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16 outubro 2018

RETROSPETIVA: «OS VINGADORES»


  E houve um dia - diferente de todos os outros - em que os maiores heróis da Terra uniram forças para enfrentar uma ameaça que nenhum deles poderia vencer sozinho. Nesse dia nasceram os Vingadores e, com eles,  um épico da 7ª Arte que se tornaria uma das mais lucrativas películas de sempre.

Título original: The Avengers
Ano: 2012
País: EUA
Duração: 143 minutos
Género: Ação/Aventura/Ficção científica/Super-heróis
Produção: Marvel Studios
Realização: Joss Whedon
Argumento: Zak Penn e Joss Whedon
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures 
Elenco: Robert Downey Jr. (Tony Stark / Homem de Ferro); Chris Evans (Steve Rogers / Capitão América); Mark Ruffalo (Bruce Banner / Hulk); Chris Hemsworth (Thor); Scarlett Johansson (Natasha Romanoff / Viúva Negra); Jeremy Renner (Clint Barton / Gavião Arqueiro); Tom Hiddleston (Loki); Clark Gregg (Phil Coulson); Samuel L. Jackson (Nick Fury); Cobie Smulders (Maria Hill); Stellan Skarsgard (Erik Selvig)
Orçamento: 200 milhões de dólares
Receitas: 1,519 biliões de dólares

O homem sonha, a obra nasce


Quando muitos fãs de super-heróis sequer se atreviam a imaginar que tal alguma vez seria possível, a  ideia para um filme baseado nos Vingadores começou a ser gizada em 2003. Nesse ano, a Marvel Enterprises (antecessora da Marvel Studios) celebrou um acordo de financiamento com a Merrill Lynch - agência de investimento subsidiária do Bank of America - com vista à produção de uma série de seis longas-metragens a serem distribuídas pela Paramount Pictures. As cinco primeiras seriam estreladas individualmente pelas figuras de proa da Casa das Ideias, e serviriam para estabelecer o percurso de cada um dos heróis até à formação dos Vingadores no sexto e último filme.
Em junho de 2007, Zak Penn (argumentista de O Incrível Hulk) foi contratado para escrever o enredo de Os Vingadores. Já depois de Robert Downey Jr. ter assegurado a sua participação no projeto, em outubro do ano seguinte, ao mesmo tempo que decorria o processo de seleção do restante elenco, Jon Fraveau (que dirigira Homem de Ferro, o primeiro filme da franquia) foi anunciado como produtor executivo.
Em julho de 2010 seria a vez de Joss Whedon (que, até essa data, apenas por uma vez ocupara a cadeira de realizador) ser oficialmente confirmado na direção do projeto. E logo cuidou de reescrever o guião delineado por Zak Penn. Segundo Whedon, argumentista traquejado que escrevera boa parte da série Buffy - A Caçadora de Vampiros, essa primeira versão da história falhava em estabelecer ligações entre os protagonistas.

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Joss Whedon realizou e coescreveu Os Vingadores.
No mês seguinte, a Marvel Studios e a Paramount Pictures anunciaram a sua intenção de iniciar a rodagem do filme em fevereiro de 2011, em dois estúdios nova-iorquinos: Bethpage e Grumman Studios.
De permeio, em outubro de 2010, a Walt Disney Studios concordou em pagar à Paramount Pictures cerca de 115 milhões de dólares pelos direitos de distribuição mundial de Homem de Ferro 3 e Os Vingadores. O acordo permitia ainda à Paramount receber 8% das receitas globais geradas por cada uma dessas películas. Apesar de ambas terem sido exclusivamente financiadas, distribuídas e publicitadas pela Disney, nos respetivos créditos surgiria a indicação de que se tratavam de coproduções das duas companhias.
No dia 25 de abril de 2011, em Albuquerque (Novo México), arrancaram as gravações daquela que viria a ser a primeira-longa metragem em ação real dos Vingadores. A rodagem do filme prolongar-se-ia por 92 dias (menos um do que o inicialmente previsto) e passou por várias outras cidades norte-americanas, designadamente Cleveland, Cincinnati e Nova Iorque.
Ao contrário do que fora inicialmente divulgado, o filme não foi, contudo, gravado em 3D, tendo a conversão nesse formato (do qual Joss Whedon não é um entusiasta) sido executada a posteriori.
Com pompa e circunstância, a estreia mundial de Os Vingadores teve lugar a 12 de abril de 2012, no mítico El Capitan Theatre de Los Angeles. E, logo no fim de semana de abertura, o filme pulverizou recordes de bilheteira. Tratou-se, com efeito, da primeira produção da Marvel a arrecadar um bilião de dólares, destronando dessa forma O Cavaleiro das Trevas (2008) no topo da lista dos filmes de super-heróis mais lucrativos de sempre. Até ao lançamento de Guerra das Estrelas: O Despertar da Força, em 2015, Os Vingadores encerravam o pódio das películas mais lucrativas da história do cinema, atrás apenas de Avatar (2009) e Titanic (1997).
Esta extraordinária prestação comercial, somada aos elogios da crítica, garantiu o lançamento de três sequelas: Vingadores: Era de Ultron (2015), Vingadores: Guerra Infinita (2018) e um quarto capítulo da saga a estrear no próximo ano, e cujo título oficial permanece ainda no segredo dos deuses.

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O elenco de Os Vingadores  reuniu 
alguns dos maiores astros de Hollywood.
Sinopse

Num planeta inóspito, Loki, o insidioso irmão adotivo de Thor, reúne-se com o Outro, líder da raça extraterrestre conhecida como Chitauri. Em troca da entrega do Cubo Cósmico, uma fonte de energia de potencial inestimável, o Outro compromete-se a fornecer ao Deus da Trapaça um exército que lhe permitirá conquistar a Terra.
A anos-luz dali, Nick Fury, o diretor da agência de contra-espionagem SHIELD, acompanhado pela sua lugar-tenente Maria Hill, chega a um centro de pesquisa remoto durante uma evacuação. É nessa instalação ultrassecreta que o Dr. Erik Selvig e a sua equipa vêm estudando os segredos e potencialidades do Cubo Cósmico.
Fury é informado pelo Agente Phil Coulson de que o Cubo Cósmico começou a irradiar uma estranha forma de energia. Subitamente ativado, o artefacto abre um portal através do espaço, que serve de passagem a Loki para o nosso mundo.
Loki apodera-se do Cubo Cósmico e usa o seu cetro para controlar a mente de vários agentes da SHIELD - entre os quais o Dr. Selvig e Clint Barton (o Gavião Arqueiro) -, para o ajudarem na sua fuga.

Loki e o Cubo Cósmico.

Em resposta ao ataque, Fury reativa a "Iniciativa Vingadores". Natasha Romanoff, a espia que opera sob o nome de código Viúva Negra, viaja para a cidade indiana de Calcutá com o objetivo de recrutar o Dr. Bruce Banner, alter ego humano do Hulk. A ideia é usar os sólidos conhecimentos de Banner acerca da radiação gama para localizar a assinatura energética do Cubo Cósmico.
Em Nova Iorque, Tony Stark, o visionário tecnológico que enverga a armadura do Homem de Ferro, recebe a inesperada visita do Agente Coulson. Este pede a Stark que reveja a pesquisa do Dr. Selvig acerca do Cubo Cósmico.
Não muito longe dali, Nick Fury visita Steve Rogers (o Capitão América) e confia-lhe a missão de recuperar o artefacto roubado por Loki.
Feitas as devidas apresentações, Homem de Ferro, Capitão América e Viúva Negra rumam a Estugarda, na Alemanha, onde o Gavião Arqueiro, ainda sob o domínio de Loki, leva a cabo um assalto para roubar irídio, elemento químico fundamental para a estabilização do Cubo Cósmico. Para garantir o sucesso da operação, Loki cria uma distração que culmina num breve confronto entre o Sentinela da Liberdade e o Vingador Dourado.
Surpreendentemente, Loki rende-se aos heróis e é por eles levado para bordo de um avião da SHIELD. Antes, porém, que Nick Fury consiga interrogar o ilustre prisioneiro, Thor invade a aeronave com o intuito de libertar o irmão e escoltá-lo de volta a Asgard.
Homem de Ferro e Capitão América procuram deter o Deus do Trovão e os três acabam envolvidos numa rixa. Perante o impasse daí resultante, Thor concorda com a transferência de Loki para um dos aeroporta-aviões da SHIELD.
Com Loki aprisionado numa cela projetada para conter o Hulk, Tony Stark e o Dr. Banner procuram descobrir o paradeiro do Cubo Cósmico. O ambiente torna-se tenso quando os heróis percebem que a SHIELD planeia usar o poderoso artefacto no fabrico de armas capazes de repelir uma hipotética invasão alienígena.
No meio de uma acalorada discussão entre os heróis, o Gavião Arqueiro e outros agentes da SHIELD sob o controlo mental de Loki tomam de assalto o aeroporta-aviões. Uma das flechas explosivas do Gavião Arqueiro incapacita um dos motores da aeronave, fazendo-a despencar. Com o pânico instalado a bordo, o Dr. Banner não consegue impedir a sua transformação no Hulk.
Enquanto o Homem de Ferro e o Capitão América procuram desesperadamente religar o motor danificado, Thor tenta refrear a fúria do Hulk. A Viúva Negra, por sua vez, reluta em lutar com o Gavião Arqueiro. Acabando, contudo, por conseguir deixá-lo inconsciente, libertando-o do domínio de Loki.
O Deus da Trapaça consegue escapar depois de ejetar Thor para fora do aeroporta-aviões e de ter tirado a vida ao Agente Coulson, enquanto o Hulk se estatela no solo após ter derrubado um caça da SHIELD.
A catástrofe é evitada in extremis e Fury usa a morte de Coulson para motivar os heróis a trabalharem em conjunto. Apostados em vingar a morte de Coulson, Homem de Ferro e companhia partem no encalço de Loki.
No topo da Torre Stark, Loki usa o poder combinado do Cubo Cósmico e de um aparato concebido pelo Dr. Selvig para abrir um portal que permite a passagem da frota Chitauri. Tem início a invasão.

