitzgerald também homenageiam entes queridos do criador de Spawn (respetivamente, a esposa, a filha e o seu melhor amigo).
*Numa entrevista posterior à estreia da película, John Leguizamo contou que, certa vez, durante as filmagens, sentiu uma necessidade urgente de ir à casa de banho. Sucede que o fato de Palhaço demorava uma hora a vestir e outra a despir. Não lhe restando, pois, outro remédio senão aliviar-se dentro dele. Numa outra entrevista, o ator disse que usar o figurino em questão o fazia sentir-se como um pénis com um preservativo enfiado. Confessou ainda ter comido larvas vivas na cena em que a sua personagem devora uma piza em decomposição que encontrara num contentor de lixo.
*Na história original, Al Simmons é assassinado por Capela (Chapel), personagem que, por ser propriedade intelectual de Rob Liefeld, foi substituída no filme por Jessica Priest, criada especificamente para o efeito.

Melinda Clarke como Jessica Priest:
 femme fatale com uma costela sádica.
*Outra diferença relativamente aos quadradinhos prende-se com a cor da pele de Terry Fitzgerald. Que passou de negro a branco por exigência do estúdio de modo a prevenir que a predominância de personagens afro-americanas restringisse a audiência do filme a esse segmento social.
*Spaz, o nome do cão de Spawn, era a alcunha de Steve Williams, supervisor dos efeitos visuais do filme;
*Malebolgia foi o nome usado por Dante na Divina Comédia para se referir não ao Diabo propriamente dito mas aos poços transbordantes de insetos situados no sétimo círculo do Inferno, e onde os condenados à danação eterna eram enterrados de cabeça para baixo.
*Numa das cenas do filme, que precede a sua aterradora metamorfose, o Palhaço diz: "Eu não sou o Vingador, o Vitimizador, o Vaporizador ou sequer o Vibrador! Eu sou... o Violador!". Trata-se de uma alusão aos Irmãos Flebíacos, cães de fila do Inferno que, na banda desenha, além do próprio Violador, são compostos por Vaporizador, Vingador, Vandalizador e Vacilador.
Os Irmãos Flebíacos (Phlebiac Brothers)  em reunião familiar.
*Pese embora no filme Cagliostro seja apresentado como o mentor de Spawn,  a sua contraparte histórica foi um ocultista do século XVIII que viajou pela Europa e pelo Egito antes de fundar a Maçonaria Oculta. Era também um notório charlatão que, antes de ser expulso de França, passou pelos calabouços da Bastilha. Acabando mais tarde condenado em Roma por heresia, bruxaria e conjura. Apesar de, nos quadradinhos, a personagem ter como imagem de marca uma longa e espessa barba branca, Nicol Williamson - que teve em Cagliostro o seu derradeiro papel - recusou-se terminantemente a usar uma, mesmo que postiça.

Cagliostro antes e depois de uma visita ao barbeiro.
*Perto do final do filme, Jason Wynn é escoltado para fora da casa de Wanda e Terry por uma parelha de detetives. São eles Sam Burke e Twitch Williams, dois dos mais carismáticos coadjuvantes das histórias de Spawn, que até já tiveram direito a revista própria.
*Na festa que tem Jason Wynn como anfitrião, uma escultural ruiva, usando um vestido verde e uns brincos com o símbolo do Spawn, passeia-se discretamente entre os convivas. Trata-se de Angela, personagem que, antes da sua recente migração para o Universo Marvel, era uma caçadora de Spawns às ordens de Deus.
*Muito antes de Stan Lee se tornar um habitué no Universo Cinemático da Marvel, Todd McFarlane fez um cameo no filme baseado na sua criação suprema. É um dos muitos sem-abrigo que perambulam pela chamada Cidade dos Ratos.



Em Spawn, Laura Stepp emprestou por alguns segundos
 o seu corpo a Angela (acima), ex-caçadora de Spawns agora convertida
em primogénita de Odin e, portanto, irmã mais velha de Thor.
Prémios e nomeações: Apesar da reação adversa por parte da generalidade da crítica, Spawn arrebatou o prémio para Melhores Efeitos Especiais no Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha. Certame espanhol em que foi igualmente nomeado na categoria de Melhor Filme.
Essa não foi, porém, a única nomeação recebida. Nos Saturn Awards, Spawn levou ao rubro a disputa pelo galardão para Melhor Caracterização.
Por sua vez, Michael Jai White, John Leguizamo e Theresa Randle foram indicados, respetivamente, para Melhor Ator Estreante, Melhor Ator Secundário e Melhor Atriz Secundária nos Blockbuster Entertainment Awards.
Michael Jai White, Theresa Randle e Jonh Leguizamo
na passadeira vermelha da gala de estreia de Spawn.
Sequela, reboot ou uma mão cheia de nada?

