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01 abril 2023

RETROSPETIVA: «X-MEN 2»


  Com a histeria antimutante ao rubro, um militar extremista põe em marcha o seu plano genocida para purificar a Humanidade. Perfila-se o espectro de uma guerra racial e, em nome da sobrevivência, os Filhos do Átomo formam uma frente unida contra o mundo que os teme e odeia. Será a paz uma miragem?

Título original: X2: X-Men United 
Ano: 2003
País: Estados Unidos da América
Duração:  134 minutos
Género: Drama / Ação / Super-heróis
Produção: The 20th Century Fox, Marvel Enterprises, The Donner's Company e Bad Hat Harry Productions
Realização: Bryan Singer
Argumento: Zak Penn, David Hayter e Bryan Singer
Distribuição: 20th Century Fox
Elenco: Patrick Stewart (Professor Charles Xavier); Hugh Jackman (Logan/Wolverine); Halle Berry (Ororo Munroe/Tempestade); Ian MacKellen (Eric Lehnsherr/Magneto); Famke Janssen (Jean Grey); James Marsden (Scott Summers/Ciclope); Brian Cox (Coronel William Stryker); Alan Cumming (Kurt Wagner/Noturno); Anna Paquin (Marie/Vampira); Rebecca Romijn (Raven Darkholme/Mística);Shawn Ashmore (Bobby Drake/Homem de Gelo); Aaron Stanford (John Allerdyce/Pyro); Bruce Davison (Senador Robert Kelly); Kelly Hu (Yuriko Oyama/ Lady Letal)
Orçamento: 125 milhões de dólares
Receitas globais: 407,7 milhões de dólares

Anatomia de uma sequela superior

O sucesso financeiro e as críticas positivas de X-Men convenceram a 20th Century Fox a avançar de imediato com uma sequência, quase duplicando-lhe o orçamento. Seguindo o velho mantra desportivo de que em equipa ganhadora não se mexe, tanto o realizador como o elenco tiveram os seus contratos prolongados (e, em alguns casos, melhorados).
Logo a partir de novembro de 2000, coincidindo com o lançamento de X-Men em VHS e DVD, Bryan Singer começou a pesquisar várias sagas emblemáticas dos Filhos do Átomo com vista a uma adaptação. Singer desejava apresentar a perspetiva humana relativamente ao fenómeno mutante, o tipo de raiva e temor que alimenta agendas extremistas. Nenhum dos inimigos clássicos dos X-Men, correspondia, contudo, ao perfil do antagonista que o realizador tinha em mente.
Ao mesmo tempo que David Hayter e Zak Penn eram contratados para escrever argumentos separados, o produtor Avi Arad anunciou novembro de 2002 como data prevista para a chegada do novo filme aos cinemas. Singer, por seu turno, estava inclinado a adaptar a saga da Fénix Negra. Sentindo que o universo da franquia não estava ainda suficientemente estabelecido para elevá-la ao patamar cósmico, Penn dissuadiu Singer dessa intenção. Sugerindo, em alternativa, God Loves, Man Kills (Deus Ama, o Homem Mata), também ela assinada por Chris Claremont. Ao constatar que o reverendo Stryker era exatamente o tipo de vilão que procurava, Singer avalizou a escolha.
O rascunho inicial do enredo combinava elementos retirados dos argumentos de Hayter e Penn. Anjo, Fera e Sapo surgiam na história, mas foram excluídos devido ao excessivo número de personagens mutantes. Assim como os Sentinelas e a Sala do Perigo, embora neste caso por razões orçamentais.

Arte conceptual não utilizada da Sala do Perigo.

Depois de Halle Berry ter arrecadado o Óscar de Melhor Atriz pelo seu desempenho em Monster's Ball (2001), Dan Harris e Michael Dougherty foram contratados para reescrever o argumento, a fim de conceder mais tempo de ecrã a Tempestade. 
Embora menos tumultuosa do que a do primeiro filme, a rodagem de X-Men 2 ficou novamente marcada pelo comportamento errático de Bryan Singer. Um dos episódios mais graves aconteceu quando Tom DeSanto, produtor-executivo e cocriador da franquia, encontrou o realizador e vários dos seus assistentes sob forte influência de narcóticos. Receando pela segurança dos atores, DeSanto ordenou a imediata suspensão das filmagens, o que espoletou uma violenta altercação com Singer. Segundo alguns relatos, os dois homens chegaram quase a vias de facto.
Ignorando os avisos de DeSanto, Singer resolveu prosseguir com os trabalhos, filmando uma cena em que Wolverine executava uma perigosa acrobacia numa das asas do Pássaro Negro. Como a cena em questão estava programada para o dia seguinte, o duplo de Hugh Jackman estava ausente do set, e foi o próprio ator a interpretá-la, acabando por sofrer ferimentos leves.
Liderado por Halle Berry, o restante elenco, ainda fantasiado, confrontou Bryan Singer. No calor da azeda discussão que se seguiu, o realizador ameaçou dispensar Berry ou qualquer um que abordasse em público a sua dependência de substâncias. Os ânimos só serenaram quando DeSanto voltou a intervir, apelando ao profissionalismo de todos.

A recém-oscarizada Halle Berry liderou a revolta contra Bryan Singer.

Com início a 17 de junho de 2002, em Vancouver, as filmagens terminaram cinco meses depois, obrigando ao adiamento da estreia para o ano seguinte. Foram usados mais de 67 cenários em 38 localizações diferentes, algumas das quais se revelaram problemáticas. Durante as gravações em Kananaskis, na província canadiana de Alberta, por exemplo, a produção foi surpreendida pela escassez de neve naquela época do ano. A solução passou então pelo uso de neve falsa.
As filmagens já iam a meio quando Bryan Singer informou Famke Janssen que Jean Grey sacrificaria a própria vida no final da história, mas que seria ressuscitada no terceiro capítulo da saga. Ideia bem acolhida pela atriz neerlandesa, que chegara a filmar uma cena alternativa em que Jean ficava temporariamente cega em resultado do seu confronto com Ciclope no Lago Alkali.
À antestreia londrina duas semanas antes, seguiu-se, a 2 de maio de 2003, a estreia simultânea de X-Men 2 em 3741 salas de cinema nos EUA e Canadá. Antes mesmo de começar a faturar, o filme garantiu assim entrada direta para o Livro Guiness dos Recordes com o maior lançamento de sempre. A esta proeza juntou-se uma outra: X-Men 2 foi um dos primeiros cinco filmes a ultrapassar os 200 milhões de dólares em receitas de bilheteira.
Bem recebido pela crítica, X-Men 2 foi indicado para múltiplos prémios, tendo conquistado o Saturn Award para melhor filme de ficção científica, além de uma menção honrosa atribuída pela Political Film Society, nas categorias de Direitos Humanos e Paz. 


Enredo

A Casa Branca é espetacularmente invadida por um mutante teleportador de aparência demoníaca. Acantonado na Sala Oval, o Presidente dos EUA é salvo no último instante por um agente do Serviço Secreto. Antes de desaparecer em pleno ar, o misterioso atacante deixa uma faca cravada com uma mensagem: "Liberdade mutante agora!".
Num ápice, o incidente desperta a histeria antimutante e o impulso farisaico dos extremistas. Enquanto a imprensa exercita a gramático do medo, um pouco por todo o país irrompem protestos a exigir medidas drásticas para conter a ameaça à segurança nacional. No Congresso, um coro de vozes exaltadas defende a Lei de Registo dos Mutantes. O espectro de uma guerra racial insinua-se no horizonte carregado de nuvens negras.

O ataque de Noturno à Casa Branca acicatou o sentimento antimutante.

Alheio a tudo isto, Wolverine explora uma instalação militar abandonada próxima de uma barragem, no Lago Alkali. Procura pistas que o ajudem a decifrar o intrincado mistério que obscurece o seu passado, mas encontra apenas um labirinto de corredores povoados por fantasmas.
Durante uma visita de estudo a um museu organizada pelo Instituto Xavier, a Ciclope não passa despercebida a falta de concentração de Jean Grey. Esta justifica-a com os sonhos perturbadores que a vêm atormentando, e com a crescente dificuldade em controlar os seus poderes telepáticos.
Numa esplanada ali perto, Pyro reage violentamente às provocações de um grupo de arruaceiros. Quando a situação está prestes a escalar, todos os circunstantes humanos ficam subitamente petrificados como estátuas. Depois de repreender os seus pupilos e apagar o incidente da memória das testemunhas, o Professor X dá a visita por terminada.
Na Casa Branca, o coronel William Stryker, um ex-cientista militar com uma agenda secreta, convence o Presidente de que o Instituto Xavier alberga um centro de treino para terroristas mutantes. Apesar das objeções levantadas pelo senador Kelly (na verdade, Mística disfarçada), o Presidente autoriza uma rusga à escola.
Mais tarde, Stryker visita Magneto na  prisão de plástico que ele próprio projetou. Sob o efeito de uma substância injetável, o Mestre do Magnetismo fornece informação detalhada sobre o funcionamento de Cérebro, o supercomputador instalado no Instituto Xavier.