Kevin Feige, presidente de Marvel Studios, relató sobre el futuro que depara la franquicia de superhéroes posterior al estreno de Avengers 4
O último reduto da Humanidade.
Ao mesmo tempo que ajudam na evacuação de civis, os Vingadores assumem a linha da frente na acirrada batalha contra os Chitauri. Já depois de Hulk ter espancado selvaticamente Loki, a Viúva Negra consegue chegar ao topo da Torre Stark onde está instalado o gerador do portal.
Libertado do domínio de Loki, o Dr. Selvig informa a Viúva Negra que o cetro do Deus da Trapaça pode servir para desligar o gerador.
Numa videoconferência com os seus superiores do Conselho de Segurança Mundial, Nick Fury tenta, em vão, dissuadi-los de lançarem um míssil termonuclear sobre Manhattan para pôr termo à invasão alienígena.
O míssil é, no entanto, intercetado pelo Homem de Ferro que o desvia para o interior do portal aberto nos céus de Nova Iorque, e onde se encontra estacionada a nave-mãe dos Chitauri. Após a detonação, o portal é encerrado pela Viúva Negra e o Vingador Dourado cai desamparado para uma morte que parece certa até ser salvo em pleno ar pelo Hulk.
Finda a batalha, Thor regressa a Asgard com Loki e o Cubo Cósmico, enquanto Nick Fury se mostra confiante de que os Vingadores voltarão a reunir-se se e quando for necessário enfrentarem uma ameaça que nenhum deles poderá vencer sozinho.
Na primeira cena pós-créditos, o Outro dirige-se a alguém que se encontra sentado de costas num trono. O líder dos Chitauri adverte o seu interlocutor de que lutar contra os humanos equivale a cortejar a morte. Ao escutar estas palavras, Thanos volta-se e sorri.
Na segunda cena pós-créditos, os Vingadores comem em silêncio num restaurante de shawarma, seguindo a sugestão de Tony Stark numa sequência anterior.

Trailer



Prémios e nomeações

Na extensa lista de galardões (21, no total) arrebatados por Os Vingadores. pontuam dois Saturn Awards para melhor filme de ficção científica e melhor realizador. A título individual, Robert Downey Jr. foi distinguido com um People's Choice Award para ator favorito do público e Tom Hiddleston foi eleito o melhor vilão pelo júri dos MTV Movie Awards. Apesar de não ter conquistado qualquer estatueta dourada, o filme foi ainda nomeado para um Óscar, na categoria de Melhores Efeitos Visuais.

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Robert Downey Jr. exibe o seu troféu de ator favorito do público.

Curiosidades

*Pela mão de Stan Lee e Jack Kirby, os Vingadores estrearam-se em setembro de 1963, nas páginas de Avengers nº1. Formado para contrariar os diabólicos desígnios de Loki, o deus asgardiano da trapaça, o grupo reunia originalmente Homem de Ferro, Thor, Hulk, Homem-Formiga e Vespa. Apesar de cognominado Primeiro Vingador no Universo Cinemático Marvel, o Capitão América não participou nesse ato fundador por ainda se encontrar em animação suspensa algures no oceano Ártico. A adesão do Sentinela da Liberdade ocorreu apenas em Avengers nº4 (março de 1964), quando a equipa já havia ficado desfalcada do Golias Esmeralda. Também a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro (ambos ex-criminosos) foram adições posteriores às fileiras dos Vingadores, com o segundo a preceder a primeira na afiliação;

A formação dos Vingadores para travar Loki em Avengers nº1 (1963).
*A primeira versão do enredo incluía a participação da Vespa. A Vingadora fundadora acabaria, contudo, preterida em favor da Viúva Negra, que já havia sido introduzida em Homem de Ferro 2;
*Na mitologia Zulu, "Chitauri" designa uma raça de serpentes celestiais. Mark Millar. arquiteto do Universo Ultimate da Marvel em que se baseia boa parte da respetiva franquia cinematográfica, retirou, contudo, o termo dos escritos de David Icke. De acordo com este especialista britânico em teorias da conspiração, os Chitauri são na realidade alienígenas que pretendem subjugar a Humanidade;
*Ainda por terras de Sua Majestade, a película chegou aos cinemas ingleses com o título Avengers Assemble. Alteração imposta pela Warner Brothers como forma de  prevenir confusões com The Avengers, a série de espionagem que fez sucesso nos anos 1960 e que, em 1998, dera origem a uma longa-metragem epónima estrelada por  Ralph Fiennes, Uma Thurman e Sean Connery;

Avengers (British TV Series Reboot)
Vingadores ao serviço de Sua Majestade.
*Partiu de Joss Whedon a ideia de incluir na trama um segundo vilão do qual Loki seria um simples instrumento. Obtido o aval dos produtores, a escolha incidiu sobre Thanos, cuja identidade seria desvelada apenas numa das cenas pós-créditos. Esta foi, de resto, a única ocasião em que o Titã Insano não foi encarnado por Josh Brolin, que lhe vem emprestando corpo nos capítulos subsequentes da saga;
*Na outra cena pós-créditos, que mostra os heróis reunidos à volta de uma mesa a empanturrarem-se com shawarma, o Capitão América é o único que não está a comer. Chamado a gravar esta cena extra, Chris Evans recusou-se a cortar a barba que deixara entretanto crescer, devido à sua participação em Expresso do Amanhã. A solução encontrada passou pela utilização de um prótese facial que o impedia de falar ou mastigar;
*A preparação de Jeremy Renner para o papel de Gavião Arqueiro incluiu treinos de tiro com arco ministrados por atletas olímpicos da modalidade. Apesar de ser esquerdino, Jeremy aprendeu a disparar com ambas as mãos, emulando assim a sua personagem que, na banda desenhada, é descrita como ambidestra;
*Foi a segunda vez que Thor e Hulk dividiram o ecrã numa produção de ação real. A primeira havia sido em 1988, no telefilme O Regresso do Incrível Hulk, no qual o Deus do Trovão e o Gigante Verde foram interpretados, respetivamente, por Eric Allan Kramer e Lou Ferrigno;

Quase um quarto de século separa
 estes dois encontros entre o Golias Esmeralda e o Deus do Trovão.
*Por razões nunca devidamente esclarecidas, falharam as negociações com Edward Norton - protagonista de O Incrível Hulk - para que continuasse a representar o Golias Esmeralda. O papel seria assim entregue a Mark Ruffalo que, ironicamente, fora preterido em relação a Norton na produção citada;
*Fiel à sua imagem de marca enquanto cineasta, Joss Whedon matou uma das personagens mais acarinhadas pelo público. A morte do Agente Coulson forneceu aos heróis a motivação que lhes faltava para trabalharem em conjunto. A cena em causa teve, porém, de ser refilmada para passar no crivo da Motion Pictures Association of America, que só depois de eliminada a violência gráfica da sequência original concordou em atribuir à película a classificação etária para maiores de 13 anos;
*Objetivando conferir realismo à batalha final travada no coração de Nova Iorque, a produção contratou 25 soldados do 391º Regimento de Polícia Militar aquartelado no Ohio. Apesar desta participação castrense, o Pentágono relutou em envolver-se no projeto, uma vez que a história sugere que a SHIELD será uma organização transnacional. Face a este estatuto ambíguo, o Pentágono considerou irrealista a subordinação das forças armadas norte-americanas a uma instituição dessa natureza, razão pela qual vetou a ideia.

Veredito: 88% 

Fazendo tábua rasa dos tenebrosos vaticínios de alguns profetas da desgraça, descrentes da capacidade de Joss Whedon - com carreira construída, essencialmente, no pequeno ecrã - para dirigir uma produção de tão grande envergadura, Os Vingadores encerraram com chave de ouro a Fase 1 do Universo Cinematográfico Marvel.
Apaixonado por super-heróis, Whedon, na segunda vez em que ocupou a cadeira de realizador, conseguiu captar o espírito das primeiras histórias dos Vingadores, com assinatura de Stan Lee e Jack Kirby.
Para quem, como eu, cresceu a ler essas histórias e acompanha o Universo Marvel como um casamento de décadas (nos bons, maus e péssimos momentos), tratou-se de um sonho tornado realidade. Ou não fosse o filme uma versão modernizada da origem clássica dos Vingadores: uma alcateia de lobos solitários obrigados a reunir-se para enfrentar uma ameaça a que nenhum deles poderia dar resposta sozinho. Mas só depois do inevitável conflito de egos que acompanha os encontros entre superseres.
Inteligente e divertido, Os Vingadores é um filme de ação bem estruturado, com uma mão-cheia de cenas a apelar à memória emotiva dos fãs veteranos. Por contraste com outros capítulos da franquia, o humor é bem doseado, ficando o alívio cómico a cargo de várias personagens. Visualmente, proporciona, a espaços, uma experiência extática mesmo dispensando o formato tridimensional.
Os erros cometidos por Whedon são escassos e incidem menos na estrutura do que na continuidade de alguns pontos. O verdadeiro incómodo faz-se sentir no final, quando vemos as decisões pós-batalha serem tomadas de forma rápida e reticente.
Mesmo sendo um erro, qualquer espectador atento saberia justificá-lo: seria insensato da parte de Whedon alongar em demasia a trama após o clímax. Ou que investisse em cenas mais verborrágicas, pouco adequadas a produções deste género.
Por tudo isto, Os Vingadores continuam a ser, para mim, o melhor filme da Marvel. Marcou uma época e deixou, porventura, a fasquia demasiado elevada. Igualar tal nível de qualidade não será fácil, quanto mais superá-lo.

