06 julho 2020

HERÓIS EM AÇÃO: JUSTICEIRO


  Olho por olho, dente por dente. Se Deus perdoa e a Lei é branda, ele não deixará crime algum sem castigo. Exército de um homem só, o seu Diário de Guerra é escrito a sangue e pontuado com caveiras. Porque a sua justiça extrema é uma sentença de morte para os culpados.

Denominação original: The Punisher
Editora: Marvel Comics
Criadores: Gerry Conway, John Romita Sr. e Ross Andru
Estreia: Amazing Spider-Man #129 (fevereiro de 1974)
Identidade civil: Francis Castiglione (nome de batismo legalmente alterado para Frank Castle)
Espécie: Humano
Local de nascimento: Queens, Nova Iorque
Parentes conhecidos: Mario e Louisa Castiglione (pais, falecidos); Maria Elizabeth Castle (esposa, falecida); Lisa Castle (filha, falecida); Frank Castle Jr. (filho, falecido); 
Ocupação: Vigilante; ex-oficial do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA
Base operacional: Embora tradicionalmente sediado na área metropolitana de Nova Iorque, a sua atividade requer grande mobilidade geográfica, inclusive missões no estrangeiro.
Afiliações: Ex-Marine; ex-parceiro de Microchip; ex-membro dos Marvel Knights, dos Defensores Secretos e dos Heróis de Aluguer. A personalidade insular e os métodos brutais de Frank Castle fazem dele um lobo solitário, pelo que as suas colaborações com outros vigilantes são sempre esporádicas.
Némesis: Retalho (Jigsaw, no original)
Poderes e parafernália: Frank Castle é exército de um homem só. O treino intensivo recebido ao serviço dos Fuzileiros Navais e de outras Forças Especiais, aliado à sua experiência de combate em diferentes teatros de operações, fizeram dele um especialista mundial em táticas de guerrilha. Adicionalmente, desde que passou a operar como Justiceiro, Frank tem vindo a expandir as suas competências em áreas essenciais para a sua guerra contra o crime: disfarce, técnicas de tortura, pirataria informática, recolha de informação, etc.
Metódico e altamente disciplinado, o Justiceiro prepara sempre de forma meticulosa as suas missões, consciente de que um simples detalhe poderá revelar-se fatal. Graças à sua resiliência e instinto assassino, consegue adaptar-se a praticamente qualquer situação e obter vantagem mesmo nos cenários mais adversos. Quanto maior o desespero, maior a sua perigosidade.
Dinheiro e outros bens apreendidos a narcotraficantes servem de fonte de financiamento às operações paramilitares do Justiceiro, a quem não se conhece outra atividade profissional.
Frank é também um atirador exímio, possuindo a rara capacidade de disparar com ambos os olhos abertos. Mesmo quando o alvo se move a velocidade sobre-humana, ele raramente falha. Certa vez, inutilizou os lançadores de teias do Homem-Aranha com dois tiros certeiros.
De metralhadoras a bazucas, passando por bestas e lança-chamas, o arsenal do Justiceiro - que é também perito em explosivos - é extremamente diversificado. Apesar da sua preferência por armamento convencional, é comum fazer engenharia reversa no equipamento confiscado a supervilões. Já foi visto a manobrar na perfeição o chicote elétrico do Chicote Negro e o planador do Duende Verde.

A última imagem vista por muitos criminosos.
No pináculo da forma física, o Justiceiro é igualmente letal no combate corpo a corpo. De entre o sortido de artes marciais e técnicas de autodefesa em que é proficiente, destacam-se o Krav Maga, o Muay Thai e o Nash Ryu Jujutsu. Quase sobre-humanos, os seus reflexos tornam-no um alvo difícil de atingir, ao ponto de já ter conseguido desviar-se do escudo do Capitão América e dos bastões do Demolidor.
Frank possui igualmente uma elevadíssima tolerância à dor. É comum suturar feridas sem recurso a analgésicos ou continuar a lutar mesmo após ter sido baleado à queima-roupa. O seu colete de Kevlar é a única proteção no campo de batalha.
Apesar de um furgão blindado lhe servir habitualmente de meio de transporte e base de operações móvel, o Justiceiro dispõe igualmente de uma rede de esconderijos secretos. É neles que guarda o seu arsenal e acrescenta novas entradas ao seu Diário de Guerra, misto de testemunho e manifesto antecipando uma morte prematura.
Lobo solitário por natureza e opção, o Justiceiro teve em Microchip, um génio da Informática, o seu mais duradouro associado. Era ele quem lhe providenciava tecnologia e o que de mais próximo Frank tinha de uma amizade.

