20 outubro 2014

GALERIA DE VILÕES: BIZARRO



   Conhecido também como Super-Homem Bizarro ou Bizarro nº1, trata-se, a todos os níveis, de uma duplicata imperfeita do Homem de Aço. Descrito originalmente como um monstro ingénuo e desajeitado que se regia por uma lógica invertida, com o tempo tornou-se mais sinistro e ameaçador.

Nome original da personagem: Bizarro 
Primeira aparição (versão clássica): Superboy #68 (outubro de 1958)
Criadores (versão clássica)*: Alvin Schwartz / Otto Binder (história) e George Papp (arte)
Primeira aparição (versão moderna)**: Superman vol.2 #160 (setembro de 2000)
Criadores (versão moderna): Jeph Loeb (história) e Ed McGuinness (arte)
Licenciadora: DC Comics
Identidade civil: Bizarro
Local de nascimento: Terra
Base de operações: Mundo Bizarro
Parentes conhecidos: Lois Lane Bizarra (esposa), Bizarro Jr. (filho, na realidade pré-Crise)
Afiliação: Liga da Injustiça, Sociedade Secreta de Supervilões, Liga da Anarquia do Joker
Armas, poderes e habilidades: Originalmente, Bizarro dispunha de poderes e habilidades similares às do Super-Homem. Em algumas versões, todavia, esses poderes e habilidades foram, em harmonia com a lógica pela qual a criatura se pauta, invertidos. Assim, em vez de visão de calor e de supersopro congelante, Bizarro passou a ser dotado, respetivamente, de visão congelante e supersopro incandescente. Acresce a isto o insólito facto de a sua visão de raios X apenas lhe permitir ver através do chumbo. Por outro lado, também a sua visão microscópica tem a particularidade de tornar qualquer objeto mais pequeno aos olhos de todas as pessoas, ao invés de permitir ampliá-lo apenas aos olhos do seu usuário. À parte estas diferenças relativamente à sua matriz, Bizarro possui superforça equivalente (ou, em algumas versões, superior) à do Homem de Aço, invulnerabilidade, poder de voo e supervelocidade.
Fraquezas: À imagem e semelhança do Super-Homem, Bizarro tem na kryptonita a sua maior fraqueza. Na sua variante azul (por oposição à verde), o mineral drena-lhe os poderes e, em caso de exposição prolongada, poderá ser-lhe fatal. Outra das suas vulnerabilidades advém do seu intelecto limitado. Apesar do seu elevado nível de poder, a criatura possui um QI equivalente ao de uma criança de cinco anos.

*/**: baseado no conceito original desenvolvido por Jerry Siegel e Joe Shuster

Bizarro não é mais do que um reflexo invertido do Homem de Aço.

Histórico de publicação: Bizarro debutou em Superboy #68 (com data de outubro de 1958, mas colocado à venda nos EUA em agosto desse ano). Através da introdução da nova personagem, o escritor Otto Binder rendeu um tributo ao monstro de Frankenstein, atribuindo-lhe poderes idênticos aos do Rapaz de Aço. Rejeitada pela sua aparência grotesca, a versão juvenil de Bizarro não mais voltaria a aparecer nas aventuras de Superboy. Reaparecendo, contudo, pouco tempo depois, já adulto, numa tira diária estrelada pelo Super-Homem e escrita por Alvin Schwartz. Este sempre reclamou a paternidade da personagem, afirmando ter desenvolvido o conceito antes da primeira aparição de Bizarro nas páginas de Superboy. Diga-se, em bom rigor, que o discurso invertido e na terceira pessoa do singular adotado por Bizarro na referida tira serviria daí em diante de padrão à forma de expressão da criatura. Com efeito, para decifrar os comentários de Bizarro, é necessário ter em conta os antónimos de tudo o que ele diz: "mau" significa "bom", "salvar" é sinónimo de "matar", e por aí fora. É, aliás, essa sua imperfeição que faz dele um vilão, visto que, em grande parte das vezes, a criatura apenas tenta imitar o Super-Homem, acabando por causar problemas ao agir de maneira diametralmente oposta à do herói. De referir ainda que, como marca distintiva, na tira ele usava um "B" e não o célebre "S" invertido.

A estreia de Bizarro em Superboy #68 (1958).

   Em discurso direto, Alvin Schwartz explicou assim o processo criativo de que resultou tão burlesca personagem: "Pode dizer-se que eu me andava a debater com a ideia de reflexos invertidos. As imagens que o espelho nos mostra são sempre reversas, uma espécie de negativos das originais.  Esse conceito entusiasmou-me, numa época em que as principais personagens dos comics, de tão unidimensionais, eram demasiado simplistas, logo fastidiosas. Procurei, por isso, adicionar uma nova dimensão ao Super-Homem, por via de uma sua réplica defeituosa. Bizarro correspondeu, em certa medida, ao arquétipo de "sombra" introduzido por Carl Jung, e no qual me inspirei quando me propus a criar a personagem."


Bizarro e Super-Homem: a cópia imperfeita e o original.

   Otto Binder, por seu turno, apresentou a versão adulta de Bizarro (ostentando já o característico "S" reverso como insígnia) em Action Comics #254 (julho de 1959). Contrariamente ao que se verificara com a sua variante juvenil, desta feita Bizarro teve uma receção positiva por parte dos leitores das histórias do Homem de Aço. Mercê da sua inesperada popularidade, Bizarro protagonizou de seguida um arco de histórias publicado ao longo de 15 números de Adventure Comics, no período compreendido entre junho de 1961 e agosto de 1962. Estrelou ainda uma edição especial com 80 páginas de Superman #202 (dezembro de 1967/janeiro de 1968). Acrescente-se que grande parte das suas aventuras passaram a ser ambientadas no Mundo Bizarro, cópia imperfeita da Terra (começando pela sua forma cúbica) onde vigoravam uma lógica e uma moral assimétricas às aplicadas no nosso planeta.
    Desde a sua primeira aparição, em 1958, até à reestruturação da cronologia da DC no âmbito de Crise nas Infinitas Terras (1985), Bizarro marcou presença em 40 ocasiões nos títulos que compunham o cardápio de publicações do Super-Homem: Action Comics, Superman, Superman's Pal Jimmy Olsen, Superman's Girlfriend Lois Lane, Adventure Comics, Secret Society of Super Villains e DC Comics Presents.


Otto Binder.
Alvin Schwartz.

   Com uma aparência semelhante à original, Bizarro foi reintroduzido no Universo DC pós-Crise numa história publicada em Man of Steel #5 (dezembro de 1986), no final da qual terá aparentemente morrido. Seria, porém, revivido no âmbito da saga Bizarro's World narrada no universo de títulos do Último Filho de Krypton, entre março e abril de 1994, e em Action Comics Annual #8 (1996). Sem qualquer relação com esse arco de histórias, foi também lançada, em 1999, uma minissérie mensal em quatro volumes sob o título A. Bizarro.
    Outra versão da personagem foi apresentada na saga Emperor Joker (que entre, setembro e outubro de 2000, preencheu o leque de títulos do Super-Homem nos EUA). De então para cá, Bizarro conservou, essencialmente por via de participações especiais em aventuras alheias, o seu lugar na continuidade da DC e na mitologia do Homem de Aço. Como se perceberá mais adiante neste artigo, a criatura voltou recentemente à ribalta através da sua participação na minissérie Forever Evil (Vilania Eterna, a ser atualmente publicada no Brasil sob a égide da Panini Comics). Nesta sua versão de Os Novos 52!, a criatura é um clone disforme do Super-Homem, produzido por Lex Luthor a partir de uma única célula extraída do herói kryptoniano.
    Comum a todas as versões de Bizarro, o óbvio paralelo que é possível traçar com a fábula do monstro de Frankenstein. Uma criatura grotesca e desprovida de alma, cuja natureza dramática a torna merecedora de compaixão visto que, em última análise, apenas procura ser humano.

O século XXI trouxe um Bizarro mais caricatural, mas também mais sinistro.
Biografia: Na sua versão primitiva, a origem de Bizarro remetia para um passado distante de Krypton: com o fito de se tornar regente absoluto do planeta, o General Zod recorreu em tempos à engenharia genética para produzir centenas de sósias seus. Ainda que desprovidos de superpoderes (devido à ausência de um sol amarelo idêntico ao da Terra), os clones (que mercê do seu aspeto defeituoso foram alcunhados de Bizarros) revelaram-se contudo soldados obedientes, dispostos a matar ou morrer sem hesitação. Foi, de resto, este episódio que motivou o banimento de Zod para a Zona Fantasma.
   Desconhecendo estes eventos, anos depois um cientista terrestre convidou o Superboy para assistir a uma demonstração do seu chamado raio de duplicação. Quando o jovem herói foi acidentalmente atingido pelo raio, logo surgiu uma réplica sua. Devido à sua pele cor de giz, ao seu semblante desfigurado e ao seu comportamento errático, a criatura foi batizada de Bizarro.
  Repudiado pelo povo de Smallville, Bizarro encontrou numa jovem invisual um pouco de afeto e empatia. Perdeu, porém, toda a esperança de ser aceite como um ser humano ao tomar consciência que apenas pela sua cegueira a rapariga não se assustara com a sua grotesca aparência.
  Face ao crescente descontrolo de Bizarro, Superboy viu-se forçado a tomar medidas drásticas, usando fragmentos de kryptonita azul extraídos dos destroços da máquina que emitira o raio de duplicação. Hesitando em tirar a vida ao seu sósia, o Rapaz de Aço foi surpreendido pelo impulso suicidário de Bizarro, que deliberadamente se empalou na lasca afiada de kryptonita azul. Da explosão que se seguiu resultou a cura milagrosa da cegueira da jovem por quem a criatura se enamorara.
    Vários anos volvidos sobre este episódio, Lex Luthor, o arqui-inimigo do Super-Homem, reproduziu o raio de duplicação que estivera na origem do primeiro Bizarro e resolveu usá-lo no Homem de Aço, confiante de que conseguiria controlar o seu clone. Este, contudo, revelou-se ainda mais volátil do que seu antecessor, não demorando a virar-se contra o seu criador. Entretanto, tentando emular o comportamento do Super-Homem, a criatura perambulou por Metrópolis, deixando um rasto de caos e destruição à sua passagem, e quase expondo a identidade secreta do herói kryptoniano como Clark Kent.
    Quando Bizarro se apaixonou por Lois Lane, a jornalista usou em si mesma o raio de duplicação, dando vida a uma cópia sua dotada de idênticas características mentais e fisionómicas às do monstro. Imediatamente atraídas uma pela outra, as criaturas resolvem deixar a Terra para partir em busca de um lar onde pudessem viver juntas e em paz.
   Algum tempo depois, o Super-Homem reencontrou o casal , descobrindo que o seu sósia usara uma versão defeituosa do raio de duplicação para criar o Mundo Bizarro, um planeta em forma de cubo habitado por caricaturas de amigos e adversários do Homem de Aço. Para se diferenciar dos restantes clones, Bizarro ostentava agora ao peito um tosco medalhão de pedra com a inscrição "Bizarro nº1".

