20 maio 2021

HERÓIS EM AÇÃO: JUIZ DREDD


  Num futuro distópico sob o signo do autoritarismo, polícias urbanos são juízes, júris e executores. Mas nenhum é tão temido como aquele que representa a face empedernida da Lei. No implacável tribunal das ruas, o seu nome ecoa como uma sentença de morte.

Denominação original: Judge Dredd
Editoras: Fleetway/ IPC Media (1977-2000); Rebellion Developments (desde 2000)
Criadores: Pat Mills (nome), John Wagner (conceito) e Carlos Ezquerra (arte conceptual)
Estreia: 2000 A.D. #2 (março de 1977)
Identidade civil: Joseph Dredd
Espécie: Humano
Local de nascimento: Mega City 1
Parentes conhecidos: Eustace Fargo ("pai"); Rico Dredd (irmão gémeo, falecido); Vienna Dredd (sobrinha); Jessica Paris (clone); Dolman (clone)
Ocupação: Juiz de Rua
Base operacional: Mega City 1
Afiliações: Departamento de Justiça de Mega City 1
Némesis: Juiz Morte
Poderes e parafernália: Dredd é o Juiz supremo, um agente veterano e altamente treinado da melhor força policial alguma vez criada. Especialista em técnicas de autodefesa, é exímio no combate corpo a corpo. O seu físico imponente torna a sua presença intimidante em qualquer contexto. Também já provou possuir força superior à de um homem da sua idade e tamanho. É frequente derrubar adversários mais corpulentos com um único golpe.
Por razões nunca explicitadas, Dredd é imune a sondagens telepáticas e ataques psíquicos. Nem a Juíza Anderson, sua ocasional parceira precognitiva, lhe consegue perscrutar a mente. Este talento reveste-se de grande utilidade, considerando a profusão de mutantes telepatas recenseados em Mega City 1.
Do equipamento-padrão dos Juízes de Rua fazem parte uma espingarda compacta com munição de alto calibre, um bastão extensível com preenchimento de titânio e uma faca balística. Originalmente, Dredd dispunha também de um detetor de mentiras portátil. Apesar de virtualmente infalível, o aparelho depressa seria descartado pelos argumentistas, a fim de evitar óbvios constrangimentos narrativos.
O uniforme de Dredd é isotérmico e  reforçado por uma liga especial de plástico e aço, assegurando-lhe proteção eficaz contra esfaqueamentos ou ataques com outro tipo de objetos contundentes. Depois de ter tido as suas córneas danificadas em combate, Dredd recebeu implantes biónicos que lhe proporcionam visão noturna de elevadíssima resolução. 
Fabricado com o mesmo material ultrarresistente do seu uniforme, o capacete de Dredd possui um comunicador e um respirador embutidos, além de uma viseira polarizada.
No entanto, a verdadeira coqueluche do arsenal ambulante de qualquer Juiz de Rua é a Lawgiver. Trata-se de uma sofisticada pistola programada para reagir apenas à impressão palmar do respetivo usuário, autodestruindo-se se manuseada por outrem. A Lawgiver usa seis tipos de munição diferentes: balas comuns, de borracha, de rastreamento, perfurantes, incendiárias e explosivas. Pode ainda efetuar disparos paralisantes, embora careça, para esse efeito, de munição especial.

A munição incendiária da Lawgiver
 incinera instantaneamente os seus alvos.

