28 outubro 2015

ETERNOS: JIM APARO (1932-2005)




   Diletante da 9ª arte, inscreveu o seu nome em letras douradas na história da DC Comics, para a qual criou várias personagens de relevo. Reverenciado por fãs e colegas de ofício, o seu traço ficará para sempre associado a algumas das mais memoráveis sagas do Cavaleiro das Trevas.

Biografia e carreira: No dia 24 de agosto de 1932, a pequena cidade de New Britain, no estado norte-americano do Connecticut, viu nascer um dos seus mais ilustres habitantes. James N. Aparo, de cuja vida familiar quase nada se sabe, cedo se interessou pela arte do desenho, revelando possuir um talento inato nesse campo. 
  Autodidata, por volta dos 20 anos tentou a sua sorte na indústria dos quadradinhos, submetendo o seu portfólio à apreciação dos editores da EC Comics. Aqueles não ficaram, no entanto, particularmente impressionados e recusaram contratá-lo. Face a este revés, o jovem Aparo voltou-se para o ramo publicitário. Sem nunca desistir do seu sonho de ter uma carreira ligada à 9ª arte, nas décadas seguintes especializar-se-ia em desenhar anúncios de moda a serem publicados nos tabloides.
  Corria o ano de 1963, quando Aparo teve nova oportunidade para mostrar o seu valor artístico. Por essa altura foi convidado a desenhar Stern Wheeler, uma tira escrita por Ralph Kanna e publicada num jornal de Hartford - cidade também localizada no Connecticut para onde o artista se mudara com a família. Apesar de efémera, a experiência teve o condão de projetar o trabalho desenvolvido por Aparo. 
  Em 1966, Dick Giordano (então editor-chefe da Charlton Comics) contratou Jim Aparo como ilustrador freelancer. Funções que desempenhou inicialmente em historietas humorísticas publicadas na série Go-Go Comics. Algum tempo depois assumiria, porém, a arte do Fantasma ( herói clássico criado em 1936 por Lee Falk), cujos direitos de publicação eram à época propriedade da Charlton. Ao longo desta sua passagem pela editora que deu a conhecer ao mundo personagens como o Capitão Átomo e o Besouro Azul, Aparo desdobrou-se numa grande variedade de géneros: tanto emprestava o seu traço a westerns como a histórias de ficção científica, romance ou espionagem. Uma das séries onde, de resto, mais sobressaiu o seu talento foi James Bond.

O mais famoso dos agentes secretos britânicos pelo traço de Jim Aparo.

  Embora o grosso do seu trabalho tenha consistido na ilustração de pequenas narrativas incluídas em títulos antológicos da Charlton, Aparo desenhou igualmente a quadrinização das tiras do Fantasma e histórias avulso do Capitão Átomo.
  À versatilidade, Aparo aliava uma admirável capacidade de trabalho. Tanto assim que era um dos poucos artistas na indústria dos quadradinhos que acumulava as funções de arte-finalista, colorista - e até letrista - com as de ilustrador. 
  Quando, em 1968, Dick Giordano trocou a Charlton pela DC, fez questão que Jim Aparo o acompanhasse nessa mudança. Oferecendo-lhe, para isso, um emprego como desenhador de uma das personagens de charneira da Editora das Lendas: ninguém menos do que Aquaman. Aparo aceitou de bom grado a oferta, negando-se, porém, a desertar da Charlton.
 Confirmando o seu enorme arcaboiço profissional, nos primeiros tempos - e graças à periodicidade bimestral dos dois títulos por cuja arte era agora responsável - Aparo conseguiu conciliar o seu trabalho em ambas as editoras.
 À semelhança do que fazia na Charlton, Aparo distinguir-se-ia na DC pela sua polivalência ao desenhar, arte-finalizar e colorir as aventuras do Soberano dos Sete Mares. Em consequência do sucesso comercial destas, a DC contratou-o para ilustrar também as histórias do Vingador Fantasma. Circunstância que motivaria a sua saída definitiva da Charlton. 
 Todavia, na sequência do cancelamento de Aquaman, a periodicidade bimestral de Phantom Stranger revelou-se insuficiente para satisfazer o afã criativo de Aparo, rotinado em produzir uma página por dia. A DC adjudicou-lhe então pequenas empreitadas artísticas em títulos como House of Mistery e House of Secrets.
  Consta que, por esses dias, Carmine Infantino (então editor-chefe da DC) o terá pressionado a aumentar o número de páginas produzidas. Ao que Aparo terá simplesmente retrucado se ele preferia um trabalho rápido ou de qualidade. Tanto quanto se sabe, Infantino terá escolhido a segunda opção.
  No início da década de 1970, Jim Aparo assumiu a arte de The Brave and the Bold, uma das mais emblemáticas séries regulares da DC. Seria, de resto, nela que levaria a cabo um dos mais meritórios trabalhos da sua prolixa carreira.

Umas das muitas capas de The Brave and the Bold desenhadas por Aparo.

  Durante mais de uma década, a periodicidade bimestral de The Brave and the Bold permitiu a Jim Aparo desenvolver diversos projetos paralelos para a DC. Ao mesmo tempo que se assumia com um dos capistas de referência da editora, emprestou o seu traço às histórias do Espectro e de um renovado Aquaman em Adventure Comics. A sua consagração definitiva seria, porém, alcançada por via do trabalho executado nas histórias a solo de Batman em  Detective Comics. Título cuja arte tomou a seu cargo em outubro de 1973, iniciando assim uma duradoura ligação ao universo do Cavaleiro das Trevas.
 À medida que os anos foram passando, foi-se estreitando essa conexão. Quando, em 1980, a DC apostou na primeira minissérie do Homem-Morcego, coube a Aparo arte-finalizar os esboços de John Byrne no primeiro número, assumindo ele próprio a ilustração dos restantes.
  Entretanto, em 1983, foi anunciado o cancelamento de The Brave and the Bold ao fim de duas centenas de edições. No seu lugar surgiu Batman and the Outsiders. Celebrizados junto do público lusófono como Renegados, tratava-se de um grupo de heróis chefiado pelo Homem-Morcego que operava na semiclandestinidade. Com o escritor Mike W. Barr, Jim Aparo foi coautor daquela que seria, nos alvores dos anos 1980, uma das mais bem-sucedidas séries da DC. No entanto, quando o fulgor de Outsiders (agora já sem Batman no elenco) se começou a desvanecer, os editores pediram a Aparo que assegurasse apenas a ilustração das histórias. Interrompendo dessa forma a tradição de o artista colorir e arte-finalizar o seu próprio trabalho.

