07 julho 2017

HEROÍNAS EM AÇÃO: VAMPIRELLA


  Uma das mais antigas bad girls dos quadradinhos, foi também uma das primeiras a estrelar um filme em nome próprio. Inspirada numa diva da ficção científica, da sua itinerância editorial resultaram diferentes origens e uma radical mudança de visual. A sua missão, essa, perdura: caçar vampiros degenerados e outros predadores sobrenaturais da Humanidade.

Denominação original: Vampirella 
Licenciadora: Warren Publishing (1969-1983); Harris Publications (1991-2010); Dynamite Entertainment (2010 - Presente)
Criadores: Forrest J. Ackerman (história), Trina Robbins, Frank Frazetta e Tom Sutton (arte conceptual)
Primeira aparição: Vampirella nº1 (setembro de 1969)
Identidade civil: Nenhuma
Local de nascimento: Drakulon (Warren Publishing); Inferno (Harris Publications)
Parentes conhecidos: Lilith (mãe), Draculina, (irmã gémea), Madek (irmão), Magdalene (irmã) e Drago (meio-irmão)
Espécie: Vampiro
Ocupação: Agente secreta do Vaticano e atriz 
Base operacional: Móvel
Afiliações: Vaticano e Sofia Murray (ver Galeria de Coadjuvantes)
Armas, poderes e habilidades: Detentora de muitos dos poderes típicos dos vampiros mitológicos, o extenso cardápio de talentos sobrenaturais de Vampirella tem, contudo, sofrido variações no decurso dos anos. Entre aqueles que seguem imutáveis avultam desde logo as capacidades físicas amplificadas a níveis muito superiores aos humanos.
À superforça, Vampirella alia, assim, a supervelocidade e os sentidos aguçados. Enquanto a primeira lhe permite, por exemplo, usar a âncora de um navio para derrubar um helicóptero, é graças à segunda que aturde os seus oponentes ao assumir em combate a forma de um borrão em movimento. Além de uma visão noturna perfeita, Vampirella possui igualmente uma espécie de perceção extrassensorial que deteta a presença de seres e forças sobrenaturais.
Voar é outra das capacidades que a acompanham desde os seus primórdios. Variando, no entanto, os meios empregues para o fazer. Se na sua versão primordial a heroína se transformava num morcego, nas suas encarnações mais recentes apenas lhe brotam asas das costas.
Sobrevindo daí a sua presumível imortalidade, Vampirella dispõe de um fator de cura que não só lhe permite recuperar rapidamente mesmo de ferimentos profundos como a imuniza praticamente de todas as patologias e toxinas terrestres.

Vampirella é muito mais poderosa
do que os vampiros tradicionais,
Apesar de formidáveis, estes poderes clássicos empalidecem se comparados com alguns do que Vampirella exibe esporadicamente. A saber: telepatia, hipnotismo, transmorfismo, invisibilidade e até a capacidade de aceder a memórias alheias bebendo o sangue das suas vítimas
Menos consistente é, por outro lado, a sua capacidade de converter humanos em vampiros. Os mesmos humanos que, não raro, têm as suas vontades manipuladas pela influência hipnótica  de Vampirella exercida tanto pela sua voz melodiosa como pelo seu olhar mesmerizante.
Na sua exacerbada sensualidade Vampirella tem, naturalmente, outra das suas armas mais eficazes, sobretudo entre os descendentes de Adão. Em quem, de resto, a sua simples presença basta para induzir desejos libidinosos.
Convém, no entanto, sublinhar que todos estes talentos sobrenaturais podem ser drasticamente diminuídos em consequência da exaustão física de Vampirella, impondo-se nessa situação o consumo de sangue para retemperar forças. Funcionando dessa forma o precioso néctar mais como um tónico ou elixir terapêutico do que como um alimento.
Desenganem-se, porém, os que acreditam que Vampirella fica indefesa quando privada temporariamente das suas habilidades especiais. Ou não fosse ela uma exímia lutadora corpo a corpo, tendo já demonstrado também proficiência no manejo de armas de fogo. Motivos de sobra para justificar o seu estatuto de uma das mais poderosas super-heroínas da banda desenhada.