O coronel Stryker lidera a contraofensiva humana.

De regresso à mansão Xavier, Wolverine, frustrado pelo fracasso da sua sua viagem ao Canadá, pede ao Professor X que lhe leia a mente. O mentor dos X-Men tem, no entanto, assuntos mais prementes a tratar. Com a ajuda de Cérebro, consegue rastrear o mutante que quase assassinou o Presidente. Tempestade e Jean Grey seguem para Boston a bordo do Pássaro Negro, com a missão de interrogar Noturno.
Suspeitando do envolvimento de Magneto no ataque à Casa Branca, o Professor X, acompanhado por Ciclope, visita o seu velho amigo na prisão. Ao ler os pensamentos de Eric, Xavier descobre que Stryker lhe conseguiu extorquir informações sensíveis para propósitos nefastos. De súbito, a cela é inundada de gás soporífero enquanto, no exterior, Ciclope é derrubado por Lady Letal, a guarda-costas mutante de Stryker.
Em Boston, Tempestade e Jean Grey encontram Noturno numa igreja abandonada. Vencida a desconfiança inicial do mutante assustado, ele confessa chamar-se Kurt Wagner e ter sido coagido por Stryker a atacar o Presidente.
Pela calada da noite, um grupo de operações especiais comandado pelo coronel Stryker toma de assalto o Instituto Xavier. Graças à pronta reação de Wolverine e Homem de Gelo, a maior parte dos alunos consegue escapar pelos túneis subterrâneos, mas um punhado deles acaba capturado.
Numa erupção de selvageria, Wolverine massacra sem piedade dezenas de soldados. Em meio ao banho de sangue, depara-se com um rosto estranhamente familiar. Igualmente perplexo, Stryker admite ser aquele o último lugar onde esperava encontrar Logan. Wolverine pressente que Stryker é a chave para abrir o seu baú de memórias reprimidas, mas o diálogo entre ambos é bruscamente interrompido pelo Homem de Gelo.

Wolverine cede ao seu instinto assassino.

Enquanto Stryker e os seus homens invadem a sala onde repousa Cérebro, Wolverine, Homem de Gelo, Pyro e Vampira encetam uma fuga alucinada no bólide desportivo de Ciclope. Em Boston, o grupo faz uma pequena paragem em casa dos pais de Bobby Drake enquanto procuram estabelecer contacto com Tempestade e Jean Grey. Perante o assombro dos pais e a repugnância do irmão, Bobby revela ser um mutante e a verdadeira função do Instituto Xavier para Jovens Sobredotados.
Longe dali, Mística faz-se passar por Lady Letal para obter acesso ao sistema informático de Stryker. Além de informação detalhada sobre a prisão de Magneto, a mutante das mil caras encontra também esquemas para a construção de uma réplica de Cérebro. Intuindo a ameaça, Mística engendra um plano para libertar o Mestre do Magnetismo.
Ao preparem-se para voltar à estrada, Wolverine e seus companheiros de viagem são surpreendidos pela polícia no jardim fronteiro da casa da família Drake. Durante a breve escaramuça que se segue, Tempestade e Jean Grey chegam ao local no Pássaro Negro e resgatam rapidamente os seus aliados. 
Nos céus, o Pássaro Negro é intercetado e alvejado por dois caças da Força Aérea Americana. Em voo picado em direção ao solo, a aeronave tem a sua queda fatal amparada por um campo magnético gerado por Magneto.
Embora a contragosto, os X-Men unem-se a Magneto e Mística para resgatar o Professor X e travar o plano genocida de Stryker. Em nome da sobrevivência da sua espécie, os Filhos do Átomo formam, pela primeira vez, uma frente unida contra o mundo que, mais do que nunca, os teme e odeia.
Após ler a mente de Noturno, Jean Grey descobre que a base secreta de Stryker fica situada sob a barragem no Lago Alkali. Magneto revela também que Stryker foi o cientista que infundiu o esqueleto de Wolverine com adamantium.

Mística e Magneto unem-se aos pupilos do Professor X.

No seu covil subterrâneo, Stryker usa o próprio filho - Jason, um mutante capaz de projetar poderosas ilusões - para controlar a mente do Professor X. Seguindo as instruções de Stryker, Xavier programa a réplica de Cérebro para localizar e exterminar todos os mutantes da Terra.
Disfarçada de Wolverine, Mística infiltra-se na base e franqueia a entrada aos X-Men e Magneto. Ao mesmo tempo que Mística tenta libertar o Professor X, Jean Grey enfrenta um ainda hipnotizado Ciclope. A refrega do casal liberta Ciclope dos efeitos da droga, mas também causa danos estruturais na barragem, cujas paredes começam a rachar.
Depois de derrotar Lady Letal num arrepiante duelo de garras metálicas, Wolverine encontra Stryker no laboratório onde foi submetido a experiências científicas desumanas. Stryker implora pela vida prometendo contar tudo o que sabe acerca do passado de Logan, mas este limita-se a deixá-lo para morrer.
Tempestade e Noturno resgatam os alunos enquanto Mística e Magneto encontram o Professor X na sala do novo Cérebro. Assumindo a forma de uma menina, Mística, instruída por Magneto, usa o filho de Stryker para convencer Xavier a encontrar e matar todos os humanos.

O Professor X é usado como instrumento de destruição de duas espécies.

Magneto e Mística abandonam rapidamente o local no helicóptero de Stryker, levando a bordo um inesperado passageiro: Pyro trocou os X-Men pela Irmandade de Mutantes.
Com a barragem a ameaçar ruir a qualquer instante, Noturno teleporta-se com Tempestade para a sala do novo Cérebro. Ato contínuo, a Rainha dos Ventos gera uma nevasca que desconcentra Jason, libertando dessa forma Xavier do seu controlo mental.
Os X-Men embarcam no Pássaro Negro, mas os motores do avião, danificados pelo ataque dos caças, não funcionam. Entretanto, a barragem colapsou e a enorme massa de água engole tudo à sua passagem. Perante o desastre iminente, Jean sai do Pássaro Negro e cria um campo de força telecinético para suster o avanço da água, ao mesmo tempo que reativa os motores da aeronave. Contudo, o esforço é insuportável e, para horror dos seus amigos, Jean é engolida pelas águas e desaparece sem deixar vestígio.

O sacrifício final de Jean Grey salva a vida dos X-Men.

No dia seguinte, quando se prepara para fazer uma comunicação ao país, o Presidente dos EUA tem o seu discurso interrompido pela inesperada visita dos X-Men. Depois de lhe entregar as provas que incriminam Stryker, o Professor X deixa um sério aviso: ou humanos e mutantes trabalham juntos na construção da paz, ou haverá uma guerra de que nenhuma das espécies sairá vencedora.
No Instituto Xavier reina ainda um clima de profunda consternação pela morte de Jean Grey. Apesar do esforço para regressar à normalidade, o heroico sacrifício de Jean perdurará na memória de todos. 
A milhares de quilómetros de distância, a figura difusa de um pássaro forma-se na superfície espelhada do Lago Alkali... 

Trailer

Curiosidades

*Principal fonte e esteio do enredo, a aclamada graphic novel God Loves, Man Kills foi lançada em 1982, mas só adquiriu estatuto canónico após a sua adaptação ao cinema. Na história original, saída da pena de Chris Claremont, William Stryker é um televangelista cristão (assumidamente inspirado no pastor e ativista ultraconservador Jerry Falwell) que considera os mutantes criaturas satânicas. Acolitado pelos Purificadores, uma milícia armada composta pelos seus seguidores mais fanáticos, Stryker lidera uma feroz cruzada antimutante a nível nacional. Tal como no filme, o monge do ódio constrói uma réplica de Cérebro e sequestra o Professor X, com o intuito de usar os seus poderes psíquicos para exterminar todos os mutantes. Confrontados com essa ameaça existencial, os X-Men estabelecem uma aliança temporária com Magneto, ao lado do qual travam uma desesperada luta pela sobrevivência da espécie Homo Superior. Desagradado com as muitas alterações introduzidas pelos argumentistas, Chris Claremont considera o filme uma má adaptação da sua obra;

A saga foi apresentada aos leitores lusófonos em 1988,
 no número inaugural da coleção Graphic Novel lançada pela Abril.

