28 junho 2018

HERÓIS EM AÇÃO: SUPER-HOMEM


  Ao fazer da Terra o seu lar, um órfão das estrelas tornou-se filho de dois mundos sem realmente pertencer a qualquer um deles. A par da sua incessante luta pela Verdade e pela Justiça, aprender o significado de ser humano foi desde sempre o maior desafio deste estranho visitante, que apenas quer ser um de nós. 


Nota prévia: É altamente recomendável a leitura do artigo precedente, por forma a obter uma melhor compreensão da génese do Super-Homem, da sua importância enquanto precursor da Idade de Ouro da banda desenhada e do contencioso judicial desencadeado pelos respetivos direitos autorais.

Denominação original: Superman 
Licenciadora: Detective Comics (DC)
Criadores: Jerry Siegel (história) e Joe Shuster (arte conceitual)
Estreia: Action Comics nº1 (junho de 1938)
Nome verdadeiro: Kal-El (originalmente Kal-L)
Identidade civil: Clark Joseph Kent
Espécie: Alienígena 
Local de nascimento: Kryptonopolis ( cidade elevada a capital do planeta Krypton na sequência da abdução de Kandor perpetrada por Brainiac) 
Parentes conhecidos: Jor-El e Lara Lor-Van (pais biológicos, falecidos); Jonathan e Martha Kent (pais adotivos, falecidos); Zor-El e Alura In-Ze (tios, falecidos); Kara Zor-El/Supergirl (prima); Lois Lane (esposa) e Jonathan Samuel Kent (filho)
Profissão: Ex-agricultor, repórter e aventureiro
Afiliações: Membro fundador da Liga da Justiça e líder da Super-Família 
Base operacional: Metrópolis, Torre de Vigilância (satélite da Liga em órbita geoestacionária) e Fortaleza da Solidão (localizada algures no Ártico) 
Armas, poderes e habilidades: "Mais rápido do que uma bala! Mais forte do que uma locomotiva! Capaz de galgar prédios altos de um só salto!". Empregue pela primeira vez na série animada produzida pelos Irmãos Fleischer nos anos 1940 (ver Noutros media), esta descrição tradicional dos poderes do Super-Homem tornar-se-ia icónica mitologia do herói e na cultura popular do último século.
Contudo, o catálogo de poderes e habilidades do Último Filho de Krypton, bem como a respetiva magnitude, variou consideravelmente ao longo dos anos.
Na sua conceção original, e tal como descrito nas suas primeiras histórias, os poderes do Super-Homem eram limitados. Consistindo os mesmos em força sobre-humana - que lhe permitia, por exemplo, erguer um automóvel sobre a cabeça - correr a velocidades incríveis e pular grandes distâncias. A sua relativa invulnerabilidade era explicada pelo facto de possuir uma pele muito resistente, que nem balas ou outros projéteis conseguiam trespassar.
Quando os Irmãos Fleischer criaram aquela que seria a primeira série animada do Super-Homem, os constantes saltos do herói revelaram-se inconvenientes para o projeto, pelo que foi pedido à DC que os substituísse pela capacidade de voar.
Durante a Idade da Prata, os escritores que passaram pelas histórias do Homem de Aço incrementaram gradualmente os seus poderes para níveis cada vez mais elevados. Do seu arsenal clássico de poderes faziam parte, então, o voo, a superforça, a invulnerabilidade, os super-sentidos, a supervelocidade, o sopro congelante e uma gama de poderes óticos onde pontificava a visão de raios-X, térmica, microscópica e telescópica.
A este verdadeiro índice de superpoderes, foram ainda acrescentadas algumas habilidades insólitas. A saber, o super-ventriloquismo, o super-hipnotismo, gritos sónicos com mais de um milhão de decibéis e um super-beijo indutor de amnésia - o mesmo que, no filme Superman II, o herói usou para apagar as memórias de Lois Lane acerca da sua identidade secreta.
Era também comum, nesse mesmo período histórico, o Super-Homem voar através de galáxias ou deslocar planetas das suas órbitas. Como resultado, era tarefa cada vez mais complicada para os escritores das suas histórias desencantarem desafios credíveis para um herói que resvalava alegremente para a omnipotência.
Imagem relacionada
Não havia limites para as proezas do Super-Homem da Idade da Prata.
Até mesmo rebocar planetas  era uma tarefa corriqueira.
Houve então a necessidade de diminuir o poderio do Super-Homem, Várias tentativas foram ensaiadas ao longo dos anos, mas seria John Byrne a solucionar o problema em 1986. Na aclamada saga Man of Steel (já aqui esmiuçada), o escriba canadiano estabeleceu uma série de obstáculos intransponíveis para as habilidades do Super-Homem.
De há uns anos a esta parte, os níveis de poder do Homem de Aço têm vindo, porém, a aumentar novamente. Nas suas encarnações mais recentes, o herói consegue sobreviver a detonações nucleares ou viajar no espaço sideral sem oxigénio.
A fonte dos poderes do Super-Homem também nem sempre foi a mesma. Aquando do seu debute em Action Comics nº1, foi explicado que as suas capacidades sobre-humanas advinham da sua herança kryptoniana, que o tornava fisicamente mais evoluído do que os humanos. Mais tarde seria, contudo, estabelecido que a sua fisiologia kryptoniana lhe permitia, afinal, absorver a energia de estrelas amarelas como o nosso Sol. De acordo com esta explicação - tornada canónica- o organismo do Super-Homem funciona como uma espécie de bateria solar que absorve e armazena constantemente a energia emanada pelo Astro-Rei.
Não são, no entanto, apenas os seus assombrosos poderes que fazem do Super-Homem primus inter pares. O seu carisma e idealismo inspiram muitas vezes aqueles que o rodeiam e a sua vontade inquebrantável impele-o sempre a lutar por aquilo em que acredita. Além disso, o Homem de Aço é também um exímio lutador corpo a corpo e possui um quociente de inteligência difícil de quantificar numa escala humana. Dispondo, ademais, do acesso à mais sofisticada tecnologia kryptoniana na sua Fortaleza da Solidão.

