20 janeiro 2017

HERÓIS EM AÇÃO: LANTERNA VERDE



  Primeiro de uma linhagem de gladiadores esmeralda, a sua luz brilhou intensamente antes de ser ofuscada pela do seu sucessor da Idade da Prata. Resgatado vezes sem conta à obscuridade, passou por diversas transformações, chegando aos nossos dias como um dos campeões da Terra 2, avatar da Mãe-Natureza e ícone gay.

Denominação original: Green Lantern
Licenciador: Detective Comics (DC)
Primeira aparição: All-American Comics nº16 (julho de 1940)
Criador: Martin Nodell (com a colaboração de Bill Finger)
Identidade civil: Alan Wellington Scott
Local de nascimento: Metrópolis
Parentes conhecidos: Rose Canton (primeira esposa, falecida), Molly Mayne (segunda esposa), Todd Rice (filho) e Jennie-Lynn Hayden (filha)
Profissão: Engenheiro ferroviário e executivo televisivo (em Os Novos 52)
Afiliação: Membro fundador e vice-líder da Sociedade da Justiça da América (Justice Society of America); ex-membro do Comando Invencível (All-Star Squadron), Xeque-Mate (Checkmate) e dos Sentinelas da Magia (Sentinels of Magic)
Base de operações: Originalmente, as aventuras do herói eram ambientadas em Capitol City, metrópole fictícia localizada no Centro-Oeste dos EUA. De onde, logo depois, se transferiria para Nova Iorque, e daí para Gotham City, passando assim a partilhar com Batman o estatuto de seu guardião.
Armas, poderes e habilidades: Um simples mortal, Alan Scott extrai todo o seu poder do Coração Estelar (Star Heart, no original). Assim se chama o seu anel energético que é na verdade um artefacto místico concebido milénios atrás pelos Guardiões do Universo para encapsular boa parte da magia aleatória do Cosmos. Residindo neste ponto a principal diferença entre o Lanterna Verde da Idade do Ouro e os seus sucessores das épocas subsequentes: enquanto o poder destes é, essencialmente, tecnológico, o de Alan Scott é de matriz sobrenatural.
Ainda que permaneça por apurar a real extensão do poderio do Coração Estelar, sabe-se que confere ao seu usuário uma vasta gama de habilidades. Citando apenas as mais impressionantes: capacidade de voo, teleporte, desmaterialização,  projeção de energia e de campos de força e, claro, a criação de construtos de luz sólida. Imagem de marca de qualquer Lanterna Verde, estes últimos podem adquirir as mais variadas formas e dimensões: desde uma espada para cortar uma corda a um punho cerrado para esmurrar um adversário, passando por uma pá gigante para recolher detritos em tempo recorde. Enfim, tudo aquilo que possa sair da imaginação do herói.
Nas suas primeiras aparições, sempre que fazia uso do seu poder o Lanterna Verde tinha o seu corpo envolto por um halo esmeralda. No entanto, isso raramente acontecia. À boa maneira das personagens que, nessa época, povoavam os magazines pulp, ele preferia usar os punhos nas suas escaramuças com os malfeitores. Opção justificada pelo facto de, salvo honrosas exceções, os adversários do herói serem homens e mulheres de carne e osso, e não monstros alienígenas como aqueles que os seus sucessores enfrentam num normal dia de trabalho ao serviço da Tropa dos Lanternas Verdes*. Esta proficiência de Alan Scott no combate corpo a corpo resulta do seu domínio de várias artes marciais, nas quais foi treinado pelo Pantera (Wild Cat), seu colega da Sociedade da Justiça da América.
Era também comum, no início das suas histórias da Idade do Ouro, o Gladiador Esmeralda ser mostrado a recarregar o seu anel na icónica lanterna verde que lhe serve de bateria portátil. Durante 24 horas, e independentemente do dispêndio de energia realizado durante esse período, o Coração Estelar manter-se-ia funcional.