Batman and the Outsiders foi uma das coqueluches da DC no início dos anos 80.
Metade dos membros da equipa (Katana, Halo e Geoforça) foram criados por Jim Aparo.

  Agora em colaboração com o escritor Jim Starlin (perfil já publicado neste blogue), em dezembro de 1987, Aparo reassumiu a arte de Batman. Um dos primeiros arcos narrativos produzidos por esse verdadeiro duo dinâmico da 9ª arte foi Ten Nights of the Beast, no qual foi introduzido o KGBesta. Antigo agente especial do KGB soviético treinado para ser uma arma mortífera, esta personagem tornar-se-ia nos anos seguintes um dos mais temíveis adversários do Homem-Morcego.
  Mantendo intacto o seu vínculo ao universo do Cavaleiro das Trevas, o nome de Jim Aparo ficará para sempre associado a duas das mais impactantes sagas protagonizadas pelo herói: A Death in the Family (1988-89) e Knight Fall (1993-94). Recorde-se que, na primeira, é apresentada a morte do Robin Jason Todd, ao passo que a  segunda tem na capitualação de Batman às mãos de Bane o seu clímax. Recorde-se, também, que ambas já foram objeto de análise neste blogue.
  Após um breve período em que Aparo voltou a acumular as funções de desenhador, arte-finalista e colorista nas histórias do Batman, em 1992 assumiria pela última vez a arte de uma série regular da DC. Em Green Lantern (título em que trabalhou ao longo de 19 edições), ele e o argumentista Kelley Puckett criaram Conner Hawk, o filho do Arqueiro Verde que substituiu temporariamente o herói original dado como morto.
  Entre os finais da década de 1990 e os primeiros anos deste século, o trabalho de Jim Aparo consistiu fundamentalmente na ilustração de minisséries e edições especiais estreladas pelo Batman. Personagem pela qual o artista sempre demonstrou um enorme carinho e respeito. Não sendo, portanto, surpreendente que o seu canto do cisne nos meandros da 9ª arte se haja materializado na ilustração da capa de Batman in the Eighties, antologia de algumas das melhores histórias do Homem-Morcego na década de 80. Obra levada à estampa em 2004, dois anos antes da publicação póstuma da arte de Aparo para o final alternativo de A Death in the Family em Batman Annual nº25.

Batman depara-se com o corpo sem vida do Menino-Prodígio em A Death in the Family (Morte na Família).

  Antes,  no dia 19 de julho de 2005, Aparo deixara mais pobre o mundo da banda desenhada com a sua morte. Cujas causas não são até hoje consensuais: algumas fontes atribuem-na a uma batalha perdida contra um cancro, embora no comunicado oficial emitido pela família do artista seja feita referência a uma doença recente não especificada. Seja como for, num gesto de homenagem e gratidão reservado apenas àqueles que se tornaram lendas ao seu serviço, a DC dedicou duas páginas à memória de Jim Aparo publicadas em Batman nº644 e Detective Comics nº811. Porque, bem vistas as coisas, a imortalidade mais não é do que um terreno disputado ao esquecimento. E Jim Aparo viverá para sempre na memória de quem venera o seu extraordinário legado.
 
Autorretrato caricaturado de Jim Aparo.
    
Prémios e distinções: Apesar da longevidade e do prestígio da sua carreira artística, foram somente dois os prémios arrecadados por Jim Aparo. O primeiro, um Shazam Award para Melhor História Dramática, foi dividido em 1972 com o escritor John Albano. Na origem dessa distinção esteve The Demon Within, pequena narrativa publicada em House of Mistery nº201.
  Mais de duas décadas volvidas, em 1993, conquistaria outro importante galardão. Desta feita um Inkpot Award, prémio anual reservado a profissionais ligados à banda desenhada, animação e ficção científica.
  Nada mal para um diletante da 9ª arte que subiu a pulso na competitiva indústria dos comics, e cujo incontestável talento é ainda hoje uma referência para outros desenhadores ou aspirantes a tal.

Um grande senhor da 9ª arte.


15 outubro 2015

RETROSPETIVA: «X-MEN: PRIMEIRA CLASSE»





  Nesta prequela que esteve para ser um spin-off de Magneto e acabou por se converter no capítulo inaugural de uma nova e bem-sucedida trilogia cinematográfica dos X-Men, são revisitados os primórdios da causa mutante que ditou a separação de dois velhos amigos, colocando-os em lados opostos da barricada.


Título original: X-Men: First Class
Ano: 2011
País: Estados Unidos da América
Duração: 132 minutos
Género: Ação/Aventura/Fantasia
Produtores: Bryan Singer, Simon Kinberg, Gregory Goodman e Lauren Shuler Donner
Realização: Matthew Vaughn
Argumento: Jane Goldman, Ashley Edward Miller e Zack Stentz
Distribuição: 20th Century Fox
Elenco: James McAvoy (Professor Charles Xavier), Michael Fassbender (Erik Lensherr/Magneto), Rose Byrne (Moira MacTaggert), Jennifer Lawrence (Raven Darkholme/Mística), January Jones (Emma Frost/ Rainha Branca), Nicholas Hoult (Dr. Hank McCoy/Fera), Jason Flemyng (Azazel), Lucas Till (Alex Summers/Destrutor), Edi Gathegi (Armando Muñoz/Darwin), Kevin Bacon (Dr. Klaus Schmidt/Sebastian Shaw), Caleb Landry Jones (Sean Cassidy/Banshee), Zoe Kravitz (Angel Salvadore) e Álex González (Janos Quested/Maré Selvagem)
Orçamento: 150 milhões de dólares
Receitas: 353,6 milhões de dólares

Uma causa, vários destinos.