Super-Homem desenhado por Joe Shuster, seu cocriador.

Vulnerabilidades: A despeito do seu enorme poderio e da sua virtual indestrutibilidade, o Homem de Aço é mortal e pode ser ferido. Desde logo por qualquer forma de magia ou feitiçaria, às quais é tão suscetível como qualquer pessoa comum.
O chumbo, por outro, lado bloqueia a sua visão de raios-X e demais poderes óticos. Ironicamente, esse é também o único material na Terra capaz de proteger o Super-Homem dos devastadores efeitos que a kryptonita surte no seu organismo.
Na sua variante mais comum - a verde, embora exista kryptonita de cores e efeitos diversos - esses detritos radioativos do seu planeta natal enfraquecem o Homem de Aço, causando-lhe náuseas e dores lancinantes. Uma exposição prolongada à kryptonita poderá mesmo ser-lhe fatal ou, no caso da sua variante dourada, resultar na perda definitiva dos seus poderes.
Sendo, como vimos, o sol amarelo da Terra a fonte dos poderes do Super-Homem, o herói é enfraquecido quando privado de luz solar durante longos períodos de tempo. O mesmo sucede quando é exposto à radiação - natural ou artificial - de um sol vermelho igual ao que aquecia e alumiava Krypton.

Imagem relacionada
Kryptonita, um presente envenenado para o Homem de Aço. 