Fraquezas: Dada a sua a condição de simples humano, Frank Castle é tão suscetível a maleitas, ferimentos e lesões incapacitantes como qualquer outra pessoa. Dependendo, por isso, mais das suas competências táticas e estratégicas do que das suas capacidades físicas nos ocasionais confrontos com superseres. Ainda assim, com o devido preparo, consegue bater-se em paridade de armas com adversários meta-humanos.
O seu draconiano código de honra impede-o, ademais, de ferir agentes policiais no cumprimento do dever, ou de colocar em perigo a vida de civis, designadamente de crianças. Condicionalismos morais que o levam por vezes a baixar a guarda e a ceder vantagem aos seus adversários. Durante a Guerra Civil, por exemplo, foi sumariamente derrotado pelo Capitão América porque a sua idolatria por aquele que considera um monumento vivo aos ideais fundadores dos EUA o inibiu de revidar.
Menos conhecida é a sua fobia pelo mar aberto, consequência de um trauma de infância não especificado. Certa vez, quando perseguia um grupo de narcotraficantes no Hawai, o Justiceiro, tolhido pelo medo, foi salvo de morrer afogado por um golfinho.

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Frank tenta justificar as suas ações ao ídolo de infância.

Justiça extrema

Saído da imaginação de Gerry Conway, à época escriba das histórias do Homem-Aranha, o Justiceiro (The Punisher, em inglês), surgiu numa altura em que os vingadores urbanos ditavam a Lei na cultura popular dos EUA.
Depois de, na década transata, ter vivido no esplendor de uma espécie de nova Camelot, nos anos 1970 a sociedade norte-americana foi brutalmente despertada para uma realidade sombria. Ao mesmo tempo que os índices de criminalidade disparavam para níveis inauditos, a nação perdia inexoravelmente a sua inocência.
Outrora seguras, as ruas das principais cidades americanas eram agora invadidas pelas drogas e pelos gangs. Face à corrupção institucionalizada e à perceção generalizada de impunidade, o homem comum deixava de confiar na polícia - tantas vezes de mãos atadas ou untadas - para proteger a sua vida e os seus bens.
A este novo contexto marcado pela violência e por uma autoridade em crise, respondeu a cultura popular introduzindo um novo tipo de justiceiro: o vigilante das ruas. Herdeiro direto dos pistoleiros solitários que, ao arrepio da Lei, vingavam os abusos e os crimes no Velho Oeste, no cinema teve em Dirty Harry (magistralmente interpretado por Clint Eastwood) o seu expoente máximo. Já na literatura, foi o Executor a impor esse viés justicialista ao melhor estilo americano.
Criação de Don Pendleton em 1969, o Executor era o alter ego de Mack Bolan, um ex-combatente da Guerra do Vietname que, após o brutal assassinato da sua família às mãos de mafiosos, se lançara numa implacável cruzada contra o crime. Seria ele a confessa fonte de inspiração de Gerry Conway para a criação de um novo vilão para as histórias do Escalador de Paredes.

Death Has a Name (Mack Bolan the Executioner, #96) by Mike McQuay
Mack Bolan, o Executor.

No esboço apresentado por Conway ao então diretor artístico da Casa das Ideias, John Romita Sr., a nova personagem tinha como símbolo uma pequena caveira estampada num dos lados do peito. Romita gostou do conceito, mas entendeu por bem aumentar o tamanho da caveira, que passaria, assim, a ocupar toda a zona peitoral.
Na hora de crismar a sua nova criação, Conway sugeriu Assassin (Assassino), mas Stan Lee, já inteirado da intenção do escritor de converter a personagem num anti-herói, considerou a designação inapropriada. Propondo, em alternativa, The Punisher - nome repescado de um obscuro servo robótico de Galactus.