Alan Scott faz o seu juramento solene
enquanto recarrega o Coração Estelar.
Quando, em meados da década de 1980, após o fim do Multiverso DC  ditado pela Crise Nas Infinitas Terras, os Lanternas Verdes Alan Scott e Hal Jordan passaram a coabitar no mesmo universo, houve a necessidade de diferenciá-los aos olhos dos leitores mais recentes. O que foi conseguido, em primeiro lugar, alterando os poderes do Gladiador Esmeralda da Idade do Ouro. Cujos construtos passaram, então, a surgir envoltos numa chama mística, acentuando assim a respetiva natureza esotérica .
Mais tarde, Alan Scott fundir-se-ia com a sua lanterna, deixando de precisar de recarregar o seu anel a cada 24 horas. As transformações não se ficaram por aqui e, em 1995, o Lanterna Verde foi expropriado do seu anel, aprendendo rapidamente a conjurar o seu poder através das mãos que irradiavam agora um fantasmagórico brilho esverdeado. Pelo meio, foi rebatizado de Sentinela (Sentinel, em inglês), como forma de demarcá-lo dos restantes Lanternas Verdes terráqueos entretanto cooptados pelos Guardiões do Universo.
Mais recentemente, em Os Novos 52, a personagem recuperou o seu vínculo com o Verde (uma das forças primordiais da Natureza), com o qual já tinha uma vaga relação nos seus primórdios. E que serve também de fonte de poder a outras personagens do Universo DC, como o Monstro do Pântano.

Alan Scott e Hal Jordan:
 duas gerações de Gladiadores Esmeralda.

* Prontuário da Tropa dos Lanternas Verdes em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/09/herois-em-acao-tropa-dos-lanternas.html

Fraquezas: Às naturais vulnerabilidades decorrentes da condição humana de Alan Scott, acresce, neste capítulo, a ineficácia do seu anel contra a madeira. Quaisquer objetos fabricados com este material, ou cuja composição o inclua, não podem ser levantados, tampouco destruídos pela energia do Coração Estelar. Podendo estes, ao invés, atravessar facilmente qualquer campo de força projetado pelo Lanterna Verde.
Constrangimentos aplicáveis, também, a plantas, flores e outras espécies do reino vegetal. Sendo quase certo que os mesmos derivam do facto de o Coração Estelar ser simultaneamente energizado pelo Verde, a essência da Terra. Estando assim interdito o seu uso contra as manifestações vivas da Mãe-Natureza.
Em casos extremos, a inobservância desta regra poderá induzir uma disrupção no anel, cujo refluxo energético será suscetível de causar a morte ao seu usuário. Assim se explica, também, a elevada resistência de Solomon Grundy, arqui-inimigo do Lanterna Verde, aos poderes do herói. É que Grundy é na verdade um zombie superpoderoso composto, em parte, pela flora do pântano onde foi gerado.


Ontem como hoje, o primeiro Lanterna Verde
 tem em Solomon Grundy o seu mais formidável inimigo.

Desenvolvimento e histórico de publicação: O que têm em comum uma antiga lanterna dos caminhos de ferro e uma ópera de Richard Wagner? À primeira vista, nada. Martin Nodell, o artista de ascendência judaica "pai" do Lanterna Verde Alan Scott, conseguiu, no entanto, descortinar uma relação entre essas duas coisas. Foi nelas que ele se inspirou para imaginar a personagem que o imortalizaria na história da 9ª Arte.
Admirador confesso da obra do prodigioso compositor germânico do século XIX, foi depois de assistir ao ciclo de óperas épicas intitulado O Anel do Nibelungo que Nodell teve a ideia de criar um super-herói detentor de enorme poder fornecido por um anel mágico. Para recarregá-lo, teria à sua disposição uma bateria portátil com a forma de uma lanterna outrora usada pelos funcionários ferroviários para dar ordem de partida ou de paragem aos comboios. Meio de transporte que Nodell usava habitualmente nas suas deslocações do dia a dia e que sobre ele exercia grande fascínio desde tenra idade.
Igualmente fascinado pela mitologia helénica, Nodell logo estabeleceu que a sua personagem envergaria um traje colorido e com elementos dela retirados. Figurino ao qual não poderia faltar a inevitável capa, acessório quase obrigatório tanto nos super-heróis como nos supervilões da época.
Em 2000, numa das últimas entrevistas que concedeu em vida (faleceria seis anos depois), Nodell recordou os dias que antecederam a estreia do primeiro Gladiador Esmeralda. Aqui fica o seu relato na primeira pessoa, transcrito da revista Alter Ego nº5: "Depois de enviar os esboços da minha personagem para a All-American Comics (uma das predecessoras da DC Comics), tive de esperar duas longas semanas por uma resposta. Por fim, fui convocado para uma reunião com o próprio Max Gaines, o proprietário da editora. Que, após passar os olhos distraidamente pelo meu trabalho, me anunciou que estava contratado. Apesar de não caber em mim de contente, tratei logo de deitar mãos à obra. Escrevi cinco das oito páginas daquela que seria a história de estreia do Lanterna Verde. Foi então que me sugeriram que ficasse responsável apenas pelos desenhos, deixando as tramas a cargo de Bill Finger. Devo confessar que, mesmo tendo sido ele um dos autores do Batman, quase nada conhecia do seu trabalho. E, a bem dizer, pouco sabia na altura acerca do funcionamento da indústria dos quadradinhos. Aceitei a sugestão sem levantar ondas porque pensei que estavam apenas a querer ajudar-me. Tanto mais que me foi dito que Finger tinhas muitas ideias para aperfeiçoar a minha personagem."