Origem

Apesar de, ao longo dos anos, ter sido objeto de sucessivas revisitações, a origem do Super-Homem manteve-se, na sua essência, inalterada. Sendo, também por isso, do conhecimento geral, mesmo entre aqueles para quem o conceito de super-heróis é pouco ou nada apelativo.
Filho de Jor-El e Lara, o bebé Kal-El foi enviado para a Terra a bordo de uma nave construída pelo seu pai, instantes antes da explosão de Krypton. Chegado ao nosso planeta, foi adotado por Jonathan e Martha Kent, um simpático casal de agricultores do Kansas que o batizaram de Clark Kent.
Após passar a infância e a adolescência em Smallville - como Superboy, em algumas versões da história - , já adulto Clark mudou-se de armas e bagagens para Metrópolis. Na Cidade do Amanhã arranjou emprego como repórter do Daily Planet, onde travou amizade com o fotógrafo Jimmy Olsen e se perdeu de amores por Lois Lane, sua colega de profissão.
Secretamente, porém, Clark Kent usava os seus fabulosos poderes para lutar pela Verdade e Justiça ao melhor estilo americano como Super-Homem.
Clara alegoria dos imigrantes em busca do Sonho Americano, na origem do Super-Homem é possível identificar também diversos elementos religiosos. Desde logo o paralelismo existente entre a jornada do pequeno Kal-El e a de Moisés, o principal profeta do Judaísmo. Ambos foram salvos pelos seus progenitores de uma morte certa e ambos adotaram como sua uma cultura estrangeira que ajudaram a prosperar.

Resultado de imagem para dc comics jor-el and lara
Jor-El prestes a enviar o seu único filho para o nosso mundo.
Com uma sonoridade tipicamente hebraica, invocando outros dos grandes profetas do Judaísmo como Daniel ou Samuel, Kal-El - o nome kryptoniano do Super-Homem - pode ser traduzido como "A Voz de Deus". O sufixo El significa de facto "deus", ao passo que a grafia de Kal é muito semelhante à da palavra hebraica para "voz" ou "vaso". A despeito de terem dado à sua criação uma identidade eminentemente cristã, por forma a tornar o Homem de Aço mais apelativo ao público em geral, importa recordar que Jerry Siegel e Joe Shuster possuíam raízes judaicas.
Contudo, temáticas retiradas da mitologia cristã estão também ocasionalmente presentes na origem do Último Filho de Krypton. Um bom exemplo disso é a forma como ela foi apresentada em Superman, the Movie (ver Noutros media). No filme, a jornada de Kal-El  paraboliza o advento de Jesus Cristo à Terra, não faltando sequer uma nave a fazer lembrar a Estrela de Belém. Também a missão messiânica de liderar a Humanidade para um futuro radioso que lhe é confiada pelo pai não deixa grande margem para dúvidas.

Super-Homem sob o traço de Wayne Boring, o sucessor de Joe Shuster.

.Influências visuais

Conforme referido no artigo anterior dedicado aos autores do Super-Homem, nos seus verdes anos Jerry Siegel e Joe Shuster nutriam um grande fascínio por heróis viris e eram leitores vorazes de estórias de ficção científica. Muitas das quais apresentavam personagens dotadas de poderes extraordinários, como telepatia, invisibilidade ou força sobre-humana.
Assim, uma das principais influências na conceção do Homem de Aço foi John Carter de Marte, herói saído em 1917 da imaginação de Edgar Rice Burroughs - o criador de Tarzan, outro dos ídolos de juventude da dupla Siegel/Shuster.
Enviado acidentalmente para o Planeta Vermelho, John Carter, apesar da sua condição de simples humano, adquiria superforça e a capacidade de saltar grandes distâncias graças aos efeitos da baixa gravidade marciana. Qualquer semelhança com a versão primitiva do Super-Homem será, pois, mais do que uma singela coincidência.
Apesar de ser comummente aceite que a novela Gladiator (escrita em 1930 por Philip Wylie, e cujo protagonista detinha habilidades similares às do Super-Homem) terá influenciado sobremaneira o processo criativo de Siegel e Shuster, esse tese foi perentoriamente refutada pelo primeiro.
Certo é que Jerry Siegel e Joe Shuster eram grandes apreciadores de filmes, sendo notória a influência cinematográfica nas aventuras iniciais do Super-Homem. Shuster, em particular, era fã incondicional de Douglas Fairbanks - ator que interpretou Zorro e Robin Hood no grande ecrã - e foi na sua postura desafiante que se inspirou para desenhar a pose heroica do Homem de Aço.
Já a Clark Kent serviu como modelo o comediante Harold Lloyd, cuja principal personagem era um homem gentil que era acossado por rufias até ao dia em que perdia por fim as estribeiras e revidava com violência. Por ele próprio usar óculos e se rever na pacatez da personagem de Lloyd, Joe Shuster considerava-a passível de gerar identificação com muitos leitores.