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Os Vingadores foram uma aposta certeira dos Estúdios Marvel.


23 maio 2018

HEROÍNAS EM AÇÃO: VIÚVA NEGRA


  Outrora uma espia soviética com licença para seduzir, levou paixões ao rubro na mais fria das guerras. Nos Vingadores, lutou ao lado de velhos inimigos e tomou o gosto pelo heroísmo. Redimir-se dos seus pecados é a sua nova e solitária missão. 

Denominação original: Black Widow 
Licenciadora: Marvel Comics 
Criadores: Stan Lee (editor), Don Rico (história) e Don Heck (arte conceitual)
Estreia: Tales of Suspense nº52 (abril de 1964)
Identidade civil: Natalia Alianovna Romanova (vulgo Natasha Romanoff)
Espécie: Humana
Local de nascimento: Estalinegrado, URSS (atual Volvogrado, na Rússia)
Parentes conhecidos: Mãe anónima, Ivan Petrovitch Bezukhov (pai adotivo), Vindiktor (presumível irmão, falecido)  Alexei Shostakov/Guardião Vermelho (ex-marido)
Ocupação: Aventureira, mercenária e assassina profissional. Abraçou em tempos uma efémera carreira como estilista e foi professora sob disfarce.
Base operacional: De bússola irrequieta, Natasha Romanoff é uma verdadeira cidadã do mundo. Moscovo, Nova Iorque e Los Angeles foram algumas das metrópoles onde, a solo ou integrada em coletivos, a Viúva Negra esteve hospedada. 
Afiliações: Ex-agente da KGB; ex-operacional e diretora interina da SHIELD; ex-líder dos Campeões; ex-membro dos Vingadores e dos Vingadores Secretos (adstritos à SHIELD). Presentemente, prefere operar por conta própria ou em ocasionais parcerias com o Soldado Invernal.
Armas, poderes e habilidades: Atleta de nível olímpico. Mestre de artes marciais. Perita em disfarce. Atiradora exímia. Treinada desde o início da puberdade para ser uma espia de classe mundial e uma assassina implacável, a Viúva Negra possui uma vasta gama de recursos e talentos que fazem dela uma das mulheres mais letais do planeta.
Durante a sua passagem pela Sala Vermelha, o programa ultrassecreto da KGB (ver Origem e Evolução), Natasha recebeu uma variação do Soro do Super-Soldado, a fórmula que transformara Steve Rogers no Capitão América. Em virtude disso, ela teve as suas capacidades físicas e cognitivas quimicamente aprimoradas.
A fisiologia artificialmente incrementada da Viúva Negra torna-a capaz de executar proezas sobre-humanas, uma vez que possui força, agilidade e reflexos acima da média. No entanto, o efeito mais extraordinário dessa biotecnologia consiste no retardamento do envelhecimento (apesar da sua aparência jovial, Natasha é na verdade uma nonagenária) e consequente aumento da longevidade. Graças às suas propriedades regenerativas, Natasha consegue cicatrizar cinco vezes mais depressa do que um humano normal, sendo também menos suscetível a doenças e infeções.
Conjugando a sua exuberante sensualidade com apuradas técnicas de sedução, a Viúva Negra é irresistível para o sexo oposto, sendo uma hábil manipuladora de vontades masculinas.
Extremamente eficiente na recolha e processamento de informações, a Viúva Negra é também uma excelente estratega com comprovada capacidade de liderança mesmo nas situações mais adversas.
Ferramenta imprescindível para as suas missões de infiltração em território estrangeiro, o multilinguismo é outra das habilidades da Viúva Negra - fluente em russo, inglês, francês, mandarim e vários outros idiomas. É ainda uma talentosa hacker e programadora, o que lhe permite piratear facilmente qualquer computador ou sistema informático.

Durante vários anos, Natasha Romanoff foi submetida
 a um rigoroso programa de treino na Sala Vermelha.
Produzido a partir de um tecido especial desenvolvido por cientistas soviéticos, o uniforme da Viúva Negra foi concebido para resistir a altas temperaturas e até a projéteis de pequeno calibre. As ventosas que apetrecham a indumentária permitem-lhe, à imagem da aranha que lhe dá nome, escalar paredes e aderir a uma grande variedade de superfícies.
Sempre que a missão o justifica, a Viúva Negra utiliza armas de fogo, facas balísticas e/ou explosivos plásticos em complemento ao pequeno arsenal embutido no seu traje. Entre este destacam-se as suas braceletes que, além de um fino cabo de aço, lhe permitem também disparar uma potente rajada elétrica equivalente a 30 mil volts. A curta distância, a chamada Picada da Viúva é suficiente para atordoar um meta-humano superpoderoso.
Percecionada muitas vezes como o elo mais fraco dos Vingadores, a Viúva Negra tira partido desse menosprezo para surpreender os seus oponentes.

Até um meta-humano pode ser desestabilizado pela Picada da Viúva,
a mais icónica das armas do arsenal da ex-agente do KGB.
Fraquezas: Além de todas as limitações e vulnerabilidades inerentes à sua condição de simples humana, a variante do Soro do Super-soldado responsável pelo aprimoramento físico e pelo incremento da longevidade da Viúva Negra teve como efeito colateral a infertilidade. Razão pela qual  Natasha está impossibilitada de gerar descendência biológica.

Histórico de publicação

Inicialmente uma espia soviética enviada sob disfarce para os EUA com a missão de se infiltrar nas Indústrias Stark, a Viúva Negra fez a sua primeira aparição em Tales of Suspense nº52, edição datada de abril de 1964 e que marcou o seu primeiro confronto com o Homem de Ferro, de quem a vilã idealizada por Stan Lee, Don Rico e Don Heck se tornaria adversária recorrente.
Cinco meses mais tarde, em Tales of Suspense nº59, a Viúva Negra voltaria a enfrentar o Vingador Dourado depois de ter seduzido e  recrutado o Gavião Arqueiro para a sua causa.
Apesar deste passado criminoso, o casal acabaria por reforçar as fileiras dos Vingadores. No caso da Viúva Negra, isso aconteceu em Avengers nº29 (julho de 1966).
Em 1970, a Viúva Negra obteve aquele que se tornaria o seu visual mais icónico. Numa história publicada em julho desse ano em The Amazing Spider-Man nº86, a ex-agente do KGB surgiu com cabelo ruivo e ostentando um elegante uniforme negro apetrechado com braceletes multifunções.

Ainda à paisana, a Viúva Negra fez a sua primeira aparição
 em Tales of Suspense nº52 (abril de 1964) como antagonista do Homem de Ferro.
Ainda em 1970, a Viúva Negra teve as suas primeiras aventuras a solo publicadas em Amazing Adventures, título que dividiu com os Inumanos até ao cancelamento precoce da série.
Entre novembro de 1971 e agosto de 1975, a Viúva Negra coadjuvou o Demolidor em Daredevil, o que motivou a renomeação temporária da série que, durante alguns números, se designou Daredevil and the Black Widow. Ideia que partiu de Gerry Conway*, admirador confesso das façanhas de Natasha Romanoff e que considerava existir uma química especial entre ela e o Homem Sem Medo.
Os escritores que lhe sucederam tiveram, contudo, entendimento diferente e, a partir de setembro de 1975, a Viúva Negra transitou de Daredevil para The Champions, título que acomodava as aventuras dos recém-formados Campeões.

A partir do nº81, a série do Demolidor
 foi renomeada de Daredevil and the Black Widow.
Nos anos 80 e 90 do último século, na sua dupla qualidade de Vingadora e agente freelance da SHIELD, a Viúva Negra teve breves passagens por Marvel Fanfare, Journey into Mystery e outros títulos emblemáticos da Casa das Ideias. Protagonizou também quatro minisséries e outras tantas graphic novels, a mais ovacionada das quais foi Black Widow: The Coldest War, lançada originalmente em abril de 1990, nas vésperas do colapso da União Soviética.
Em 2010, à boleia da sua introdução no Universo Cinemático da Marvel - ocorrida em Homem de Ferro 2 (ver Noutros media) -, a Viúva Negra ganhou nova série em nome próprio, participando paralelamente em Secret Avengers.
Mais recentemente, entre maio de 2016 e maio de 2017 - e já depois de ter sido cabeça de cartaz de várias minisséries e volumes especiais- , a heroína russa teve direito a nova série epónima, na esteira dos eventos narrados em Secret Wars.

O número final da mais recente série da Viúva Negra
 chegou às bancas americanas em maio de 2017.