Provisoriamente intitulado Spawn 2, desde 1998 que aquele que seria o segundo capítulo da saga cinematográfica do Soldado do Inferno permanece em banho-maria. Tudo por causa das críticas pouco simpáticas recebidas pelo primeiro filme, e do seu modesto desempenho de bilheteira.
Do projeto pouco se sabe além de que Michael Jai White repetiria o papel principal e que a sequela seria, em boa verdade, um reboot. Isto porque, a exemplo de Batman Begins, serviria para relançar uma franquia que começou coxa. Quem o garantiu foi o próprio Todd McFarlane numa entrevista concedida pouco tempo após a estreia do capítulo inaugural da trilogia do Cavaleiro das Trevas dirigida por Christopher Nolan. Estávamos então em 2005.
Dois anos depois, em 2007, o mesmo McFarlane confirmou, noutra entrevista, a sua intenção de produzir uma segunda longa-metragem de Spawn. Nem que, para isso, tivesse de pagá-la do próprio bolso. Mais dois anos se passaram e nada aconteceu.
Até que, em 2009, McFarlane devolveu alguma esperança aos fãs ao anunciar publicamente que já havia começado a escrever o enredo do novo filme. Baseado, ao que parece, numa história que trazia na cabeça há vários anos. E que seria muito mais aterradora do que aquela que foi apresentada em Spawn. McFarlane pretenderia, aliás, fugir aos clichés do género super-heroico, apesar de este nunca ter sido tão popular junto do grande público.
Seguiram-se vários anos marcados por avanços, recuos e muitos rumores à mistura. Até que, em fevereiro de 2016, McFarlane anunciou ter finalmente pronto o argumento do novo filme. Cuja rodagem, prometeu então, arrancaria dentro de meses. Mais uma vez, ficou-se pelas intenções.
Volvido um ano sobre o bombástico anúncio de McFarlane, são mais as dúvidas do que as certezas em relação a um projeto que parece enguiçado. Apesar disso,o criador de Spawn já começou a levantar a pontinha do véu, revelando alguns pormenores sobre o filme.
Foi assim que os fãs ficaram a saber que se tratará de um thriller sobrenatural com um registo mais macabro do que o primeiro filme e, por conseguinte, mais próximo do material original. Tal como os recentes Deadpool e Logan, a nova aventura cinematográfica de Spawn será pois destinada a uma audiência adulta.
Entretanto, nas últimas semanas começaram a circular rumores na internet acerca da possível contratação do oscarizado Jamie Foxx (Django Libertado) para interpretar o amargurado herói forjado nas entranhas do Inferno.
O tempo dirá, porém, se haverá fogo por detrás de tanta fumaça. Ou se, pelo contrário, será apenas mais uma salva de tiros de pólvora seca...

Jamie Foxx como Al Simmons e Scarlett Johansson como Ângela
num novo filme do Spawn?
Ver para crer!

Veredito: 58%

Vinte anos passados, já quase tudo foi dito acerca de Spawn, havendo portanto pouco a acrescentar. Para grande desgosto dos fãs, boa parte daquilo que foi sendo dito e escrito ao longo desse tempo serviu quase exclusivamente para depreciar um filme que, à partida, teria tudo para ser uma referência dentro do género super-heroico.
Do meu ponto de vista, o grande problema de Spawn foi ter tentado agradar a  gregos e a troianos. E, como quase sempre sucede em casos desses, acabou por desagradar a toda a gente. Senão vejamos: para compensar a derrapagem orçamental da produção, McFarlane e companhia tiveram de ir ao encontro de um público mais abrangente. Tendo, para isso, transformado Spawn em algo que ele nunca foi: um super-herói.

Quem dera a muitos filmes atuais
 este grau de fidelidade aos quadradinhos.
Ao fazê-lo, defraudaram as expectativas dos verdadeiros fãs de uma personagem que, pela sua índole e modus operandi, está muito mais próxima do protótipo de anti-herói. Quem, por outro lado, esperava um escuteiro sorridente sempre pronto a resgatar gatinhos do cimo das árvores ou a ajudar velhinhas a atravessar a rua, deverá ter ficado chocado com a violência dos métodos do Soldado do Inferno. Mesmo tendo a sua ética sido amenizada de molde a corresponder a uma classificação etária que, bem vistas as coisas, praticamente só deixava de fora os bebés prematuros.
A par da trama demasiado simplista, é esse o principal pecadilho de Spawn. Que, ainda assim, não merecia a descida ao Inferno que muitos críticos lhe impuseram. Sobretudo quando o comparamos com o inenarrável Batman & Robin, estreado apenas algumas semanas e que, apesar do orçamento três vezes superior ao de Spawn, continua a ser uma nódoa na história do Universo Cinematográfico DC.
Mesmo a esta distância, Spawn - não sendo, de facto, uma obra-prima - continua a ser um filme que cumpre exemplarmente a sua missão de entreter o espectador. Tanto pelo seus inovadores efeitos visuais como pelas espetaculares sequências de ação; quer, ainda, pelo alívio cómico propiciado pelo Palhaço a uma trama carregada de elementos trágicos.
Com efeito, esta é uma daquelas películas em que o herói - tal como se verificou, por exemplo, em O Cavaleiro das Trevas (2008) - é ofuscado pelo carisma do vilão. Não porque Michael Jai White não consiga dar boa conta do recado enquanto Spawn, mas porque o Palhaço - magistralmente interpretado por John Leguizamo-  lhe rouba cada cena.
Em suma, o Purgatório onde Spawn ficou preso é, pois, o castigo pela falta de coragem dos seus autores em darem aos fãs o que eles esperavam e mereciam. Erro que espero ver corrigido no prometido reboot da franquia.
Enquanto este sai e não sai, aproveitem para ver - ou rever - o filme original. Verão que vale a pena.

Uma cria do Inferno
à espera de ser resgatada do Purgatório.


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