Martin Nodell deu ao mundo o seu primeiro Gladiador Esmeralda.
Esta anuência de Nodell suscitaria, contudo, uma celeuma que perdura até aos dias de hoje. Não só porque dela resultou um conjunto de importantes modificações ao conceito por ele originalmente desenvolvido, como valeria a Bill Finger os créditos pela coautoria de uma personagem que, em bom rigor, se limitou a retocar. Não obstante, os dois trabalhariam juntos durante sete anos, entre 1940 e 1947. Sem que haja registo de qualquer fricção entre ambos.
Mas puxemos um pouco atrás o filme dos acontecimentos. Segundo o próprio confessou, Martin Nodell passou a lista telefónica a pente fino até encontrar dois nomes que lhe soassem bem ao ouvido para assim definir a identidade civil da sua personagem. Alan Scott correspondeu a esse critério fonético e, em julho de 1940, debutaria nas páginas de All-American Comics nº16, combatendo o crime como Lanterna Verde.

All-American Comis nº16 (1940) apadrinhou a estreia do Lanterna Verde.
Logo no inverno desse ano, o neófito herói começaria também a marcar presença nas aventuras da Sociedade da Justiça da América (SJA), publicadas em All-Star Comics, outro dos títulos de charneira da editora capitaneada por Max Gaines. A passagem do Lanterna Verde pelas fileiras da equipa seria, contudo, meteórica. Mesmo tendo sido designado seu vice-líder, abandoná-la-ia escassos meses depois, com regresso marcado apenas na década seguinte.
Alheio a esta sua saída prematura da SJA não terá sido o facto de, mercê da crescente popularidade de que gozava entre os leitores, o Lanterna Verde ter sido entretanto contemplado com um título a solo. Corria o ano de 1941 e, por esses dias, os adversários do Gladiador Esmeralda eram ainda, na sua larga maioria, delinquentes comuns. Havendo já, porém, a registar duas exceções de peso: o tirano imortal Vandal Savage, e o mais pujante dos mortos-vivos, Solomon Grundy. Com o tempo, ambos se tornariam vilões de referência no Universo DC.
Numa altura em que Nova Iorque servia amiúde de cenário às aventuras do herói, ainda no decurso de 1941 o Lanterna Verde, em linha com a tendência que faria escola nessa época, ganharia o seu adjunto da praxe. Doiby Dickles era um roliço e truculento taxista do Brooklyn que se tornaria presença assídua em Green Lantern até 1949, dando-lhe um toque humorístico.
Mais surpreendente fora o sucesso de Streak, a mascote canina do herói introduzida no ano anterior, e que logo caíra nas boas graças dos fãs. Tanto que teria direito a estrelar a sua própria série periódica. Prerrogativa de que o seu dono não mais voltaria a usufruir, após o cancelamento de Green Lantern em 1949. Naquele que seria um efeito colateral do declínio do género super-heroico instalado no pós-guerra, a que poucas personagens escapariam indemnes.