Gerry Conway inspirou-se no Executor
 para criar o Justiceiro.
Na sua primeira aparição, em The Amazing Spider-Man #129 (fevereiro de 1974), o Justiceiro - sob o competente lápis de Ross Andru, o seu primeiro artista - foi apresentado como um vigilante sanguinário sem escrúpulos em matar criminosos. Paradoxalmente, havia sido recrutado por um para liquidar o Homem-Aranha.
De algum modo, o Chacal convencera-o que o Cabeça de Teia assassinara Norman Osborn (vulgo Duende Verde) sem razão aparente. Quando percebeu o logro, o Justiceiro não só poupou a vida do herói como o ajudou a derrotar um outro assassino de aluguer contratado para matá-lo.
Se nessa história inicial quase nada - exceto o facto de ser um ex-Marine - foi revelado acerca do passado do Justiceiro, as suas aparições subsequentes - sempre como coadjuvante e cada vez mais impactantes - revelariam a sua trágica origem (vide texto seguinte), consolidando a sua reputação de anti-herói psicologicamente perturbado.
Apesar de, pela sua estética e pela radicalidade dos seus métodos, destoar dos super-heróis convencionais, o Justiceiro depressa caiu nas boas graças dos leitores, rendidos ao recorte realista das suas histórias. A Marvel relutava, porém, em conceder-lhe mais do que aparições pontuais nos títulos do Homem-Aranha e do Demolidor. De tão crua, a filosofia do Justiceiro parecia não ter lugar na Casa das Ideias.

The Amazing Spider-Man (1963) #129
O Homem-Aranha na mira do Justiceiro
 em The Amazing Spider-Man #129 (1974).

Por fim, em 1986, mais de uma década volvida sobre o seu nascimento, o Justiceiro protagonizou a sua primeira minissérie. Escrita por Steve Grant e ilustrada por Mike Zeck, The Punisher teve o condão de consagrar definitivamente Frank Castle como um fenómeno de popularidade.
Na esteira do apreciável sucesso dessa primeira aventura a solo do Justiceiro, no ano seguinte seria lançada a sua primeira série mensal em nome próprio (também titulada The Punisher).
Foi, com efeito, na segunda metade da década de 1980 que o Justiceiro viveu os seus maiores momentos de estima pública, consubstanciados em três séries mensais: The Punisher War Journal, The Punisher War Zone e The Punisher Armory. Abrindo,dessa forma, caminho para o advento, no início dos anos 90, de toda uma nova geração de anti-heróis publicados sob as chancelas de diferentes editoras. Sem que, contudo, nenhum deles rivalizasse em carisma ou ombreasse em letalidade com o Justiceiro, a cura definitiva para o vírus do crime. Sem fantasias, sem superpoderes, sem arrependimentos.

Diário de Guerra

Francis "Frank" Castiglione nasceu no Queens (o maior dos cinco bairros que compõem Nova Iorque) a um humilde casal de imigrantes italianos de primeira geração. Na sua Sicília natal, o clã Castiglione gerava tradicionalmente homens fortes e profundamente católicos, contando inclusive com alguns padres.
Da interiorização desses valores familiares resultou a estruturação do caráter honesto, trabalhador e religioso do jovem Frank. Que, no final da puberdade, chegou mesmo a ingressar no seminário.
Devido à sua dificuldade em compreender porque consentia Deus tanto ódio e sofrimento no mundo, Frank depressa desistiu do sacerdócio. Também questionava os indulgentes ensinamentos do Catolicismo, que exaltavam a virtude do perdão. Para ele, este só poderia ser concedido após a punição dos pecados. E nem todos os pecados eram merecedores de perdão.
Determinado a fazer a diferença, Frank abraçou então uma carreira militar. Nos Marines encontrou uma segunda família e um propósito de vida. Treinado para ser uma máquina de matar, sobressaiu pela sua elevada letalidade tanto no combate armado como no desarmado. Extremamente disciplinado, corajoso e eficiente, teve ascensão meteórica na hierarquia da corporação, obtendo a patente de capitão.
De regresso a casa após a sua primeira comissão no Vietname, Frank desposou Maria Elizabeth, o amor da sua vida. Da união do casal resultaram dois filhos: Lisa e Frank Castle Jr.
Várias vezes condecorado pelo seu heroísmo em combate, Frank absorvia a admiração dos seus camaradas na exata proporção em que era temido pelos seus inimigos. Durante as batalhas, porém, uma vozinha maviosa instigava-o à violência irracional, levando-o a questionar a sua sanidade mental.