Mundo Bizarro.

     Fruto do seu casamento com a Lois Bizarra nasceu uma criança que, apesar de dotada de superpoderes, possuía a aparência de um ser humano normal. À luz, porém, dos padrões daquele mundo insano, Bizarro Jr. (assim foi crismado o bebé) foi considerado uma aberração, servindo de catalisador para um breve conflito com a Terra. Tempo ainda assim suficiente para serem inventadas a kryptonita azul e uma Supergirl Bizarra.
     A influência de Bizarro estendeu-se também ao nosso planeta: Jimmy Olsen, fotógrafo do Planeta Diário e amigo tanto do Super-Homem como do seu alter ego Clark Kent, foi temporariamente transformado num Bizarro. Também uma versão juvenil do próprio Bizarro viajou no tempo até ao século XXX na esperança de poder ser admitido nas fileiras da Legião dos Super-Heróis. Ao ser recusada pela equipa, a criatura criou a sua própria versão da Legião. A qual acabaria por desmantelar, a pedido do Superboy.
     No encontro seguinte de Bizarro com o Homem de Aço, os poderes do primeiro sofreram mutações tão profundas que agora correspondiam à antítese dos do segundo. Por contraponto à visão de calor e ao sopro congelante do herói kryptoniano, o seu émulo passou a dispor de visão congelante e sopro incandescente. Antes de se juntar temporariamente à Sociedade Secreta de Supervilões para combater a Liga da Justiça e o Capitão Cometa, Bizarro foi malsucedido na sua tentativa de raptar a verdadeira Lois Lane.
    Na sua penúltima aparição no período que antecedeu Crise nas Infinitas Terras (ver texto anterior), um Bizarro mais irracional e violento, após obliterar o seu próprio planeta, viaja até Metrópolis onde semeia a destruição antes de abruptamente se suicidar. Eventos narrados na história What Happened to the Man of Tomorrow? (setembro de 1986), da autoria do celebrado escritor Alan Moore.
   Nesse mesmo mês, DC Comics Presents #97 assinala, simultaneamente, a derradeira aparição de Bizarro no Universo DC pré-Crise e o fim da própria série. Com as suas habilidades místicas amplificadas por um sinistro feiticeiro aprisionado na Zona Fantasma, o vilão interdimensional Mzyzlptlk provoca a implosão do Mundo Bizarro exterminando todos os seus habitantes, incluindo o próprio Bizarro nº1, cuja cabeça decapitada aterra na secretária de Clark Kent no Planeta Diário instantes antes de a sua última centelha de vida se exaurir. Derivando deste facto a não participação de Bizarro na saga que revolucionou para sempre a cronologia da Editora das Lendas.
    No entanto, os eventos supramencionados contradizem uma história posterior na qual é revelado que, algures no futuro, o Mundo Bizarro não só continuaria a existir como teria assumido uma forma mais convencional (assemelhando-se agora a um ovo) devido à radiação libertada pela explosão de um misterioso corpo celeste. Ainda em consequência disso, os habitantes do planeta haviam adquirido uma aparência humana, conquanto subsistissem alguns vestígios da lógica invertida que durante muito tempo regeu os destinos do Mundo Bizarro.
    No pós-Crise, Lex Luthor, depois de ver o Super-Homem recusar o seu convite para que trabalhasse para ele, ordena aos seus cientistas que produzam um clone do Homem de Aço. A experiência, porém, fracassa, na medida em que Luthor desconhecia ainda a origem alienígena do herói, julgando equivocadamente tratar-se de um humano geneticamente modificado. Do processo resulta, assim, uma réplica disforme do Super-Homem, prontamente descartada por Luthor.

No pós-Crise Bizarro ressurgiu mais sombrio do que o original.

   O monstro, no entanto, sobrevive. Embora mudo e possuindo apenas uma inteligência rudimentar, o bizarro ser, impulsionado por vagas memórias herdadas da sua matriz, procura mimetizar as ações heroicas do Homem de Aço. Depois de causar grande perturbação em Metrópolis, impede a irmã mais nova de Lois Lane, Lucy, de cometer suicídio. Cega, a jovem julga ter sido o Super-Homem o seu salvador. No entanto, quando Bizarro tenta raptar Lois, o Homem de Aço entra em ação para detê-lo. No clímax do titânico duelo aéreo que se segue, Bizarro é destruído pelo herói. Lucy é coberta pelas partículas resultantes da explosão da criatura, recuperando milagrosamente a visão. Pairando no ar a ideia de que Bizarro terá provocado a própria morte para curar a rapariga.
   Um segundo Bizarro, capaz de falar e de articular pensamentos toscos, resultou, uma vez mais, da tentativa de Luthor de clonar o Homem de Aço. O vilão, a braços com uma doença degenerativa, planeava transferir a sua mente para o corpo do clone. Este, porém, rebelou-se contra os seus criadores, evadiu-se do complexo da LexCorp e, ao mesmo tempo que definhava em ritmo acelerado, construiu um grotesco arremedo de Metrópolis num armazém abandonado. Numa paródia distorcida do heroísmo do Super-Homem, Bizarro, depois de sequestrar Lois Lane, expô-la deliberadamente a situações de enorme perigo com o intuito de a "salvar". Perseguido pelo herói kryptoniano, Bizarro voou até Smallville para raptar Lana Lang (o primeiro amor do jovem Clark), mas acabou derrotado pelo Super-Homem. Devolvido à LexCorp, o monstro usou a sua última réstia de poder para incendiar o laboratório onde estava aprisionado, morrendo no processo.

Um dos muitos confrontos do Homem de Aço com a sua cópia bizarra.
    Houve ainda um terceiro Bizarro criado pelo Joker, depois do arqui-inimigo do Batman ter roubado os poderes de Mxyzptlk, um criminoso da 5ª Dimensão. Com eles, o Palhaço do Crime concebeu uma versão distorcida da Terra e autoproclamou-se seu Imperador. Para o lugar de maior herói do planeta, o vilão criou a sua versão insana do Super-Homem. Cabendo-lhe igualmente liderar a Liga da Anarquia do Joker (uma perversão da Liga da Justiça).
    Durante Crise Infinita este terceiro Bizarro foi induzido pelo Professor Zoom (inimigo jurado do Flash) a juntar-se à renovada Sociedade Secreta de Supervilões acabando, inadvertidamente, por assassinar o Bomba-Humana, membro dos Combatentes da Liberdade.
    Quando, algum tempo depois, criminosos kryptonianos comandados pelo General Zod chegaram à Terra, Bizarro partiu para o espaço sideral em busca de um novo lar. Num sistema planetário dominado por um sol azul, ele gerou um mundo em forma de cubo que preencheu com reproduções abstratas de cenários terrestres. Graças, por outro lado, à radiação do referido sol azul, a criatura adquiriu um novo poder: a visão Bizarro. Com ela, o monstro conseguia criar outros Bizarros. A sua primeira criação foi uma Lois Bizarra que, contudo, o rejeitou. Sentindo-se só e angustiado, Bizarro voou até Smallville para raptar Jonathan Kent. O que obrigou o Homem de Aço a visitar o Mundo Bizarro a fim de resgatar o seu pai adotivo. Sensibilizado pelo drama do seu clone, Super-Homem ajuda-o a tornar-se um campeão da justiça e a conquistar o amor da Lois Bizarra.
    Na renovada cronologia do Universo DC saída de Os Novos 52!, Bizarro surge pela primeira vez durante os eventos narrados na saga Vilania Eterna. Cinco anos antes, Luthor havia-se proposto a criar o seu próprio exército de meta-humanos. Com esse desígnio em mente, combinou o ADN kryptoniano do Homem de Aço com o de um adolescente humano. Sendo o resultado da experiência desastroso: em vez de uma réplica do Super-Homem, tudo o que Luthor obtém é um monstro disforme, imune aos efeitos da kryptoninta e detentor de poderes opostos aos do herói que lhe serviu de matriz. Deduzindo a fraqueza da criatura, Luthor expõe-a a uma dose maciça de energia solar, que sobrecarrega as suas células, matando-a.
    Apesar do falhanço, Luthor não desiste dos seus intentos. Recolhendo amostras do clone defeituoso, o magnata, apostado em recriar um kryptoniano perfeito, retoma as suas experiências de bioengenharia. Vendo os seus esforços coroados de sucesso cinco anos depois. Esse novo Bizarro será usado para libertar a Terra do jugo do Sindicato do Crime (tema para um próximo artigo).