Nas suas ações diárias de patrulhamento urbano, Dredd faz-se habitualmente transportar na sua Lawmaster. Um motociclo de alta cilindrada, com blindagem antibala, dois pequenos canhões montados nas laterais e um feixe laser de alta precisão embutido centralmente. Equipada com inteligência artificial, esta autêntica máquina de guerra de duas rodas responde aos comandos vocais do seu usuário, pode operar autonomamente e dispõe de um sistema de videocomunicação integrado. A interface do veículo com o Departamento de Justiça permite, adicionalmente, receber e transmitir informação em tempo real. Apesar da Lawmaster ser o meio de transporte favorito de Dredd, ele já foi visto a montar um alazão negro chamado Henry Ford (em homenagem ao visionário da indústria automóvel americana) e até um alce(!).
Ao cabo de décadas a policiar as violentas ruas de Mega City 1, tendo sobrevivido a incontáveis atentados contra a sua vida, Dredd desenvolveu sentidos aguçados quase ao nível de um felino. Graças a eles e ao seu instinto apurado, raramente é apanhado de surpresa. Tanto mais que é também um perito em contraguerrilha urbana.
Apesar de enfrentar ameaças tão diversificadas como mutantes, canibais ou juízes exterminadores de outra dimensão, Dredd confia plenamente nas suas capacidades. Porque ele é o braço forte da Lei, a Justiça com nervos de aço que não vacila perante nada nem ninguém.

Lawmaster, máquina de guerra de duas rodas.
 
Fraquezas: Em virtude da sua condição humana, Dredd é tão suscetível a maleitas, ferimentos e lesões incapacitantes como qualquer outra pessoa. Anos atrás, foi-lhe diagnosticado um tumor benigno no duodeno que, apesar de operável, representou um memento mori. Também os seus olhos biónicos podem ser permanentemente inutilizados por um pulso eletromagnético, deixando-o cego e indefeso em plena batalha. 
O principal ponto fraco de Dredd radica, porém, no seu fanatismo. O zelo apostólico com que aplica a Lei afeta-lhe o discernimento e isenta-o de empatia. Desse desacoplamento moral resulta a sua incapacidade para julgar de forma diferenciada delitos graves e infrações menores (como atirar lixo para o chão ou atravessar a rua fora da passadeira) cometidas pelos cidadãos que deveria proteger. Para ele, mais importante do que salvar inocentes é castigar os culpados. Dredd personifica, em última análise, a Justiça desumanizada que atua de forma arbitrária e sem autocrítica.

Fascismo chic

Quando, no final de 1976, o veterano editor da Fleetway, Pat Mills, preparava o lançamento de um novo magazine de ficção científica, convidou o escritor John Wagner a assessorá-lo no desenvolvimento de personagens para o número inaugural. Pouco tempo antes, Wagner idealizara um polícia austero ao estilo de Dirty Harry e sugeriu-o como mote. Mills, por seu turno, escrevera uma tira de terror chamada Judge Dread (Juiz Pavor, em tradução livre), tomando emprestado o pseudónimo artístico de Alexander Minto Hughes, um cantor britânico de reggae. Apesar de a ideia ter sido descartada, o nome, com a grafia alterada para "Dredd" por sugestão do subeditor Kelvin Gosnell, acabaria por ser aproveitado para o novo projeto.
A conceção visual do Juiz Dredd ficou a cargo de Carlos Ezquerra, artista espanhol (já falecido) que colaborara anteriormente com Mills em Battle Picture Weekly, uma antologia de contos de guerra ilustrados também editada com a chancela da Fleetway. 
Como sugestão de aparência, Wagner forneceu a Ezquerra um poster promocional do filme Death Race 2000  em que pontuava uma burlesca figura vestida de couro preto ao volante de um potente bólide. Tratava-se de Frankenstein, anti-herói de um futuro distópico interpretado por David Carradine.

A  inspiração para o visual de Dredd.