SJA (cima) e Doiby Dickles,
parceiros de aventuras do Lanterna Verde na Idade do Ouro.
A derradeira aparição do Lanterna Verde na Idade do Ouro ocorreria, no entanto, um par de anos volvidos, em 1951, nas páginas de All-Star Comics nº57. Seguir-se-ia uma longa travessia do deserto que só terminaria doze anos depois. Mas nada voltaria a ser como dantes para o primeiro - e, até aí, único - dos Lanternas Verdes.
Em 1959, já em plena Idade da Prata, o editor-chefe da DC, Julius Shwartz, reinventaria o Lanterna Verde como um herói de ficção científica. Renegando dessa forma a matriz sobrenatural do seu antecessor da Idade do Ouro. Embora com poderes idênticos aos do seu homónimo, o novo Gladiador Esmeralda incorporava uma força policial intergaláctica chamada Tropa dos Lanternas Verdes, passando, por isso, menos tempo na Terra do que nos confins do espaço sideral.
Ausentes das suas histórias estavam, também, quaisquer referências ao seu antecessor. Que, para todos os efeitos, nunca existira. Decisão que, somada à enorme popularidade de Hal Jordan, não bastou ainda assim para apagar Alan Scott da memória afetiva dos leitores da velha guarda. Estava, portanto, aberto o caminho para o regresso do Lanterna Verde original. O qual se verificaria em 1963 numa história do Flash em que participou como convidado especial.
Prevenindo as incoerências na continuidade do novo Lanterna Verde, as histórias do seu antepassado foram relegada para um universo paralelo. A partir do qual, ao longo das décadas de 60 e 70, ele desenvolveria a sua atividade heroica. Sem, contudo, deixar de usar a sua magia para visitar pontualmente o nosso mundo. Aparições que se tornariam mais regulares com a reabilitação da Sociedade da Justiça da América em 1976 e, depois, em 1981, com o lançamento do Comando Invencível (coletivo que agrupava a SJA, os 7 Soldados da Vitória e os Combatentes da Liberdade em histórias ambientadas na 2ª Guerra Mundial).
Na sequência da extinção do Multiverso DC, em 1986, estabeleceu-se que todas as personagens da Editora das Lendas que haviam sobrevivido à Crise nas Infinitas Terras passariam doravante a coexistir na nova realidade unificada. Alan Scott foi, no entanto, visto como uma ponta solta que era imperativo atar ou cortar de vez. Foi assim que, em Last Day of the Justice Society (volume especial dado à estampa logo nesse ano), ele e os membros remanescentes da SJA foram aprisionados para todo o sempre numa dimensão paralela. Degredo que, por exigências dos fãs, seria abreviado no princípio da década de 1990.

A edição que marcou o início do exílio da SJA.
Contrariamente ao que se verificara com alguns dos seus contemporâneos da Idade do Ouro, com Batman e Superman à cabeça, Alan Scott não foi, porém, objeto de rejuvenescimento, sendo antes retratado como um herói sénior cuja longevidade fora magicamente prolongada. Para assegurar a sua distinção da encarnação moderna do Lanterna Verde, a personagem passou a atender pelo nome de Sentinela. Alteração que vigoraria até 2003, ano em que Alan Scott recuperou o direito a ostentar o título de Lanterna Verde. Reavendo, de caminho, o seu anel energético do qual fora também espoliado. A ribalta, essa, seria conseguida por via da sua participação no título da SJA ao longo do resto da década.
Em 2011, no contexto de Os Novos 52 (penúltimo dos cíclicos reboots do Universo DC), Alan Scott ganharia nova vida, novo visual, nova fonte de poder e até uma nova orientação sexual. Devolvido à Terra 2, lá pontifica como o único Lanterna Verde, sendo apresentado como um jovem herói gay que, por conta do seu vínculo místico ao Verde, opera também como um avatar da Mãe-Natureza. Ao lado dos restantes campeões desse mundo (que não intitulam SJA), assume a defesa da Terra 2 após o perecimento da Trindade durante a brutal guerra travada contra Apokolips, o domínio infernal de Darkseid.
Com o regresso do Universo DC à continuidade pré-Novos 52 ditada no ano passo por Rebirth, o mais recente (e, certamente, um dos mais ambiciosos) reboots da Editora das Lendas, subsistem ainda muitas dúvidas quanto ao status de Alan Scott nessa nova velha realidade. Sendo a reabilitação da SJA um dos pontos fortes de Rebirth, é provável que lhe esteva reservado um papel relevante nesse contexto, e que seja passada uma borracha sobre a sua versão anterior. Preceito, de resto aplicável, a tudo o que diz respeito aos Novos 52, fase controversa que, no geral, foi mal acolhida muita pelos fãs, procurando agora a DC emendar a mão.