Origem e evolução

Adensando ainda mais a aura de mistério ao redor do seu passado, existem relatos díspares acerca da origem da Viúva Negra.
De acordo com um deles, Natasha Romanoff e a mãe estariam encurraladas num prédio em chamas quando foram encontradas por Ivan Petrovitch, um soldado soviético que procurava sobreviventes no rescaldo da Batalha de Estalinegrado.
Num ato desesperado para salvar a vida da filha, antes de ser tragada pelas chamas a mãe de Natasha tê-la-á atirado pela janela diretamente para os braços de Ivan Petrovitch. Que, sentindo-se responsável pela pequena órfã, a perfilhou e acompanhou o resto da vida, tornando-se seu motorista na idade adulta.
Ansiosa por servir o seu país, ainda adolescente Natasha terá sido recrutada pela KGB, da qual viria a ser uma das suas operativas de topo.

Na escola de espiões da KGB, Natasha foi uma aluna exemplar.
Num outro relato introduzido retroativamente, após um périplo pela Europa devastada do pós-guerra na companhia de Ivan Petrovitch, Natasha terá sido recrutada para a Sala Vermelha. Nesse programa ultrassecreto da KGB, a jovem terá sido treinada para ser uma espia-mor e psicologicamente condicionada com recurso a sofisticadas técnicas de lavagem cerebral - que incluíam a implantação de falsas memórias.
Durante o seu estágio na Sala Vermelha. Natasha terá tido como instrutor o Soldado Invernal. Foi também inoculada com uma fórmula genérica do Soro do Super-Soldado que lhe incrementou a fisiologia.
Antes de ser enviada para os EUA com a missão de se infiltrar nas Indústrias Stark, Natasha foi forçada a casar-se com Alexei Shostakov, herói de guerra que, como Guardião Vermelho, seria a resposta da União Soviética ao Capitão América.
Pouco tempo depois, Natasha foi no entanto levada a acreditar que o marido havia morrido num acidente envolvendo o protótipo de um foguete espacial.
Na sua primeira incursão em território norte-americano, a Viúva Negra assistiu Boris Turgenov (o infame Dínamo Escarlate) na sua missão de assassinar o Professor Anton Venko. Dissidente soviético e cientista brilhante, Venko estava ao serviço das Indústrias Stark, colocando o casal de espiões em rota de colisão com o Homem de Ferro.

Natalia Romanova (Earth-616) from Tales of Suspense Vol 1 52 001
Nas suas primeiras aparições, a Viúva Negra agia à paisana.
Depois de ter seduzido o Gavião Arqueiro, a Viúva Negra instigou-o a enfrentar o Vingador Dourado. Durante o confronto de ambos, Natasha foi gravemente ferida, vicissitude que levou o Gavião Arqueiro a bater em retirada para garantir a sobrevivência da amante.
Natasha vinha, contudo, planeando em segredo a sua deserção para os EUA, e os sentimentos que acalentava pelo Gavião Arqueiro fizeram-na questionar ainda mais a sua lealdade à Mãe Rússia.
Antes que se propiciasse a sua deserção, a Viúva Negra foi raptada pela KGB e levada de volta à União Soviética, onde foi objeto de nova lavagem cerebral. Findo o processo de reeducação, foi prontamente recambiada para terras do Tio Sam usando pela primeira vez um uniforme que lhe permitiria bater-se em paridade de armas com os heróis fantasiados que por lá proliferavam.

O primeiro uniforme da Viúva Negra foi um presente da KGB.
Aliada ao Espadachim e ao Poderoso, a Viúva Negra participou numa ofensiva falhada contra os Vingadores, aos quais se uniria uma vez consumada a sua deserção para os EUA. Ela e o Gavião Arqueiro engrossariam, aliás, o contingente de criminosos regenerados admitidos ao longo dos anos nas fileiras dos Heróis Mais Poderoso da Terra.
Nem sempre a Víuva Negra conseguiu, porém, observar o código de conduta dos Vingadores, que proibia expressamente o emprego de força letal. Agastada com essas restrições à sua liberdade de ação, Natasha  abandonaria o grupo.
Durante a fase em que atuou a solo, a Viúva Negra foi agente freelance da SHIELD ao mesmo tempo que combatia o crime nas ruas de Nova Iorque. Na Grande Maçã envolveu-se romanticamente com o Demolidor, de quem se tornaria parceira e amante. Os dois seriam, aliás, o primeiro casal da banda desenhada a ter uma vida em comum sem estarem unidos pelos laços do matrimónio.
Nesse período marcante da sua vida, Natasha empreendeu também uma efémera carreira como estilista.
Sentindo que o Demolidor não a tratava como igual no campo de batalha, a Viúva Negra pôs um ponto final no romance e rumou a Los Angeles. Lá, seria convidada a liderar os Campeões, um heterodoxo coletivo reunido pelos antigos X-Men Anjo e Homem de Gelo, e que contava ainda com o Motoqueiro Fantasma e Hércules.
Quando, por motivo de insolvência, os Campeões foram dissolvidos, a Viúva Negra enveredou por nova carreira a solo. Para assinalar esse virar de página na sua vida, adotou também um novo visual.

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A Viúva Negra ao lado dos Campeões (cima)
 e o novo seu visual a solo.

Anos mais tarde, a Viúva Negra voltaria, porém, a juntar-se aos Vingadores. Chegando inclusivamente a comandar o que restou da equipa quando vários dos seus membros foram dados como mortos às mãos do Devastador (Massacre, no Brasil; Onslaught, no original).
Desde o início do presente o século,  a Viúva Negra vem participando em algumas das sagas mais impactantes da Marvel. Em Guerra Civil**, por exemplo, fez parte da fação pró-registo obrigatório de superseres.
A Viúva Negra tem, no entanto, preferido trilhar o seu próprio caminho, numa jornada de redenção para os seus muitos pecados passados. Para aliviar a consciência pesada, doa parte substancial dos seus honorários de mercenária a orfanatos e outras instituições de caridade.

Uma mercenária em busca de redenção.

Uma femme fatale da Idade do Ouro

Dando de barato que esta informação constituirá uma novidade para alguns dos que me leem, importa esclarecer que o nome de código Viúva Negra nem sempre pertenceu a Natasha Romanoff. Em boa verdade, ela herdou-o de uma anti-heroína da Idade do Ouro há muito relegada para a obscuridade, apesar de algumas tentativas recentes de a resgatar de lá.
A despeito desse legado nominal, não existe contudo qualquer relação entre as duas personagens. À parte a beleza superlativa que as caracteriza, quase nada têm de facto em comum. Nacionalidades diferentes, talentos diferentes, motivações diferentes.
Mas quem era, afinal, a primeira Viúva Negra?
Claire Voyant era uma médium norte-americana que se servia dos seus poderes psíquicos para comunicar com os defuntos. Depois de ter sido possessa pelo próprio Satanás quando tentava ajudar uma família que havia contratados os seus serviços, Claire foi assassinada a sangue-frio por um dos elementos do clã, que a culpava pela desgraça que sobre ele se abatera.
Enviada para o Inferno, Claire concordou em servir o Príncipe das Trevas a troco da oportunidade de vingar a sua morte. Desígnio em que seria bem-sucedida graças ao toque mortal com que foi agraciada pelo seu tenebroso mestre.
Com efeito, uma vez restituída ao mundo dos vivos, Claire descobriu que um simples toque dos seus dedos na fronte de outra pessoas bastaria para causar-lhe morte instantânea. Esse tétrico poder ficaria conhecido como "a marca da Viúva Negra".

Claire Voyant, a primeira Viúva Negra.
A missão terrena da Viúva Negra seria, no entanto, prolongada por Satanás. Que, cansado de esperar pela morte natural dos facínoras cujas almas reclamaria, a incumbiu de acelerar o processo.
Sem o mais leve vestígio de hesitação ou remorso, a Viúva Negra passou então a matar toda a sorte de malfeitores. De mafiosos a traficantes de armas, passando por políticos corruptos todos sucumbiram aos seus encantos, e todos foram por ela condenados à danação eterna.
Se este seu traço de caráter era inato ou consequência da nefasta influência do Príncipe das Trevas, não é claro. Certo é que a crueldade com que a Viúva Negra tratava os criminosos contrastava com a compaixão que demonstrava em relação às vítimas inocentes. As quais, não raro, protegia ou até curava com recurso aos seus poderes místicos, que não se esgotavam na já mencionada "marca da Viúva Negra".
Numa época em que a femme fatale era um ícone da literatura policial e do cinema noir, também nos quadradinhos não tardou a despontar um robusto contingente dessas mulheres com tanto de belas como de perigosas. Distinguindo-se a Viúva Negra das suas congéneres pelo facto de ter sido a primeira a dispor, simultaneamente, de um uniforme e de poderes sobrenaturais.
É, pois, nesses aspetos inovadores que reside o valor histórico da personagem criada por George Kapitan (trama) e Harry Sahle (desenhos), e que fez a sua estreia em agosto de 1940, nas páginas de Mystic Comics nº4. Um dos três títulos periódicos da Timely Comics (antecessora da Marvel) onde marcou discreta presença até finais de 1943. E digo "discreta" porque, durante esse ínterim, a Viúva Negra fez apenas cinco aparições em histórias que nunca excederam as oito páginas.
Após mais de meio século votada ao ostracismo, em 2007 a Viúva Negra seria revivida em The Twelve (Os Doze), iniciativa editorial da Casa das Ideias que reintroduziu na sua continuidade vários dos justiceiros mascarados originalmente detidos pela Timely.
Apesar da sua sensualidade e motivações se manterem intactas, nesta sua versão moderna Claire Voyant assumiu a persona de Viúva Negra em 1928 (coincidentemente, a data de nascimento de Natasha Romanoff) após o assassinato da sua irmã. Sedenta de vingança, Claire aceitou ser o instrumento de uma perversa entidade que, mesmo nunca explicitamente nomeada, tudo indica que seja, uma vez mais, o próprio Satanás.