A esse já de si bizarro figurino, Ezquerra adicionou um sortido de adereços retirados da memorabilia punk: ombreiras, joelheiras, fechos e correntes. O resultado final desagradou, contudo, a Wagner, que comparou a personagem a um pirata espanhol. Ademais, a tecnologia e as paisagens urbanas imaginadas por Ezquerra eram demasiado futuristas para o primeiro quartel do século XXI que fora escolhido como enquadramento. A solução passou, então, por transplantar a história para o século XXII, cabendo a Mills fazer os ajustes necessários à narrativa original.
Mills baseou a caracterização do Juiz Dredd num dos seus antigos professores do colégio católico onde estudara na infância. Tal como essa figura do mundo real, Dredd seria um excelente profissional, mas também um disciplinador excessivamente rígido e, a espaços, abusivo. 
Por essa altura, Wagner, desiludido com o fracasso de uma proposta de compra do seu conceito por outra empresa, tinha já desistido de participar no projeto. Relutante em abrir mão do seu conceito, Wagner incumbiu vários escritores freelance de aprimorá-lo. Em consequência desse constrangimento de última hora, a história não ficaria pronta a tempo do lançamento do primeiro número de 2000 AD.
Por fim, a história escolhida para apresentar o Juiz Dredd aos leitores saiu da pena de Pete Harris. Por considerá-la demasiado violenta, o conselho de administração da Fleetway vetou-a sem apelo nem agravo. Uma vez mais, a solução passou por Mills reescrever a história, alterando-lhe inclusivamente o final.
Contrariamente ao previsto, não foi Ezquerra a assumir a respetiva arte, mas o recém-chegado Mike McMahon. Decisão que originou alguns atritos no seio da equipa criativa, com Ezquerra a não esconder o seu desagrado por ter sido preterido. 

Carlos Ezquerra (esq.) e John Wagner.

Dredd fez a sua mise-en-scène no segundo número de 2000 AD (março de 1977) e não deixou ninguém indiferente. Desde logo porque o seu rosto inteiro nunca era mostrado, conferindo-lhe uma aura de mistério e desumanidade. De facto, o que começou por ser uma diretriz não oficial, rapidamente se transformou num sacramento. A ideia era que Dredd simbolizasse a Justiça anónima e sem alma. Aquela que não poupava ninguém e que infundia temor. Mais do que um homem, Dredd era, pois, um instrumento repressivo do sistema.
Nos esboços iniciais de Ezquerra, Dredd possuía lábios grossos, tornando ambígua a sua origem racial. Nem todos os artistas que passaram pela tira levaram, porém, esse pormenor em conta. Ao passo que McMahon desenhou Dredd como um afro-americano, outros, como Brian Bolland, atribuíram-lhe traços caucasianos. Diferenças que passaram despercebidas aos leitores, porquanto a tira era impressa a preto e branco. De todo o modo, com o tempo essa ideia seria abandonada prevalecendo o biótipo branco do herói. 
Nas suas primícias, a tira de Dredd era uma sátira mordaz à burocracia e à violência policial. Caricatura da autoridade, Dredd interpretava literalmente as leis, sem atenuantes e sem compreender o espírito das mesmas.

Nos esboços iniciais de Dredd,
os lábios carnudos sugeriam uma origem não-caucasiana.