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Nascido para matar, marcado para morrer.
Frank atingiu o seu limiar crítico após assistir, impotente, ao massacre da sua unidade durante uma ofensiva fracassada contra posições vietcongs. Concluída a sua quarta e última comissão, solicitou transferência para os EUA, ansioso por se dedicar à vida familiar. Cansado da guerra, o soldado impiedoso daria lugar ao marido atencioso e ao pai extremoso.
Aquartelado nos arredores de Nova Iorque, nos anos imediatos Frank foi instrutor das Forças Especiais. Todo o seu tempo livre era passado na companhia da mulher e dos filhos. Foram tempos felizes para a família Castle, mas a tragédia não tardaria a bater-lhes à porta.
Em vésperas de viajar para Washington a fim de receber das mãos do Presidente mais uma comenda pelos serviços prestados à Pátria, Frank organizou um piquenique familiar no Central Park. O que deveria ter sido um dia de sonho para mais tarde recordar ganhou contornos de pesadelo tão-logo soaram os primeiros disparos.
No lugar errado à hora errada, os Castles presenciaram uma matança levada a cabo por mafiosos. Ao dar fé da presença de testemunhas, o líder do grupo ordenou aos seus homens que matassem todos a sangue-frio. Com Maria a implorar, em vão, para que os filhos fossem poupados.
Foi esse o cenário macabro apresentado a Mike McTeer, um jornalista de reputação duvidosa que vinha investigando os crimes da Máfia. Mas nem todos estavam afinal mortos. Embora gravemente ferido, como que por milagre Frank sobrevivera e foi transportado para o hospital.

Frank Castle (Earth-81223) | Marvel Database | Fandom
Poderá um homem realmente sobreviver á morte dos seus entes queridos?
Quando recobrou a consciência, Frank identificou os carrascos da sua família e foi informado do seu vínculo ao Clã Costa. Com recurso a subornos e álibis forjados, os mafiosos conseguiram, contudo, sabotar a investigação policial e saíram impunes do tribunal.
Inconformado com a inépcia do sistema judicial, Frank decidiu fazer justiça pelas próprias mãos. Um a um, os responsáveis pela morte da sua família foram sumariamente executados. Com Frank a demonstrar a mesma ausência de compaixão que eles tinham mostrado para com os seus filhos.
Sem que a sociedade o soubesse, Frank Castle morrera no Central Park juntamente com as pessoas que mais amava no mundo. No seu lugar nasceu o Justiceiro, um soldado urbano numa guerra pessoal contra o crime. Uma guerra sem fim e impossível de ser vencida, mas que ele está disposto a travar até à última bala (ou até ao último suspiro; o que acontecer primeiro).
Traficantes, violadores, assassinos, pedófilos; todos os que os zombam da Lei estão marcados para morrer. Porque o Justiceiro não faz prisioneiros!

O Justiceiro é sinónimo de pena capital.

A marca da caveira

A adornar os paramentos do Justiceiro desde a sua aparição inicial, com o rolar dos anos a caveira branca estilizada passou a ser sinónimo de terror no submundo do crime e elemento reconhecível do imaginário coletivo. Poucos conhecerão, porém, a origem desse símbolo de justiça extrema.
Contrariamente ao que se possa imaginar, Frank Castle começou a usar a caveira muito antes de empreender a sua cruzada pessoal contra todos aqueles que zombam da Lei. Na verdade, tudo começou do outro lado do mundo, numa guerra de tipo diferente.
Durante uma das suas comissões no Vietname, Frank moveu caça a um sniper inimigo cuja pontaria rivalizava com a sua, tendo, por isso, infligido dezenas de baixas entre os soldados americanos. Alcunhado de Macaco, o homem - a quem alguns atribuíam dons sobrenaturais -  trazia pendurado ao pescoço um pequeno medalhão com a forma de uma caveira.
Embrenhando-se sozinho nas profundezas da selva, Frank acabou capturado pelos vietcongs. Quando logrou escapar do cativeiro, decidiu deixar uma mensagem para o Macaco, sob a forma de uma rudimentar caveira branca pintada no peito de um dos guardas do campo e no seu próprio. Como tantos outros depois dele, essa espécie de pintura de guerra seria a última imagem que o Macaco veria em vida.