Quando ferida ou exausta,
Vampirella precisa beber sangue para se recuperar.
Fraquezas: Isenta pela sua fisiologia extraterrestre das tradicionais vulnerabilidades dos vampiros, Vampirella é imune aos efeitos da água benta, do alho, dos crucifixos e até da luz solar (pese embora prefira evitá-la). Segundo a própria revelou quando foi empalada pela Lança de Longino (artefacto sagrado que herdou o nome do centurião romano que o terá usado para perfurar o tórax de Jesus Cristo), a única forma de matá-la seria trespassar-lhe o coração.
No entanto, numa outra ocasião, Vampirella sobreviveu depois de ter tido o seu coração trespassado por uma flecha. Aparentemente, isso ficou a dever-se ao facto de ela ter removido o projétil a tempo de deixar o seu fator de cura atuar.
Graças ao soro especial desenvolvido por um dos seus aliados (ver Galeria de Coadjuvantes), Vampirella está também livre dos sintomas de abstinência de sangue que acometem os outros vampiros, compelindo-os a caçarem as suas presas por uma questão de sobrevivência.

Supõe-se que somente uma estaca
 cravada no coração poderá matar Vampirella.
Conceção: No auge da revolução sexual feminina que, em boa medida, ditou o frenético compasso da década de 1960, partiu de James Warren, fundador da Warren Publishing, a ideia de criar uma heroína representativa da mulher moderna e emancipada.
Estávamos em 1969, ainda na ressaca do chamado Verão do Amor e, no ano anterior, Barbarella - filme baseado na aventureira espacial criada em 1962 pelo escritor e ilustrador francês Jean-Claude Forest - consagrara a atriz Jane Fonda como um ícone sexual, abrindo assim caminho ao surgimento de personagens similares.
Influenciado pela estética erotizada de Barbarella, Forrest J. Ackerman, o lendário editor da Warren que nunca antes escrevera uma história, voluntariou-se para desenvolver um conceito com os atributos que o seu patrão tinha em mente.

Forrest J. Ackerman (1916-2008),
um dos "pais" de Vampirella.

Na sua versão primitiva, era frequente Vampirella
 ser retratada como uma aventureira espacial à imagem de Barbarella (cima).
A conceção de Vampirella resultou, todavia, de um consórcio criativo que, além de Ackerman, congregou também os artistas Frank Frazetta, Tom Sutton e Trina Robbins. Cabendo a esta última desenhar o (diminuto) figurino da personagem inspirado no visual insinuante das musas e ninfetas que, naquela época, perfumavam com a sua sensualidade as histórias de ficção científica. Dado o seu arrojo, o uniforme de Vampirella serviria, por sua vez, de modelo às indumentárias das bad girls ( assim definidas pela sua conduta violenta e pela sua ambiguidade moral) que, no arranque dos anos 1990, surgiram em catadupa na banda desenhada e no cinema. Sob vários aspetos, Vampirella pode, portanto, ser percecionada como uma precursora dessa tendência cultural cujas expressões perduram até hoje.
Outra originalidade subjacente ao processo criativo de Vampirella concerne à forma como o seu nome foi escolhido. Inserido numa lista composta por outras cinco  denominações sugestivas submetidas à apreciação dos visitantes da editora, "Vampirella" seria o mais votado, apesar da evidente proximidade fonética com Barbarella (ou, quiçá, por causa dela).
Certo é que Vampirella resistiu com elegância à passagem do tempo, chegando aos nossos dias com o seu charme e carisma praticamente intactos, malgrado algumas concessões recentes ao politicamente correto (ver Origem e evolução).


Witchblade (Image Comics) e Lady Death (Chaos Comics):
duas das bad girls dos ano 90 claramente influenciadas por Vampirella.
Histórico de publicação: À boleia do sucesso de Creepy e Eerie, em setembro de 1969 a Warren Publishing resolveu reforçar com Vampirella a sua linha de antologias de terror. O novo título diferenciava-se dos seus antecessores ao incluir histórias a solo da personagem que o apadrinhava.
Antes do seu encerramento, em março de 1983, foram publicados 112 números de Vampirella, a que se somam várias participações especiais da heroína em séries alheias. Foi, aliás, num desses crossovers que ela mediu pela primeira vez forças com Pantha (ver Galeria de Coadjuvantes), a outra diva do universo Warren.
Logo após a falência da Warren Publishing, no verão de 1983 a Harris Comics arrematou em leilão os seus principais ativos. Apesar de, em 1999, o antigo proprietário da Warren, no culminar de uma longa batalha jurídica, ter conseguido readquirir os direitos sobres os títulos Creepy e Eerie, a série estrelada por Vampirella continuou a ser a coqueluche da Harris Comics. Que, entre 1991 e 2007, a continuou a publicar, assim como um vasto repertório de minisséries e edições especiais.
Em março de 2010, a Dynamite Entertainment adquiriu os direitos de publicação de Vampirella e, logo em novembro desse ano, lançou uma nova série regular da heroína. Após um primeiro reboot em 2014, a série seria relançada no início de 2016, apresentando uma Vampirella vestida mais de acordo com os padrões estéticos do nosso século.