*Na base da transformação de William Stryker num cientista militar terá estado, muito provavelmente, a preocupação dos produtores de evitar controvérsias religiosas suscetíveis de originar boicotes ao filme. A versão cinematográfica de Stryker combina, de resto, elementos de dois outros inimigos jurados dos mutantes: Professor Andre Thorton (o sádico mentor do programa Arma X) e Henry Peter Gyrich (um austero agente federal). Uma vez que ambos usam óculos na banda desenhada, foi esse o acessório escolhido por Bryan Singer para referenciá-los esteticamente na caracterização de Stryker;
*Homossexual e ativista LGBT, Ian McKellen trabalhou afincadamente com os argumentistas para que a cena em que Bobby Drake revela à família a sua condição de mutante invocasse a tantas vezes traumática "saída do armário". Coincidência ou consequência, em 2015 a Marvel reviu a orientação sexual do Homem de Gelo. Após décadas de relações amorosas com mulheres, a personagem é agora assumidamente gay;
*Tyler Mane foi convidado a repetir o papel de Dentes-de-Sabre, agora atuando como guarda-costas do Coronel Stryker. Na banda desenhada, essa função é ocupada por uma mulher chamada Anne Reynolds. Depois de discutirem a hipótese de usar Reynolds dotando-a de poderes equivalentes aos de Lady Letal, os argumentistas decidiram-se pela própria. Em resposta às críticas pela falta de ação no filme anterior, Lady Letal recebeu cenas de luta mais longas do que o inicialmente programado; 

Lady Letal tem, tal como Wolverine, garras de adamantium e um fator de cura.

*Foram escritos 27 rascunhos da trama. Num deles, mais próximo da história original, Magneto salvava o Professor X e ajudava na fuga dos seus pupilos após a destruição da réplica do Cérebro. A cena foi no entanto alterada a pedido de Bryan Singer, que preferiu realçar a natureza implacável do Mestre do Magnetismo, quando este, ao invés, recalibra a máquina para exterminar todos os humanos. Foi também essa a forma encontrada pelo realizador de conceder maior protagonismo a Tempestade e Noturno no clímax do filme;
*A cadeira de rodas personalizada usada pelo Professor X em X-Men (2000) foi comprada por um advogado associado do representante legal de Patrick Stewart. Com a produção em marcha avançada, o estúdio percebeu que já não dispunha desse importantíssimo adereço, e não teve outro remédio se não alugá-lo ao referido causídico, a troco de uma quantia substancial nunca revelada;
*Construído num antigo armazém da Sears, em tempos idos a maior cadeia de distribuição do mundo, o covil subterrâneo do Coronel Stryker ocupava apenas metade da área disponível. Ainda assim, durante as filmagens o elenco e o staff usavam bicicletas para percorrer a grande distância entre os cenários e os lavabos;
*As pessoas "congeladas" pelo Professor X no museu e na Casa Branca foram interpretadas por mimos profissionais. A produção entendeu que eles seriam uma escolha mais adequada para as cenas em questão do que simples figurantes;
*A fuga de Magneto de uma cela de plástico transparente é uma homenagem a O Silêncio dos Inocentes (1991), um dos filmes preferidos de Bryan Singer. Brian Cox, por sua vez, interpretara Hannibal Lecter em Caçada ao Amanhecer (1986), tendo sido esse o motivo da sua escolha para o papel de William Stryker;

Singer fez de Magneto  o Hannibal Lecter da franquia mutante.

*Alan Cumming detestou a experiência de ser dirigido por Bryan Singer, atribuindo ao abuso de substâncias por parte do realizador o ambiente tóxico instalado no set.  O assédio moral de que o ator foi constantemente alvo no decurso das filmagens agravou a sua compulsão alimentar, resultando num aumento de peso que lhe prejudicou a saúde. Revoltado com a inércia do estúdio face aos desmandos de Singer, Cumming recusou repetir o papel de Noturno em X-Men 3: O Confronto Final (2006). Ironicamente, Cumming fora uma escolha pessoal de Singer, devido à sua fluência em alemão;
*Quando Tempestade e Jean Grey adentram a igreja à procura de Noturno, esta última veste um blusão com um pássaro flamejante estampado nas costas. Trata-se de uma óbvia referência à Fénix, a entidade cósmica que nas histórias clássicas dos X-Men escolheu Jean como sua hospedeira, e cujos poderes se foram subtilmente insinuando ao longo do filme;
*De visita ao set, a irmã de Hugh Jackman concordou em pregar uma partida a Bryan Singer. Usando o figurino completo de Wolverine, interpretou uma das cenas do irmão sem que o realizador desse pela diferença. De acordo com um assistente de Singer, este ter-se-á limitado a comentar distraidamente que Jackman estava a agir de forma algo estranha naquele dia;
*A cena final na Mansão Xavier foi gravada no Shepperton Studios, em Londres, simplesmente porque Hugh Jackman estava a filmar Van Helsing (2004) na capital britânica, tendo-lhe sido concedida uma autorização especial para se ausentar apenas por um dia. Uma vez que a caracterização do caçador de vampiros exigia que Jackman usasse o cabelo comprido, o ator teve de usar uma peruca para interpretar Wolverine. É por esse motivo que o cabelo de Logan parece mais alto do que o normal nessa cena.


Veredito: 78%

Na aurora do novo milénio, X-Men cumpriu com louvor a sua espinhosa missão de reabilitar os super-heróis no cinema. A fórmula de sucesso da película passou por apresentar personagens interessantes e propor discussões que permanecem atuais à luz da proliferação de microcausas identitárias. Tal como na banda desenhada, os mutantes foram metáforas perfeitas para os problemas e dilemas das minorias sociais que se sentem oprimidas.
Novamente sob a batuta de Bryan Singer, X-Men 2 assumiu-se como uma produção mais ambiciosa, alcançando um feito raro entre as sequelas: ser superior ao original. Singer é, de resto, um daqueles cineastas que recusa seguir os preceitos de um típico blockbuster estival. Dispondo de um orçamento bem mais generoso do que no primeiro filme, resistiu à tentação de investir nos efeitos especiais, servindo uma trama requentada.
Salta, de facto, à vista a preocupação de Singer em corrigir os principais defeitos apontados a X-Men, desde logo a falta de grandiosidade. Mas não só. Também as cenas de ação evoluíram para um nível satisfatório, capaz de atrair o espectador casual ávido de uma simples diversão. A cena de abertura, protagonizada por Noturno, é, sem margem para dúvidas, uma das melhores de toda a franquia.
Contudo, X-Men 2 vai muito além de um mero exercício escapista. Ao percorrer novamente uma linha de cumeada por uma amplitude de temas - do preconceito à discriminação, passando pelo radicalismo - , Singer aprofunda o debate aberto no primeiro filme sobre a aceitação das diferenças em sociedades, ironicamente, cada vez mais heterogéneas.

O grande número de personagens foi um dos maiores desafios da produção.

A maior virtude de X-Men 2 será, porventura, tratar com o devido respeito o material-fonte. O filme consegue, com assinalável competência, cerzir elementos distintos de mais de 40 anos de aventuras publicadas dos Filhos do Átomo. Independentemente do momento cronológico a que pertencem nos comics, personagens e situações são transplantados com sucesso para uma trama coesa permeada pela influência de algumas das obras capitais dos X-Men.
Outro dos méritos de Singer reside na gestão eficiente de um conjunto tão lato e diversificado de personagens. Todas elas desempenham, em algum momento da trama, uma função relevante. Mesmo Ciclope, cujo reduzido tempo de ecrã acaba por ser compensado pela dramática cena no Lago Alkali.
Graças a uma alternância equilibrada entre diálogos inteligentes e cenas de luta empolgantes, a ação do filme transcorre fluida. A trama deixa deliberadamente pontas soltas para uma continuação, seduzindo o espectador com uma agradável expectativa.
O resultado final é brilhante, na medida em que a filosofia crítica e as representações simbólicas de ativismos identitários em nada prejudicam o apelo comercial da película. Uma aula prática para os argumentistas atuais de filmes de super-heróis.


*Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à norma europeia da língua portuguesa.
*Artigos sobre X-Men, Wolverine, Magneto, Mística, Chris Claremont e A Saga da Fénix Negra disponíveis para leitura complementar.



 





 

31 janeiro 2020

GALERIA DE VILÕES: MAGNETO


  Sem concessões. Sem misericórdia. É assim que o Mestre do Magnetismo faz avançar a sua revolução mutante, mesmo se pela frente tem os pupilos de um velho amigo. Terrorista racial ou libertador de uma minoria oprimida, será sempre um dos homens mais perigosos à face da Terra.