O envoltório espampanante de Dredd combinava de forma pouco harmoniosa elementos retirados da iconografia fascista (capacete e águia como insígnia) com os já citados elementos da estética punk. Uma associação contranatura explicada pelo facto de Ezquerra ter crescido sob o regime franquista na sua Espanha natal e de ter presenciado de perto o nascimento da contracultura punk em terras de Sua Majestade. 
Essa ênfase no fascismo chic empurrou a personagem para um inusitado território narrativo. Em algumas histórias, Dredd era o herói, noutras o vilão, e, muitas vezes, sequer era o protagonista. Consequentemente, a sua tira semanal transitou por diferentes géneros: ficção científica, terror, comédia, etc. Sempre pautada por um humor coriscante, fez particular furor durante o consulado conservador de Margaret Thatcher. 
Inicialmente, as histórias de Dredd eram ambientadas no ano 2099. No entanto, contrariamente ao que é habitual na banda desenhada, aplicam-se-lhe as leis do tempo. Cada ano na tira corresponde a um ano na vida real. Por conseguinte, Dredd, que contava 33 anos em 1977, é hoje um octogenário e o decano dos Juízes de Rua. Após muita controvérsia e especulação, em 2016 foi finalmente revelado o segredo da sua jovialidade: tratamentos de rejuvenescimento. Dredd submete-se ciclicamente a eles, tendo a sua epiderme, tecido muscular e sistema vascular reconstruídos ao nível celular. É assim que se mantém eternamente jovem e vigoroso.
Às suas histórias serve de cenário um futuro distópico em que sucessivos conflitos em grande escala transformaram grande parte do planeta num imenso deserto radioativo chamado Terra Amaldiçoada. Quais oásis de civilização, gigantescos aglomerados urbanos acomodam milhões de pessoas. Mega City 1 é a maior dessas megalópoles. No seu interior, a automatização extensiva deixou a maioria da população desempregada, pelo que a criminalidade atinge níveis estratosféricos. Embora existam outras megacidades, grande parte da geografia mundial é vaga.
Além de ser um caso raro de longevidade editorial no Reino Unido (marcando presença em mais de mil edições de 2000 AD e dos seus próprios títulos), Dredd afirmou-se também na outra margem do Atlântico. Em 1983, a IPC (proprietária da Fleetway) lançou uma subsidiária nos EUA - a Eagle Comics -,  a qual distribuía, essencialmente, reimpressões das tiras originais.
À parte algumas minisséries lançadas pontualmente pela IDW Publishing, Dredd não tem sido visto com muita frequência em terras do Tio Sam. Por contraponto, na Velha Albion continua a ser a figura de proa do magazine 2000 AD, agora publicado pela Rebellion, uma produtora de jogos de vídeo convertida em editora de quadradinhos.
Semana após semana, Dredd continua a arrastar uma legião de fãs de diferentes gerações e parece ter ganho novo fôlego com o totalitarismo sanitário que vai fazendo o seu caminho à boleia da pandemia de Covid-19. Com a indústria britânica de quadradinhos a fazer ponto de honra que o seu maior ícone seja também o mais subversivo.

2000 AD continua a ter Dredd como astro principal.


Juiz Supremo

O Sistema de Juízes foi idealizado por Eustace Fargo, Procurador Especial nomeado pelo Governo entre 2027 e 2031, em resposta à onda de criminalidade violenta que empurrava a sociedade americana para a anarquia. Ultrapassada a resistência do Congresso, que contestava a suspensão do Estado de Direito, o plano de Fargo foi aprovado com o inequívoco apoio do povo e do próprio Presidente.
Investidos de autoridade para agirem como juízes, júris e executores, os membros da nova força policial de elite conseguiram suster o crime e a desordem que campeavam um pouco por todo o país. Enquanto os Juízes de Rua assumiam o patrulhamento urbano, os Juízes Administrativos encarregavam-se dos procedimentos burocráticos. A incorruptibilidade de uns e outros era, aparentemente, preservada pelo Conselho Superior da Magistratura - ainda que alguns dos seus membros tenham, também, infringido a Lei. 
No rescaldo da III Guerra Mundial (2070) e da descoberta de que o Presidente em funções adulterara o processo eleitoral, os Juízes invocaram a "mãe de todas as leis" (a  Constituição dos EUA) para derrubarem o Governo federal e legitimarem a sua consequente tomada do poder. 
Sempre estribados no forte apoio dos seus concidadãos, os Juízes extinguiram o cargo presidencial e indigitaram o Juiz-Chefe como novo líder da nação. Com o passar dos anos, o Sistema de Juízes disseminou-se por quase todo o globo, tornando-se o modelo mais comum de governação na viragem do século XXI.
Pouco anos antes, em 2066, Joseph e Rico Dredd haviam sido clonados a partir do ADN do Juiz-Chefe Fargo, dado como morto no cumprimento do dever. A ideia era criar uma estirpe superior de Juízes, que serviria de modelo aos restantes. Nesse sentido, o crescimento dos gémeos foi artificialmente acelerado durante a gestação. 
Em resultado desse processo de bioengenharia, eles nasceram com o desenvolvimento fisiológico e mental de uma criança de 5 anos, com conhecimento e treino adequados às futuras funções já implantados nos seus cérebros. Ufano do seu trabalho, o  cientista que os criou escolheu o apelido Dredd  para instilar medo na população. 