Macaco tinha uma caveira como talismã.
Numa versão alternativa da história apresentada em Punisher Max (um dos títulos da linha adulta lançada pela Marvel no início deste século), Frank Castle adotou a caveira como símbolo depois de esta lhe ter surgido num sonho. Independentemente da sua origem, a caveira é elemento essencial da iconografia do Justiceiro servindo o duplo propósito de intimidar os criminosos e de atrair os seus disparos, evitando dessa forma que eles mirem na sua cabeça.
De alguns anos a esta parte, a caveira do Justiceiro, pese embora com algumas cambiantes, tem vindo a ser adotada como emblema de forças militares e policiais estadunidenses, mas também de algumas milícias de extrema-direita conotadas com agendas antigovernamentais. A primeira vez que isso se verificou foi durante a Guerra do Iraque (2003-2011). Em sinal de admiração pela bravura e eficácia de Frank Castle enquanto membro das Forças Especiais, um regimento de Navy Seals incorporou-a no seu equipamento aquando da Segunda Batalha de Fallujah, nos anos terminais de 2004.
Em terras do Tio Sam, a icónica insígnia do Justiceiro popularizou-se no seio do Blue Lives Matter (Vidas Azuis Importam), um contra-movimento cívico surgido no ano de 2014, em resposta aos protestos do famigerado Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). Constituído essencialmente por polícias e respetivas famílias, o Blue Lives Matter defende que os assassínios de agentes da Lei sejam tipificados como crimes de ódio.


HUGE BLUE LIVES MATTER POLICE DECAL PUNISHER SKULL PROTECT AND ...
A controversa caveira do movimento Blue Lives Matter.
Essas e outras apropriações indevidas motivaram condenações públicas por parte de Gerry Conway (cocriador do Justiceiro) e processos judiciais interpostos pela Marvel contra os prevaricadores.
Conway viria mesmo a terreiro expressar o seu repúdio pela associação da iconografia do Justiceiro às forças da Lei, sublinhando que a sua personagem representa, per si, uma crítica às falhas do sistema judicial. Ao adotarem o seu símbolo, os agentes da Lei estão, no fundo, a tomar partido dos que contestam a autoridade que corporizam. Carregando nas tintas, Conway comparou esse ato ao hasteamento de uma bandeira confederada no Capitólio. Não havendo, porém, registo de idêntica tomada de posição por parte do escritor relativamente ao elevado número de mortes de agentes policiais americanos às mãos de delinquentes de todas as cores.
Na ficção ou no mundo real, o significado e alcance das ações extremas do Justiceiro - estribadas na convicção que o sistema de impunidade é também promotor dos crimes - dividem opiniões, não deixando ninguém indiferente.

Miscelânea 

*Durante muito tempo retratado como um veterano da Guerra do Vietname (1955-1975), as incongruências cronológicas decorrentes desse elemento definidor da história do Justiceiro (a ter participado no conflito, Frank seria hoje um septuagenário) impuseram sucessivas atualizações da sua origem. Assim, das selvas do sudeste asiático ele foi transplantado para os campos de batalha da Guerra do Golfo (1990-91) antes de ser mostrado a travar a Guerra ao Terror (em curso desde o 11 de Setembro de 2001). Com o mais recente retcon a revisitar a sua participação na Guerra de Siancong, conflito fictício vagamente inspirado na Guerra do Vietname;
*Frank teve em tempos um cão de guarda chamado Max. O animal fora regatado a caçadores furtivos que o usavam nas suas atividades clandestinas. Quando Max foi baleado por um dos lugares-tenentes do Rei do Crime, Frank usou uma faca para pôr fim à agonia do seu fiel amigo de quatro patas. Outros animais de estimação do Justiceiro incluíram um Rottweiller - batizado de Max em homenagem ao seu malogrado antecessor - e um coiote que era a mascote de um gangue;
*Em algumas das suas primeiras história, a filha de Frank Castle era referenciada  pelo seu nome do meio (Barbara ou Barb);
*Durante a temporada que passou atrás das grades, o número de prisioneiro de Frank - 616 - era uma referência à antiga designação numérica do Universo Primordial Marvel, a Terra-616;