Douglas Fairbanks (cima) e Harold Lloyd
 influenciaram, respetivamente, o visual do Super-Homem
 e de Clark Kent.
Shuster era também um grande fã daquilo a que hoje chamamos cultura fitness. Colecionava várias publicações a ela dedicadas e usavas as respetivas fotografias como referências visuais para a sua arte.
A conceção visual do Super-Homem foi, com efeito, fortemente influenciada pela temática desportiva. Começando pelo seu uniforme, que emulava as fatiotas justas e de cores garridas que recobriam os corpos musculados de halterofilistas e homens fortes circenses. A bem do pundonor imposto pelos rígidos padrões morais da época, era comum uns e outros usarem uma espécie de calção para resguardarem a respetiva genitália de olhares indiscretos. Explicando-se, assim, a inclusão desse adereço nos paramentos do Super-Homem. Ou seja, o Homem de Aço nunca usou a roupa interior por fora, como alguns brincalhões gostam de sugerir...
Não foi também por acaso que Shuster começou por desenhar o Super-Homem com sandálias entrelaçadas em vez das icónicas botas vermelhas. Tratava-se do tipo de calçado habitualmente usado tanto pelos halterofilistas do início do século XX como por heróis mitológicos como Sansão.
Por sua vez, a insígnia peitoral do Super-Homem (cujo S estilizado se tornaria com o tempo um símbolo mundialmente reconhecível) poderá muito bem ter sido inspirada nos emblemas costurados nos uniformes dos atletas de alta competição.

Imagem relacionada
Halterofilista do início do século XX.

Outros dos seus elementos mais distintivos, a capa do Super-Homem foi uma ideia retirada da literatura pulp onde era comum os espadachins usarem esse adereço. Uma opção estética que ficaria para sempre associada ao arquétipo super-heroico, conquanto as capas sejam hoje consideradas demodé.
Quanto à fisionomia apolínea do Homem de Aço, foi decalcada de John Weissmuller, o ex-nadador olímpico celebrizado pelo papel de Tarzan nos anos 30 e 40 do último século. Misturada, também, com os traços cartunescos de Dick Tracy, o famoso detetive de gabardina amarela.
Shuster definiu a estética do Super-Homem e durante várias décadas os artistas que lhe sucederam eram obrigados a conformar o seu traço a esse estilo predefinido. O que não obstou a uma constante evolução visual da personagem ao sabor tanto das tendências da época como do talento dos seus ilustradores. São também eles os homenageados neste artigo.

Super-Homem por Curt Swan,
 o artista que mais tempo desenhou
as histórias do herói kryptoniano.


Personalidade

Contrastando com a bonomia que hoje caracteriza o Super-Homem, nas suas primeiras histórias assinadas por Jerry Siegel e Joe Shuster, o herói era rude e agressivo. Sempre que interferia em algum crime, fazia-o com recurso a métodos extremamente violentos, mercê de um código de conduta menos estrito do que aquele que segue atualmente.
Ainda que não fosse tão desapiedado como o Batman era por aqueles dias, nos seus alvores o Homem de Aço não se preocupava com os danos que o seu uso desproporcionado da força poderia causar.  Vale a pena lembrar, a este propósito, que, no início da sua carreira, o Super-Homem enfrentava quase exclusivamente bandidos comuns. Pessoas de carne e osso a quem, com perturbadora frequência, o herói não hesitava em tirar a vida. Embora, por norma, essas mortes não fossem mostradas de forma explícita, de modo a evitar ferir a sensibilidade dos jovens leitores.

Resultado de imagem para golden age superman
Impensável nos dias de hoje, nos seus primórdios o Super-Homem não tinha pejo em matar os seus adversários.
 Se preciso fosse, com recurso a armas de fogo.