O renascimento de uma lenda em Os Novos 52.
Origem: Milénios atrás, uma chama mística cor de jade caiu, sob a forma de um meteorito, numa aldeia remota da China. Uma voz no interior do corpo celeste profetizou que a chama se manifestaria três vezes: a primeira para trazer a morte, a segunda para trazer a vida e a terceira para trazer o poder.
Para que a primeira parte da profecia se cumprisse, um ferreiro da aldeia forjou o metal do meteorito com a forma de uma lanterna. Temendo serem castigados pelo que consideravam ser um sacrilégio, os restantes aldeões mataram o ferreiro. Apenas para, quase de imediato, serem eles próprios fulminados por uma violenta irrupção da chama esverdeada.
Já nos tempos modernos, a lanterna chegaria às mãos de um paciente internado numa instituição psiquiátrica. Depois de a ter moldado numa lanterna de caminhos de ferro, o homem teve a sua demência milagrosamente curada pela luz que dela emanava, ganhando assim uma nova vida.
A terceira e última parte da profecia seria cumprida em 1940, quando a lanterna escolheu para seu portador Alan Scott, um jovem engenheiro ferroviário. A quem começaria por salvar a vida na sequência do colapso de uma ponte na qual Alan trabalhava. De seguida, a lanterna instruiu-o a criar um anel a partir do metal que a compunha. Alan obedeceu, adquirindo dessa forma uma panóplia de poderes mágicos. Os quais, sob a identidade heroica de Lanterna Verde, passaria a empregar no combate ao crime, à injustiça e à opressão que ensombram o coração da humanidade. Missão que executava a solo ou ao lado dos seus companheiros da Sociedade da Justiça da América.

Tributo artístico de Alex Ross ao Lanterna Verde da Idade do Ouro.
Seria posteriormente revelado que o meteorito a partir do qual foram forjados o anel e a lanterna do Gladiador Esmeralda era, afinal. um fragmento do Coração Estelar, aglomerado senciente criado pelos Guardiões do Universo para reunir boa parta da magia aleatória do Cosmos. E que, outrora, fora pertença de Yalan Gur, um alienígena ao serviço da então desconhecida Tropa dos Lanternas Verdes,  e por esta designado protetor do setor espacial 2814 que inclui a Terra.
Muito diferente desta origem clássica do herói foi a releitura que dela foi feita em 2011, no âmbito de Os Novos 52. Agora um jovem e dinâmico executivo de uma estação televisiva da Terra 2, Alan Scott tencionava aproveitar uma viagem de negócios à China para pedir em casamento Sam, o seu namorado de longa data. Os seus planos seriam, todavia, frustrados devido ao descarrilamento do comboio magnético no qual ambos seguiam. Desse acidente resultaria a morte de Sam e de vários outros passageiros. Alan, por sua vez, seria protegido por um estranho halo verde.

Foi controversa a decisão de transformar
Alan Scott no primeiro super-herói gay da DC.
Logo depois, uma voz descarnada anunciou-lhe que a tragédia que vitimou o amor da sua vida havia sido causada pela mesma força malévola que ameaçava todo o planeta. Tomado pela dor e pelo desejo de vingança, Alan aceitou de bom grado a missão de defender a Terra e de encontrar o responsável pela morte de Sam. Para isso, contará com uma armadura de luz sólida construída pela chama esmeralda e com um anel energético forjado a partir da aliança que pretendia enfiar no dedo do malogrado Sam.
De acordo com o que já aqui foi referido, esta encarnação moderna do Gladiador Esmeralda está associada ao Verde, entidade mística conectada com toda vida vegetal do nosso planeta. Fazendo do herói um dos avatares da Mãe-Natureza e infundindo dessa forma as suas histórias de um subtexto ecológico.

Heroísmo policromático.

Trivialidades:

* "E derramarei a minha luz sobre as trevas do Mal, porque as criaturas da escuridão não suportam a luz. A luz do Lanterna Verde!" é a tradução livre do juramento solene feito pelo primeiro Gladiador Esmeralda. Cuja versão original reza assim: "And I shall shed my light over dark evil, for dark things cannot stand the light. The light of the Green Lantern!";
* Alan Scott é canhoto, motivo pelo qual usa quase sempre o seu anel energético na mão esquerda. Já o seu nome do meio é uma homenagem a Arthur Wellesley, Primeiro Duque de Wellington e general do Exército britânico responsável por uma das maiores derrotas militares infligidas às forças napoleónicas no decurso da Guerra Peninsular (1807-1814);
* Apesar de ser a cidade-berço de Alan Scott, Metrópolis tem no Super-Homem o seu mais insigne habitante;
* São tantas as celebridades que a compõem, que a família de Alan Scott faz inveja ao clã Kardashian. Senão vejamos: Rose Canton, a sua primeira esposa, era Espinho (Thorn), uma esquizofrénica vilã do Flash da Idade do Ouro; Molly Mayne, com quem Alan casou em segundas núpcias, usou durante algum tempo a persona de Arlequim (Harlequin, não confundir com a Arlequina), uma destrambelhada vilã da mesma época; quantos aos seus filhos (ambos fruto do primeiro casamento), os gémeos Todd Rice e Jennie-Lynn Hayden, notabilizaram-se, respetivamente, como Manto Negro (Obsidian) e Jade ao serviço da Corporação Infinito (Infinity, Inc., coletivo heroico que reunia os filhos dos membros da SJA);