Trivialidades

*Apesar de ser ruiva natural, nas suas primeiras missões de espionagem ao serviço da KGB, era frequente a Viúva Negra tingir o seu cabelo de preto;
*Cidade natal de Natasha Romanoff, Volvogrado serviu também de berço a Sergei Kravinoff, o vilão notabilizado como Kraven, o Caçador;
*Além de ter sido casada com Alexi Shostakov (o Guardião Vermelho), o extenso currículo amoroso da Viúva Negra inclui vários outros heróis fantasiados. A saber: Clint Barton (Gavião Arqueiro), Matt Murdock (Demolidor), James Barnes (Soldado Invernal) e Hércules, com quem Natasha manteve um fugaz romance durante a fase em que capitaneou os Campeões;

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Demolidor e Viúva Negra: muito mais do que parceiros no combate ao crime.
*Ao serviço da SHIELD, a Viúva Negra foi uma operacional de nível 10. Estatuto que lhe rendeu a liderança interina da organização quando Tony Stark e Maria Hill (respetivamente, diretor e diretora-adjunta) ficaram temporariamente incapacitados;
*A pedido de Nick Fury, Natasha assumiu a identidade de Yelena Belova ( sua antiga rival e a terceira Viúva Negra) para se infiltrar nos Thunderbolts, então às ordens do perverso Norman Osborn; 
*A Viúva Negra figura em 31º lugar na lista das cem maiores beldades da banda desenhada elaborada pelo Comics Buyer's Guide Já no Top 50 de Vingadores organizado pelo site IGN, a ex-agente da KGB surge na 42ª posição;
*Black Widow: Forever Red (2015) e Black Widow: Red Vengeance (2016) são os títulos das duas novelas - ainda inéditas em português - da autoria de Margaret Sthol e que têm a Viúva Negra como protagonista;
*Rumores nunca confirmados aventavam a possibilidade de, atendendo ao seu apelido, Natasha ser filha de Anastásia Romanova, a filha do Czar Nicolau II que muitos acreditam ter sobrevivido ao massacre da família real russa na sequência da Revolução Bolchevique.

Noutros media

Por via das suas numerosas participações em animações e videojogos baseados no Universo Marvel, era já apreciável o lastro mediático da Viúva Negra antes do seu advento ao grande ecrã, em Homem de Ferro 2.
Com efeito, a sua estreia no segmento audiovisual remonta a 1966, ano em que marcou presença no trecho dedicado ao Homem de Ferro em The Marvel Super Heroes, aquela que foi a primeira série animada produzida sob os auspícios da Casa das Ideias.
Habitué noutras produções do género, já este século a Viúva Negra tem estado em grande plano em Avengers Assemble (em exibição desde 2013). Ainda no campo da animação, em 2014 coprotagonizou com o Justiceiro Avengers Confidential: Black Widow & Punisher, película lançada diretamente em vídeo.

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Uma das muitas animações da Marvel
 em que a Viúva Negra participou.
No capítulo da ação real, a introdução da Viúva Negra no Universo Cinemático Marvel foi precedida por duas tentativas fracassadas de adaptá-la ao pequeno e ao grande ecrã. A primeira registou-se em 1975, quando a heroína russa e o Demolidor foram escolhidos para protagonizar uma série televisiva nunca produzida. Angie Bowie, ex-mulher do falecido David Bowie, teria encarnado Natasha Romanoff se o projeto tivesse chegado a bom porto.
Antes da Marvel chamar a si a produção dos próprios filmes, em 2004 a Lionsgate adquiriu os direitos de adaptação da Viúva Negra, com vista ao lançamento de uma longa-metragem da heroína. Projeto que nunca saiu da gaveta em consequência do fracasso comercial de películas como Mulher-Gato e Elektra. Fiascos que levaram os responsáveis da Lionsgate a ficarem descrentes na viabilidade de filmes protagonizados por super-heroínas.

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Angie Bowie como Natasha Romanoff
 na série nunca produzida do Demolidor e da Viúva Negra.
Desde 2010 que a Viúva Negra integra a franquia cinematográfica da Marvel, onde vem sendo competentemente interpretada por Scarlett Johansson. Após a sua estreia em Homem de Ferro 2, a atriz repetiu o papel em Os Vingadores (2012), Capitão América: O Soldado Invernal (2014), Os Vingadores: Era de Ultron (2015), Capitão América: Guerra Civil (2016) e Os Vingadores: Guerra Infinita (2018), Tendo já presença confirmada na respetiva sequência, com estreia marcada para o próximo ano.
Entretanto, Kevin Feige, Presidente Executivo dos Estúdios Marvel, já manifestou reiteradas vezes  o seu interesse na produção de um filme a solo da Viúva Negra. Até à data, o projeto continua no entanto em lume brando embora conste que poderá receber luz verde num futuro próximo.
Enquanto isso não acontece, resta aos fãs da heroína russa acompanharem as suas aventuras e desventuras ao lado dos Vingadores no próximo capítulo da saga Guerra Infinita.

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De 2010 a 2016: a evolução visual da Viúva Negra cinematográfica.


* http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/03/eternos-gerry-conway-1952.html
** http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/12/classicos-revisitados-guerra-civil.html



06 dezembro 2016

CLÁSSICOS DA 9ª ARTE: «GUERRA CIVIL»




   Heróis contra heróis. Liberdade versus segurança. Antigos camaradas de armas atirados para lados opostos da barricada num conflito fratricida de proporções épicas. Entrincheirados nas suas convicções, os dois homens que os comandam estão dispostos ao sacrifício supremo em prol do que acreditam ser um futuro melhor. Por quem dobrarão os sinos?

Título original: Civil War
Data de publicação: Julho de 2006 a fevereiro de 2007
Categoria: Minissérie em sete edições mensais
Licenciador: Marvel Comics
Autores: Mark Millar (enredo), Steve McNiven (ilustrações) e Dexter Vines (cores)
Personagens principais: Capitão América (Captain America), Homem de Ferro (Iron Man), SHIELD, Quarteto Fantástico (Fantastic Four), Pantera Negra (Black Panther), Tempestade (Storm), Homem-Aranha (Spider-Man), Vingadores Secretos (Secret Avengers) e Atlantes (Atlanteans)
Coadjuvantes: Novos Guerreiros (New Warriors), X-Men, Inumanos (Inhumans) e O Vigia (The Watcher)
Vilões: Nitro e Ragnarok
Cenários: Stamford (Connecticut), Zona Negativa e vários pontos da cidade de Nova Iorque
Guia de leitura: http://www.howtolovecomics.com/2014/11/30/marvel-civil-war-reading-order-guide/



O alfa e o ómega de uma guerra perdida.

                                    
Edições em Português: No Brasil, a primeira edição de Guerra Civil na língua de Camões remonta a 2007/08, tendo sido publicada sob os auspícios da Panini Comics. Além dos sete fascículos mensais que a compunham, foram igualmente lançados no mesmo período vários volumes correlatos, designadamente Rumo à Guerra Civil e Guerra Civil Especial. Ainda com a chancela da mesma editora, nos anos imediatos a saga teria direito a diversas republicações em diferentes formatos.
Também por Terras Tupiniquins, em 2014 seria a vez de a Salvat dedicar a esta obra capital um volume encadernado na sua Coleção Oficial de Graphic Novels da Marvel.
Do outro lado do Atlântico, em Portugal, as honras de edição couberam à Levoir que, em 2012, incluiria Guerra Civil na sua coletânea de histórias essenciais da Casa das Ideias.

A edição portuguesa da saga lançada pela Levoir.

Antecedentes:
 Em retrospeto, podemos afirmar que em, certa medida, as sementes da Guerra Civil começaram a ser plantadas em 1981. Nesse já longínquo ano, Chris Claremont e John Byrne exploraram pela primeira vez a ideia de os mutantes e demais superseres terem as suas atividades controladas pelo Governo dos EUA em X-Men: Days of Future Past (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido).
Noutra história dos Filhos do Átomo, publicada em 1984 nas páginas de Uncanny X-Men nº181, era discutida no Congresso uma proposta de lei que contemplava a obrigatoriedade do registo de todos os Homo Superior residentes em território norte-americano.
Aprovada em tempo recorde, a medida requeria o registo junto das autoridades federais de qualquer indivíduo nascido com habilidades mutantes, tão-logo as mesmas se manifestassem. Para supervisionar a aplicação da nova legislação, foi criado o controverso Comité de Atividades Meta-Humanas. Com o qual, ao longo dos anos, heróis como o Capitão América, os Vingadores e o X-Factor se incompatibilizariam.
Desdobramento da Lei do Registo de Mutantes, em 1990 entraria em vigor a Lei do Registo de Superseres. Com um escopo mais lato do que a sua antecessora, abrangia todos os indivíduos que, mesmo tendo nascido sem o gene X no seu ADN, haviam adquirido capacidades sobre-humanas por outros meios. Ironicamente, na eventualidade de ter sido aprovada nesses moldes, a lei deixaria de fora vigilantes como o Justiceiro ou a Viúva Negra, conhecidos pela letalidade dos seus métodos no combate à criminalidade, porém ambos simples humanos.

O primeiro ensaio de cadastramento de superseres
 ocorreu em X-Men: Days of Future Past (1981).