A mais recente versão de Bizarro em Os Novos 52!.
Noutros media: Símbolo da cultura pop, Bizarro quedou-se num honroso 25º lugar no ranking dos 100 Melhores Supervilões dos Quadradinhos organizado pelo site IGN. A sua estreia fora das páginas da banda desenhada data de 1978, num episódio da série de animação Challenge of the Super Friends, onde surge inserido na Legion of Doom. Além de ulteriores participações em produções similares, o clone defeituoso do Super-Homem marcou igualmente presença em episódios avulsos das séries televisivas Superboy (1989-1992), Lois & Clark: New Adventures of Superman (1993-1997) e na 6ª temporada de Smallville (2006-07).


Bizarro em Superboy.

      No cinema, Bizarro integra o elenco do filme de animação (ainda inédito em Portugal) JLA Adventures: Trapped in Time (2014). Não sendo, por outro lado, consensual se a contraparte maligna do Homem de Aço originada pela exposição à kryptonita vermelha em Superman III (1983) corresponderia a uma personificação de Bizarro ou a uma simples projeção do subconsciente do herói. Certo é que circulam neste momento rumores na internet acerca de estar a ser equacionada a produção de um filme a solo da criatura. O tempo dirá se há algum fundamento neles...



08 outubro 2014

CLÁSSICOS DA 9ª ARTE «CRISE NAS INFINITAS TERRAS»



   No ano em que comemorou meio século de existência, a DC resolveu reunificar a sua cronologia. Sentenciando, assim, à morte um intrincado Multiverso em constante expansão. Nesse novo começo, algumas personagens emblemáticas tiveram a sua mitologia revista, ao passo que outras, pura e simplesmente, deixaram de existir. Nada, porém, voltaria a ser como dantes.

Título original da saga: Crisis on Infinite Earths
Licenciadora: DC Comics
Publicada originalmente em: Crisis on Infinite Earths #1 a 12 (abril de 1985 a março de 1986)*
Argumento: Marv Wolfman
Arte: George Pérez
País: EUA

* Mercê da envergadura e alcance da saga, a mesma teve ramificações em praticamente toda a linha de títulos, à data, publicados pela DC.


Edição brasileira:



Título: Crise nas Infinitas Terras
Data: Maio a julho de 1989 (1ª série)*
Editora: Abril Jovem
Categoria: Série especial em três edições mensais**
Formato: Formatinho económico (13,5 x 19 cm), colorido e com lombada quadrada
Número de páginas: 132 por cada edição
Na minha coleção desde: 2009

* Em 1996 a Abril lançaria uma 2ª série da saga. Em 2003 seria a vez de a Panini Comics publicar uma edição encadernada composta por dois volumes em formato americano.
** A exemplo do que se verificou aquando da publicação do material original nos EUA, também no Brasil as ondas de choque da saga propagaram-se pelos títulos regulares da DC publicados, à data, pela editora Abril: Os Novos Titãs, Superamigos, Super-Homem e Super Powers.


A mãe de todas as crises.

Antecedentes: No período que antecedeu Crisis on Infinite Earths, as publicações da DC enfermavam de incoerências decorrentes de problemas de continuidade. Nenhuma das mais proeminentes personagens da editora dispunha de uma origem consistente. Nem o Super-Homem, o mais antigo dos heróis, era exceção. Retratado como o derradeiro sobrevivente do planeta Krypton, aquando da sua estreia não conseguia voar, sendo as suas habilidades sobre-humanas explicadas pelo facto de ter crescido num mundo com uma gravidade mais fraca. Não tardou, porém, a que o Homem de Aço fosse agraciado com o poder de voo, e que o nosso sol amarelo fosse referenciado como a fonte das suas formidáveis habilidades. Concomitantemente, a sua origem tornou-se mais complexa. Entre as várias alterações introduzidas, ressaltava o facto de o Último Filho de Krypton ter desenvolvido as suas capacidades ainda durante a infância, encetando a sua carreira heroica no início da puberdade como Superboy. Outros sobreviventes da destruição de Krypton foram posteriormente integrados na sua mitologia: Supergirl, Krypto, o Supercão e os habitantes de Kandor, entre outros. Adulterando irremediavelmente o conceito primordial de que Kal-El seria o único kryptoniano em todo o  Universo.
     Também a idade de algumas personagens deu azo a problemas. Sendo Batman um caso paradigmático. Como podia um simples humano, desprovido de quaisquer superpoderes ou habilidades especiais, conservar a sua vitalidade nos anos 1980, estando ativo desde a 2ª Guerra Mundial? Mais paradoxal só mesmo o facto de Dick Grayson (o primeiro Robin) ter demorado o tempo correspondente a 30 anos(!) na vida real para concluir o liceu. Um caso extremo de insucesso escolar...
    Contrassensos como estes estendiam-se a outras personagens, nomeadamente a Flash, Lanterna Verde ou Átomo, cujos poderes e origens amiúde diferiam ao sabor dos caprichos de argumentistas e editores.
    Porém, durante décadas pouco ou nada foi feito por parte dos responsáveis da DC para atar estas pontas soltas. Quis o Destino que a solução para um problema que ganhava proporções preocupantes surgisse sob a forma de uma história do Flash, publicada em 1961. Em setembro desse ano, nas páginas de The Flash #123, numa história intitulada Flash of Two Worlds, o Velocista Escarlate da Idade da Prata (Barry Allen) deu de caras com o seu predecessor da Idade do Ouro (Jay Garrick, popularizado no Brasil como Joel Ciclone). Coexistindo no mesmo espaço e no mesmo tempo, os mundos paralelos eram separados apenas por vibrações moleculares diferentes. Graças à sua supervelocidade (que lhe permitia também atravessar objetos sólidos), Flash conseguia sintonizar-se com as ditas vibrações moleculares, rompendo dessa forma a membrana invisível que apartava ambas as realidades.
     Estava assim dado o primeiro passo para a criação de um Multiverso constituído por uma multitude de Terras paralelas habitadas por heróis diferentes ou por versões alternativas das principais personagens da Editora das Lendas. Uma criação que, todavia, não tardaria a escapar ao controlo dos seus criadores...

Cover for Flash #123 (1961)
Flashes de dois mundos na história que, em 1961, lançou as bases para o Multiverso.

     Dentre as centenas de dimensões gémeas catalogadas, destacavam-se as Terras Um, Dois e Três. Sendo a primeira habitada pelas versões da Idade da Prata dos principais heróis e heroínas da DC (Flash Barry Allen, Lanterna Verde Hal Jordan, Gavião Negro Katar Hol, etc). Já a segunda servia de lar às suas respetivas contrapartes com origem na Idade do Ouro (Flash Jay Garrick, Lanterna Verde Alan Scott e os restantes membro da Sociedade da Justiça da América). Despojada de heróis, a terceira era uma espécie de reflexo invertido da primeira, nela pontificando as versões malignas de Super-Homem e companhia, reunidas no Sindicato do Crime da América. Avultavam, além destas, as Terras 4 (criada com o propósito de albergar as personagens adquiridas à Charlton Comics); S (introduzida com idêntica finalidade, mas referente à Família Marvel e demais personagens outrora propriedade da Fawcett Comics); X (onde os Combatentes da Liberdade, oriundos da extinta Quality Comics,combatiam a Alemanha nazi, vencedora da 2ª Guerra Mundial nessa realidade alternativa); Prime (mundo natal da Legião dos Super-Heróis no período pré-Crise e do pérfido Superboy Primordial); Universo de Antimatéria (também designado de Universo do Mal, o único composto por energia negativa e  lar do omnipotente Anti-Monitor).

Universo DC pré-Crise: um somatório de paradoxos.
 
    Citando Bocage, "foi pior a emenda do que o soneto". Para resolver um problema de continuidade, a DC, ao introduzir o conceito de Multiverso, criou um problema cem vezes maior. A uma já de si intrincada tapeçaria, foram, pois, acrescentadas mais pontas soltas e mais nós cegos. À medida que os anos iam passando e as Terras paralelas se iam reproduzindo em progressão aritmética, os leitores ficavam mais e mais confusos. Daí ao seu êxodo foi um pequeno passo.
    Para pôr termo a uma situação que ameaçava tornar-se insustentável, em 1985 (ano em que a Editora das Lendas comemorava o seu 50º aniversário) os mandachuvas da DC resolveram tomar medidas drásticas. A principal das quais consistiu na  reunificação da cronologia da editora, depurando-a de todos os paradoxos e inconsistências que a vinham fazendo perder terreno para a concorrência (leia-se Marvel Comics). A solução estaria encapsulada numa saga épica que assinalaria um novo começo para o Universo DC. E que, se tudo corresse conforme planeado, de caminho serviria para atrair uma nova leva de leitores.
    Marv Wolfman (vide texto anterior) e George Pérez - dupla criativa responsável, um par de anos antes, pelo enorme êxito da série The New Teen Titans -  foram os eleitos para dar forma a esse ambicioso projeto. A eles juntaram-se ainda os ilustradores Jerry Ordway, Mike DeCarlo e Dick Giordano.

 George Pérez (esq.) e Marv Wolfman abraçaram novo desafio.

    Uma das mais grandiosas e impactantes sagas da DC, Crisis on Infinite Earths foi um título inspirado em histórias anteriores envolvendo o contacto entre Terras paralelas incorporadas no chamado Multiverso, como foi o caso de Crisis on Earth-Two e de Crisis on Earth Three. Com efeito, ontem como hoje, a palavra "crise" ocupava lugar de grande destaque no léxico da Editora das Lendas, subjacendo-lhe a ideia de um conflito interdimensional, como aquele que, anos atrás, envolvera a Liga da Justiça da América e a Sociedade de Justiça da América em Crisis on Earth One.