Denominação original: Magneto 
Editora: Marvel Comics
Criadores: Stan Lee (história) e Jack Kirby (arte conceptual)
Estreia: X-Men nº1 (setembro de 1963)
Identidade civil: Max Eisenhardt (vulgo Erik Magnus Lehnsherr) 
Espécie: Homo superior
Local de nascimento: Nuremberga, Alemanha
Parentes conhecidos: Jakob e Edie Eisenhardt (pais, falecidos); Ruth Eisenhardt (irmã, falecida); Magda Eisenhardt (esposa, presumivelmente falecida); Anya Eisenhardt (filha, falecida); Lorna Dane / Polaris (filha); Joseph (clone, falecido)
Ocupação: Ex-carpinteiro, ex-caçador de Nazis, ex-terrorista internacional e ex-docente do Instituto Xavier, continua a ser um obstinado ativista dos direitos cívicos da população mutante.
Base operacional: A ilha senciente de Krakoa, localizada algures no Pacífico Sul, serve presentemente de quartel-general a Magneto que, no passado, esteve sediado em diferentes geografias. Do Asteroide M a Genosha, passando pela Terra Selvagem e pela Mansão X, foram muitas as infraestruturas e territórios a acolherem as suas atividades subversivas. Consta que disporá ainda de várias bases secretas espalhadas pelo globo, inclusive na Antártida. 
Afiliações: Ex-agente da Mossad; ex-líder e fundador da Irmandade de Mutantes; ex-líder dos Acólitos; ex-professor dos Novos Mutantes; ex-membro do Clube do Inferno;  ex-líder do Conselho Regente de Genosha e ex-membro do Quinteto Fénix, Magneto copreside atualmente com o seu velho amigo Charles Xavier ao Governo de Krakoa.
Némesis: X-Men e qualquer inimigo declarado dos mutantes.
Poderes e parafernália: O incrível poder mutante de Magneto confere-lhe controlo absoluto sobre todas as formas de magnetismo. Graças ao qual consegue manipular, a seu bel-prazer, qualquer metal, mesmo os virtualmente indestrutíveis. Como ficou, de resto, demonstrado quando o Mestre do Magnetismo extraiu o adamantium que revestia o esqueleto de Wolverine, quase matando o X-Man no processo.
Embora se desconheça a quantidade máxima de massa que Magneto consegue manipular de uma só vez, ele já ergueu sem esforço no ar submarinos nucleares de centenas de toneladas. Também já foi visto a usar os seus poderes para mover montanhas, desviar o curso de rios, desencadear terramotos e travar divisões blindadas de exércitos. O Mestre do Magnetismo está igualmente capacitado a manipular campos gravitacionais, o que lhe possibilita voar a distâncias e velocidades consideráveis.
O seu impressionante catálogo de habilidades inclui ainda a criação de poderosos campos de força magnéticos para sua proteção ou de terceiros; a projeção de rajadas elétricas e a geração de gigantescos pulsos eletromagnéticos suscetíveis de causarem devastação à escala planetária. Montar ou desmontar armas e maquinarias em questão de segundos é outra das suas especialidades.
Apesar da habilidade primária de Magneto radicar no seu controlo sobre o magnetismo, ele consegue igualmente manipular qualquer forma de energia do espectro eletromagnético. A saber: ondas de rádio, luz ultravioleta, raios gama, etc.

Magneto ripping the adamantium from Wolverine's bones
O adamantium no corpo de Wolverine
 tornou-o presa fácil para o Mestre do Magnetismo.
Mesmo para telepatas tão poderosos como o Professor X ou Emma Frost, a mente de Magneto é uma fortaleza semi-inexpugnável. Várias explicações para esta sua invulgar resistência a investidas psíquicas foram já aventadas. Sendo a mais plausível aquela que teoriza que isso se deverá a algum tipo de interferência causada na telepatia pelos seus poderes eletromagnéticos. Muito mais do que um simples adereço, o seu capacete especial confere-lhe proteção eficaz contra ataques e sondagens mentais. Há quem, por outro lado, especule que Magneto possa possuir habilidades telepáticas latentes.
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Magneto resiste a uma potente investida telepática do Professor X.
Com reconhecidas competências em áreas tão diversificadas como a Robótica, a Física de Partículas ou a Bioengenharia, Magneto é senhor de um dos maiores intelectos da Terra. No seu currículo tem a construção de estações orbitais, a criação de formas de vida inteligentes e o desenvolvimento de sofisticados aparatos para efeitos diversos. Uma das suas mais brilhantes invenções nesse campo permitia-lhe anular os poderes de qualquer mutante - exceto, obviamente, os seus.
Poliglota, Magneto é fluente em alemão, hebraico, polaco e em vários outros idiomas. Certa vez, logrou mesmo decifrar a língua de uma antiga civilização há muito extinta.
À sua vasta experiência em combate, Magneto alia a sua mestria estratégica. A combinação dessas duas valências já lhe permitiu sair vitorioso de combates travados com os X-Men e os Vingadores.
Apesar de ser um adolescente durante o Holocausto, Magneto conserva a aparência de um homem de meia-idade no auge da forma física. Cortesia do processo de rejuvenescimento que em tempos lhe foi aplicado pelo Alto Evolucionário.
Devido ao seu treino militar, o Mestre do Magnetismo possui medianas aptidões no combate corpo a corpo. Quando em presença de um adversário mais forte, recorre aos seus poderes mutantes para incrementar as suas capacidades físicas.
O traje envergado por Magneto é na verdade uma espécie de armadura confecionada a partir de uma amálgama de ligas metálicas ultraleves e ultrarresistentes. Serve para protegê-lo, por exemplo, das balas de borracha que os seus campos de força magnéticos são incapazes de suster.
Por tudo o acima descrito, Magneto concorre a vários superlativos, designadamente o de mutante mais poderoso do mundo e inimigo nº1 da Humanidade.

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Nem o poder combinado dos X-Men intimida o Mestre do Magnetismo.
Fraquezas: A extensão e eficácia dos poderes de Magneto dependem diretamente da sua condição física. Quando ferido ou debilitado, o corpo do vilão é incapaz de resistir ao enorme esforço requerido pela manipulação da energia magnética.
Outro constrangimento ao potencial do Mestre do Magnetismo sobrevém da sua propensão para a depressão e outras patologias do foro psíquico, especificamente bipolaridade. Dada a prevalência destas condições no seu historial clínico, presume-se que serão efeitos colaterais de uma utilização desregrada das suas habilidades mutantes.
Magneto kneels before Cyclops on Utopia
Por vezes Magneto cede ao peso dos seus ideais.

Messias mutante

Magneto, o mais icónico dos supervilões mutantes, foi criado por Stan Lee e Jack Kirby para apadrinhar o batismo de fogo dos pupilos do Professor X, em X-Men nº1 (setembro de 1963). No entanto, Stan Lee nunca considerou o Mestre do Magnetismo um genuíno expoente de malignidade.
Para o saudoso arquiteto da Casa das Ideias, Magneto, vítima de preconceito e violência desde tenra idade, tornara-se ele próprio preconceituoso e violento. Com a diferença de não ser indefeso, uma vez que possui o poder para revidar contra os seus algozes.
«Eu nunca vi Magneto como um vilão», explicava Lee quando questionado sobre a moralidade da sua criação, acrescentando: «Ele limitava-se a retribuir a intolerância e o ódio dos humanos normais em relação aos mutantes. Ele tentava proteger os seus semelhantes e, como a sociedade não os respeitava, Magneto decidiu dar uma lição à sociedade. Claro que ele era uma ameaça, mas havia alguma nobreza na sua causa.»

Magneto apresentou-se ao mundo em X-Men nº1 (1963).
Com a luta pelos direitos cívicos dos negros como pano de fundo, as histórias dos X-Men pretendiam ser alegorias para as tensões raciais que, à época, fraturavam a sociedade americana. Nesse sentido, Martin Luther King Jr. e Malcom X serviram, respetivamente, de modelos à caracterização de Charles Xavier e Magneto.
Enquanto o primeiro - replicando a doutrina inclusiva de Luther King - acalentava o ideal de uma coexistência harmoniosa entre humanos e mutantes, o segundo - alinhado com as políticas separatistas de Malcom X - pugnava pela plena emancipação da sua raça. No fundo, malgrado as suas visões antagónicas de uma causa comum, os dois homens - na ficção como no mundo real - representavam as duas faces da mesma moeda.
Com efeito, a turbulenta amizade entre Charles Xavier e Magneto é uma pedra angular na vida dos dois homens. Sabe-se, no entanto, que Stan Lee ponderou inicialmente apresentá-los como irmãos, de molde a conferir maior dramatismo à relação entre ambos.