Esta vaga de violência desmedida terminaria em 1940, quando Whitney Ellsworth, o novo editor das histórias do Super-Homem, instituiu um código de conduta obrigatório para as suas personagens. Ficando, o Super-Homem, a partir desse momento, proibido de matar.
Alguns dos escribas que renderam Jerry Siegel cuidaram de vincar ainda mais esse traço no caráter do Super-Homem, incutindo-lhe um senso de idealismo e uma moral inabalável. Donde resultou o juramento solene do herói de nunca tomar uma vida humana. Juramento que seria, contudo, violado por mais do que uma vez, em diferentes segmentos culturais. Quem não se lembra, por exemplo, do pescoço partido do General Zod, no filme Homem de Aço?
Muitas vezes atribuído aos valores tradicionais do Centro-Oeste americano que lhe foram transmitidos pelos seus pais adotivos, o compromisso do Super-Homem em operar em estrita obediência da lei, tem constituído um exemplo para muitos heróis. Mas também criou ressentimentos noutros. São esses que se lhe referem pejorativamente como "o grande escuteiro azul". 
Com efeito, a intransigência moral do Homem de Aço tem suscitado ocasionalmente atritos no seio da comunidade super-heroica, visto que nem todos os seus pares se reveem nesse ethos.
Devido à destruição do seu planeta natal e consequente perda da sua família biológica, o Super-Homem denota uma natureza superprotetora em relação à Terra, especialmente no que aos seus entes queridos diz respeito.
Essa perda, combinada com a pressão para fazer um uso responsável dos seus poderes, provoca no Super-Homem um profundo sentimento de solidão, que nem a sua esposa e amigos conseguem por vezes aplacar. Momentos que servem como um doloroso lembrete da sua origem extraterrestre, e nos quais Kal-El compreende o real significado do sábio ensinamento do seu pai biológico: "Parecer-te-ás com eles, mas nunca serás um deles."

No período pós-Crise nas Infinitas Terras, 
John Byrne humanizou o Super-Homem.

Um rosto na multidão

Ridículo aos olhos de alguns e genial aos olhos de outros, o disfarce de Clark Kent usado pelo Super-Homem para se camuflar na paisagem humana de uma grande cidade como Metrópolis é mais elaborado do que à primeira vista parece.
Ao passo que muitos dos seus congéneres usam máscaras ou sofrem algum tipo de transformação física quando assumem as respetivas identidades heroicas, o Super-Homem exibe constantemente o seu rosto sorridente à luz do dia.
Por mais paradoxal que isso possa soar, reside precisamente neste facto o segredo para o anonimato do herói. Que, ao expor publicamente a sua face, transmite a ideia de nada ter a esconder.
Afinal de contas, por que motivo haveria um ser tão poderoso como o Super-Homem querer levar uma vida normal entre aqueles que protege?
Existe, assim, entre as pessoas comuns a crença de que o Homem de Aço é apenas um estranho visitante de outro mundo que dispensa mundanidades como ter um emprego ou uma identidade secreta. Poucos são aqueles que imaginam ser possível cruzarem-se com ele no elevador ou numa rua apinhada. Mais a mais porque o seu disfarce corresponde, de facto, a uma minuciosa encenação.

Imagem relacionada
Clark Kent serve de disfarce ao Homem de Aço ou vice.-versa?

Senão vejamos: para se fazer passar por um de nós, o Super-Homem cria um alter ego que, de tão medíocre, se torna invisível mesmo aos olhos dos que com ele convivem. Basta atentar na forma como a própria Lois Lane costumava suspirar pelo Homem de Aço ao mesmo tempo que desprezava Clark Kent. E se a frase anterior está conjugada no pretérito imperfeito do modo indicativo é porque, hoje em dia, Lois e Clark são marido e mulher, não havendo, por isso, lugar para segredos entre eles.
De todo o modo não são os óculos o adereço principal do disfarce do Super-Homem, contrariamente ao que muitos, erradamente, sustentam. Há toda uma complexa composição por detrás da personagem Clark Kent. Consistindo a mesma na simulação de gaguez, na postura atrofiada e no comportamento desastrado. Características que, somadas, fazem do repórter do Daily Planet a perfeita antítese do Super-Homem. Que, dessa forma, logra a proeza de se esconder à vista de todos. Apenas mais um rosto entre a multidão anónima que diariamente circula pelas ruas de Metrópolis.