Universo DC pré-Crise: (quase) nada voltaria a ser como  dantes.
 
    De acordo com o plano editorial inicialmente delineado, foi elaborada uma listagem que claramente definia quais eram as personagens que continuariam a fazer parte do Universo DC, e aquelas que seriam eliminadas. Numa reunião ocorrida fora da sede da editora - e na qual participaram a sua presidente (Jenette Khan), os seus vice-presidentes/editores executivos (Paul Levitz e Dick Giordano) bem como os restantes editores-, foram estabelecidas as linhas-mestras do projeto.
   O caminho para a anunciada revolução começou a ser pavimentado um ano antes do lançamento de Crisis on Infinite Earths. Período ao longo do qual o misterioso Monitor foi sendo gradualmente introduzido nas páginas de vários títulos da DC, invariavelmente dissimulado nas sombras, sugerindo tratar-se de um vilão.
   Incapaz de conciliar o seu trabalho de arte-finalista da saga com as funções de vice-presidente e editor executivo, Dick Giordano, malgrado as suas objeções, foi afastado do projeto, sendo substituído por Jerry Ordway.
  Contrariamente ao que o seu escopo e magnitude fariam prever, a promoção de Crisis on Infinite Earths foi virtualmente nula. Não obstante, a saga viria a revelar-se um estrondoso sucesso a vários níveis, incluindo o do marketing. Ao ser bem sucedida no seu desiderato de produzir um interesse renovado no Universo DC, Crisis on Infinite Earths teve, pois, o mérito de angariar um número considerável de novos leitores. Contrariando dessa forma a posição dominante detida pela Marvel no mercado editorial de comics. Outro dos seus méritos consistiu em desbravar caminho para a revitalização da Editora das Lendas, por intermédio de outras sagas igualmente arrojadas, como Watchmen (de Alan Moore) ou Batman: The Dark Knight Returns (de Frank Miller).
  Crisis on Infinite Earths popularizou ainda o conceito de crossover em larga escala, já antes experimentado pela Marvel através de Contest of Champions (1983) e de Secret Wars (1984). Foi assim inaugurada a tendência de, a cada ano, as duas arquirrivais lançarem uma maxissérie, cujos eventos e consequências são transversais ao respetivo cardápio de títulos regulares.
  No entanto, apesar de todas as suas virtualidades, Crisis on Infinite Earths revelou-se (como se perceberá mais abaixo) uma espécie de paliativo para a doença crónica de que, volvidos todos estes anos, a DC continua a padecer. Significando isto que, aos poucos, o Multiverso seria ressuscitado e, com ele, os velhos problemas de continuidade. Havendo, portanto, a necessidade de, uma e outra vez, repetir a terapêutica, sob a forma de sagas similares.Sempre  com o objetivo último de  atualizar uma cronologia a que é estranho o conceito de linearidade. Exemplos: Zero Hour (1994), Infinite Crisis (2005-06) e Final Crisis (2008-09). Com estas duas últimas a serem apresentadas pela DC como o segundo e terceiro capítulos de uma trilogia inaugurada por Crisis on Infinite Earths. E que, em última análise, serviram de preâmbulo para o projeto The New 52! (2011). Matérias para um próximo post...

Nas suas primeiras aparições, o Monitor foi tomado por uma ameaça.

Enredo: Desde a Aurora dos Tempos que Maltus era habitado por uma raça pacífica e altamente evoluída. Entre ela pontificava Krona, reputado cientista que almejava descobrir os segredos da criação do Universo. Para esse efeito concebeu uma sofisticadíssima máquina capaz de gerar um portal no espaço-tempo. Através dele, Krona pôde assistir com os seus próprios olhos ao momento que antecedeu a Criação. Contudo, algo correu mal e a máquina de Krona explodiu. Dessa explosão nasceu o Universo de Antimatéria. A sua simples existência originou uma onda de Mal, responsável pela corrupção de milhares de mundos. Simultaneamente, o nosso Universo foi desdobrado em infinitas dimensões paralelas, dando assim lugar ao Multiverso.
   Sentindo-se responsáveis pela catástrofe, os Maltusianos procuraram meios para erradicar o Mal libertado pela imprudência do seu compatriota. Alguns deles migraram então para o planeta Oa, passando a proteger o Cosmos como os Guardiões do Universo. Entre os vários instrumentos que utilizaram para esse fim, destacam-se os Caçadores Cósmicos e a Tropa dos Lanternas Verdes.
    Entretanto, numa das luas de Oa, nasceu um omnipotente ser que atendia pelo nome de Monitor. Ao mesmo tempo, numa das luas de Qward (um dos planetas do Universo de Antimatéria) ganhava vida a sua antítese: o Anti-Monitor. Pressentindo a presença um do outro, os dois seres empreenderam um titânica batalha que durou um milhão de anos. Até que, após um devastador ataque simultâneo, ambos ficaram em estado catatónico.

Monitor e Anti-Monitor: duas faces da mesma moeda.
 
    Incontáveis eras depois, numa das múltiplas Terras, outro brilhante cientista, Pária, permitiu que a sua obsessão acerca da génese do Universo se sobrepusesse ao mais elementar bom senso. À imagem e semelhança de Krona, desenvolveu uma câmara que lhe permitiria viajar através do continuum espaço-temporal até ao momento da Criação. Ao fazê-lo desencadeou uma imparável reação em cadeia que destruiu tudo à sua passagem. Pária tornou-se, assim, o único sobrevivente do seu malogrado Universo.

Pária, um homem amaldiçoado.

    Como se isso não bastasse, a explosão reverberou por toda a Existência, despertando o Monitor e, claro, o seu émulo malvado. O primeiro, intuindo os insanos planos do segundo, construiu um satélite onde catalogou os heróis e vilões das múltiplas Terras que, chegada a hora, o poderiam ajudar a deter o Anti-Monitor.
    Condenado a marcar presença nos locais onde a destruição está prestes a ocorrer, Pária é acompanhado nessas excursões pelo Monitor. Numa delas, o poderoso ser depara-se com uma jovem chamada Lyla, única sobrevivente de um naufrágio que vitimou toda a sua família. Sensibilizado pela tragédia da rapariga, o Monitor acolhe-a e treina-a para que ela seja a sua Precursora (Harbinger, no original).

Precursora, uma das personagens-chave da saga.

     A fim de aumentar o seu poder por forma a tornar-se o senhor absoluto da Existência, o Anti-Monitor liberta uma gigantesca onda de antimatéria que avança inexoravelmente através do Multiverso. Um dos primeiros mundos a ser aniquilado pela sua ação é a Terra 3. Nessa realidade singular, uma versão alternativa de Lex Luthor era o seu único benfeitor. Nos momentos que antecedem a destruição da Terra 3, os supervilões do Sindicato do Crime lutam, em desespero, pela salvação de um mundo que vezes conta tentaram subjugar.
   Numa sequência parecidíssima com o envio de Kal-El para a Terra ante a iminente destruição de Krypton, Luthor coloca o seu filho bebé numa nave que o levará para um mundo onde poderá crescer em segurança. Ao cruzar o espaço interdimensional, a nave é resgatada pela Precursora que, de seguida, a leva para o satélite do Monitor. Durante a passagem pela fenda vibracional que separa os universos paralelos, a criança torna-se um misto de matéria e de antimatéria, daí resultando uma profunda alteração na sua estrutura molecular. Em consequência disso, o pequeno Alex Luthor passa da infância à idade adulta em poucos dias.
    De uma ponta à outra do Multiverso, as múltiplas Terras têm as suas paisagens redesenhadas pela ação de terramotos, maremotos, furacões, erupções vulcânicas e falhas temporais. Milhares perecem sob os céus escarlates que servem de redoma aos mundos em agonia e que prenunciam o crepúsculo do Multiverso.
A equação do Multiverso.

   Seguindo as diretivas do seu mentor, Precursora reúne o primeiro lote de heróis e vilões de diferentes mundos e épocas. A sua missão: defender a qualquer custo os cinco dispositivos colocados pelo Monitor em outras tantas realidades com vista a impedir o avanço da onda de antimatéria lançada pela sua contraparte maligna.
    Vários elementos do contingente ao serviço do Monitor são feridos nas escaramuças que os opõem às forças do Anti-Monitor. Enquanto isso, heróis de vários mundos esforçam-se por tentar acudir às populações em pânico. Imparável, a Crise chega às Terras 1 e 2, disseminando-se por todas as épocas. Os seus efeitos fazem-se sentir até mesmo no século XXX, com a Legião dos Super-Heróis a combater as hordas invasoras do Anti-Monitor.
    Enquanto Flash (Barry Allen) corre freneticamente através das várias linhas temporais tentando alertar para a catástrofe iminente, Precursora, dominada pelo Anti-Monitor, assassina o Monitor. Este, contudo, previra a sua morte às mãos da sua protegida. Razão pela qual, ao perecer, a criatura liberta a energia necessária à ativação dos dispositivos por ele implantados em cinco realidades distintas.
    Contida a onda de antimatéria, o Universo volta ser único e indivisível como era nos alvores da Existência. Forma-se então um limbo, espécie de sub-universo onde as Terras 1 e 2 estão separadas somente por uma vibração que diminui a cada instante que passa. Ditando a iminente fusão e consequente aniquilação de ambas.
    Todos os heróis das Terras 1 e 2 são convocados para tentar salvar também as outras três Terras remanescentes (S,X  e 4). Enfrentam, contudo, enormes dificuldades, pois, manipulados pelo Pirata Psíquico, os heróis desses mundos tudo fazem para impedi-los de serem bem-sucedidos nesse desígnio. 


Pirata Psíquico.