Os gémeos Joseph e Rico Dredd
 nos teus tempos de cadetes na Academia de Direito.

Chamados, uma vez mais, a restaurar a ordem e o primado da Lei, os Juízes tiveram os seus poderes ainda mais reforçados no pós-guerra. Sob a supervisão de um Juiz sénior, os irmãos Dredd, cadetes recém-admitidos na Academia de Direito, foram nomeados Juízes temporários. Apesar de serem apenas crianças, eles cumpriram exemplarmente a sua missão, exibindo sangue-frio quando foram obrigados a tirar a vida a criminosos.
Num feliz acaso, Joseph e Rico descobriram que o seu "pai", o Juiz-Chefe Fargo, estava afinal vivo e de boa saúde. Agora um crítico acerbo do sistema que ajudou a fundar, Fargo partilhou com os "filhos" as suas dúvidas acerca das virtudes do Departamento de Justiça. E, sobretudo, em relação à forma como este sonegara liberdades e direitos para erigir um estado policial sobre as ruínas da democracia. Contudo, nenhum dos irmãos questionou o papel que o sistema lhes atribuíra e Fargo, por conta das suas diatribes, foi colocado em animação suspensa.
De regresso à Academia de Direito, os irmãos Dredd destacaram-se dos restantes cadetes pela sua disciplina e eficiência. Rico formou-se em primeiro lugar na classe de 79, logo seguido por Joseph. A rivalidade corria-lhes no sangue, com Rico a superar invariavelmente o irmão. Apesar disso, mantiveram-se inseparáveis até o destino intervir. 
Anos mais tarde, ao tomar conhecimento de um esquema de extorsão montado por Rico, Joseph não hesitou em prender o irmão. Finalmente livre da sombra de Rico, ele logo conquistou a reputação de Juiz supremo de Mega City 1, a caótica e sobrepovoada megalópole que ocupa o território correspondente à antiga Costa Leste dos EUA.
No implacável tribunal das ruas da sua cidade, Dredd é a Lei e o seu nome ecoa como uma sentença de morte.

Justiça sem rosto.


Miscelânea

*Numa alusão à expressão granítica de Dredd é à rigidez da sua conduta, os seus tutores da Academia de Direito deram-lhe a alcunha de Velho Cara de Pedra. Nas ruas de Mega City 1, o mais famoso dos Juízes é também conhecido por Homem Morto e Rei Queixo (devido à mandíbula proeminente que é sua imagem de marca);
*Em mais de quatro décadas de publicação, Dredd quase nunca removeu o capacete. Numa das raríssimas ocasiões em que o fez (2000 AD #7), a imagem foi sombreada e o diálogo que a acompanhava sugeria que o seu rosto seria horrivelmente desfigurado. Numa outra ocasião, quando assaltantes surpreenderam Dredd no seu apartamento durante a madrugada, ficou implícito que ele dormiria de capacete. Houve ainda uns quantos flashbacks mostrando o rosto de Dredd na puberdade mas, fora isso, a sua verdadeira aparência permanece uma incógnita;
*Dredd é o autor de A Conduta do Juiz, compêndio usado para doutrinar subliminarmente os candidatos a Juízes com recurso às máquinas de sono;
*Num raro momento de lazer, mostrado em 2000 AD #33, Dredd foi visto a ler Crime e Castigo, a obra-prima de Dostoievski, que se presume ser o seu livro favorito;
*Embora vigente no ordenamento jurídico de Mega City 1, a pena capital raramente é aplicada. Em contrapartida, as execuções sumárias motivadas por resistência à autoridade são corriqueiras;
*Dredd está legalmente habilitado a unir duas ou mais pessoas pelos laços do matrimónio, assim como a oficializar divórcios;
*A Classe de 79 da Academia de Direito incluiu um número excecionalmente alto de juízes moralmente enviesados. Rico Dredd, Gibson e Raider traíram o seu juramento solene e foram sumariamente executados por Dredd. Após ser encontrado na posse de imagens indecorosas, o Juiz Nestor foi destacado para administrar uma colónia penal na Terra Amaldiçoada, acabando por suicidar-se no seu posto. Já o Juiz Kimble foi preso devido a um esquema de peculato. Por fim, a conduta do próprio Dredd, apesar de completamente legal, causou a morte a 500 milhões de pessoas durante a Guerra do Apocalipse, naquele que foi considerado o maior genocídio da História;
*Dredd tem como arqui-inimigo o Juiz Morte, líder dos Juízes Negros originários de uma dimensão paralela onde a vida foi criminalizada. No fundo, o Juiz Morte é um reflexo distorcido do próprio Dredd;