Desenvolvimento: Durante a rodagem de X-Men 2 (2003), a produtora Lauren Shuler Donner debatera com a restante equipa a possibilidade de realização de um filme retratando a origem das personagens. A ideia foi bem acolhida e voltaria a ser aflorada aquando das filmagens do terceiro capítulo da saga. Zak Penn, um dos argumentistas de X-Men 3: O Confronto Final (2006), chegou mesmo a ser contratado para escrever e dirigir o spin-off. O projeto seria, contudo, abandonado pouco tempo depois.
   Em 2007, o próprio Zak Penn explicaria o que esteve na origem dessa decisão: "Inicialmente, a ideia consistia em que eu fizesse um filme mostrando os antecedentes da fundação dos X-Men. No entanto, Mike Chamoy, um tipo com quem eu trabalhara muito em X-Men 3, apresentou uma ideia mais interessante: e se fizéssemos um filme sobre a origem das personagens, que não fosse exatamente o que os fãs esperavam?"
  Paralelamente, os estúdios da Fox tinham dado luz verde a um projeto semelhante, mas focado exclusivamente na história de Magneto. Segundo Sheldon Turner, o argumentista contratado para escrever o enredo, este desenrolar-se-ia no período compreendido entre 1939 e 1955, e mostraria a luta pela sobrevivência de Erik Lensherr em Auschwitz. O filme chegou a ter data de estreia marcada para 2009, mas acabaria por sofrer diversos atrasos por causa da greve dos argumentistas que praticamente paralisou Hollywood nos dois anos anteriores.

De indesejado, Matthew Vaughn passou a aclamado.
   Depois de ler o arco de histórias X-Men: First Class (originalmente publicado pela Marvel Comics entre setembro de 2006 e abril de 2007), o produtor Simon Kinberg propôs à Fox que o adaptasse ao cinema. Por considerar que a saga não seguia uma linha narrativa inovadora, Kinberg não desejava que a adaptação lhe fosse demasiado fiel. Tanto ele como Lauren Donner pretendiam introduzir personagens novas, com poderes e visuais diferentes, mesmo que habitualmente não coabitassem nos comics. O avanço do projeto dependeria, porém, do sucesso do filme a solo de Magneto.
   Em 2008, Josh Schwartz aceitou escrever o argumento de X-Men: First Class, embora tenha declinado o convite para assumir também a sua realização. Bryan Singer (cineasta que dirigira as duas primeiras aventuras cinematográficas dos pupilos do Professor X), seria então sondado pela Fox. Apesar de se mostrar recetivo à ideia, Singer deixou claro que pretendia fazer uma abordagem muito diferente à história.
  Com o anúncio oficial do cancelamento do spin-off de Magneto por parte da Fox, o argumento da prequela dos X-Men foi reescrito. Por sugestão de Lauren Donner, o Clube do Inferno foi incluído na nova trama. A qual giraria, também, em torno daquilo que aproximava e afastava Charles Xavier e Erik Lensher, e de como essa dinâmica entre ambos influenciava a causa mutante.
  Tudo parecia bem encaminhado até que, em outubro de 2010, devido ao seu compromisso com a transposição de Jack, o Caçador de Gigantes ao grande ecrã, Bryan Singer desistiu da realização de X-Men: First Class. Manter-se-ia contudo vinculado ao projeto, embora na qualidade de produtor.
  Devido a esta contrariedade, a Fox começou imediatamente à procura de um substituto para Singer. Um dos nomes inicialmente excluídos foi precisamente o de Matthew Vaughn. Cineasta que, anos antes, fora o eleito para dirigir o terceiro filme dos X-Men, mas que preferira assumir a realização do satírico Kick-Ass (2010).
  No entanto, num daqueles volte-faces tão típicos das produções hollywoodescas, Vaughn seria mesmo o escolhido para ocupar a cadeira de realizador de X-Men: First Class. Sob a sua batuta, as filmagens arrancariam em outubro de 2010, nos estúdios Pinewood e em várias cidades da Geórgia. Não sem antes o enredo ter sido novamente reescrito. Um dos elementos removidos foi um triângulo amoroso envolvendo Xavier, Eric e Moira MacTaggert.
  Em retrospeto, Matthew Vaughn avalia assim o seu trabalho na prequela dos X-Men: "A minha principal preocupação foi fazer um bom filme, sólido o suficiente para se impor por si próprio. E que, ao mesmo tempo, servisse para revitalizar a franquia." Objetivo cumprido com distinção, visto que X-Men: First Class, além de um bem-sucedido reboot, foi também o capítulo inicial de uma nova trilogia estrelada pelos Filhos do Átomo.

Diversidade mutante.

Enredo: Em 1944, num campo de concentração nazi localizado algures na Polónia ocupada, o Dr. Klaus Schmidt testemunha o momento em que um pequeno prisioneiro curva mentalmente um portão metálico enquanto é apartado da sua mãe.
  Logo depois, mãe e filho são conduzidos ao gabinete de Schmidt. O nome do garoto é Erik Lensherr e Schimdt ordena-lhe que use as suas habilidades para mover uma moeda pousada sobre a sua secretária. Transido de medo, Erik não consegue atender o pedido  e vê a sua progenitora ser abatida a sangue-frio pelo médico. O choque faz com que os poderes do rapaz se manifestem, matando dois soldados e destruindo o gabinete antes de ser subjugado.
  Enquanto isso, a um continente de distância, numa sumptuosa mansão situada na periferia de Nova Iorque, um menino com dons telepáticos conhece uma pequena transmorfa, cuja verdadeira aparência é azulada e escamosa. Radiante por finalmente encontrar alguém também diferente, o pequeno Charles Xavier (assim se chamava o menino) convida Raven Darkholme a morar com a sua família. A partir desse dia, os dois tornam-se amigos inseparáveis e irmãos adotivos.
  Dezoito anos volvidos, em 1962, Erik Lensherr anda na peugada do assassino da sua mãe, enquanto Charles Xavier conclui o seu percurso académico em Oxford com uma revolucionária tese sobre mutações genéticas. Em Las Vegas, a operacional da CIA Moira MacTaggert segue o Coronel Hendry até ao Clube do Inferno. Grémio elitista e envolto em secretismo presidido por Sebastian Shaw, a nova identidade do Dr. Klaus Schmidt. Do seu  círculo interno fazem também parte Emma Frost (uma poderosa telepata), Azazel (um teleportador de aparência demoníaca) e Maré Selvagem ( mutante capaz de rodopiar o corpo a grande velocidade).
  Coagido por Shaw e teletransportado por Azazel para o Centro de Comando Militar nos arredores de Washington, D.C., Hendry cede os códigos de lançamento dos mísseis nucleares americanos instalados na Turquia. Levado novamente à presença de Shaw (que é, afinal, um mutante absorvedor de energia), é morto por ele.
Sebastian Shaw e Emma Frost: Rei Negro e Rainha Branca do Clube do Inferno.