     Longe dali, o Anti-Monitor ataca o satélite do seu falecido némesis. Num gesto de bravura, a Precursora faz-se explodir no interior da estrutura, sobrevivendo por um triz. Salvas da destruição, as Terras S, X e 4 juntam-se às Terras 1 e 2 no limbo.

Anti-Monitor, o artífice do ocaso do Multiverso.    
 
    Inspirados pela coragem da Precursora, diversos heróis de outras tantas realidades convergem, através de um túnel gerado por Alex Luthor, para o Universo de Antimatéria. Objetivo: tomar de assalto a fortaleza do Anti-Monitor e destruir as máquinas que estão a causar a desaceleração da vibração que separa as Terras. Um a um, porém, os heróis tombam. Apenas a Doutora Luz e o Super-Homem logram alcançar as máquinas. Quando este último se prepara para as destruir, o Anti-Monitor emerge das trevas e derruba-o. A Doutora Luz tenta em vão travar a criatura. Uma enfurecida Supergirl ataca então o Anti-Monitor. Mesmo sabendo que isso lhe custará a vida, ela abre brechas no traje de contenção do vilão, fazendo com que a sua energia se comece a dispersar.
   Num breve momento de desatenção em que ordena à Doutora Luz que leve o primo para um lugar seguro, a heroína kryptoniana é ceifada por uma rajada de antimatéria emitida pelo Anti-Monitor, que, de seguida, se põe em fuga. Num dos momentos mais emocionantes da saga, Supergirl morre nos braços  do Super-Homem. Não sem antes lhe pedir que não chore, pois foi ele quem lhe ensinou o valor da coragem.

A morte da Supergirl é um dos capítulos mais trágicos da saga.
   
    A fusão das Terras é travada, mas foi alto o preço a pagar. Aproveitando a comoção em torno da morte da Supergirl, o Anti-Monitor, já recuperado, inicia a construção de um canhão de antimatéria. Quando a arma está pronta a ser disparada, Flash (Barry Allen) usa a sua supervelocidade para desligar a sua fonte de energia, provocando dessa forma uma retroalimentação que destrói o canhão. No entanto, na sua corrida desenfreada o Velocista Escarlate começa a viajar no tempo e o seu corpo começa a desintegrar-se, até nada mais restar do que pó.

Flash fez o sacrifício supremo em prol da sobrevivência do que restava do Multiverso.

    Tudo parece encaminhar-se para um desfecho feliz. A fusão das Terras está controlada, mas subsistem ainda algumas ameaças. Sendo a maior aquela que é representada pelos supervilões. Kid Flash é convocado pela Precursora e pelo Flash original (Jay Garrick), porque a sua supervelocidade é necessária para ativar a Esteira Cósmica, dispositivo que permite o trânsito entre as várias dimensões paralelas. A ideia era cooptar heróis de diferentes mundos para enfrentarem as forças malignas.
   Chegados aos planetas sitiados pelos supervilões, os heróis combatem-nos em todas a frentes. O enigmático Espectro materializa-se nos campos de batalha e anuncia que o Anti-Monitor ainda vive.Segundo ele, está iminente a destruição do que resta do Multiverso. Para impedi-la, será necessário mudar o curso da História. O que só será possível através da cooperação entre heróis e vilões.

Vilões ao ataque.

    Selada essa aliança espúria, os primeiros são enviados para a Aurora dos Tempos, ao passo que os segundos seguem para o exato momento em que Krona ativa o seu equipamento para observar o nascimento do Universo. Os vilões, contudo, são malsucedidos na sua missão de impedir Krona. Já a força combinada dos heróis e do Espectro consegue derrotar o Anti-Monitor. É, no entanto, operada uma dramática mudança: o que outrora nasceu sob a forma de múltiplos universos, ressurge agora como um só Universo.Nele existindo uma única Terra.
    Nessa Terra renascida estão reunidos elementos das restantes cinco Terras que haviam sobrevivido à Crise. Ninguém se recorda da versão envelhecida do Super-Homem oriunda da Terra 2. Este Homem de Aço de uma realidade alternativa encontra-se com o Super-Homem da Terra 1, Flash (Jay Garrick) e Kid Flash e pede-lhes ajuda para ativar a Esteira Cósmica, na esperança de poder regressar a casa. Tudo o que encontram, porém, é o Nada absoluto. Para evitar que caia em mãos erradas, o dispositivo é destruído.
    Algum tempo depois, os heróis da nova Terra são convocados pela Precursora, que lhes explica os contornos da nova realidade: nela, só existiu uma versão de cada um deles (um só Batman, um só Super-Homem e por aí fora). Também o facto de apenas os heróis terem memória dos eventos ocorridos durante a Crise é esclarecido: só eles estiveram presentes na Aurora dos Tempos.

Anti-Monitor versus Espectro: choque de titãs.

      De repente, a Terra é envolvida por trevas. É o Anti-Monitor que leva o planeta para o seu Universo de Antimatéria. Convocados pela Precursora, os mais poderosos heróis são enviados para os domínios do vilão através de um portal gerado por Alex Luthor. A muito custo, eles conseguem levar de vencida a criatura. Cujo fim definitivo só é possível graças à intervenção de Darkseid, que usa Alex Luthor como um catalisador para os seus formidáveis raios ómega. Sem o poder do seu soberano, o Universo de Antimatéria começa a autodestruir-se. Antes, porém, que isso aconteça, Alex Luthor abre um portal para outra dimensão, partindo para parte incerta na companhia do Super-Homem da Terra 2 e do Superboy Primordial. Facto que só seria cabalmente esclarecido, duas década depois, nas páginas da sequela Infinite Crisis (Crise Infinita, maxissérie publicada no Brasil pela Panini Comics em 2006/07, e sobre qual a seu tempo escreverei).
    No epílogo da saga, Wally West abandona a identidade de Kid Flash para se tornar o novo Flash, sucedendo assim ao seu mentor Barry Allen. Numa cela acolchoada no Asilo Arkham, as palavras balbuciadas pelo Pirata Psíquico ecoam pela eternidade: "Sou o único a lembrar-me das Terras infinitas. Sou o único a conhecer a verdade e nunca a esquecerei. Mundos morreram; mundos nasceram. E nada será como dantes...".


       
Repercussões: Crisis on Infinite Earths dividiu a história da DC em pré-Crise e pós-Crise. Com o primeiro período a ser ignorado em favor do segundo. Exceção feita a um punhado de personagens (e aos leitores mais antigos, como eu) ninguém se recorda dos eventos ocorridos durante a saga. Todavia, as alterações por ela introduzidas não foram implementadas de forma consistente. Diversas personagens viram, com efeito, as suas origens tornarem-se incongruentes em resultado dessas alterações ou da revitalização de outras personagens. Um bom exemplo é a história da Poderosa (Power Girl, no original). Na cronologia pré-Crise, ela era prima do Super-Homem. Com a reformulação da mitologia do Homem de Aço a ter como pedra angular o facto de ele ser o Último Filho de Krypton, como explicar a existência da Poderosa que, ao contrário da Supergirl, sobrevivera à Crise? A solução encontrada foi retratá-la como uma descendente de um antigo mago atlante, que, pela similitude de poderes, acreditava ter um grau de parentesco com o herói kryptoniano. Outro caso bicudo foi o de Donna Troy (a primeira Moça-Maravilha). Originalmente, tratava-se de uma órfã que fora adotada pela Mulher-Maravilha. Porém, com a eliminação desta da nova cronologia da Editora das Lendas, a primeira só ressurgiria um ano depois do final da Crise. Com direito a uma nova e rebuscada origem. E estes são apenas alguns exemplos dos paradoxos que perduraram durante os anos subsequentes à Crise.
      Recapitulemos, pois, de forma resumida, o antes e o depois da Crise nas Infinitas Terras:

Pré-Crise

* Existência de múltiplas Terras paralelas, mundos que ocupavam o mesmo lugar na realidade, mas vibrando em diferentes frequências;
*Alguns destes mundos dispunham das suas próprias versões de heróis, como Super-Homem, Batman ou a Mulher-Maravilha;
* Super-Homem era extremamente poderoso quando comparado com as suas versões mais recentes. Não era o único sobrevivente de Krypton e os seus poderes atingiram a maturidade ainda na infância, empreendendo a sua carreira heroica como Superboy (cujos feitos inspiraram a fundação da Legião dos Super-Heróis, mil anos no futuro);

Deixou de haver lugar para o Superboy no Universo DC pós-Crise. Mas por pouco tempo...

* Entre os membros fundadores da Liga da Justiça estavam Super-Homem, Batman e Mulher-Maravilha;
* O Robin Jason Todd era menos impulsivo do que a sua versão posterior morta às mãos do Joker, tendo a sua origem muitos pontos em comum com a do seu antecessor (Dick Grayson);
* Na Terra S, a Família Marvel incluía também os Tenentes Marvel;
* O Capitão Átomo não possuía pele metálica;
*Existia uma grande diversidade de kryptonitas, a cada uma delas correspondendo um efeito diferente sobre os kryptonianos a elas expostos;
* Na Terra 2 a Mulher-Maravilha tinha uma filha chamada Fúria, ao passo que a Caçadora era fruto do amor entre Batman e a Mulher-Gato ( conceitos reciclados no âmbito de The New 52!).

Pós-Crise

*Passaram a existir somente dois universos: um positivo, outro negativo (este último um legado do Anti-Monitor);
* Foram eliminadas as versões alternativas das personagens;
* O Super-Homem, além de ter visto os seus poderes substancialmente reduzidos, nunca foi Superboy. Este é atualmente Conner Kent, um clone do Homem de Aço;
*Batman, Mulher-Maravilha e Super-Homem não fizeram parte da formação original da Liga da Justiça;
* A Caçadora é filha de um patrão da Máfia italiana;
* A Canário Negro dos nossos dias é filha da Canário Negro original;
* Batman, Robin, Caçadora, Mulher-Maravilha e Super-Homem foram apagados da cronologia da Sociedade da Justiça da América;
* Ultraman (contraparte maligna do Super-Homem na antiga Terra 3) é agora o tenente Clark Kent, do Universo Negativo (onde reina o Sindicato do Crime);

Poderosa (em 1º plano) e Caçadora tiveram as suas origens revistas.