Face à celeuma instalada, Reed Richards foi convidado a depor perante um comité especial do Congresso. Numa análise clarividente, como é seu timbre, o líder do Quarteto Fantástico denunciou as incoerências da lei, bem como a sua futilidade. Desde logo porque a supervisão governamental serviria tão-somente para dificultar a ação dos super.heróis, Mas, também, por causa da flagrante subjetividade que presidia à definição de "superseres" vertida no respetivo texto. E que, conforme ficou comprovado, daria azo a toda a sorte de arbitrariedades.
Sensíveis à argumentação de Richards, os membros do comité deliberaram a revogação imediata da Lei do Registo de Superseres. Uma pequena vitória que, contudo, não encerrou o debate em torno da necessidade de monitorização das atividades dos meta-humanos. De facto, em 1993, seria a vez de o Canadá promulgar um pacote legislativo decalcado do americano. Com a diferença de, apesar de se manter em vigor desde essa data, nunca ter espoletado qualquer conflito no seio da comunidade meta-humana do grande vizinho do Norte.
Porventura encorajados por esse precedente, em 2006 um grupo de congressistas norte-americanos entendeu por bem ressuscitar a Lei do Registo de Superseres. Cuja versão revista ia mais longe do que qualquer uma das anteriores ao abranger igualmente indivíduos desprovidos de superpoderes mas detentores de tecnologia avançada e/ou exótica (leia-se: de origem alienígena, mística ou outra). Categoria onde se encaixava, por exemplo, a armadura do Homem de Ferro. Precisamente a primeira voz a alertar para os enormes perigos que uma medida dessa natureza comportaria.
Perante o Senado, Tony Stark, tal como antes dele fizera Reed Richards, apontou o dedo ao caráter subjetivo dos conceitos contemplados pela lei. Advertindo de caminho para as eventuais consequências nefastas de os heróis e vigilantes virem a ter a sua liberdade de ação coartada pelas autoridades oficiais.
Determinado em fazer valer o seu ponto de vista, Stark contratou em segredo um supervilão para atentar contra a sua própria vida e resolveu usar o Homem-Aranha como peão. Ignorando que tudo não passava de uma encenação, o herói aracnídeo foi em socorro do magnata em apuros. Enquanto confrontava o agressor de Stark, este, seguindo à risca o guião predefinido, confidenciou-lhe que várias potências estrangeiras inimigas dos EUA contavam com a nova lei para deixar o país desguarnecido, já que ela levaria ao encarceramento de alguns dos seus mais poderosos defensores.
Munido de um vídeo do atentado de que presumivelmente fora alvo, Tony Stark persuadiu o Senado de que, a ser aprovada, a Lei do Registo de Superseres faria mais mal do que bem. Por seu lado, o Homem-Aranha sustentou que a existência de super-heróis se justifica pela necessidade de responder a situações às quais as autoridades oficiais não estão em condições de dar resposta.
À luz desses desenvolvimentos, a lei seria novamente sujeita a discussão no Congresso. Confiante na renitência dos políticos em tomarem decisões impopulares, Tony Stark tranquilizou o Homem-Aranha, asseverando-lhe que, salvo alguma mudança drástica na forma como a opinião pública percecionava os super-heróis, a medida acabaria por ser metida na gaveta.
Claro que o impensável acabaria mesmo por acontecer e logo as nuvens negras se começariam a acumular no horizonte, num funesto prenúncio dos dias de chumbo que estavam por vir...

Quem nos protege dos nossos protetores?
Conceção: Conforme explanado no texto anterior, a introdução de legislação a requerer o cadastro de todos os meta-humanos radicados nos EUA serviu de premissa ao arco de histórias genericamente intitulado Civil War. Ideia que, contudo, nada tinha de inovadora, considerando que havia já sido glosada nos universos de outras editoras. Astro City (Image Comics) e Watchmen* (DC Comics) representam apenas os exemplos mais sonantes de sagas com idêntico ponto de partida.
A esta aparente falta de originalidade, Mark Millar, o escriba de Civil War, contrapôs o seguinte: «Ao lerem a história, as pessoas certamente perceberão que a minha abordagem ao dilema super-heroico é ligeiramente diferente das fórmulas já antes testadas. Cujo denominador comum consistia na exigência por parte do público da ilegalização das atividades vigilantistas. Algo que não se verifica em Civil War. Mesmo conscientes dos perigos que lhes estão associados, as pessoas não reclamam o banimento dos super-heróis, mas, sim, a sua reconversão em funcionários públicos. À semelhança dos bombeiros ou dos agentes policiais, os super-heróis, vigilantes e afins deveriam ser remunerados pelo Estado e sujeitar-se ao mesmo escrutínio das forças de proteção civil. Em teoria, seria a solução perfeita para o problema. E, tanto quanto sei, nunca ninguém a equacionara.»

Mark Millar, o homem que pôs heróis contra heróis.
Ao registo obrigatório de todos os superseres a operar dentro das fronteiras estadunidenses, somava-se a exigência legal de que eles revelassem as suas verdadeiras identidades às autoridades. Classificados como armas de destruição massiva, os meta-humanos teriam ainda de submeter-se a um programa de treino específico ministrado pelo Governo. Terminado o mesmo, àqueles que optassem por juntar-se às fileiras da SHIELD ficaria reservado o estatuto de agente federal, passando a obedecer a uma cadeia de comando e a auferir um vencimento.
Embora aliciante aos olhos de muitos dos seus membros, a proposta cindiu a comunidade super-heroica. De um lado, a fação presidida pelo Homem de Ferro que encarava o registo obrigatório como um dever cívico e um garante de segurança. Do outro, o setor que, sob a liderança do Capitão América, contestava a medida por considerar que ela violava direitos constitucionalmente consignados ao mesmo tempo que comprometia a proteção conferida pelo anonimato.
À medida que se assistia a um extremar de posições, muitos supervilões acabariam também por tomar partido. Alguns aliaram-se ao Capitão América, outros aderiram à causa do Homem de Ferro. Houve ainda um pequeno grupo, constituído tanto por heróis como por malfeitores, a optar pela neutralidade. Poucos foram, no entanto, aqueles que escaparam aos ricochetes da Guerra Civil.

*Resenha disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/04/do-fundo-do-bau.html

Histórico de publicação: Em consequência de outros compromissos profissionais do artista Steve McNiven, em agosto de 2006, a Marvel anunciou o adiamento em alguns meses de vários capítulos de Civil War. Decisão que implicou atrasos voluntários no lançamento dos títulos periódicos cujas histórias entroncavam na saga. Outra vítima das circunstâncias seria a minissérie Civil War: Front Line, que teve a sua chegada às bancas retardada em várias semanas.
Todas estas alterações ao cronograma editorial visavam evitar que desenvolvimentos importantes do enredo de Civil War fossem precocemente revelados. Por conta dos sucessivos atrasos, o seu epílogo só seria conhecido em meados de fevereiro de 2007, dois meses após o inicialmente previsto.

Uma das vítimas das
 alterações de calendário da Marvel.
Enredo: Já depois de, numa das suas proverbiais erupções de fúria irracional, o Hulk ter causado acidentalmente a morte a 26 pessoas em Las Vegas, e de 99% da população mutante ter sido dizimada por uma mentalmente perturbada Feiticeira Escarlate, um outro infausto acontecimento protagonizado por meta-humanos suscita a histeria coletiva.
Em Stamford, pequena e pacata cidade do Connecticut, os Novos Guerreiros, acompanhados de perto pelas câmaras de televisão devido à sua participação num reality show, invadem uma casa que serve de esconderijo a um bando de supercriminosos evadidos de uma prisão de alta segurança. Um deles, Nitro, usa os seus poderes explosivos para arrasar vários quarteirões numa tentativa desesperada de escapar ao cerco montado pelos heróis.
Quando a poeira assenta, mais de seis centenas de cadáveres jazem entre os escombros fumegantes. Entre eles, os de 60 crianças que se encontravam numa escola primária nas redondezas. Ao desastre, transmitido em direto em rede nacional, sobrevivem apenas Speedball, dos Novos Guerreiros, e o próprio Nitro.
No rescaldo da tragédia são vários os super-heróis que participam nas operações de socorro e que procuram transmitir algum alento às famílias das vítimas. Gestos solidários insuficientes, ainda assim, para calar a profunda revolta que toma conta de muitos cidadãos anónimos, indignados por mais esta carnificina causada por meta-humanos. Nos dias seguintes, essa revolta e indignação dão mesmo lugar a ataques violentos contra superseres. Um dos primeiros alvos é o Tocha Humana do Quarteto Fantástico, quase linchado por uma multidão enfurecida.