Para o Juiz Morte, a vida é o crime supremo.

*Em 2012, o Juiz Dredd foi uma das dez personagens dos quadradinhos britânicos homenageadas numa série especial de selos emitidos pelo Royal Mail. Isto depois de, no ano anterior, ter sido escolhido para figurar na capa da edição europeia da antologia 1001 Comics You Must Read Before You Die;
*Espremido entre Spawn (Image Comics) e Preacher (DC), o Juiz Dredd surge em 35º lugar entre os 100 melhores super-heróis de todos os tempos selecionados em 2011 pelo IGN;
*I Am the Law, um dos temas mais conhecidos da banda americana de trash metal Anthrax, foi inspirado no Juiz Dredd. O grupo lançou também um single com a imagem do herói estampada na capa;
*Dredd é frequentemente invocado no âmbito de debates sobres estados policiais, autoritarismo e direitos humanos organizados em fóruns britânicos. Aos olhos de muitos políticos e académicos, ele representa uma das melhores sátiras do justicialismo fascizante arreigado na cultura anglo-saxónica;
*À semelhança de tantas outras obras de ficção científica, as histórias de Dredd anteciparam, com estranha precisão, diversas tendências e acontecimentos futuros. Foram os casos, por exemplo, da obesidade epidémica, do advento dos reality shows televisivos, da ascensão dos políticos populistas, da vigilância em massa e da arte urbana como instrumento subversivo. Por realizar estão ainda as competições de taxidermia humana e o túnel submarino entre as ilhas britânicas e a Costa Leste dos EUA;

Dredd imortalizado na capa do single mais famoso dos Anthrax.

*No Brasil, as histórias do Juiz Dredd foram inicialmente publicadas pela EBAL que, em 1979, as incluiu no alinhamento do seu magazine Ano 2000 (versão traduzida de 2000 AD). A partir da década de 1990, da Abril à Mythos, passando pela Pandora Books, foram várias as editoras a assumirem a publicação desse material em terras de Vera Cruz. Ao passo que, em Portugal, o ineditismo de Dredd foi apenas interrompido em 1995, quando a Meribérica, numa tentativa de capitalizar a estreia cinematográfica do herói nesse mesmo ano, lançou o crossover Batman / Juiz Dredd: Julgamento em Gotham;
*Já adaptado a diferentes media, foram até ao momento produzidos dois filmes do Juiz Dredd: A Lei de Dredd (1995), com Sylvester Stallone como protagonista, e Dredd (2012), com Karl Urban como cabeça de cartaz. Apesar do pífio desempenho comercial de ambos, serviram para reforçar o  estatuto de totem da cultura popular de uma personagem que Hollywood descaracterizou grosseiramente. 

Dois juízes, o mesmo veredito: fiasco!




*Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à norma europeia da Língua Portuguesa.
*Resenha do filme Dredd disponível para leitura complementar.