     Não obstante todas as alterações e correções introduzidas pela saga, o conceito de universos paralelos continua, ainda hoje, a despertar um enorme fascínio nos argumentistas e editores da DC. Prova disso é o renascimento da Terra 2, já no âmbito de The New 52!. Não sendo,pois, de estranhar que, ciclicamente, a Editora das Lendas sinta  necessidade de reestruturar a sua cronologia. Com cada uma dessas atualizações a serem sucessivamente apresentadas como definitivas...

27 setembro 2014

ETERNOS: MARV WOLFMAN (1946 - ...)




     Consagrado através do trabalho desenvolvido com os Novos Titãs na década de 1980, Marv Wolfman teve em Crise Nas Infinitas Terras um dos maiores desafios da sua multifacetada e multipremiada carreira. Criador de personagens carismáticas, como Blade, Nova ou Tim Drake (Robin III), tornou-se ele próprio um herói acidental na defesa dos direitos autorais dos argumentistas.

Biografia e carreira: Segundo filho (tem uma irmã 12 anos mais velha) de um modesto casal composto por um polícia e uma doméstica, Marvin "Marv" Arthur Wolfman nasceu a 13 de maio de 1946 no Brooklyn, sendo portanto um nova-iorquino de gema. Aos 13 anos, mudou-se com a sua família para Queens, passando a frequentar o liceu local. Na esperança de vir a ser um cartunista, transferiu-se, anos depois, para o High School of Art and Design, em Manhattan.
     Sempre com esse objetivo em vista, durante os anos que se seguiram manteve-se muito ativo no circuito amador da 9ª arte, colaborando em diversos fanzines. Wolfman foi, de resto, o primeiro a publicar Stephen King nas páginas de um desses seus projetos editoriais: em 1965 deu à estampa Stories of Suspense #2 -um fanzine de terror da sua autoria - contendo um conto do mestre do suspense, intitulado In A Half-World Of Terror.
   A profissionalização como argumentista chegaria três depois, em 1968, ao serviço da DC Comics. Blackhawk #242 (datado de agosto/setembro desse ano) assinalou a primeira publicação oficial de material produzido por Wolfman (sem que, contudo, o mesmo lhe tivesse sido creditado). Meses depois, ele e o seu velho amigo Len Wein criaram em conjunto a personagem Jonny Double, cuja primeira aparição ocorreu em Showcase #78, ficando a história a cargo de Wolfman. Ainda nesse ano, em dezembro, os dois escreveram a meias Eye of the Beholder para Teen Titans #18. Com a particularidade de ter sido essa a primeira vez que Len Wein teve direito a figurar nos créditos da revista.

Uma das primeiras criações de Marv Wolfman.

    Em meados de 1969, Neal Adams foi chamado para reescrever e redesenhar uma história dos Titãs originalmente concebida por Wolfman e Wein. A qual - se não tivesse sido vetada pelo editor Carmine Infantino-  teria introduzido na mitologia da DC o primeiro super-herói afro-americano. Apesar desse revés, Wolfman - agora em parceria com Gil Kane - deu a conhecer em Teen Titans nº22 (julho/agosto de 1969) a origem inédita da Moça-Maravilha, sendo igualmente apresentado nessa edição o novo uniforme da personagem.
    Em 1972, já depois de ter criado com Bernie Wrightson a personagem Destiny (reciclada anos depois por Neil Gaiman), Marv Wolfman, na qualidade de protegido do editor-chefe da Marvel Roy Thomas, mudou-se de armas e bagagens para a Casa das Ideias. Quando Thomas abandonou o cargo, Wolfman assumiu o seu lugar, desempenhando inicialmente as funções de editor dos títulos a preto e branco publicados pela Marvel Comics, daí transitando para a linha de séries coloridas. Wolfman confidenciaria quase uma década depois que " a Marvel nunca se comprometeu completamente com a sua linha de títulos a preto e branco. Tão-pouco assumiu o menor compromisso com os profissionais que nela trabalhavam. Coube-me a mim selecionar e formar um novo painel de argumentistas e ilustradores". Não obstante, Wolfman renunciou ao cargo de editor-chefe de molde a dispor de mais tempo para se dedicar àquilo que mais gostava de fazer: escrever.
     Pouco tempo após tomar esta decisão, Wolfman foi convidado a assumir os argumentos de The Tomb of Dracula, série de terror (publicada entre 1972 e 1979) que se tornou um fenómeno de culto entre os leitores, sendo também muito aclamada pela crítica. Durante este período, Wolfman - em conjunto com Gene Colan - criou Blade, o caçador de vampiros celebrizado décadas depois no cinema através de uma sensacional trilogia protagonizada por Wesley Snipes.

A estreia de Blade em Tomb of Dracula #10 (1972).

    Até 1980 (ano em que, em litígio com a Marvel, regressou à DC), Wolfman imprimiu o seu cunho numa panóplia de títulos da Casa das Ideias, como Marvel Two-in-One, Spider-Woman, Spider-Man e Fantastic Four. Pelo meio, trabalhou em projetos paralelos como uma tira diária de Howard, the Duck e criou ou reinventou diversas personagens: Nova, Gata Negra e Mercenário (Bullseye, no original) são apenas alguns exemplos dessa sua efervescência  criativa.
  Novamente ao serviço da Editora das Lendas, Wolfman formou com George Pérez a dupla criativa incumbida de revitalizar o título regular dos Titãs. Adicionando ao elenco original da equipa novas e carismáticas personagens -  Cyborg, Starfire (Estelar), Raven (Ravena) e Changeling (Mutano) - os dois conseguiram não só dar um novo elã à série, como torná-la o primeiro grande êxito da DC em vários anos. Não surpreendendo por isso que, em 1984, Wolfman e Pérez tenham sido novamente cooptados para assumir os destinos de uma segunda série de The New Teen Titans.

The Judas Contract (O Contrato de Judas) foi uma das melhores sagas produzidas pela dupla Wolfman/Pérez naquela que é considerada a fase áurea dos Novos Titãs.

   Mais surpreendente foi o ovacionado Chris Claremont (à época uma das superestrelas da Marvel) ter sido, presumivelmente, sondado por um executivo da DC numa festa natalícia em 1986, para assumir as histórias dos Novos Titãs. Proposta prontamente declinada por Claremont, que se apressou a transmitir o sucedido a Wolfman. Quando este confrontou os mandachuvas da editora, eles alegaram que tudo não passara de uma brincadeira. A despeito deste desmentido, Claremont sustentou sempre que, na sua opinião, se tratara de uma oferta genuína de trabalho.
   O episódio acima relatado verificou-se já depois de George Pérez ter abandonado The New Teen Titans. Wolfman, por seu turno, manteve-se responsável pelos enredos da série durante mais alguns anos, colaborando nesse períodos com outros artistas consagrados, como Tom Grummett, Eduardo Barreto ou José Luis García-López.
   A dupla-maravilha Wolfman/Pérez reunir-se-ia, contudo, para produzir uma ambiciosa saga em doze capítulos intitulada Crisis on Infinite Earths (Crise nas Infinitas Terras). Corria o ano de 1985 e, para assinalar o seu meio século de existência, a DC resolveu arrumar a casa. O mesmo é dizer que a Wolfman e Pérez coube a ciclópica missão de reestruturar uma cronologia velha de 50 anos, na qual pontificava uma miríade de personagens espalhadas por um intrincado multiverso.
    Sob a batuta de Wolfman, dezenas de personagens foram eliminadas enquanto algumas provenientes de outras editoras foram incorporadas na depurada cronologia da DC. Findo esse megaprojeto, seguiu-se outro de idêntica envergadura: sempre em colaboração com Pérez, Wolfman escreveu History of the DC Universe, espécie de compêndio que sumarizava a renovada história da Editora das Lendas.

Capa do primeiro volume de Crisis on Infinite Earths, a saga que revolucionou para sempre o Universo DC.

    Antes de se envolver numa disputa pública com a DC tendo como base o sistema de classificação dos conteúdos publicados pela editora, Wolfman teve ainda tempo para dar o seu contributo no relançamento do Super-Homem, reinventado o seu eterno némesis (Lex Luthor) e introduzindo nas histórias do herói kryptoniano personagens como o Professor Emil Hamilton e a repórter social Cat Grant.
    Na sequência da disputa supracitada, Wolfman seria destituído das suas funções editoriais na DC, que não lhe perdoou o facto de ter tornado públicas as suas críticas ao sistema de classificação de conteúdos por ela implementado. Algum tempo depois, contudo, os responsáveis da empresa reconsideram a sua decisão e apresentaram um pedido de desculpas a Wolfman, acompanhado de um convite para que ele voltasse à DC. Wolfman aceitou o primeiro, tendo porém recusado o segundo.
     As pazes só seriam feitas no início da década de 1990, altura em que Wolfman, regressado à Editora das Lendas, teve uma breve passagem por Batman, a qual se saldou na criação de Tim Drake (o terceiro Menino Prodígio). Antes de reassumir os enredos de The New Teen Titans (desta feita em parceria com Tom Grummett), foi o responsável pela adaptação da primeira história de sempre do Homem-Morcego, publicada a par de outras duas adaptações e da original numa iniciativa inserida nas comemorações das bodas de ouro do herói.
     Apesar desses ponto altos, o regresso de Wolfman à DC ficou aquém das expectativas. A isto não terá sido alheio o facto de, em meados dos anos 90, ele ter abraçado, em paralelo, vários projetos televisivos e de animação. Com efeito, por essa altura, Wolfman assentou arraiais na Disney Comics, onde produziu vários arcos de histórias para algumas das figuras de proa da editora, como o Rato Mickey e o Tio Patinhas. Funções que acumulou com as de editor da revista Disney Adventures.
     Em finais da década de 1990, Wolfman foi um dos obreiros da série televisiva Beast Machines, baseada nos Transformers e muito elogiada pela consistência dos seus argumentos. Esse projeto decorreu de uma sua anterior colaboração, remontando aos anos 80, na terceira temporada da série animada Transformers. Wolfman foi o autor da história que marcou o regresso de Optimus Prime.
    No alvor deste século, Marv Wolfman regressou à indústria dos comics. O seu primeiro projeto nesta nova fase da sua carreira consistiu em escrever as histórias de Defex, personagem de charneira da Devil's Due Productions. Diversificando o escopo do seu trabalho, foi também consultor de Geoff Johns em várias edições de The Teen Titans, responsável pela novelização de Crise nas Infinitas Terras e do filme Superman Returns, além de coargumentista em Condor, filme de animação produzido pela Pow Entertainment (propriedade de Stan Lee) e lançado diretamente em DVD.