De cima para baixo:
Dan Jurgens matou o Super-Homem,
Jim Lee modernizou-o
García-López iconizou-o.

Trivialidades

*Além de Homem de Aço e Último Filho de Krypton, Maravilha de Metrópolis, Grande Escuteiro Azul e Homem do Amanhã são outras das alcunhas normalmente associadas ao Super-Homem;
*Lois Lane, Lana Lang, Lara Lor-Van e Lex Luthor são apenas alguns dos muitos nomes com as iniciais LL inscritos na mitologia do Homem de Aço. Apesar da multitude de teses aventadas ao longo dos anos, permanece por clarificar o verdadeiro motivo por detrás desta profusão aliterativa;
*Embora tenha tido desde sempre em Lois Lane o seu principal interesse amoroso, ao longo dos anos o Super-Homem manteve romances com outras mulheres. Lana Lang, Loris Lemaris (uma sereia descendente de atlantes surgida durante a Idade da Prata) e mais recentemente, nos Novos 52, a Mulher-Maravilha foram, em algum momento, donas do coração do herói;

Imagem relacionada
O estranho amor entre um kryptoniano e uma sereia.
*Os kryptonianos prestavam culto religioso a Rao, o sol vermelho orbitado pelo seu planeta. Na versão clássica da origem do Super-Homem foi a implosão de Rao a provocar a destruição de Krypton;
*Clark Kent resulta da combinação dos nomes próprios dos atores Clark Gable e Kent Taylor;
*Toronto, cidade natal de Joe Shuster, serviu de modelo arquitetónico a Metrópolis, cujo nome, por sua vez, foi retirado do filme homónimo realizado em 1927 pelo germânico Fritz Lang;
*Em novembro de 2011, um exemplar de Action Comics nº1 foi vendido online por mais de 2 milhões dólares. Especula-se que poderá tratar-se de uma das edições roubadas da coleção privada do ator Nicholas Cage onze anos antes;
*O famoso mantra "pela Verdade e Justiça ao estilo americano" é na verdade uma declinação daquele que servia de introdução a cada episódio do primeiro folhetim radiofónico baseado no Super-Homem. A sua versão original estabelecia que o herói lutava pela "Verdade, Honestidade e Justiça". A substituição de "honestidade" por "ao estilo americano" visava apaziguar o sentimento anticomunista fortemente arraigado na cultura popular dos EUA durante os anos do macarthismo; 
*A opção de transformar Clark Kent num repórter sobreveio do facto de, na sua juventude, Jerry Siegel ter ambicionado uma carreira jornalística. Essa foi também a forma encontrada pelo Super-Homem de estar sempre em cima do acontecimento, possibilitando-lhe uma atuação mais eficiente. Apesar de tradicionalmente ligado à imprensa escrita, nos anos 1970 Clark Kent trocou o Daily Planet (originalmente trabalhava no Daily Star) pela Rede Galáxia, onde se tornaria pivô de telejornal;
*Em tempos, ao Super-Homem foi concedido o estatuto de cidadão honorário de todos os países membros das Nações Unidas. Já este século, numa história controversa, o herói renunciou à nacionalidade estadunidense;
Resultado de imagem para clark kent galaxy communications
Super-Homem torna-se cidadão honorário das Nações Unidas.
*O Super-Homem ocupa o primeiro lugar no Top 100 dos super-heróis organizado pelo IGN e foi eleito pela revista Empire como a melhor personagem de banda desenhada de todos os tempos;
*Muitos fãs acreditam na existência da chamada "Maldição do Super-Homem". Na origem desta macabra superstição, a tragédia e o infortúnio que se abateram sobre vários dos atores que deram vida ao herói (vide texto seguinte): George Reeves morreu em circunstâncias nebulosas, Christopher Reeve (falecido em 2004) ficou tetraplégico ao cair de um cavalo, ao passo que Kirk Alyn, Dean Cain e Brandon Routh tiveram as suas carreiras estagnadas. Será Henry Cavill a próxima vítima dessa suposta malapata?
*Clark Kent não fuma, não ingere bebidas alcoólicas e, num passado recente, assumiu-se temporariamente como vegetariano; 
*A primeira aparição do Homem de Aço em Terras Tupiniquins remonta a dezembro de 1938, no número 445 de A Gazetinha, suplemento infanto-juvenil distribuído à época com o jornal A Gazeta. O seu advento a Portugal seria mais tardio, tendo ocorrido em meados de 1952 num fascículo não especificado de Mundo de Aventuras, almanaque de banda desenhada publicado entre 1949 e 1987 sob os auspícios da extinta Agência Portuguesa de Revistas.