Uma Vampirella para o século XXI
 ou uma cedência ao politicamente correto?
Origem e evolução: A cada mudança de editora por parte de Vampirella correspondeu uma versão revista da sua história. E digo "revista" porque, a despeito da inclusão de elementos inovadores, estes misturavam-se sempre com os clássicos. Motivo pelo qual não é legítimo aludir a uma origem definitiva da personagem, mas antes às suas múltiplas declinações.
Fortemente influenciada, como já vimos, pela estética e erotismo de Barbarella, aquando da sua estreia sob os auspícios da Warren Publishing, Vampirella começou por ser apresentada como uma voluptuosa vampira alienígena de coração nobre proveniente de Drakulon. Neste exótico planeta alumiado por dois sóis corriam rios de sangue de onde os seus habitantes tiravam o sustento.
À medida que os rios escarlates iam secando devido à implosão de uma das estrelas gémeas, os Vampiri - assim se designavam os autóctones de Drakulon - iam definhando e perecendo aos milhares.
Já poucos sobreviventes restavam, de facto,  em Drakulon quando um grupo de astronautas terrestres se despenhou naquele mundo condenado. Enviada para investigar os estranhos visitantes, Vampirella, depois de por eles ter sido atacada, descobriu que lhes corria sangue nas veias. Na esperança de conseguir salvar a sua espécie da extinção iminente, Vampirella viajou então para a Terra aos comandos da nave acidentada.
Chegada ao nosso planeta, Vampirella foi obrigada a agir nas sombras após descobrir a proliferação de vampiros degenerados aparentados com a sua espécie, e que predavam os humanos. Decidiu então dedicar a sua energia a caçá-los, o que a colocaria em rota de colisão com Drácula, outro expatriado de Drakulon chegado séculos antes à Terra, assim iniciando uma sanguinolenta genealogia.


Drácula versus Vampirella: duelo sangrento entre sobreviventes de Drakulon.
Sem romper totalmente com esta narrativa pregressa, no início do anos 1990 a Harris Comics reformulá-la-ia de forma substancial. Já não uma vampira extraterrestre, Vampirella surgia agora como a filha pródiga de Lilith, a primeira esposa de Adão banida por Deus do Paraíso devido à sua recusa em submeter-se ao marido.
Exilada no Inferno por incontáveis eras, Lilith deu à luz milhares de demónios antes de, aparentemente, se arrepender dos seus pecados. Em busca de redenção, retornou ao Céu onde gerou dois filhos, Madek e Magdalene, que pretendia enviar para a Terra para combater as forças do Mal. Sucede que os gémeos foram precocemente corrompidos, obrigando Lilith a gerar Vampirella. Quando esta nasceu, os seus pérfidos irmãos implantaram-lhe falsas memórias que a induziram a acreditar ser originária do planeta Drakulon.
Este excerto da sua origem seria, também ele, objeto de revisão alguns anos mais tarde. Embora se tratasse de um sítio real, Drakulon não era um planeta, mas sim um território do próprio Inferno. Ficando aliás implícito que teria sido lá, e não no Céu, que Vampirella havia sido criada.
Numa revisitação posterior desta versão seriam finalmente reveladas as verdadeiras motivações de Lilith (entrementes morta e ressuscitada) quando decidiu gerar Vampirella. Não tinha sido o arrependimento a ditar as suas ações, mas sim a necessidade de criar uma arma viva para exterminar os vampiros, cuja existência enfraquecia o seu poder. Contrariamente ao que tinha sido sugerido até essa altura, apurou-se, também, que fora a própria Lilith a sugestionar Vampirella relativamente ao seu passado em Drakulon.
Quando passou a ter as suas histórias publicadas pela Dynamite Entertainment, Vampirella começou por ser uma aliada relutante de Drácula no combate a um inimigo comum, passando em seguida a trabalhar como agente secreta do Vaticano. Altura em que ganhou um novíssimo visual, assinalando a rutura com o insinuante figurino que fora a sua imagem de marca ao longo de quatro décadas e dela fizera um símbolo sexual.
Essa não foi, porém, a única mudança radical na vida de Vampirella. Recém-chegada ao nosso planeta, vive com o namorado lobisomem enquanto tenta conciliar o seu trabalho de investigadora do paranormal ao serviço da Santa Sé com o de atriz de filmes de terror, em Hollywood.