Defex marcou o regresso de Marv Wolfman aos quadradinhos.

   Em  2006, Marv Wolfman assumiu as funções de diretor editorial da Impact Comics, licenciadora de material didático inspirado no género mangá e direcionado para os estudantes estadunidenses a frequentarem o ensino secundário. Nesse mesmo ano, tornou-se argumentista da série Nightwing.
    Após escrever uma minissérie estrelada por Ravena, voltou a colaborar com George Pérez. Desta feita na produção de uma película de animação baseada na ovacionada saga dos Novos Titãs, Judas Contract (O Contrato de Judas).
     De então para cá, Wolfman e o seu eterno parceiro criativo concluíram, em 2011, a novela gráfica New Teen Titans: Games, projeto que haviam começado a desenvolver nos anos 80 do século passado. No ano seguinte, Wolfman, secundado pelo artista Tom Mandrake, reviveu a série Night Force. Prestou também consultoria na elaboração do enredo do jogo de vídeo Epic Mickey 2: The Power of Two, trabalho pelo qual foi nomeado para o Writers Guild of America Award, na categoria de Videojogo Com Melhor Argumento. E este, como fica patente na listagem abaixo, não foi o único galardão que recebeu ao longo da sua fulgurante carreira. Marcada, ainda assim, por algumas polémicas.

A graphic novel que assinalou a reedição da dupla-maravilha Wolfman/Pérez.

    Começando pela sua decisão de, em vésperas da estreia do filme Blade (1998) nos cinemas de todo o mundo, intentar um processo judicial contra a Marvel Comics, assente numa suposta violação dos seus direitos autorais. Em 2000, porém, um tribunal norte-americano deu razão à Casa das Ideias, sendo o acórdão essencialmente fundamentado no argumento de que, conquanto Blade tenha sido uma criação de Marv Wolfman em 1972, o subsequente uso da personagem por parte da editora foi substancialmente diverso do conceito original.
Marv Wolfman (dir.) conversa com Wesley Snipes numa pausa nas filmagens de Blade.

    Outra polémica, remontando aos primórdios da sua carreira, envolveu a Comics Code Authority (espécie de censor prévio dos conteúdos publicados pela indústria dos quadradinhos nos EUA). Numa época em que raros eram os autores a receberem os créditos nas publicações em que colaboravam, Marv Wolfman foi uma dessas exceções, quando ainda escrevia histórias para séries de terror e mistério editadas pela DC. Na origem do problema esteve o apelido do escritor (Wolfman significa Homem-Lobo em inglês). Uma vez que o Comics Code Authority (CCA) não permitia referências a lobisomens, exigiu que o seu nome fosse removido da ficha técnica das revistas em questão, julgando tratar-se de um pseudónimo.
   Porém, depois de a DC ter informado o organismo supervisor de que Wolfman era um apelido verdadeiro, a CCA insistiu que o nome constasse dos créditos das publicações. Abrindo dessa forma um precedente que motivou outros autores a reivindicarem igual direito. Pouco tempo depois, essa tornou-se uma prática corrente na indústria. Wolfman tornou-se, pois, inadvertidamente, um precursor na defesa dos direitos autorais dos seus pares.
     Casado em segundas núpcias e pai de uma filha, Marv Wolfman conta atualmente 68 anos, mas mantém-se no ativo. No seu site pessoal ( www.marvwolfman.com), pode ler-se:
  "Comecei a escrever por causa da minha paixão pela banda desenhada. É por isso muito gratificante ver muitas das personagens por mim criadas ganharem vida na TV e no cinema. Na verdade, só Stan Lee conseguiu ver mais criações suas transpostas para esses media do que eu. E sinto que ainda tenho muito para dar".
     E nós, fãs de ontem, hoje e amanhã, cá estaremos para nos deleitarmos com as suas fascinantes estórias.


Marv Wolfman  formou com George Pérez (dir.) uma das mais formidáveis duplas criativas da nona arte.

Principais criações e cocriações: 

* Nightwing/Asa Noturna (a identidade, não o conceito original, foi uma criação conjunta com George Pérez);
* Tim Drake (Robin III);
* Trigon;
* Brother Blood/Irmão Sangue;
* Terra;
* Destiny;
*Nova;
*Blade;
* Deathstroke/Exterminador; Cyborg; Raven/Ravena; Starfire/Estelar (cocriações com George Pérez);
* Bullseye/Mercenário;
* Terrax;
*Gata Negra;
*Monitor;
*Anti-Monitor;
* Jonny Double (cocriação com Len Wein);
* Omega Men;
* E muitos, muitos mais...


Mercenário.

Prémios e distinções: 

* 1 Shazam Award para melhor escritor humorístico em 1973;
* 1 Eagle Award na categoria de melhor nova série em 1982;
* 2 Eagle Awards (1984 e 1985) na categoria de melhor grupo de super-heróis (Novos Titãs);
* 2 Jack Kirby Awards (1985 e 1986) para melhor saga (Crise nas Infinitas Terras), distinção dividida com George Pérez);
* 1 Scribe Award conquistado em 2007 pela sua novelização de Superman Returns;
* 1 National Jewish Book Award pela sua obra de não ficção Homeland, The Illustrated History of the State of Israel;
* Além destes galardões, outras distinções abrilhantam o seu impressionante currículo. Destacando-se entre elas o facto de, em 1985 (ano em que se celebrou o 50º aniversário da DC), o seu nome ter figurado no quadro de honra da Editora das Lendas. Marv Wolfman foi uma das 50 personalidades homenageadas nessa data histórica.

Simplesmente Marv.


27 agosto 2014

GALERIA DE VILÕES: KRAVEN, O CAÇADOR






    Criado no seio de uma aristocracia decadente, Sergei Kravinoff procurou recuperar a nobreza perdida tornando-se um dos melhores caçadores do planeta. Não foi, contudo, na savana, mas sim na selva de betão, que encontrou a sua presa de eleição. No Homem-Aranha encontrou um desafio à sua altura.

Nome original da personagem: Kraven, the Hunter
Primeira aparição: The Amazing Spider-Man nº15 (agosto de 1964)
Criadores: Stan Lee (história) e Steve Ditko (arte)
Licenciadora: Marvel Comics
Identidade civil: Sergei Nikolaevich Kravinoff (originalmente, o apelido era Kravinov)
Local de nascimento: Volgogrado (antiga Estalinegrado), Rússia
Parentes conhecidos: Nikolai Kravinoff (pai falecido), Ana Kravinoff (mãe) Dmitri Smerdyakov (o vilão conhecido como Camaleão, seu meio-irmão), Sasha Kravinoff (esposa falecida), Alyosha Kravinoff (filho), Ana Tatiana Kravinoff (filha), Ned Tannengarden (filho falecido), Gog (filho adotivo) e Xraven (clone)
Afiliação: Ex-membro do Sexteto Sinistro e dos Vingadores (grupo ativo na década de 1950, sem qualquer conotação com a atual equipa); ex-aliado do Camaleão e de Calypso
Base de operações: Móvel
Armas, poderes e habilidades: Graças à ingestão regular de poções produzidas a partir de misteriosas ervas colhidas nas profundezas das selvas africanas, Kraven adquire capacidades físicas (como força, velocidade e resistência sobre-humanas) que lhe permitem rivalizar com oponentes mais poderosos. Também os seus sentidos são amplificados pela ação das referidas poções herbáceas, aumentando dessa forma as suas já impressionantes habilidades de rastreamento.
     Como efeito colateral das supracitadas poções, Kraven teve o seu processo natural de envelhecimento profundamente retardado. Apesar de ser já septuagenário, o vilão não aparenta ter mais de trinta anos.
    Mesmo despojado de habilidades sobre-humanas, Kraven é um atleta de nível olímpico, um estrategista brilhante e um exímio lutador corpo a corpo. É ainda um profundo conhecedor da anatomia humana e de muitos animais, estando por isso familiarizado com os pontos de pressão que, quando tocados com precisão, lhe permitem facilmente neutralizar os seus adversários.
   Avesso ao uso de armas de fogo, nas suas caçadas Kraven opta frequentemente pela utilização de armadilhas, redes, lanças e dardos embebidos em venenos ou tranquilizantes naturais. 
    Poucos são os animais que Kraven não consegue domar e/ou treinar no sentido de obedecerem quase na perfeição aos seus comandos. Muitos especulam que este facto se deverá a algum tipo de controlo mental exercido pelo vilão sobre as feras, o que nunca ficou demonstrado.