Jade e Manto Negro, os filhos de Alan Scott e Rose Canton.
* Na sua versão primitiva, o Coração Estelar provinha do Universo ao qual pertencia a Terra 1, embora Alan Scott habitasse, juntamente com outros heróis da Idade do Ouro, a Terra 2. Após a extinção do primeiro Multiverso, ocorrida no corolário de Crise nas Infinitas Terras (1985-86), o anel passou a ser originário do mesmo universo do seu usuário. Na continuidade emanada de Os Novos 52, ambos provêm, por isso, do Universo da Terra 2;
* Igualmente na senda do ocaso do Multiverso original, conquanto a existência do Lanterna Verde tenha prevalecido na cronologia pós-Crise, alguns dos elementos da sua história pregressa poderão ter sido suprimidos e/ou alterados, pelo que deverão ser desconsiderados para efeitos canónicos;
* Num aditamento retroativo à continuidade da personagem, uma história publicada nos idos de 1984, em All-Star Squadron Annual nº3, serviu, de uma penada, para explicar a aparência viçosa dos membros da Sociedade da Justiça da América - aparentemente imunes à passagem do tempo - e a prolongada ausência do Lanterna Verde das fileiras da equipa. Consequências diretas, conforme foi mostrado, do confronto dos veteranos heróis com um vilão chamado Ian Karkull, que os imbuiu, bem como às respetivas esposas, das energias responsáveis pelo retardamento do seu envelhecimento;

O encontro entre a Sociedade da Justiça da América
 e a Liga da Justiça em All-Star Squadron Annual nº3 (1984).
* De igual modo, também o rejuvenescimento de Alan Scott em Os Novos 52 não se ficou a dever a algum tipo de elixir milagroso ou a um peeling facial. O segredo para a juventude do Lanterna Verde - em harmonia, de resto, com as demais personagens dessa realidade - reside no facto de o seu corpo ser agora composto da energia mística irradiada pelo Coração Estelar. Certa vez, o herói foi gravemente ferido em combate, daí resultando a perda de um olho. Órgão que seria, no entanto, rapidamente regenerado devido à ação do anel, algo que nunca se verificara anteriormente;
* Aquando da criação da personagem que lhe valeria um lugar no panteão da 9ª Arte, Martin Nodell assinava os seus trabalhos artísticos com o pseudónimo Matt Dellon. Prática corrente e recorrente nos alvores da indústria dos comics, quando estes eram ainda encarados como um subproduto cultural destinado, fundamentalmente, ao público infantil. Circunstância que levava muitos autores a não se orgulharem da própria obra, acoitando-se, por isso, num cómodo anonimato.

Uma lanterna de esperança que alumia a penumbra
 e espanta os que dela se nutrem.
Noutros segmentos culturais: Como boa parte dos heróis da Idade do Ouro cobertos pela areia do tempo e do esquecimento, o Lanterna Verde original tem uma expressão quase nula fora da banda desenhada. As únicas exceções a esse ostracismo mediático consistiriam, até ao momento, em participações pontuais suas em séries animadas e de ação real baseadas no Universo DC, designadamente em Smallville e Batman: The Brave and The Bold.
Apesar dessa sua débil representação no panorama audiovisual, o herói recebeu, contudo, o merecido destaque no segundo tomo de Sleepers, trilogia literária da autoria de Christopher Priest e Mike Baron que dá a conhecer três gerações de Lanternas Verdes: Alan Scott (Idade do Ouro), Hal Jordan (Idade da Prata) e Kyle Rayner (Idade Moderna).

O primeiro dos Lanternas Verdes
 em evidência no segundo volume de Sleepers.

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