  Procurando o conhecimento científico de Xavier sobre mutações genéticas, Moira MacTaggert leva-o a participar numa reunião no quartel-general da CIA. Ambos convencem o diretor da agência da existência de mutantes e da ameaça que Sebastian Shaw representa. É então criada a ultrassecreta Divisão X, com a finalidade de recrutar e treinar mutantes.
 Xavier e MacTaggert descobrem o paradeiro de Sebastian Shaw quando este está a ser atacado por Erik Lensherr. O líder do Clube do Inferno logra contudo escapulir-se, enquanto Xavier salva Erik de uma morte por afogamento.
  Persuadido a juntar-se à Divisão X, Erik descobre ter várias afinidades com Xavier e a amizade entre ambos vai-se consolidando à medida que o tempo passa. Os dois travam entretanto conhecimento com Hank McCoy, um jovem cientista mutante com pés preênseis, firmemente convencido de que o ADN de Raven Darkholme poderá conter a cura para a sua deformidade.

Charles Xavier e Erik Lensherr, amigos que o tempo deixou de costas voltadas.

  Xavier utiliza Cérebro, o dispositivo eletrónico concebido por McCoy para detetar Homo Superiores, para recrutar mutantes para a Divisão X. Entre os engajados incluem-se a stripper Angel Salvadore, o taxista Armando Muñoz, o recluso Alex Summers e o presunçoso Sean Cassidy. Uma vez reunidos e treinados, todos eles adotam codinomes.
 Quando, semanas depois, Emma Frost se encontra com um general soviético, Xavier e Erik capturam a concubina de Sebastian Shaw, descobrindo através dela que o vilão pretende deflagrar a III Guerra Mundial, para assim abrir caminho à ascensão do Homo Superior.
  Em retaliação, Sebastian Shaw e alguns dos seus apaniguados invadem a Divisão X, chacinando todos os humanos que encontram pela frente, mas deixando vivos os mutantes. Estes são convidados pelo líder do Clube do Inferno a juntarem-se a ele na nova ordem mundial. No entanto, apenas Angel Salvadore aceita o convite. Quando Sean Cassidy e Armando Munõz procuram impedi-la, o segundo é assassinado por Shaw.
 Com as instalações da Divisão X destruídas, Xavier decide levar os membros remanescentes para a mansão da sua família. Em Moscovo, Shaw compele um general soviético a instalar mísseis nucleares em Cuba. Usando um capacete bloqueador de sondagens telepáticas, o vilão recorre a um submarino para acompanhar o trajeto da frota soviética, por forma a assegurar-se de que esta não será travada pelo bloqueio naval norte-americano entretanto montado no perímetro da ilha.
  Raven, convicta de que McCoy se sentia atraído por ela na sua forma verdadeira, dissuade-o de testar a cura. Mais tarde recorre a múltiplas formas femininas para tentar seduzir Erik, que a faz perceber que ela é naturalmente bonita, dispensando portanto tais ardis.

Mística: sedução e insídia em tons de azul.

  Ao inocular em si mesmo um soro produzido a partir do ADN de Raven, McCoy sofre uma mutação secundária, em consequência da qual adquire um aspeto ferino com uma exuberante penugem azul-cobalto.     A bordo de um sofisticado jato supersónico, o grupo voa até à linha de bloqueio montada pela Armada norte-americana. Erik usa os seus poderes magnéticos para retirar o submarino de Shaw do mar, depositando-o de seguida em terra.
  Durante a refrega que se segue entre os X-Men e os acólitos do Clube do Inferno, Erik consegue arrancar o capacete de Shaw, permitindo dessa forma a Xavier imobilizá-lo psionicamente. Apesar das objeções de Xavier, Erik mata Shaw perfurando-lhe o cérebro com a mesma moeda que o vilão usara para testar as suas habilidades no campo de concentração nazi. Enquanto Shaw agoniza, Erik declara compartilhar da sua visão da supremacia mutante, mas que o desejo de vingar a morte da  mãe se sobrepõe ao ideal em comum.
  Temendo os mutantes, as frotas americana e soviética disparam mísseis sobre eles. Agastado, Erik usa os seus poderes para devolvê-los à procedência. Para tentar detê-lo, Moira MacTaggert abre fogo sobre Erik, mas ele deflete magneticamente as balas, uma das quais atinge acidentalmente a coluna vertebral de Xavier.
  Correndo para socorrer o amigo, Erik permite que os mísseis caiam no mar sem ferirem ninguém. Após uma breve troca de impressões entre ambos acerca das suas visões distintas sobre o papel dos mutantes no mundo, Erik parte, levando consigo Angel Salvadore, Azazel, Maré Selvagem e Mística.
  Agora paraplégico e contando com a  cumplicidade de Moira MacTaggert, Charles Xavier funda uma escola secreta para mutantes. Ao mesmo tempo, longe dali, Erik Lensherr (autodenominando-se Magneto), liberta Emma Frost do seu confinamento.
   