Resultado de imagem para mundo de aventuras super-homem
Em Portugal, as aventuras do Homem de Aço
 começaram por ser publicadas em Mundo de Aventuras.

Noutros media

Há muito consagrado como um portento mediático e um ídolo de multidões, foi à boleia da sua popularidades nos comics que o Super-Homem partiu à conquista de outros segmentos culturais. Logo em 1940, foi para o ar The Adventures of Superman, um folhetim radiofónico que só abandonaria as ondas hertzianas 11 anos depois, e que sinalizou a estreia do herói kryptoniano noutro meio de comunicação.
No ano seguinte, ao mesmo tempo que da pena de George Lowther saíam várias novelas dedicadas ao Homem de Aço ilustradas por Joe Shuster, o herói chegava pela primeira vez ao cinema por intermédio de uma série animada produzida pelos Irmãos Fleischer, e simplesmente intitulada Superman.

Resultado de imagem para superman fleischer studios
O Homem de Aço salva uma donzela em apuro
s na sua primeira série animada.

Ainda nessa década, seguiu-se, em 1948, o lançamento de Superman, a primeira série cinematográfica em ação real estrelada por Kirk Alyn. Aquele que foi o primeiro ator a dar vida ao Homem de Aço, repetiria o papel dois anos depois em Atom Man versus Superman, espécie de segunda temporada da série original.
Em 1951, o Super-Homem teve direito à sua primeira longa-metragem. Em Superman and the Mole Men, George Reeves surgiu como o herdeiro do manto sagrado que Kirk Alyn recusara continuar a ostentar. O filme serviu, na prática, como episódio-piloto de Adventures of Superman, a primeira série televisiva baseada no Super-Homem, exibida sem interrupções entre 1952 e 1958. O seu cancelamento seria, de resto, precipitado pelo aparente suicídio de Reeves - não faltando, todavia, quem acredite que o ator tenha sido vítima de homícidio.
Ao longo da década de 1960, o Super-Homem foi cabeça de cartaz de um par de séries animadas da DC e até de um musical da Broadway sugestivamente intitulado It's a bird... It's a plane... It's Superman.
Seria, contudo, em 1978, com a estreia de Superman, The Movie, no qual coube a Christopher Reeve representar o Último Filho de Krypton, que o herói conquistou toda uma nova audiência. Ovacionado pelo público e pela crítica, o filme foi um verdadeiro divisor de águas e inspirou quatro sequelas. A última das quais, Superman Returns,  aterrou nos cinemas de todo o mundo em 2006, com Brandon Routh a fazer as vezes do saudoso Christopher Reeve.

De Kirk Alyn a Henry Cavill:
os muitos rostos do Super-Homem no cinema e na TV.

Em 2013, o polémico Man of Steel inaugurou uma nova franquia cinematográfica da DC e teve a particularidade de, pela primeira vez, vermos um ator não-americano - Henry Cavill é britânico - a interpretar o Super-Homem.
No pequeno ecrã, Lois and Clark: The New Adventures of Superman (1993-97) e Smallville (2001-2011) foram as duas últimas séries de ação real do Homem de Aço a serem produzidas e estreladas, respetivamente, por Dean Cain e Tom Welling.
Além de personagem de jogos de vídeo e de ter inspirado vários parques temáticos nos EUA, o Homem de Aço foi também retratado em dois quadros da autoria de Andy Warhol. Confirmando,dessa forma, o seu estatuto de ícone da cultura mundial.


O Homem de Aço sob o traço do meu bom amigo Emerson Andrade,
 a quem agradeço mais este generoso contributo para o meu blogue.