Random Rockin' Blog: January 2019
Frank Castle, prisioneiro nº616.
*À semelhança de tantas outras personagens dos comics, o Justiceiro já teve direito a umas quantas viagens ao Além, todas elas com bilhete de ida e volta. Numa delas, após ser induzido por demónios a suicidar-se, Frank foi escolhido pelo Céu para ser o seu Anjo Vingador. Durante essa fase (execrada pela generalidade dos fãs), o Justiceiro detinha o poder de retirar qualquer tipo de arma do interior da gabardina que lhe fora ofertada por um armeiro celestial;
*Por não sentir qualquer vestígio de remorsos pelo que faz, o Justiceiro é imune ao Olhar de Penitência do Motoqueiro Fantasma;
*Já por duas vezes os caminhos do Justiceiro e do Batman se cruzaram. Na primeira, encontrou em Jean-Paul Valley uma alma gémea; na segunda, foi impedido pelo verdadeiro Cavaleiro das Trevas de executar o Joker a sangue-frio;
*No Universo Amálgama, o Justiceiro era a persona vindicativa de Trevor Castle - mescla de Frank Castle com Steve Trevor (DC) - e a sua origem era em tudo idêntica à história clássica;
*Foi sob a égide da Abril brasileira que, em novembro de 1991, o Justiceiro teve o seu primeiro título solo em língua portuguesa. De periodicidade mensal, foram publicados 8 números, a preto e branco e em formato magazine;
*Na sua estreia em terras lusitanas, em Aventuras do Homem-Aranha nº10 (Agência Portuguesa de Revistas, julho de 1979), o Justiceiro - numa tradução literal do seu nome original - atendia por Castigador;

Os dois crossovers do Justiceiro com o Batman datam de 1994.
*A prestigiada revista de cinema Empire atribuiu ao Justiceiro o 19º lugar na sua lista de melhores personagens de banda desenhada de todos os tempos. Já no Top 200 da Wizard a criação de Gerry Conway e John Romita Sr. surge na 39ª posição;
*Em 1989, o sueco Dolph Lundgren foi o primeiro ator a vestir a pele do Justiceiro em The Punisher. Insolitamente traduzido em Portugal como Fúria Silenciosa, o filme assinalou a transição da personagem para o segmento audiovisual. No entanto, o Justiceiro só chegaria ao grande ecrã em 2004 (o primeiro filme foi lançado diretamente em vídeo), ano em que foi produzido um reboot homónimo com Thomas Jane no papel principal. Em 2008, Ray Stevenson rendeu Jane em Punisher: War Zone, conceito a meio caminho entre sequela e novo reboot. Apesar de ter perdido o papel, em 2012 Jane protagonizaria Punisher: Dirty Laundry, curta-metragem exibida pela primeira vez na edição desse ano da Comic Con de San Diego, e que deu a conhecer o novo logotipo do Justiceiro assinado por Tim Bradstreet;
*Apesar das suas ações violentas e da sua natureza sombria, o Justiceiro fez várias aparições em séries animadas da Marvel, nas quais a sua ferocidade tem sido invariavelmente amenizada para se adequar ao público-alvo desses projetos. Preocupação ausente em The Punisher, a primeira série em ação real do Justiceiro, com Jon Bernthal a dar corpo àquela que é, provavelmente, a versão mais sanguinária da personagem fora dos quadradinhos.

Os senhores da caveira.


*Este blogue tem como Guia de Estilo o Acordo Ortográfico de 1990 aplicado à variante europeia da Língua Portuguesa;
*Artigos sobre Gerry Conway e os filmes Justiceiro e Justiceiro: Zona de Guerra disponíveis para leitura complementar.








2 comentários:

  1. O ótimo texto despertou a vontade de reler algumas tramas protagonizadas por esse personagem. Boas recordações de histórias bem escritas e/ou bem desenhadas, e apenas uma fase que seria bom esquecer (a miséria gráfica nonsense em que Frank toma o lugar do bíblico Abadon).
    (Celso Moraes F., contra sua vontade chamado virtualmente nos domínios do Google de Mikael Liann.)

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  2. Adorei, como sempre!!!! Desconhecia que Frank "Castigador" Castle era calcado da literatura, pois me parecia mais uma influência direta de Dirty Harry. Minha fase favorita é a desenhada por Mike Zeck, quando Frank está na prisão e depois acaba se envolvendo numa trama com "cópias" dele. Também gostei de saber que a insígnia do herói serviu de inspiração ao Blue Lives Matter. Bobagem da Marvel querer processar essa gente; nada mais foi do que uma homenagem... sinal dos tempos.

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