Trailer:




Curiosidades: 

* Na sua preparação para o papel de Charles Xavier, James McAvoy decidiu rapar por completo a cabeça. Os produtores pretendiam, no entanto, que a versão jovem da personagem dispusesse de uma farta cabeleira. Circunstância que obrigou o ator a usar perucas e extensões capilares durante as filmagens;
* Às características de personalidade de Sebastian Shaw na BD, o seu avatar cinematográfico acrescenta as de Josef Mengele, médico nazi que, durante a II Guerra Mundial, se notabilizou pelas suas tenebrosas experiências eugénicas realizadas principalmente em crianças judias;
* Os uniformes azuis e amarelos usados pelos X-Men na película constituem uma homenagem ao guarda-roupa original da equipa nos quadradinhos. De realçar que as partes amarelas dos trajes foram confecionadas com um raríssimo tipo de seda chinesa, o que encareceu significativamente a sua produção;
* Depois de X-Men 2 (2003), este foi o segundo filme dos heróis mutantes em  que Stan Lee não fez um cameo. Motivo: a longa distância que o nonagenário Papa da Marvel teria de percorrer até ao local onde decorriam as gravações (Jekyll Island, ao largo da costa do estado da Geórgia);
* Diversas peças do figurino da Mística usadas por Rebecca Romijn-Stamos na primeira trilogia dos X-Men foram reaproveitadas por Jennifer Lawrence;
* Os pelos azuis que recobrem o corpo do Fera no filme foram feitos a partir da penugem de uma raposa do Ártico;
* A primeira formação de X-Men apresentada no filme surge como um reflexo simbólico do elenco original da equipa na BD. Assim, além do Professor X e do Fera que integraram ambas as versões, temos o Destrutor a fazer as vezes do Ciclope (são irmãos nos quadradinhos); Banshee no lugar do Anjo (ambos voam); Mística no papel de Jean Grey (eram ambas as únicas representantes do sexo feminino nas respetivas equipas); por fim, é possível traçar um paralelismo entre os poderes elementais de Magneto e os do Homem de Gelo;
* O filme recupera um conceito outrora central no Universo Marvel: as mutações genéticas causadas pela radiação. Em anos mais recentes, o fenómeno passou a ser explicado pela bioengenharia ou pela evolução da espécie humana.

O poder de Magneto.

Veredito:  79%


   Depois do passo em falso dado com X-Men 3 - O Confronto Final (filme muito injustiçado pela crítica e pelos fãs, conforme já aqui sustentei), o futuro dos heróis mutantes no grande ecrã tornou-se uma incógnita. Receando virem a perder uma das suas galinhas dos ovos de ouro, a Marvel e a Fox sabiam ser imperativo relançar a franquia. A questão era como fazê-lo. Oscilando entre as hipóteses spin-off ou prequela, a escolha recaiu sobre a segunda. E não poderia ter sido uma opção mais acertada. Tanto mais que, pelo meio, houve um filme a solo do Wolverine que muito deixou a desejar.
  Uma das principais mais-valias do filme reside no facto de ser ambientado na década de 60 do século passado. Época caracterizada pela efervescência social e política (captada, de resto, em vários elementos da trama) e a que remontam as origens dos X-Men (e de uma grande parte de outros notáveis inquilinos da Casa das Ideias). Este registo retro seria suficiente, por si só, para atribuir um toque de charme revivalista à história. Que possui, no entanto, muitos outros pontos fortes.
  Explorando a importância do autoconhecimento e da amizade num mundo que tolera mal a diferença, a narrativa adquire maior intensidade dramática por via do primor das interpretações. Relevando dentre estas a de Michael Fassbender, competentíssimo a suceder a Ian McKellen no papel de Mestre do Magnetismo. Em nenhum outro filme dos X-Men é tão bem retratada a ambiguidade moral daquele que é, indiscutivelmente, um dos melhores supervilões da história da 9ª arte.Conquanto ele não se reveja nesse estatuto.
  Espetaculares, os efeitos visuais empregues na película acabam por ser a cereja em cima do bolo. Do qual ninguém quererá apenas comer uma fatia. Porque - acreditem- é de comer e chorar por mais!
  Mesmo quem não seja  fã de super-heróis (e dos X-Men, em particular) conseguirá decerto identificar-se com algumas das personagens que vão desfiando o seu rosário de dramas e dilemas no ecrã. E que, apesar da sua singularidade cromossomática (ou por causa dela) se assumem como filhas bastardas da humanidade. Aquela que os chamados Homo Superiores tentam a todo custo destruir ou proteger, sendo temidos e odiados em qualquer um dos casos. Convidando assim os espectadores a tomarem partido entre as duas visões antagónicas de uma mesma causa. Xavier ou Magneto? De que lado ficaríamos se tivéssemos nascido com dons extraordinários num mundo que nos olhasse de soslaio? 
 Das cinco longas-metragens dos Filhos do Átomo já produzidas, atribuo a X-Men: First Class (ex aequo com X-Men 2), a medalha de ouro. Se ainda não o viram, tratem de ver, pois não sabem o que estão a perder. Se já o viram, tratem de revê-lo, porque os clássicos devem ser revisitados com regularidade.

    
Xavier ou Magneto? Escolham o vosso lado.

     

03 outubro 2015

CLÁSSICOS DA 9ª ARTE: «MASSACRE DE MUTANTES»




   Nos túneis subterrâneos de Nova Iorque está aberta a caça aos Morlocks. Longe do olhar dos cidadãos comuns e perante a impotência dos heróis, essa comunidade de párias mutantes é o alvo primário de uma matança planificada. Que deixará também cicatrizes profundas nos sobreviventes.

Título original da saga: Mutant Massacre ou Morlock Massacre
Data de publicação: Outubro a dezembro de 1986
Licenciadora: Marvel Comics
Autores: Chris Claremont, Louise Simonson, Jon Bogdanove, Jackson Guice e Walter Simonson
Títulos abrangidos: Uncanny X-Men 210 a 213, X-Factor nº9 a 11, New Mutants nº46, Power Pack nº27 e Thor nº373 a 374
Personagens principais: X-Men, X-Factor, Senhor Sinistro, Morlocks, Carrascos, Thor, Novos Mutantes e Quarteto Futuro (Power Pack)

Capa da compilação de Mutant Massacre editada em 2001.