Entre as ruínas de Stamford germinaram as sementes da guerra.
Sob forte pressão da opinião pública, o Governo Federal apressa-se a retirar da gaveta a Lei do Registo de Superseres. Nesta sua nova versão, além da obrigatoriedade do registo de todos os indivíduos dotados de habilidades meta-humanas residentes no interior das fronteiras estadunidenses, é-lhes exigido que revelem as suas verdadeiras identidades às autoridades.
Perante a perspetiva de uma medida deste cariz ser aprovada pelo Congresso, a comunidade super-heroica divide-se. Apesar de a ela se ter oposto no passado, o Homem de Ferro assume-se agora como seu principal defensor. Justificando a sua mudança de posição com a necessidade de garantir a segurança dos civis em futuras ações levadas a cabo por meta-humanos. O que, no seu entender, só será possível com treino e monitorização governamentais. Tese subscrita, entre outros, por Hank Pym e Reed Richards, dois dos mais respeitados cientistas mundiais e eles próprios meta-humanos. Mas prontamente rejeitada pelo Capitão América, para quem a Lei do Registo de Superseres retiraria liberdade de movimentos aos heróis e colocaria em risco as suas vidas privadas, assim como os seus entes queridos.
Enquanto o debate sobe de tom, numa reunião secreta com o Presidente dos EUA, o Homem de Ferro exorta-o a avançar o quanto antes com a Lei do Registo de Superseres. Aprovada poucos dias depois, a supervisão da sua aplicação fica a cargo da SHIELD, sob o comando interino de Maria Hill.
Empurrados para a clandestinidade, vários heróis antirregisto aderem ao movimento de resistência fundado pelo Capitão América. A despeito da tensão crescente entre as duas fações, as primeiras batalhas são meramente propagandísticas. Ao passo que o Sentinela de Liberdade e seus aliados continuam a enfrentar supervilões, deixando-os à mercê das mesmas autoridades que os acossam, o grupo liderado pelo Homem de Ferro lança-se numa frenética caça aos refratários sem fazer distinção entre vigilantes e malfeitores.
O primeiro momento de viragem no curso dos acontecimentos ocorre quando o Homem de Ferro persuade o Homem-Aranha a expor publicamente a sua identidade. Decisão que teria repercussões extremamente negativas no porvir do herói e dos que o rodeavam.

Uma decisão de que Peter Parker se arrependeria amargamente.
Ainda com os ecos dessa revelação bombástica a fazerem-se sentir um pouco por toda a parte, o Homem de Ferro faz uma visita à Mansão X, lar dos X-Men. Num tête-à-tête com Emma Frost, o Vingador Dourado procura apurar qual o posicionamento da comunidade mutante face à nova legislação. Pela voz da antiga Rainha Branca do Clube do Inferno, o herói blindado fica a saber que os X-Men nunca aceitariam submeter-se a uma lei que vai contra tudo aquilo em que Charles Xavier acreditava. No entanto, a população Homo Superior, manter-se-á neutral, contanto que deixada em paz.
O segundo episódio que conduz a uma escalada no conflito ocorre quando os Vingadores Secretos (coletivo heroico às ordens do Capitão América) é atraído para uma cilada montada pelas forças pró-registo numa petroquímica. Ao convite do Homem de Ferro para um debate pacífico, o Capitão América responde com uma agressão, usando um dispositivo oculto nas luvas para desativar momentaneamente a armadura do seu antigo amigo e colega Vingador.
No final da escaramuça que se segue entre os dois grupos, o Homem de Ferro espanca selvaticamente o Capitão América. Já os Vingadores Secretos são sumariamente derrotados por Ragnarok, um clone de Thor ao serviço da SHIELD. Trespassado por um relâmpago invocado pelo falso Deus do Trovão, Golias é a primeira baixa na Guerra Civil.

Baixas de guerra: a morte de Golias às mãos de Ragnarok.
A morte de Golias tem, no entanto, o condão de colocar as coisas em perspetiva, levando vários heróis a passarem para o outro lado da barricada. Devido ao elevado número de deserções, a fação pró-registo vê-se obrigada a acelerar o seu plano de operações.
Sem tempo a perder, o Homem de Ferro e o Senhor Fantástico concebem uma prisão na Zona Negativa (dimensão paralela da nossa composta exclusivamente por antimatéria) para confinar todos os insurgentes capturados. Por corresponder à 42ª iniciativa que ambos tomaram desde o desastre de Stamford, o presídio é batizado de Projeto 42.
O movimento pró-registo sofre entretanto outro revés inesperado. Ao tomar consciência que quem não aceitar registar-se será encarcerado por tempo indeterminado, o Homem-Aranha troca de lado, juntando-se à resistência chefiada pelo Capitão América. Não sem antes aplicar uma valente tareia no Homem de Ferro. O que o Escalador de Paredes não sabia é que o seu novo traje blindado (um presente de Tony Stark) servira para este lhe analisar secretamente os poderes em busca de uma forma de anulá-los.
Entretanto, o Justiceiro, que conseguira infiltrar-se no quartel-general do Quarteto Fantástico, apodera-se dos planos do Projeto 42. Na posse dessa informação preciosa, o Capitão América e seus aliados tomam de assalto a prisão na Zona Negativa, com o propósito de libertarem todos os reclusos. São, no entanto, traídos por Tigra que tinha em segredo alertado o Homem de Ferro para o ataque. Acolitado por um grupo de supervilões recrutados à força para as suas fileiras, o Vingador Dourado procura desesperadamente impedir a fuga em massa. No calor da batalha, todos os beligerantes são misteriosamente transportados para Time Square, bem no coração de Nova Iorque.
Perante uma plateia horrorizada, o Capitão América, com a ajuda do Visão, derrota o Homem de Ferro e prepara-se para lhe desferir um golpe potencialmente fatal. É, no entanto, detido no último momento por elementos das equipas de socorro que haviam entretanto acorrido ao local.
Tomando consciência do absurdo de uma guerra fratricida que, em última análise, ele desencadeara, o Capitão América remove a máscara e rende-se.
Chegava assim ao fim, sem um vencedor declarado, a trágica Guerra Civil. E nada voltaria a ser como dantes no Universo Marvel.


"Coragem alimenta as guerras, mas é o medo que as faz nascer"
(Émile-Auguste Chartier, ensaísta e filósofo francês do século XX)
Repercussões:

* Já depois de cessadas as hostilidades entre as duas fações conflitantes, o Capitão América seria, aparentemente, assassinado por Ossos Cruzados quando subia a escadaria do tribunal onde seria julgado. O vilão agia às ordens do Caveira Vermelha e de Sharon Carter, agente da SHIELD e ex-namorada do herói a quem o Doutor Fausto fizera uma lavagem cerebral. Seria entretanto revelado que o disparo supostamente fatal fora efetuado pela jovem;

Ecos do pós-guerra: a morte do supersoldado.
* Quase todos os Vingadores Secretos foram amnistiados pelo Governo. Alguns optaram, ainda assim, por manter-se na clandestinidade e outros houve que emigraram para o Canadá;
* Nomeado diretor da SHIELD, o Homem de Ferro reuniria a sua própria equipa de superseres, os Poderosos Vingadores;
* Os Novos Vingadores, por seu turno, passariam à clandestinidade. Punho de Ferro, Doutor Estranho e Ronin (vulgo Clint Barton, anteriormente conhecido como Gavião Arqueiro) juntar-se-iam logo depois ao grupo;
* Entre as ruínas do desastre de Stamford, seria construído Camp Hammond, o novo centro de treino de meta-humanos da SHIELD, assim batizado em homenagem ao primeiro Tocha Humana (ver post anterior);
* Sob a tutela férrea de Norman Osborn, os Thunderbolts seriam convertidos numa agência federal;
* Ainda abalados pelos eventos dramáticos da Guerra Civil, o Senhor Fantástico e a Mulher Invisível abandonariam temporariamente o Quarteto Fantástico, sendo substituídos pelo Casal Real de Wakanda: Pantera Negra e Tempestade.

Trivialidades:

* No prelúdio de Siege, (arco de histórias lançado nos EUA em 2009/10), Loki e Norman Osborn discutem a possibilidade de engendrar uma tragédia semelhante à que serviu de catalisador à Guerra Civil para justificar um ataque contra Asgard;
* Os eventos da Guerra Civil foram igualmente referenciados no decurso da minissérie Avengers versus X-Men (2012), quando o Homem de Ferro relembrou o Capitão América do período em que ele agiu na orla da legalidade;
* Combinação do intelecto de Otto Octavius com o corpo de Peter Parker, o Homem-Aranha Superior descreveu a Guerra Civil como um conflito declarado pelo Capitão América em prol do direito à privacidade. Do seu ponto de vista, tudo se resumiu à necessidade de uma boa parte dos vigilantes mascarados preservarem o seu anonimato como forma de salvaguardarem os seus entes queridos de eventuais represálias por parte dos seus inimigos.


As feridas sararam, as cicatrizes ficaram.
Versões alternativas: Em What if? Civil War nº1 (edição dada à estampa em fevereiro de 2008), foram apresentados dois desfechos diferentes para a Guerra Civil. Ao visitar o túmulo do Capitão América no Cemitério Nacional de Arlington, Tony Stark é abordado por um estranho. Da boca deste ouve a descrição detalhada de duas linhas de tempo divergentes, nas quais o curso dos acontecimentos foi substancialmente alterado por circunstâncias de vária ordem.
Na primeira narrativa, é-lhe mostrado o que teria acontecido se o Capitão América tivesse liderado toda a comunidade super-heroica contra a Lei do Registo Obrigatório. Nesta realidade paralela, o cisma seria evitado pela morte prematura de Tony Stark, infetado pelo tecnovírus Extremis. Em consequência disso, o Governo norte-americano elegeria o Sentinela da Liberdade como porta-voz oficial dos meta-humanos.
Contestatário da medida que contemplava a exposição das identidades civis dos registados, o velho soldado conseguiria, a custo, postergar a sua aprovação no Congresso. No entanto, a exemplo do que se verificou no universo canónico, o desastre de Stamford precipitaria uma dramática cadeia de eventos que, sem a intercessão do Homem de Ferro junto das autoridades, as levaria a retaliar de forma desproporcionada. Sob o comando do agente especial Henry Peter Gyrich, as forças governamentais levariam a cabo operações militares que desbaratariam a resistência. Entre as muitas vítimas da carnificina que daí adviria, contar-se-ia um número assinalável de heróis.