Sortilégios lunares de uma princesa das trevas.
Versões alternativas:

Com a chancela Anarchy Studio (linha de títulos manga da defunta Harris Comics), no ano 2000 foi lançada Vampi, série mensal protagonizada por uma versão futurista de Vampirella em busca de uma cura para o seu vampirismo. Além dos 25 números publicados foram lançadas em paralelo diversas minisséries e edições especiais baseadas nesse exercício de imaginação.
Catorze anos depois, já sob os auspícios da Dynamite Entertainment, foi dado à estampa Li'l Vampi, um volume especial que dava a conhecer as aventuras de uma Vampirella de palmo e meio empenhada em descobrir o motivo de monstros quererem destruir uma pequena cidade do Maine.

A versão futurista e manga de Vampirella
lançada pelos Anarchy Studios em 2000.

Galeria de coadjuvantes:

Lilith: Mãe de Vampirella e a primeira mulher criada por Deus. A sua história é narrada numa versão alternativa de Génesis, o primeiro tomo comum às Bíblias Hebraica e Cristã. Nele, ela surge descrita como tendo sido a esposa original de Adão - precedendo, portanto, Eva nesse papel - e a mãe dos demónios após o degredo a que foi condenada no Inferno devido à sua insubmissão perante o marido. Enviou Vampirella para a Terra a fim de salvaguardar o seu poder;

Lilith, a viciosa mãe de Vampirella.
Madek e Magdalene: Gémeos malignos irmãos de Vampirella. Foram eles quem, na versão revista da sua origem introduzida pela Harris Comics, lhe implantaram falsas memórias relacionadas com Drakulon;

Conrad Van Helsing: Cego e dotado de habilidades psíquicas, é um implacável caçador de vampiros. Seguia a peugada de Drácula quando encontrou pela primeira vez Vampirella, a quem tomou por uma concubina do Príncipe das Trevas, tentando, por isso, destruí-la;

Adam Van Helsing: Filho de Conrad Van Helsing e último descendente de uma linhagem ancestral de caçadores de vampiros, resolveu seguir as pisadas do pai tornando-se investigador do paranormal, atividade em que chegou a ser coadjuvado por Vampirella. Acreditava na boa índole da filha de Lilith e os dois viveram um fugaz idílio até ele ser assassinado por Nyx;

Nyx: Fruto da união profana entre Caos (o deus insano) e Lucrécia Bórgia (filha ilegítima do Papa Alexandre VI) é uma híbrida de mulher e demónio, ensinada desde o berço a odiar a Humanidade. Vive obcecada com a ideia de destruir Vampirella e tudo o que ela ama;

Pendragon / O Grande Mordecai: Antigo feiticeiro, ganha atualmente a vida com os seus espetáculos itinerantes de magia. Mantém uma relação paternalista com Vampirella e, nas antigas histórias da Warren, os dois costumavam viajar juntos à procura de ameaças sobrenaturais. Apesar dos seus conhecimentos de magia e das suas boas intenções, nem sempre age como um parceiro de aventuras confiável, uma vez que é frequente embriagar-se, adormecer ou perder-se. Vampirella é-lhe, no entanto, extremamente leal, pois vê-o como a única família que lhe resta;

Tyler Westron: Um físico que resgatou Vampirella após um acidente de aviação. Devido aos severos ferimentos sofridos pela heroína, Tyler teve de amputar-lhe as asas. Foi também ele o inventor do soro à base de sangue sintético que mantém Vampirella sob controlo;

Rainha de Copas: Outrora a Meretriz da Babilónia, o seu espírito infundiu-se magicamente com uma carta da Rainha de Copas. Desde então, sempre que uma mulher toca uma dessas cartas, transforma-se numa potencial hospedeira para esta lasciva entidade demoníaca. Deseja ardentemente ser desposada por Caos, o deus louco, e por isso recolhe corações humanos para o presentear.

A infame Rainha de Copas.

Sofia Murray: Uma jovem gótica de Seattle que sobreviveu a um ataque de La Fanu, uma vampira francesa contemporânea de Napoleão Bonaparte. Encontrou um propósito de vida ao lado de Vampirella, de quem se tornou amiga e adjunta na encarnação moderna da heroína inserta no Universo Dynamite Entertainment. 