As filosofias opostas de Martin Luther King e Malcom X
 inspiraram Stan Lee a criar o Professor X e Magneto.
Nas suas aparições iniciais Magneto era retratado como um aspirante a tiranete, impelido pelo seu desejo de punir a Humanidade pelas suas atrocidades. Com o tempo, porém, ser-lhe-ia aplicado o mesmo processo de humanização de que foram alvo tantos outros vilões do Universo Marvel. No âmbito desse protocolo modificativo, foi-lhe atribuído o estatuto de sobrevivente do Holocausto empenhado em garantir que os mutantes, apenas por terem nascido diferentes, não sofreriam as mesmas sevícias que os judeus e outras minorias.
A face mais radical da revolução mutante, Magneto acredita que o Homo superior está predestinado a herdar o planeta, percecionando dessa forma o Homo sapiens como um estorvo nocivo à evolução da espécie humana.
Como qualquer messias, Magneto dispõe de apóstolos e julga-se investido de uma missão sagrada. No caso, a de assegurar, por todos os meios necessários, a sobrevivência e supremacia da sua raça num mundo que lhe é hostil.
Por cada mutante - amigo ou inimigo - morto às mãos de humanos, crescem a culpa e a raiva do Mestre do Magnetismo. A mesma raiva que reserva para os mutantes colaboracionistas e para todo e qualquer inimigo da sua causa. Como qualquer fanático que se preze, Magneto rege-se pelo velho mantra "Quem não está comigo, está contra mim." E tem sido assim, sem concessões nem misericórdia, que tem liderado os seus seguidores rumo ao alvorecer de uma nova era.

Complexo de messias.

Sobrevivente do Holocausto

Max Eisenhardt, o homem que o mundo aprenderia a temer como Magneto, nasceu nos anos terminais da década de 1920, no seio de uma família de judeus alemães de classe média. O seu pai, Jakob Eisenhardt, era um veterano condecorado da I Guerra Mundial e um orgulhoso patriota.
Após a ascensão de Hitler ao poder, o clã Eisenhardt sobreviveu às políticas discriminatórias emanadas das Leis de Nuremberga, bem como à fatídica Noite de Cristal. Quando o ar na Alemanha se tornou irrespirável para os judeus e outras minorias, Jakob fugiu com a família para a Polónia. Acabariam no entanto capturados pelas tropas germânicas durante a invasão e subsequente ocupação do país.
Enviada para o gueto de Varsóvia, a família Eisenhardt lograria escapar pouco tempo depois. Apenas para voltar a ser capturada pelas forças nazis, que resolveram fazer dela um exemplo para os restantes judeus. Os pais e a irmã de Max foram sumariamente executados e enterrados numa vala comum. A provável manifestação precoce dos seus dons mutantes salvou o rapaz de idêntico destino.
Sozinho no mundo, Max foi transferido para o campo de concentração de Auschwitz, onde foi nomeado Sonderkommando. Entre outras funções, competia-lhe a macabra tarefa de sepultar as vítimas das câmaras de gás. Essas sinistras memórias definiriam para sempre o seu caráter.
Foi também durante a sua passagem por Auschwitz que Max reencontrou Magda, a rapariga cigana por quem se enamorara na infância. Tal como os demais sobreviventes do campo, o casal seria libertado pelo Exército Vermelho, nos primeiros meses de 1945.

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Os poderes de Max Eisenhardt garantiram-lhe
 a sobrevivência num campo da morte nazi.
Finda a II Guerra Mundial, Max e Magda instalaram-se na cidade ucraniana de Vinnytsia. Max adotou o nome Magnus e Magda deu à luz a filha de ambos, Anya. ´
Para garantir o sustento da família, Magnus trabalhava como carpinteiro e, apesar da vida humilde que levavam, todos eram felizes. Tudo mudaria na noite em que Magnus, ao regressar da cidade, foi atacado por desconhecidos. Numa reação instintiva de autopreservação, os seus latentes poderes magnéticos liquidaram os agressores.
Mais tarde nessa noite, a casa de Magnus foi incendiada por uma turba enfurecida e a pequena Anya pereceu no incêndio. Tomado pela raiva e pela dor, Magnus usou os seus recém-descobertos poderes para chacinar os atacantes perante a sua horrorizada cara-metade.  Em pânico, Magda fugiu para a floresta para nunca mais ser vista.

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Memórias agridoces do Mestre do Magnetismo:
em cima, momentos felizes em família;
em baixo, Magnus chora a morte da filha.
Novamente sozinho no mundo e de coração entrevado, Magnus - agora respondendo pelo nome Erik Lehnsherr - viveu os anos seguintes incógnito entre a comunidade cigana local. Foi também sob essa identidade que viajou até Israel, onde trabalhou como voluntário num hospital psiquiátrico em Haifa.
Num obséquio do destino, foi lá que travou amizade com Charles Xavier, um jovem e idealista académico nascido em terras do Tio Sam. Noite após noite, os dois jogavam xadrez e debatiam o impacto das mutações genéticas no futuro da Humanidade. Apesar dessa afinidade, ambos guardavam sigilo da sua condição de mutantes.
Quando um comando da HIDRA tomou de assalto o hospital para raptar uma paciente, Erik e Charles viram-se forçados a fazer uso das suas habilidades magnéticas e telepáticas para repelirem o ataque. No rescaldo da batalha, com os seus segredos expostos, os dois amigos perceberam que defendiam pontos de vista inconciliáveis no que ao papel dos mutantes na sociedade dizia respeito, seguindo a partir desse momento caminhos separados.
Ironicamente, as mesmas ideias que os apartaram, voltariam a reuni-los anos mais tarde, ainda que em lados opostos da barricada.
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Charles Xavier e Magneto partilham a paixão pelo xadrez.
Mas apenas um deles quer fazer xeque-mate à Humanidade.
Durante esse ínterim, Erik, ao serviço da Mossad, caçou criminosos de guerra nazis. Colaboração que seria interrompida quando os serviços secretos israelitas assassinaram uma jovem por quem Erik se afeiçoara.
As traumáticas experiências vivenciadas por Erik durante o Holocausto moldaram a sua perceção da vulnerabilidade da comunidade mutante inserida em sociedades intolerantes e preconceituosas. Determinado em proteger os seus semelhantes do mesmo tipo de atrocidades que haviam sido impostas aos judeus, Erik abraçou métodos radicais e violentos.
Por acreditar que o Homo superior se tornaria, a breve trecho, a espécie dominante no planeta, Erik lutava pela criação de um etno-Estado onde todos os mutantes pudessem viver em paz e segurança. Consistindo a alternativa em conquistar o mundo e escravizar a Humanidade.
Na sua primeira aparição como Magneto, Erik atacou Cape Citadel, uma base militar instalada na Florida. Apesar de ter sido detido pelos X-Men (pupilos do seu velho amigo Charles Xavier), o Mestre do Magnetismo não mais concederia tréguas na sua guerra contra a Humanidade.
Terrorista racial aos olhos de uns, messias aos olhos de outros, depressa ganhou a reputação de homem mais perigoso à face da Terra, passando a planear as suas ações subversivas a partir do Asteroide M, uma sofisticada estação orbital que ele próprio construiu.
À criação dos X-Men e ao ideal de coexistência pacífica acalentado por Xavier, respondeu Magneto com a formação da Irmandade de Mutantes ao serviço da sua campanha supremacista. Sempre que a própria sobrevivência do Homo superior era posta em causa, as duas fações punham de lado as suas diferenças e uniam forças para enfrentarem a ameaça comum.
Magneto concretizou brevemente o seu sonho de liderar um etno-Estado quando, no início deste século, a ONU o reconheceu como soberano de Genosha. Para essa nação insular na costa oriental africana convergiram mutantes de todo mundo em busca de um lar. Apesar de hoje  restarem apenas escombros fumegantes dessa utopia que fez florescer as esperanças de toda uma raça, o Mestre do Magnetismo não chora o seu fim, orgulhando-se antes por ela existido.

The Mutant Brotherhood
Magneto e a sua Irmandade de Mutantes.