Edição em Português: No Brasil a saga foi publicada originalmente pela Abril entre maio e agosto de 1991, nos números 31 a 34 da primeira série de X-Men. Em julho de 2013 chegou às bancas uma compilação de Massacre de Mutantes sob os auspícios da Panini Comics.

Reedição da saga com o selo da Panini brasileira.

Desenvolvimento: Quando urdiu a trama ao longo da qual se desenrolaria a matança sistemática dos Morlocks, Chris Claremont (vide perfil já publicado neste blogue) tencionava circunscrevê-la às páginas de Uncanny X-Men. Contudo, Louise Simonson, à época argumentista de X-Factor, tinha um entendimento diferente. Na sua opinião, atendendo à magnitude e ao alcance da saga, seria preferível espraiá-la pelos títulos subsidiários dos X-Men (X-Factor e New Mutants).
  Em virtude dessa alteração de planos editoriais, os dois escritores trocaram entre si rascunhos e sinopses das suas histórias. O objetivo era encontrar pontos de contacto entre elas. Tarefa que se revelou, porém, assaz complicada. Motivando por isso uma extenuante maratona de conferências telefónicas entre os coautores de Massacre de Mutantes.
  Questionada anos mais tarde sobre o balanço que fazia da experiência de coordenar todas as linhas narrativas que formavam a tecitura da saga, Louise Simonson desabafou: "Foi horrível! Nem sei como podemos estar a pensar fazer tudo outra vez!" A escritora referia-se a Fall of the Mutants (Queda dos Mutantes), sequela não assumida de Massacre de Mutantes lançada pela Marvel Comics em 1988. A despeito das dificuldades que essa opção suscitara no passado, o enredo entroncava, uma vez mais, em vários títulos da editora.
  Walter Simonson, responsável pelos segmentos de Thor em Massacre de Mutantes, foi menos lacónico nas suas considerações sobre a saga. Nas palavras do marido de Louise, "a ideia não passava por transformar o enredo numa espécie de colar de contas que o leitor teria de desfiar uma a uma para que a história fizesse sentido". Uma solução desse tipo obrigaria à aquisição de todos os títulos abrangidos pela saga. Esforço financeiro que não estaria decerto ao alcance de todos. A alternativa passou por um modelo narrativo que fazia lembrar uma árvore em que cada um dos seus ramos fornecia ao leitor uma perspetiva geral dos eventos em curso. Claro que teria mesmo de abrir os cordões à bolsa quem quisesse ver a árvore completa.

O casal Walter e Louise Simonson. Partiu dela a ideia de interligar os vários títulos X.

Mapa para a leitura  de  Massacre de Mutantes.


Porque se escondiam os Morlocks no subsolo de Nova Iorque?


Callisto, líder dos Morlocks.

  Incapazes de passarem despercebidos no mundo da superfície devido às suas aparências grotescas, os Morlocks acoitaram-se nos esgotos e túneis subterrâneos da Cidade Que Nunca Dorme. O nome dessa comunidade de párias mutantes foi inspirado nas personagens homónimas de Time Machine, romance escrito por H.G. Wells em 1895.
  Conceito desenvolvido por Chris Claremont e Paul Smith, os Morlocks fizeram a sua primeira aparição em Uncanny X-Men nº169 (maio de 1983). Inicialmente pacífica, ao longo dos anos a comunidade acabaria no entanto por envolver-se em diversos incidentes com a sociedade da superfície.Calisto, Caliban, Masque e Talho (Sander, na versão original) foram os seus fundadores. Tanto este quarteto como os demais Morlocks foram, porém, produtos da bioengenharia executada pelo Fera Negro, a contraparte malévola do Fera proveniente da Era do Apocalipse.

Quem eram os Carrascos?

  Criação conjunta de Chris Claremont e John Romita Jr., os Carrascos (Marauders, em inglês) entraram em cena pela primeira vez em outubro de 1986, nas páginas de Uncanny X-Men nº210, precisamente no âmbito de Massacre de Mutantes. Cronologicamente, a origem da equipa remonta, no entanto, à época vitoriana, quando o Senhor Sinistro ainda respondia pelo nome Nathaniel Essex.

Senhor Sinistro, autor moral da carnificina. 

  Essa versão primitiva dos Carrascos era composta por criminosos comuns contratados por Essex para raptarem indigentes que lhe serviriam depois de cobaias nas suas tenebrosas experiências genéticas.
  Na sua encarnação moderna, o grupo reúne assassinos mutantes a soldo do Senhor Sinistro. Era este o seu elenco durante a saga:

- Maré Selvagem (Riptide): Janos Questad era capaz de girar o seu corpo a supervelocidade e arremessar shurikens em todas as direções, provocando fortes danos nos seus alvos. Foi a primeira baixa da equipa, ao ter o seu pescoço partido por um enfurecido Colossus;
- Dentes-de-Sabre (Sabretooth): Victor Creed, velho conhecido dos X-Men com poderes similares aos de Wolverine (sentidos aguçados, fator de cura acelerado, força ampliada, etc.);
- Arco Voltaico (Arclight): Philipa Sontag possui a habilidade de desencadear ondas de choque que podem assumir a forma de pequenos sismos localizados ou de vagas de água. Serviu nas fileiras do Exército americano durante a Guerra do Vietname, sendo ainda assombrada por essas memórias. Nutria um discreto interesse romântico pelo Caçador de Escalpos;
- Embaralhador (Scrambler):  benjamim do grupo, o sul-coreano Kim Il Sung consegue, através do toque, manipular poderes e sistemas, sejam eles biogenéticos, eletromagnéticos ou tecnomecânicos. É retratado como um psicopata sádico e narcisista, mais preocupado com a sua aparência do que com o sofrimento que inflige às suas vítimas ;
- Maligna (Malice): uma das lugares-tenentes do Senhor Sinistro, tinha o poder de possuir os corpos das suas vítimas, controlando-as a seu bel-prazer. Ao longo de grande parte da saga usou o corpo da  antiga X-Man Polaris como invólucro para a sua forma fantasmagórica. Devido à sua desobediência, seria aparentemente assassinada pelo seu empregador;
- Arrasa-Quarteirão (Blockbuster): Michael Baer era um gigante alemão dotado de força descomunal. Antes de se juntar aos Carrascos, colaborara com organizações terroristas no seu país natal. Apesar do seu nível de poder, foi morto por um único golpe desferido por Thor com o seu Mjolnir;
- Caçador de Escalpos (Scalphunter): John Greycrow, um cruel mercenário que é também o estratega da equipa. Reponde apenas perante Maligna ou reporta diretamente ao Senhor Sinistro. A sua habilidade mutante consiste em reconfigurar qualquer dispositivo tecnológico numa arma. Dispõe igualmente de extraordinárias capacidades regenerativas que lhe retardam o envelhecimento. Foi graças a elas que sobreviveu ao fuzilamento de que foi alvo em 1944, depois de ter chacinado e escalpado oito companheiros de armas;
- Vertigo: detém a habilidade de induzir psionicamente vertigens nos seus oponentes, deixando-os desorientados ou derrubando-os;
- Prisma (Prism): assassino altivo e frio que subestima frequentemente a fragilidade do seu corpo cristalino, o qual pode defletir a maior parte dos ataques energéticos mas não resiste a impactos físicos;
- Arpão (Harpoon): Kodiak Noatak, um jovem índio que pode carregar objetos(geralmente a arma de arremesso de onde retira o seu codinome) com bioenergia. Os efeitos causados nos seus alvos podem ir desde o simples atordoamento à eletrocussão.

Os Carrascos (pela ordem acima apresentada).


Qual a relação entre os X-Men e o X-Factor?




  Nos seus primórdios, o X-Factor (grupo idealizado por Bob Layton e Jackson Guice) agrupava o quinteto fundador dos X-Men:

- Homem de Gelo (Iceman): o irreverente Bobby Drake foi agraciado com habilidades criocinéticas que lhe permitem manipular o gelo e a neve congelando a humidade presente no meio ambiente;
- Garota Marvel (Marvel Girl): poderosa telepata dotada de telecinesia, a ressuscitada Jean Grey mantinha há muito uma relação amorosa com Ciclope;
- Ciclope (Cyclops): líder do grupo, Scott Summers nasceu com a capacidade de emitir potentes rajadas óticas;
- Fera (Beast): uma das mais prodigiosas mentes científicas do planeta, Hank McCoy possui força, agilidade e velocidade sobre-humanas. Depois de largos anos com uma aparência animalesca, Hank recuperou o seu aspeto humano;
- Anjo (Angel): herdeiro de uma das maiores fortunas dos EUA, Warren Worthington III consegue voar graças ao enorme par de asas brancas com que nasceu.
O batismo de fogo da equipa em X-Factor nº1 (fevereiro de 1986).

Enredo: Em Los Angeles, a jovem mutante chamada Tommy e o seu namorado do Clube do Inferno, Richard Salmons, são atacados pelos misteriosos Carrascos. Tommy era uma ex-Morlock que  fugira dos túneis subterrâneos nova-iorquinos na sequência da morte de alguns amigos seus às mãos de membros dessa bizarra comunidade. Resgatada por Salmons e acolhida pelo Clube do Inferno, Tommy mudou-se pouco tempo depois para a Costa Oeste
  Ameaçando matar Salmons, os Carrascos obtêm de Tommy a localização exata dos Morlocks no subsolo da Cidade Que Nunca Dorme. Na posse dessa informação, o grupo empreende uma brutal e metódica carnificina que vitima centenas de Morlocks antes da chegada separada de X-Men e X-Factor.
  Essa descoordenação das duas equipas de heróis mutantes resulta em pesadas baixas nas fileiras de ambas. Entre os X-Men, Colossus, Lince Negra e Noturno são feridos com gravidade. Do lado do X-Factor, Anjo é crucificado e deixado para morrer. Também eles encurralados pelos Carrascos, os restantes membros da equipa escapam a destino idêntico (ou pior) graças à intervenção de Thor e do Quarteto Futuro.

Anjo martirizado.

  Chegados entretanto ao palco do massacre, os Novos Mutantes são destacados pelos X-Men para uma missão de busca e  resgate de eventuais sobreviventes. Acabam, no entanto, a lutar pela própria sobrevivência no gigantesco labirinto subterrâneo.
   A fim de limpar os túneis juncados de cadáveres em putrefação, o Deus do Trovão usa o seu poder para gerar uma tempestade de fogo. Ao testemunharem o fenómeno, os X-Men assumem que o dito seria obra dos Carrascos e os que os Novos Mutantes haviam perecido nele.
  Enquanto isso, Dentes-de-Sabre e Wolverine digladiam-se violentamente, com o primeiro a seguir o segundo até à Mansão X. Agindo furtivamente, o vilão consegue destruir Cérebro, o supercomputador programado pelo Professor Xavier para detetar homo superiores. É, no entanto, impedido de retomar a caça aos Morlocks quando tem a sua mente invadida por Psylocke.

O sangrento duelo de Wolverine e Dentes-de-Sabre.
  Acuado pela chegada dos restantes X-Men à Mansão, Dentes-de-Sabre corre para uma falésia próxima, lançando-se de seguida ao mar, numa desesperada tentativa de fuga. Perseguido por Wolverine nas encrespadas águas do oceano, o vilão tem a sua mente sondada por Psylocke antes de conseguir escapulir-se. É assim que os X-Men ficam a saber quem esteve por detrás de tudo: ninguém menos do que o Senhor Sinistro.
 Vinte anos antes, o Fera Negro chegara ao nosso mundo e usara a tecnologia do Senhor Sinistro para criar os Morlocks. Ao tomar conhecimento disso, Sinistro não descansou enquanto não eliminou esse material genético não autorizado. Tendo sido, portanto, esse o seu aterrador móbil para ordenar o massacre.
  Mais aterradora é, porém, a descoberta de que um X-Man -  Gambit - fora responsável pelo recrutamento dos Carrascos.