Tristan: Atual namorado de Vampirella, é um lobisomem afável e inconformado com a sua licantropia;

Pantha: Originalmente uma transmorfa nativa de Drakulon, o planeta natal de Vampirella. Capaz de assumir a forma de uma pantera negra, a sua ferocidade suplantava, contudo, a da sua compatriota. Em histórias ulteriores passou a ser retratada como uma sacerdotisa do Antigo Egito condenada à imortalidade depois de ter matado e devorado a própria prole. Nem sempre conserva memórias do seu passado nas suas sucessivas reencarnações e tem na ambivalência moral um dos traços distintivos da sua personalidade. A sua relação com Vampirella oscila, portanto, entre a animosidade mútua e as alianças pontuais.

Pantha, a arquirrival de Vampirella.
Notas soltas:

*Apesar do clima tropical e do culto da sensualidade praticado no país do samba e do Carnaval,  em 1973 Vampirella chegou às bancas brasileiras mais agasalhada do que o habitual. Viviam-se os tempos da ditadura militar (1964-1985) e, em defesa dos valores conservadores sobre os quais o regime fora fundado, a primeira capa do título epónimo lançado pela Kultus foi censurada. Ao figurino original da heroína foi adicionado um top a fim de tentar garantir um mínimo de recato;
*Ainda por terras de Vera Cruz (onde, a exemplo de Portugal, a personagem continua pouco divulgada), terá sido durante uma viagem ao Brasil que Forrest J. Ackerman terá aproveitado o voo para idealizar Vampirella. Anos mais tarde, era já a Harris Comics detentora dos direitos da personagem, um ilustrador brasileiro ficou em segundo lugar num concurso internacional organizado pela editora para selecionar o artista para uma edição comemorativa de Vampirella

O visual retocado de Vampirella na sua estreia brasileira.
*Vampirella tem uma gémea loura de sua graça Draculina. Desconhecida da generalidade dos leitores, a personagem em questão fez as vezes de narradora numa estória da irmã publicada em Vampirella nº2 (1969), eclipsando-se em seguida. Depois de quase quatro décadas de obscurantismo, Draculina ressurgiu na atual continuidade de Vampirella na Dynamite Entertainment;
*Remonta a 1976 o primeiro projeto para uma adaptação cinematográfica de Vampirella. Nesse ano, a companhia britânica Hammer Films anunciou a sua intenção de produzir uma longa-metragem da heroína, chegando mesmo a circular algum material publicitário. A ideia, porém, nunca ganhou forma nem substância, sendo preciso esperar mais uma vintena de anos até aquela que foi uma das primeiras bad girls da banda desenhada ganhar vida não no grande, mas no pequeno ecrã (vide texto seguinte).


Após décadas de anonimato, Draculina, a gémea loura de Vampirella,
disputa o proscénio à irmã.
Noutros segmentos culturais: 

Em 1996, Vampirella tornou-se uma das primeiras super-heroínas a ter direito a um filme em nome próprio. Dirigido por Jim Wynorski e com a ex-modelo Talisa Soto no papel principal, Vampirella (cujo elenco incluía ainda o ex-vocalista dos The Who, Roger Daltrey), foi produzido no âmbito de um projeto do canal por cabo Showtime que tinha como objetivo a revitalização de dois géneros decadentes: terror e ficção científica.
Coincidentemente, nesse mesmo ano estreou nos cinemas de praticamente todo o mundo Barb Wire, película epónima baseada noutra das mais carismáticas bad girls da banda desenhada - propriedade da Dark Horse Comics - , a quem Pamela Anderson emprestou as suas sumptuosas curvas. Num caso como no outro, o resultado não poderia ter sido, porém, mais dececionante, com as duas produções a serem arrasadas pela crítica e a deixarem os fãs com os cabelos em pé.

Um exemplo acabado de trash movie
 renegado pelo próprio realizador.
O caso de Vampirella foi, no entanto, mais crítico, ao ponto de o seu realizador se arrepender até hoje de o ter feito feito. Após uma produção anárquica marcada por constrangimentos financeiros (o orçamento disponível era de apenas um milhão de dólares), divergências criativas (Wynorski discordou da escolha de Talisa Soto), noitadas nos casinos de Las Vegas (cidade escolhida para acolher as filmagens) e até por furtos (alguém roubou sistematicamente dinheiro do set), o filme (que chegou a ter uma sequela prevista) seria rapidamente votado ao ostracismo por via do seu lançamento direto no circuito de vídeo e do repúdio dos fãs. Uma clamorosa indignidade para com uma personagem que figura até hoje na 35ª posição da lista das cem mulheres mais sensuais dos quadradinhos elaborada pelo Comics Buyer's Guide, e que há muito tem lugar cativo na iconografia popular.

Talisa Soto interpretou uma Vampirella sem chama.