Miscelânea

*Rei Cinzento, Peregrino Branco, Erik, o Vermelho e Líder são outros dos cognomes tradicionalmente associados a Magneto;
*Homo superior foi o termo cunhado por Magneto para designar cientificamente os mutantes, a subespécie com poderes inatos que ele perceciona como o próximo estágio evolutivo da Humanidade;
*A cor encarnada dos paramentos do Mestre do Magnetismo pretende simbolizar o sangue derramado pelos mutantes às mãos daqueles que os temem e odeiam. Magneto faz-se habitualmente acompanhar de um arquivo holográfico contendo os nomes de numerosos representantes da sua espécie vítimas de mortes violentas e crimes de ódio;

O traje de Magneto invoca o de antigo um rei guerreiro
disposto a morrer pelo seu povo.
*Eisenhardt significa "coração de aço" em Alemão, apelido deveras apropriado para uma personagem com as idiossincrasias de Magneto;
*Conforme mostrado em X-Men nº161 (setembro de 1982), o número de identificação originalmente tatuado no antebraço de Magneto era 214782. Tratou-se, no entanto, de um erro por parte do artista da história que, ignorando o funcionamento do sistema de numeração implementado em Auschwitz, lhe atribuiu um número demasiado elevado, levando em conta que o clã Eisenhardt integrou a primeira leva de prisioneiros a serem admitidos no infame campo de extermínio Nazi. Em agosto de 2004, um retcon apresentado em Excalibur Vol.3 nº2 atribuiu a Max Eisenhardt o número 24005;
*Aquando da formação da Irmandade de Mutantes, Magneto fez notar aos seus apaniguados que os seus sentimentos pessoais eram insignificantes por comparação com a grandeza da causa por que se batiam. Apesar da sua retórica, era frequente o Mestre do Magnetismo deixar-se dominar pela raiva em relação aos algozes do seu povo;
*Num dos primeiros embates entre as duas fações rivais, a Irmandade de Mutantes capturou o Anjo e os X-Men fizeram o Sapo prisioneiro. Perante o dilema apresentado, Magneto mostrou-se prontamente disposto a sacrificar o seu subordinado porquanto considerava o seu refém mais valioso do que o "tolo saltitante" que o bajulava. Certa vez, o Mestre do Magnetismo ponderou também enviar Mercúrio num ataque suicida à Mansão X. Numa outra ocasião ainda, ameaçou matar a Feiticeira Escarlate se esta lhe desobedecesse. Demonstrações de insensibilidade e fanatismo que levaram o Mestre Mental a afirmar que Magneto é totalmente desprovido de emoções;
*Durante muito tempo, a paternidade dos gémeos Pietro e Wanda Maximoff (Mercúrio e Feiticeira Escarlate) foi atribuída a Magneto. Eventos recentes desmentiram, porém, essa relação familiar. Lorna Dane (a heroína mutante Polaris) é agora a única filha reconhecida do Mestre do Magnetismo, cujas habilidades herdou parcialmente;

Polaris, a herdeira de Magneto.
*Com o intuito de prevenir acusações de antissemitismo, a Marvel ponderou alterar a etnia de Magneto antes de voltar a apresentá-lo como um vilão sanguinário. A ideia do Mestre do Magnetismo ser cigano não colheu juntos do público e a sua origem clássica, embora retocada, acabaria por prevalecer;
*Doutor Polaris e Doutor Diabólico (Doctor Diehard, no original) são os dois supervilões da DC aos quais Magneto serviu de inspiração;

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Um dos pastiches de Magneto criados pela Distinta Concorrente.
*Desde 2011 que Magneto encabeça a lista dos cem melhores vilões da banda desenhada organizada pelo site IGN. Igualmente honroso é o nono lugar que ocupa no ranking das 200 melhores personagens de todos os tempos elaborado pela revista Wizard.
*Foi num episódio de Fantastic Four, série animada de 1978, que Magneto fez a sua transição para o segmento audiovisual. Apesar de possuir poderes idênticos aos da sua versão canónica, o vilão não era um mutante. No cinema, a estreia do Mestre do Magnetismo remonta a 2000, ano de lançamento da primeira longa-metragem dos X-Men (já aqui revisitada). Originalmente interpretado por Ian McKellen, o papel foi herdado por Michael Fassbender, em 2014. Personagem charneira na franquia dos Filhos do Átomo, o futuro de Magneto, bem como o dos próprios X-Men, permanece incerto no Universo Cinematográfico Marvel após a aquisição da Fox pela Disney.
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A primeira aparição de Magneto fora da banda desenhada.

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No cinema, o  britânico Ian McKellen e o germânico Michael Fassbender
 vêm-se revezando no papel de Magneto.

Nota: Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à norma europeia da Língua Portuguesa.

18 fevereiro 2019

RETROSPETIVA: «X-MEN»



   Na viragem do milénio, o advento dos Filhos do Átomo ao grande ecrã foi a chave para o salto evolutivo de todo um género. Manifesto simbólico contra o preconceito social, o filme de Bryan Singer cumpriu exemplarmente o duplo desígnio de entreter e consciencializar. 

Título original: X-Men
Ano: 2000
País: EUA
Duração: 104 minutos
Género: Ação / Fantasia / Super-heróis
Produção: Marvel Entertainment Group / The Donner's Company
Realização: Bryan Singer
Argumento: David Hayter, Tom DeSanto e Bryan Singer
Distribuição: 20th Century Fox
Elenco: Patrick Stewart (Charles Xavier / Professor X), Hugh Jackman (Logan / Wolverine),  Ian McKellen (Eric Lehnsherr / Magneto),  Halle Berry (Ororo Munroe / Tempestade), Famke Janssen (Drª. Jean Grey), James Marsden (Scott Summers / Ciclope), Bruce Davison (Senador Robert Kelly), Rebecca Romijn-Stamos (Raven Darkholme / Mística), Ray Park (Mortimer Toynbee / Sapo), Tyler Mane ( Victor Creed / Dentes-de-Sabre) e Anna Paquin (Marie D'Ancanto / Vampira)
Orçamento: 75 milhões de dólares
Receitas: 296, 3 milhões de dólares

O genoma de um clássico 

Os primeiros planos para uma adaptação cinematográfica dos X-Men começaram a ser alinhavados a meio da década de 80, especificamente em 1984. Nesse ano, Roy Thomas e Gerry Conway, editores-chefes da Marvel Comics, escreveram em conjunto o argumento para um filme dos heróis mutantes criados em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby, cuja produção deveria ter ficado a cargo da Orion Pictures. O projeto seria no entanto inviabilizado pelos graves problemas de tesouraria entretanto enfrentados pelo estúdio.
Cinco anos mais tarde, em 1989, Stan Lee e Chris Claremont encetaram negociações com a Carolco Pictures com vista à produção de uma longa-metragem baseada nos X-Men. James Cameron seria produtor executivo do filme, ficando a direção endossada a Kathryn Bigelow, que assinaria também o respetivo argumento.
Tudo parecia bem encaminhado (Angela Basset chegou a ser cogitada para o papel de Tempestade) não fosse a inesperada falência da Carolco. Em consequência da qual os direitos da película reverteram para a Marvel, ela própria em situação de pré-rutura financeira.
Em 1992, ao mesmo tempo que a Marvel procurava convencer a Columbia Pictures a adquirir os direitos de adaptação daqueles que eram então os seus mais valiosos ativos, Avi Arad produziu uma série animada dos X-Men para o canal Fox Kids. Impressionada com o enorme êxito desse projeto, a 20th Century Fox, associada à produtora Lauren Shuler Donner (esposa de Richard Donner, realizador de Superman, the Movie), assegurou os direitos das personagens em 1994.

X Men Clássico
O sucesso da primeira série animada dos X-Men
foi fundamental
 para o lançamento do filme dos Filhos do Átomo.
Com o vindouro filme dos X-Men em fase de pré-produção, Andrew Kevin Walker escreveu um argumento focado na rivalidade entre o Professor X e Magneto, mas também entre Wolverine e Ciclope. Na trama participariam ainda a Irmandade de Mutantes e os Sentinelas, os robôs gigantes projetados para caçar indivíduos portadores do gene X.
A este primeiro rascunho do enredo sucederam-se várias outras versões, incluindo uma da autoria de Joss Whedon, o futuro realizador de The Avengers. Robert Rodríguez, Paul W.S. Anderson e Brett Retner (que, em 2006, viria a dirigir X-Men 3: Last Stand) foram alguns dos realizadores sondados para o projeto, mas nenhum deles se mostrou disponível para capitaneá-lo.
Depois de ter dirigido com mestria o aclamado The Usual Suspects (1995), Bryan Singer pretendia aventurar-se na ficção cientifica. Sensível a essa veleidade do cineasta, a 20th Century Fox começou por oferecer-lhe a direção de Alien Resurrection mas acabaria por considerá-lo mais indicado para levar X-Men a bom porto.
Apesar de oficialmente confirmado, desde dezembro de 1996, como realizador da película dos Filhos do Átomo, em abril do ano seguinte Bryan Singer assumiu a direção de Apt Pupil, que tinha Ian McKellen como protagonista. Ainda no decurso de 1997, a Fox aprovou um orçamento de 60 milhões  de dólares para X-Men e anunciou o Natal de 1998 como data oficial para a estreia do filme.