Um olhar diferente sobre os eventos da Guerra Civil.
A segunda realidade seria bastante mais auspiciosa: em vez de optar por uma estratégia de intimidação, o Homem de Ferro pediria ajuda ao Capitão América. Admitindo as suas dúvidas quanto às virtualidades da Lei de Registo Obrigatório e à sua própria conduta no respetivo processo de implementação, o Vingador Dourado evitaria assim que o seu antigo colega de equipa usasse a arma escondida na luva para lhe desabilitar a armadura.
De seguida, os dois heróis uniriam forças para deter Ragnarok, o furioso clone do Deus do Trovão, entretanto libertado pela SHIELD. Convencido da boa vontade do Homem de Ferro, o Capitão América acederia ao seu pedido de ajuda para aplicar o programa de registo, sendo o único a quem os outros heróis se disporiam a confiar as suas identidades. Evitado o conflito entre apoiantes e opositores da Lei do Registo Obrigatório, centenas de vidas seriam poupadas e abrir-se-ia uma nova era de paz e segurança.
Quanto ao estranho, era, afinal, Uatu, o Vigia responsável pela monitorização da atividade humana. Ao consciencializar-se do futuro radioso que boicotou com as suas ações, Tony Stark fica devastado e chora junto à última morada do amigo tombado.

Sequela: Anunciada com pompa e circunstância pela Marvel em dezembro de 2015, Civil War II vem sendo publicada em terras do Tio Sam desde junho último. Brian Michael Bendis (história) e David Marquez (arte) repartem os créditos na produção desta sequência direta da saga original, no ano em que se assinala o seu décimo aniversário.
Agora do mesmo lado da barricada, o Homem de Ferro e o Capitão América têm a Capitã Marvel como adversária num conflito em larga escala que volta a pôr heróis contra heróis e que promete abalar os alicerces da Casa das Ideias.
Desta feita o rastilho é aceso pelo surgimento de uma personagem agraciada com poderes precognitivos que lhe fornecem visões nítidas de futuros prováveis. Um talento extraordinário que, no entendimento da Capitã Marvel, deverá servir como instrumento de prevenção de delitos. Tese conflitante com a do Homem de Ferro (e, a bem dizer, com os princípios basilares de qualquer Estado de Direito) para quem, em circunstância alguma, o castigo deverá preceder o crime.
Em resultado dessas divergências aparentemente insanáveis, assiste-se a um progressivo extremar de posições no seio da comunidade super-heroica que culmina num novo cisma. Do cisma à guerra fratricida é um pequeno passo e poucos são os que se conseguirão manter à margem dela.

Dez anos depois, nova guerra fratricida abala o Universo Marvel.
Noutros media: Data de julho de 2012 a primeira adaptação de Civil War a outros segmentos culturais. Quatro anos antes da sua chegada ao cinema, a saga teve direito a uma novelização da autoria de Stuart Moore, escritor celebrizado pelo seu trabalho com o Príncipe Submarino. O livro inaugurou, de resto, uma série literária baseada em quatro histórias fundamentais na memorabilia da Marvel.
Tomando diversas licenças poéticas relativamente ao material original, Moore ambientou a sua história no primeiro mandato presidencial de Barack Obama, e não na ponta final do consulado de George W. Bush. Para que não restassem dúvidas quanto ao contexto político, logo no capítulo de abertura do livro, Tony Stark menciona o polémico Obamacare.
Essa não é, no entanto, a única diferença assinalável em relação à banda desenhada. Nela, após expor publicamente a sua identidade, o Homem-Aranha vê-se forçado a celebrar um pacto com Mefisto para reverter essa situação. Processo que, para infortúnio do herói, incluiu o apagamento das memórias que Peter Parker e Mary Jane Watson tinham um do outro, inclusive do casamento de ambos. Já na versão saída da pena de Moore, Peter nunca chegou a dar o nó com MJ. Premissa retirada de One More Day, realidade alternativa que explora precisamente essa possibilidade.
Da novelização de Civil War nasceria um audiolivro. Lançado em março de 2013, era composto por seis CDs e, além do elenco que emprestava as vozes à multitude de personagens, incluía ainda efeitos sonoros nas cenas mais dramáticas.
Tanto o jogo de vídeo Marvel Ultimate Alliance 2 (2009) como o filme Captain America: Civil War (2016) são igualmente baseados na saga. No entanto, por oposição ao primeiro, o segundo contém apenas alguns dos elementos-chave da história original. Exemplos: a chacina de civis numa explosão provocada por meta-humanos e o facto de a mãe de um deles, Miriam Sharpe, culpar diretamente Tony Stark pela morte do filho.
Uma vez que as identidades secretas são um conceito estranho ao Universo Cinemático Marvel, o enfoque da película incide essencialmente na necessidade de supervisão das atividades meta-humanas por parte do Governo americano.

Capitão América: Guerra Civil foi um campeão de bilheteira.

Vale a pena ler?

"De que lado ficarás?". Foi sob este lema enganador que, há precisamente uma década, Civil War foi lançada entre enorme alarido. Enganador porque, contrariamente ao que sugere a estafada frase de efeito, a história (também ela, à primeira vista, um cliché) não se resume à escolha de um lado num conflito que, pela sua natureza fratricida, nunca poderia ter um vencedor inequívoco.
À imagem e semelhança das guerras civis do mundo real que dividem nações e famílias e transformam em adversários amigos de ontem, fosse qual fosse o resultado desta rixa entre heróis, todos sairiam a perder. Mais ainda quando ambas as partes defendiam pontos de vista válidos e cometeram terríveis erros de julgamento no decurso da liça.
Convém lembrar que, dentro da armadura de alta tecnologia do Homem de Ferro ou atrás do escudo indestrutível do Capitão América, se escondem homens. E homens são falíveis. Sendo a magnitude das consequências das suas ações proporcional ao respetivo nível de poder e de responsabilidade.
Não faltará, ainda assim, quem tenha cedido à tentação de tomar partido num afrontamento clássico entre a liberdade e a segurança. Dois valores essenciais em qualquer sociedade democrática. Mas que, apesar de indissociáveis, nem sempre coabitam harmoniosamente.
Haverá verdadeira liberdade sem uma vigilância constante por parte das autoridades contra as múltiplas ameaças que impendem sobre os cidadãos? E que parcela da nossa liberdade individual estaremos dispostos a penhorar num regime securitário? Questões prementes que encapsulam um dos principais dilemas das sociedades atuais. E a que Civil War serve de alegoria quase perfeita, sem aventar respostas simplistas. É, pois, nesse busílis trágico do conflito entre as fações pró e antirregisto que repousa a beleza de uma narrativa consideravelmente menos superficial do que muitos a continuam a pintar.
Discordam? Façamos então o seguinte exercício de imaginação: e se os eventos descritos na saga ocorressem no mundo real? E se devido às constantes batalhas entre seres superpoderosos a operar fora da lei perdessem o vosso lar, o vosso emprego ou um ente querido? No entanto, como ninguém conhece as suas verdadeiras identidades, os causadores da vossa desgraça não poderiam ser responsabilizados pelas suas ações. Continuariam a tolerá-las e a defender a existência desses vigilantes anónimos? Continuariam a achar que a razão assiste ao Capitão América?
Vejamos agora as coisa sob um prisma diferente: imaginem que, um belo dia, acordam com capacidades muitos superiores às do comum dos mortais. Aceitariam de bom grado serem cooptados pelo Governo do vosso país para colocarem os vossos poderes ao serviço do bem maior? Aceitariam ter a vossa privacidade devassada pelas autoridades, pondo em risco as pessoas que mais amam? Ainda querem ir a correr juntar-se à equipa do Homem de Ferro?
Acredito que, quando colocadas desta forma, as coisas se tornam um pouco mais complexas. Os mais conscienciosos, pelo menos, pensarão duas vezes antes de escolher um lado da barricada. Os mais sábios talvez optem pela neutralidade. Haverá ainda os que continuarão a tomar partido apenas em função da sua preferência pessoal pelo Capitão América ou pelo Homem de Ferro. Em qualquer dos casos, conforme observei no preâmbulo deste comentário, Civil War nunca foi sobre escolher lados. Como seria isso possível se estão ambos certos e, ao mesmo tempo, errados?
Em temas fraturantes como aquele que serve de mote à saga, sabermos pôr-nos no lugar do outro, fazer um esforço efetivo para compreender as suas motivações e os seus receios é fundamental. Só assim será possível trabalhar em conjunto na busca por respostas a problemas comuns. Quando isso não acontece, quando diálogo fracassa ou sequer é ensaiado, dá-se rédea solta à intolerância. E esta é sempre um bom rastilho para toda a sorte de quezílias de maiores ou menores proporções.
Foi essa a amarga lição que dois Vingadores desavindos aprenderam numa história que é muito mais do que um pretexto para ver super-heróis a trocarem uns sopapos entre si. Mas que, por conta dessa análise redutora feita por muito boa gente, continua a ser polémica e mal-amada. Mesmo por aqueles que, curiosamente, não regateiam elogios ao filme epónimo. Apesar de este fazer uma abordagem muito mais rasa ao dilema que marca o compasso da saga original.
Escusam, porém, de desembainhar as vossas espadas, pois considero Capitão América: Guerra Civil um dos melhores filmes de super-heróis deste ano. Ainda que o título me soe um tanto quanto abusivo, já que, em bom rigor, ele é apenas vagamente inspirado em Civil War. Assunto para uma futura recensão...

Como escolher um lado numa guerra entre a liberdade e a justiça?