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Kraven sonha adicionar o Homem-Aranha à sua coleção de troféus de caça.
 
Histórico de publicação:  Há precisamente meio século, em agosto de 1964, Kraven, o Caçador debutava nas páginas de The Amazing Spider-Man nº15. Conquanto, nos anos subsequentes, tenha ocasionalmente marcado presença em títulos de outras personagens do Universo Marvel, notabilizou-se como antagonista do Homem-Aranha.

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Kraven fez a sua primeira aparição em Amazing Spider-Man nº15 (1964), numa edição que contava ainda com participação especial de outro dos antagonistas clássicos do herói aracnídeo: o Camaleão.

    Conforme mostrado no texto anterior, o vilão suicidou-se no final da saga Kraven's Last Hunt (1987), da autoria de J.M. DeMatteis e Mike Zeck. Também como vimos anteriormente, sendo quase unanimamente considerada a história suprema da personagem, Kraven acabou por ser uma segunda escolha do argumentista, que idealizara outro némesis para o Escalador de Paredes.
    A este propósito, DeMatteis recorda: "Estava pronto para começar a trabalhar na história. Estava sentado meu escritório e dei comigo a folhear o «Marvel Universe Official Handbook». Por nenhuma razão especial, li a entrada referente a Kraven, o Caçador. Desconhecia em absoluto que a personagem tinha nacionalidade russa. Aos olhos de um indefetível de Dostoiévski como eu, isso tornou-a logo mais interessante. Ocorreu-me que Kraven, a exemplo de muitas personagens de Dostoiévski, poderia ser dono de uma alma torturada. Adquiri subitamente um entendimento totalmente novo da sua quintessência. Considerei interessante a possibilidade de explorar as motivações de Kraven para ser quem era. Foi uma verdadeira epifania, visto que a personagem em questão nunca me suscitara o menor interesse. Honestamente, sempre o considerei um dos mais ridículos inimigos do Homem-Aranha. Porém, a partir daquele momento, passei a percecioná-lo de uma forma completamente diversa".
   Não obstante tratar-se de um dos mais antigos oponentes do herói aracnídeo, DeMatteis afirma que nenhum dos mandachuvas da Marvel levantou objeções à morte de Kraven no final da história em questão. No entanto, o vilão - ainda que numa forma espectral - seria ulteriormente devolvido ao mundo dos vivos na novela gráfica Soul of the Hunter, produzida em 1992 pelos mesmos autores de Kraven's Last Hunt. DeMatteis escreveu ainda Kraven's First Hunt, espécie de prequela publicada em The Sensational Spider-Man Annual '96. Entre outras coisas, na história eram abordados pormenores do passado de Kraven, nomeadamente as sevícias por ele infligidas ao seu meio-irmão (Dmitri Smerdyakov, o Camaleão).


Sozinho ou integrado no Sexteto Sinistro, Kraven é um dos mais antigos oponentes do Homem-Aranha.

Biografia: Sergei Kravinoff é filho de um aristocrata russo obrigado a exilar-se com a sua família em terras do Tio Sam na sequência da Revolução Bolchevique e da consequente queda do regime do Czar Nicolau II em 1917.
   Procurando recuperar o prestígio perdido, Sergei procurou os serviços de um misterioso mercenário  conhecido apenas como Gregor, que o treinou para ser um dos melhores caçadores do mundo. Celebrizado internacionalmente como Kraven, o Caçador, Sergei rapidamente se entediou por conta da escassez de desafios à sua altura. Por sugestão do seu associado, Dmitri Smerdyakov (futuro Camaleão), Kraven elegeu o Homem-Aranha como o seu supremo troféu de caça.
   No entanto, ao invés da maioria dos seus congéneres, Kraven desdenha o uso de armas de fogo (bem como de arcos e de flechas), preferindo subjugar animais ferozes e de grande porte com as próprias mãos ou recorrendo a sofisticadas armadilhas. Rege-se igualmente por um estrito código de honra que o leva a tratar com respeito as suas presas. Em Kraven's Last Hunt abriu, contudo, uma exceção no que tange à utilização de armas de fogo. Ainda que não tenha disparado munição real, mas sim dardos tranquilizantes que deixaram o Escalador de Paredes em estado comatoso.
   Graças às infusões e poções confecionadas pela sua amante Calypso (uma sacerdotisa vudu) a partir de extratos de plantas exóticas trazidas das selvas mais profundas, Kraven adquire capacidades acima da média, que o tornam um caçador ainda mais eficiente.
   Embora coadjuvado pelo Camaleão, Kraven foi malsucedido na sua primeira tentativa de caçar o Homem-Aranha e acabou deportado dos EUA. Regressaria pouco tempo depois ao país, para integrar o Sexteto Sinistro (coletivo vilanesco que, na sua primeira formação, contava também com o Dr. Octopus, Mysterio, Abutre, Electro e Homem-Areia). Ele e os seus comparsas acabariam, todavia, derrotados pelo herói aracnídeo.

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Formação original do Sexteto Sinistro, com Kraven em primeiro plano.

    Por sempre ter subestimado o Escalador de Paredes, Kraven foi sucessivamente sobrepujado por ele. Após anos a acumular frustração e rancor, o vilão empreendeu, como vimos, a sua derradeira caçada ao Homem-Aranha. Derrotado uma vez mais pelo herói, colocou aparentemente termo à vida.
   Na esteira desses eventos, Dmitri Smerdyakov - tido até então como um mero serviçal de Kraven - revelou o grau de parentesco existente entre os dois (meios-irmãos) e denunciou os maus-tratos de que foi continuadamente vítima por parte do falecido.
    Mercê do seu suicídio, a alma de Kraven foi condenada ao purgatório, sendo-lhe interdito o perpétuo descanso. Ciente disso, a sua esposa Sasha, adjuvada pela prole do casal Kravinoff (Ana, Vladimir e Alyosha), levou a cabo um ritual de ressurreição no qual foi pretensamente utilizado sangue do Homem-Aranha. Mas alguma coisa correu mal. Devolvido à vida, Kraven revelou-se mais psicótico e violento do que nunca.
     Após ter espancado Alyosha e Ana, foi esfaqueado por esta. Sasha constatou então que o sangue usado no ritual não pertencia ao Homem-Aranha, mas sim a Kaine, o seu clone corrompido. O que explicava os comportamentos erráticos do marido
   Depois de o clã ser desbaratado pelo verdadeiro Escalador de Paredes, todos os seus elementos escaparam para a Terra Selvagem. Kraven decidiu então caçá-los um por um, a fim de confirmar se eles eram dignos de ostentarem o seu apelido. Em consequência disso, Sasha foi morta pelo marido, Vladimir foi eutanasiado pelo pai, Alyosha fugiu e Ana implorou ao progenitor que lhe concedesse a oportunidade de ser treinada por ele, para assim poder reconstituir o clã Kravinoff. Kraven aquiesceu a troco da promessa feita por Ana de que iria caçar o irmão foragido.

O caçador supremo.
      
Legado: Durante o período em que Kraven foi dado como morto, e mesmo após o seu regresso ao mundo dos vivos, vários descendentes seus tentaram honrar o seu legado. O primeiro a assumir essa responsabilidade foi o seu filho Vladimir que moveu caça tanto ao Homem-Aranha como a alguns dos seus inimigos, acabando assassinado por Kaine, o clone insano do Escalador de Paredes. Seria posteriormente ressuscitado por Sasha Kravinoff através de um ritual envolvendo sacrifícios humanos. O redivivo Vladimir, no entanto, regressou sob a forma de uma leão humanoide. Numa expressão de respeito pelos mortos, Kraven eutanasiou o filho durante a estada do clã Kravinoff na Terra Selvagem.
     Pouco tempo após a morte do seu meio-irmão, foi a vez de Alyosha assumir, durante um breve período, a identidade de Kraven. A qual abandonou para se mudar de armas e bagagens para Hollywood.
    Houve ainda um terceiro filho, Ned Tannengarden, que tentou matar Alyosha, acabando ele próprio por ser morto pelo Camaleão, cujo grau de insanidade o levava a acreditar ser ele o verdadeiro Kraven.
    Mais tarde foi a vez de Ana Kravinoff seguir as pisadas do pai. Pelo meio houve ainda Gog, um ser extraterrestre perfilhado por Kraven depois de ter sido resgatado por ele da sua espaçonave despenhada.
    Em 2009, no crossover X-Men/Spider-Man, foi revelada a existência de Xraven, um clone produzido pelo Senhor Sinistro a partir  do ADN de Kraven combinado com o dos X-Men originais. Facto que lhe conferia as habilidades do quinteto de heróis mutantes.

Ana Kravinoff: quem sai aos seus não degenera.

Noutros media: No seu ranking de 2009 dos Melhores Vilões de Sempre dos Quadradinhos, o site IGN atribuiu a Kraven a 59ª posição. No pequeno ecrã, a sua estreia ocorreu na série animada de 1966 The Marvel Super-Heroes - curiosamente no segmento estrelado pelo Homem de Ferro. Em 1981, Kraven participou pela primeira vez numa série similar  - Spider-Man - tendo o Homem-Aranha como protagonista. Antes, numa produção homónima datada de 1967, uma personagem decalcada de Kraven (um caçador australiano chamado Harley Clivington) havia marcado presença num episódio intitulado The One-Eyed Idol. Remonta a 2012, na série de animação Ultimate Spider-Man, a  mais recente incursão televisiva do vilão.
   Marc Webb, realizador das duas últimas aventuras cinematográficas do Escalador de Paredes, já manifestou o seu interesse em incluir Kraven no terceiro capítulo da nova saga, muito provavelmente com o vilão a surgir integrado no Sexteto Sinistro.

Kraven em Spider-Man: The Animated Series (1994-1998).