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Bryan Singer foi o realizador escolhido para dirigir X-Men.
Seria no entanto apenas em finais de 1998, na sequência de uma profunda revisão do argumento de Tom DeSanto, que a Fox aprovaria o orçamento final da produção, que ascendia agora aos 75 milhões de dólares. O que só foi possível após intensas negociações entre os representantes do estúdio e Bryan Singer, com este a concordar com a remoção de certos elementos e referências extraídos do material original. Entre os quais Fera (um dos X-Men fundadores) e a Sala do Perigo (espécie de campo de treino virtual instalado na Mansão X). Se no caso do primeiro a solução passou por transferir os conhecimentos médico-científicos da personagem para Jean Grey, a ausência da segunda permitiu a Bryan Singer dar mais ênfase a cenas com maior carga dramática.

Drawing of an ape-man wearing trunks. He has huge, muscular arms that hang down past his knees.
Arte conceptual do Fera
descartada após a revisão do argumento.
Ainda que a versão final do argumento tenha sido (re)escrita por David Hayter, Bryan Singer e Tom DeSanto foram igualmente creditados pela história transposta ao grande ecrã. Uma história, que atendendo à enorme popularidade da personagem entre os fãs, tinha, inevitavelmente, em Wolverine uma das figuras centrais.
Com efeito, tão logo as primeiras notícias e rumores acerca do desenvolvimento do filme dos X-Men começaram a circular (viviam-se ainda os primórdios da Internet), nenhum despertou tanto interesse junto dos fãs como aqueles que diziam respeito à escolha do ator para encarnar Wolverine.
Depois de Gary Sinise ter ficado bem cotado em meados dos anos 1990, Russel Crowe seria a primeira escolha de Bryan Singer para o papel. O ator neozelandês recusou mas indicou Hugh Jackman, seu amigo de longa de data. Também ele originário da Oceânia, designadamente da Austrália, Jackman era, à época, um ilustre desconhecido, circunstância que deixou Singer reticente. No entanto, por força das sucessivas "negas" dadas por atores de maior nomeada, Singer resolveu dar uma oportunidade a Jackman, que acabaria por ser contratado apenas três semanas antes do arranque das filmagens.
Incluindo diferentes localizações no Canadá, mormente Toronto, a rodagem do filme prolongou-se por um semestre, entre setembro de 1999 e março de 2000. Inicialmente prevista para o Natal desse ano, a estreia de X-Men acabaria por ser antecipada para 14 de julho de 2000, por forma a preencher uma vaga no calendário de lançamentos resultante do adiamento de Minority Report. Estavam assim lançadas as bases para uma das mais bem-sucedidas franquias da história da 7ª Arte, que perdura até hoje.

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X-Men guindou Hugh Jackman ao estrelato.

Sinopse

Sob chuva torrencial, uma multidão de prisioneiros judeus arrasta-se pelo campo de concentração de Auschwitz, na Polónia ocupada. Quando o pequeno Eric Lehnsherr é separado à força dos pais, o desespero do garoto faz com que a sua habilidade mutante de gerar campos magnéticos e de controlar o metal se manifeste. A fúria de Eric cessa apenas quando um dos guardas o golpeia violentamente na cabeça com a coronha da sua espingarda. 
Num futuro não muito distante, o Senador Robert Kelly pugna no Congresso dos EUA pela aprovação da Lei de Registo de Mutantes. Medida legislativa que visa compelir os Homo Superior (designação científica para mutantes) a revelarem publicamente os seus poderes e identidades.

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O Senador Kelly lidera uma feroz campanha antimutante.
A assistir de camarote ao debate travado por Kelly e a Drª. Jean Grey em pleno Congresso estão Eric Lehnsherr e Charles Xavier. Dois velhos amigos que a causa mutante atirou para lados opostos da barricada, e que atendem agora pelos nomes de Magneto e Professor X, respetivamente.
Perante a iminente aprovação da nova lei, Xavier fica apreensivo com a reação de Magneto ao que este considera ser um ato persecutório dos humanos relativamente à população mutante. Os dois trocam breves palavras nos corredores do Congresso mas ficam claras as suas divergências no que à coexistência entre as duas espécies diz respeito.
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Professor X e Magneto, as duas faces de uma causa.
Longe dali, numa pequena cidade do Mississipi, uma adolescente chamada Marie deixa o seu namorado em coma depois de permitir que este a beijasse. Apavorada com o perigo que as suas habilidades mutantes representam para aqueles que a rodeiam, a jovem foge de casa e assume a identidade de Vampira.
Na cidade canadiana de Alberta, Vampira encontra Logan, mais conhecido por Wolverine, um mutante possuidor de fator de cura acelerada e com garras metálicas retráteis nas mãos. Apesar de relutante, Wolverine acaba por consentir que Vampira o acompanhe na sua jornada através dos gélidos confins do Grande Vizinho do Norte.
A viagem de ambos é, porém, abruptamente interrompida quando sofrem uma emboscada montada por Dentes-de-Sabre, um dos apaniguados de Magneto e membro da Irmandade de Mutantes. 
Com Wolverine ainda aturdido e a recuperar dos graves ferimentos sofridos, Vampira é salva pela intervenção de Ciclope e Tempestade, dois dos X-Men reunidos por Charles Xavier.

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Amizade entre proscritos.
Levados para a Escola de Jovens Sobredotados instalada na mansão de Xavier, nos arrabaldes nova-iorquinos, Wolverine e Vampira travam conhecimento com os restantes X-Men e com os alunos mutantes que frequentam a instituição.
Xavier pede a Wolverine que permaneça na escola enquanto os X-Men investigam os planos de Magneto, que parece ter um especial interesse nas capacidades do mutante canadiano. Vampira, por sua vez, é integrada numa das turmas e logo faz amizade com Bobby Drake, o Homem de Gelo. 
Dias depois, o Senador Kelly é raptado por Mística e por Sapo, da Irmandade de Mutantes. Levado para o esconderijo de Magneto numa ilha não-cartografada, Kelly é usado como cobaia para testar os efeitos de uma máquina capaz de induzir mutações em seres humanos normais. Contudo, o esforço despendido por Magneto para energizar o aparato deixa-o exaurido.
Graças às suas novas habilidades mutantes, Kelly consegue evadir-se da base secreta da Irmandade de Mutantes e dá à costa numa praia apinhada de gente.

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Mutante de mil caras.
Enquanto isso, depois de ter usado os seus poderes para absorver temporariamente as capacidades regenerativas de Wolverine - que a tinha, acidentalmente, trespassado com as suas garras de adamantium - , Vampira é convencida por Bobby Drake (na verdade, Mística) de que a sua presença na Escola Xavier é indesejada, devendo partir de imediato. 
Ao detetar a fuga da sua mais recente pupila, o Professor X recorre ao seu supercomputador Cérebro para localizar Vampira numa estação ferroviária a vários quilómetros da mansão e envia os X-Men para resgatá-la.Sem que ninguém se aperceba, Mística, agora disfarçada de Charles Xavier, implanta um vírus informático em Cérebro.
Adiantando-se aos seus colegas de equipa, Wolverine encontra Vampira a bordo de um comboio e convence-a a regressar com ele para a Escola Xavier. Contudo, antes que os dois possam arrepiar caminho são atacados por Magneto, que derruba Wolverine e sequestra Vampira.
Malgrado os esforços de Xavier para deter Magneto, este acaba por levar avante os seus intentos ao ameaçar matar os agentes policiais que haviam acorrido à estação de caminhos de ferro.
Quando o Senador Kelly chega à Escola Xavier à procura de ajuda para a sua nova condição, o Professor X submete-o a uma sondagem telepática. Ficando assim a conhecer o verdadeiro plano de Magneto e o funcionamento da máquina por ele construída. Ao observar o estado debilitado de Magneto após operá-la, Xavier deduz que o vilão pretende transferir os seus poderes para Vampira, usando-a como uma bateria para o seu dispositivo, o que resultará na morte da jovem.

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Os pupilos do Professor X.
Já depois do corpo de Kelly se ter liquefeito, Xavier recorre novamente a Cérebro para descobrir o paradeiro de Vampira, mas fica incapacitado devido à sabotagem executada por Mística. Cabendo então a Jean Grey usar os seus poderes telepáticos para se conectar ao supercomputador. Apesar da agonia que isso lhe causa, Jean consegue descobrir que Magneto instalou a sua máquina na cabeça da Estátua da Liberdade e que tenciona usá-la para transformar em mutantes os líderes mundiais reunidos numa cimeira histórica das Nações Unidas  à qual Ellis Island serve de palco.
Ao mesmo tempo que Magneto transfere os seus poderes para Vampira, os X-Men enfrentam a Irmandade de Mutantes no interior da Estátua da Liberdade. A máquina de Magneto acaba, no entanto, destruída pelos heróis antes que os seus raios pudessem atingir o alvo. 
Para salvar a vida de Vampira, Wolverine permite que ela lhe absorva o seu fator de cura, mergulhando de imediato num coma. 
Já com Wolverine e Xavier restabelecidos, os X-Men descobrem que Mística escapou de Ellis Island usando o falecido Senador Kelly como disfarce. Xavier sonda telepaticamente a mente de Wolverine e fornece-lhe pistas sobre o seu passado numa instalação militar secreta numa região remota do Canadá.
Aprisionado numa cela de plástico suspensa num complexo subterrâneo, Magneto recebe a visita de Xavier. Terminada a partida de xadrez disputada por ambos, Magneto avisa o seu velho amigo que pretende recuperar a sua liberdade para liderar a revolução mutante. Ao que Xavier responde que, quando esse dia chegar, ele estará lá fora à sua espera.


Trailer



Prémios e nomeações

X-Men traduziu em prémios metade das 26 nomeações recebidas. Foi particularmente bem-sucedido nos Saturn Awards ao sair vitorioso em segmentos importantes como Melhor Filme de Ficção Científica, Melhor Realizador (Bryan Singer), Melhor Argumento (David Hayter) e Melhor Ator (Hugh Jackman). Um registo notável que faz de X-Men o filme mais galardoado da trilogia original (2000-2006), mas apenas o quinto de toda a franquia, que, recorde-se, inclui igualmente as três películas de Wolverine e as duas já realizadas de Deadpool.

Curiosidades

*Por considerar os comics um género literário menor, Bryan Singer declinou três vezes a proposta para assumir a direção da primeira longa-metragem baseada nos X-Men. Homossexual assumido, o realizador celebrizado por Os Suspeitos do Costume (1995) mudaria radicalmente de opinião após ler algumas das sagas mais marcantes dos Filhos do Átomo, às quais ficou rendido visto abordarem temas como o preconceito e a discriminação de minorias;
*Conscientes do risco de iniciarem uma franquia dispendiosa que poderia não ir além do primeiro filme, os executivos da 20th Century Fox deram luz  verde a  um orçamento de "apenas" 75 milhões de dólares para X-Men. Valor modesto por comparação com os mais de 100 milhões de dólares que, à época, eram alocados, em média, aos blockbusters estivais;
*Apesar de expressamente proibidas por Bryan Singer, que as considerava uma influência nociva para os atores, as revistas dos X-Men circularam clandestinamente entre o elenco do princípio ao fim das filmagens;

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Ian McKellen lê a adaptação oficial de X-Men aos quadradinhos.
*Nem Patrick Stewart nem Ian McKellen sabiam jogar xadrez. Houve, por isso, a necessidade de contratar um mestre para ensinar-lhes os preceitos básicos do jogo;
*Há muito desejado pelos fãs para o papel de Professor X, o britânico Patrick Stewart foi a única escolha de Bryan Singer e o primeiro ator a ser escalado para o filme. Isto apesar do profundo desconhecimento de Stewart acerca dos heróis mutantes criados por Stan Lee e Jack Kirby;
*O exterior de uma destilaria de Toronto fez as vezes do campo de concentração nazi que enquadra a cena de abertura do filme. Curiosamente, essa havia sido a última cena a ser gravada no Canadá;
*Desde a sua primeira aparição em 1981, Vampira (Rogue, em inglês) nunca possuíra uma identidade civil. Crismada simplesmente de Marie no filme, o seu apelido - D'Ancanto - seria revelado no capítulo seguinte da saga. Em consequência disso, à sua versão canónica seria entretanto atribuído o nome Anna Marie;
*Indiferente ao facto de Vampira ser, à data, uma personagem relativamente secundária nas histórias dos X-Men, Bryan Singer concedeu-lhe papel central na trama, devido à sua capacidade mutante para drenar as memórias, habilidades e energia vital de todos aqueles em quem toca. Misturando elementos de Jubileu e Kitty Pryde, outras jovens pupilas do Professor X na BD, a caracterização de Vampira visou convertê-la num símbolo de alienação das minorias;

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Vampira foi personagem charneira em X-Men.
*A troca de sorrisos entre um menino e Ciclope durante a cena na estação ferroviária foi totalmente improvisada. O menino era um grande fã dos X-Men, sendo Ciclope o seu favorito, razão pela qual não conseguia parar de sorrir para James Marsden. Bryan Singer gostou tanto dessa interatividade espontânea que decidiu incluir a cena no filme, em detrimento da que havia sido inicialmente planeada;
*Composta por 110 próteses personalizadas que cobriam 60% da sua área corporal, a maquilhagem de Mística demorava 9 horas a ser aplicada. Rebecca Romijn-Stamos estava, ademais, proibida de beber álcool ou viajar de avião na véspera de ser submetida ao processo de caracterização, dado o risco de ser desencadeada uma reação química de efeitos imprevisíveis. Apesar dessas interdições, no último dia de filmagens a atriz levou consigo uma garrafa de tequila, que dividiu com o restante elenco. Sucede que ainda lhe faltava gravar a cena de luta com Wolverine, durante a qual Rebecca cobriria Hugh Jackman de vómito azul;
*Tyler Mane ficou temporariamente cego devido ao uso de lentes especiais requerido para a sua caracterização como Dentes-de-Sabre;
*Conhecido pela sua ferocidade animal e pelo seu instinto assassino nos quadradinhos, no filme Wolverine não é responsável por qualquer morte;
*Reverso do sonho do Professor X de uma coexistência harmoniosa entre humanos e mutantes, a Irmandade de Mutantes de Magneto é um grupo terrorista que se bate pela supremacia do Homo Superior. Pela mão de Stan Lee e Jack Kirby, a Irmandade de Mutantes fez a sua estreia em X-Men nº4 (março de 1964), tendo como membros fundadores, além do próprio Mestre do Magnetismo, Sapo (anteriormente conhecido como Groxo, no Brasil), Mestre Mental e os gémeos Mercúrio e Feiticeira Escarlate (filhos secretos de Magneto);
*Na dupla qualidade de coautor dos Filhos do Átomo e de produtor executivo da película,, o malogrado Stan Lee fez um cameo em X-Men. É ele o homem junto a uma rulote de cachorros-quentes à entrada da praia quando o Senador Kelly emerge do oceano.

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A primeira Irmandade de Mutantes.

Veredito: 75% 

Pelo seu significado e repercussão - equiparável apenas a Superman, The Movie - X-Men foi o principal responsável pelo regresso em força dos super-heróis ao grande ecrã. De onde andavam arredados há largo tempo, tanto por conta do elevado custo desse tipo de produções como pelos apocalipses de bilheteira de algumas delas, tornando-as um género menor aos olhos de Hollywood.
Através de um veículo inteligente, ágil e respeitoso à fonte, Bryan Singer conseguiu estabelecer grande identificação entre o público e as personagens do seu filme. Que transita elegantemente por temáticas tão atemporais como a amizade entre inadaptados sociais e o preconceito de que são alvo.
Singer tem, no entanto, de dividir os méritos de X-Men com David Hayter, autor de um argumento adulto, sagaz e bem trabalhado. É, com efeito, na sua sólida trama (a única original em toda a saga cinematográfica dos X-Men) que reside a mais-valia da película.
Por contraste com muitas adaptações atuais de super-heróis, que privilegiam a espetacularidade visual em prejuízo da consistência narrativa, X-Men presenteia os espectadores com uma história envolvente, repleta de dramas interpessoais, ambivalência moral e amizades nascidas do infortúnio.
A despeito da desenvoltura narrativa de Hayter, a curta duração do filme não lhe permitiu porém desenvolver satisfatoriamente todas as personagens que desfilam pelo ecrã - sendo Tempestade, remetida a um estranho mutismo, a maior vítima dessa circunstância.
O que mais empalidece X-Men quando é feita a comparação com muitas das produções atuais é a notória falta de ambição no que à grandiosidade diz respeito. O filme dececiona nas cenas de ação carentes de espetacularidade e emoção - exceção feita às que têm Mística como protagonista.
Se, mesmo analisando X-Men com a perspetiva concedida por quase uma vintena de anos, o filme se mantém apelativo do ponto de vista simbólico, o mesmo não poderá dizer-se dos seus efeitos especiais datados. Tecnicamente, X-Men não envelheceu bem, comprometendo em certa medida o toque verosímil que Singer se esforçou por imprimir-lhe.
Nada disto impede, contudo, que X-Men continue a exalar o fascínio de um clássico que criou caminho deslizante para a prosperidade do género super-heroico, que vive por estes dias (pelo menos, no cinema) a sua segunda Idade de Ouro. Se X-Men não tivesse sido produzido -  ou tivesse fracassado - as adaptações de quadradinhos ao grande ecrã seriam hoje seguramente muito menos exuberantes.

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X-Men escancarou as portas do futuro a todo um género.