Gambit, um mutante de passado nebuloso.

Consequências: 

* Pregado à parede por Arpão e Arrasa-Quarteirão, Anjo sofreu ferimentos gravíssimos nas suas asas,que lhe foram posteriormente amputadas devido à gangrena que nelas alastrava. Tempos depois, o herói ganharia um par de asas tecno-orgânicas, cortesia de Apocalipse que dessa forma iniciava a sua transformação num dos seus quatro cavaleiros. Desse momento em diante, Anjo daria lugar ao Arcanjo;
* Presa na sua forma imaterial enquanto salvava Vampira de Arpão, Lince Negra sofreu uma deterioração a nível molecular que colocou em risco a sua vida. Seria salva in extremis graças aos esforços combinados de Reed Richards e do Doutor Destino;
* Ferido pelos shurikens de Maré Selvagem, Colossus ficou temporariamente tetraplégico após Magneto usar os seus poderes para reparar os danos causados na couraça metálica do herói;
* Já bastante maltratado na sequência do seu duelo com Nimrod, Noturno foi deixado em coma depois de defrontar Maré Selvagem;
* Wolverine descobriu que Jean Grey estava viva após farejar o seu odor nos túneis mas decidiu não partilhar essa informação com os restantes X-Men;
* Quando estava prestes a ser executada a sangue-frio por Arpão, a Morlock Praga foi salva por Apocalipse que a escolhera para ser o seu cavaleiro da Pestilência;
* Outro Morlock, Masque, assumiu a liderança dos sobreviventes da comunidade, depois de reinstalada nos túneis subterrâneos de Nova Iorque na esteira dos eventos ocorridos em Inferno (saga já aqui revisitada). Usaria no entanto a sua habilidade mutante de manipular a derme para desfigurar todos os seus pares. Circunstância que resultou num ensandecimento coletivo;
* Gambit foi temporariamente banido dos X-Men após a revelação de que fora ele quem recrutara os Carrascos.

De cabeça perdida, Colossus tira a vida a Maré Selvagem.

Vale a pena ler?

  Embora sem o virtuosismo de outras sagas dos X-Men escritas por Chris Claremont, Massacre de Mutantes merece, sobretudo pelas suas implicações futuras, um lugar de destaque na memorabilia do grupo. A meio caminho entre o épico dramatismo da Saga da Fénix Negra (1980) e o dantesco surrealismo de Inferno (1989), Massacre de Mutantes consegue, ainda assim, ser impactante. Residindo a sua maior força, ironicamente, no fracasso dos heróis em salvarem as vítimas da matança sistemática ordenada pelo Senhor Sinistro.
 Dentre os vários elementos macabros que pautam o enredo, este é, inquestionavelmente, o mais perturbador. Em última análise, não há como negar a evidência de que, contrariando os preceitos morais subjacentes a narrativas deste jaez, os heróis saem derrotados. Não só porque se revelam incapazes de impedir a carnificina em curso, mas também em virtude das pesadas baixas que lhes são infligidas pelos seus oponentes.
   Na memória dos leitores ficará para sempre gravada a crucificação de Anjo nos esgotos nova-iorquinos. Pungente metáfora para a intrínseca maldade humana que leva a nossa espécie a martirizar símbolos de bondade e esperança.
  Outra lança espetada no flanco dos heróis foi a traição de um dos seus. Qual Judas mutante, Gambit tem expostos os seus pecados pretéritos sendo, por isso, sentenciado ao ostracismo. Colossus, por sua vez, mancha as mãos de sangue ao matar Maré Selvagem. As profundas cicatrizes deixadas pelo conflito com os Carrascos são, pois, tanto físicas como emocionais.
 Ao optar por um registo mais sombrio e violento do que o habitual, Claremont assumiu-se como precursor de uma tendência que nos anos 90 prevaleceria nos comics. Época em que prosperou o conceito do anti-herói dotado de moral enviesada e adepto de métodos brutais.
 Depois de Massacre dos Mutantes os leitores deixaram de dar por garantidos os finais felizes nas histórias dos X-Men. Intuindo ao mesmo tempo que algo de mais sinistro ganhava forma no horizonte.
 Desaconselhável para leitores sensíveis, esta é uma daquelas sagas que deleitará os que apreciam a atmosfera lúgubre que caracteriza atualmente as aventuras (e desventuras) dos super-heróis nos quadradinhos (e, sobretudo, fora deles).
 

   

18 setembro 2015

HERÓIS EM AÇÃO: BESOURO AZUL




   Com uma origem que remonta à Idade do Ouro dos quadradinhos, é um dos mais vetustos heróis ainda em atividade. Antes de granjear notoriedade sob os auspícios da DC Comics, foi propriedade intelectual de três outras editoras. Tantas quantas as encarnações que contabiliza no seu currículo.

Nome original da personagem: Blue Beetle
Criadores: Charles Nicholas (Besouro Azul I); Steve Ditko (Besouro Azul II); Keith Giffen, John Rogers e Cully Hamner (Besouro Azul III)
Licenciadora: Fox Comics/Holyoke Publishing (1939-1951), Charlton Comics (1952-1968) e DC Comics (1983 até à atualidade)
Primeira aparição (Besouro Azul I): Mystery Men Comics nº1 (agosto de 1939)
Primeira aparição (Besouro Azul II): Captain Atom nº83 (novembro de 1966)
Primeira aparição (Besouro Azul III): Infinite Crisis nº5 (março de 2006)
Identidades civis: Respetivamente, Dan Garret/Garrett, Ted Kord e Jaime Reyes
Afiliação: O primeiro Besouro Azul teve um adjunto juvenil chamado Sparky. O seu sucessor passou pelas fileiras da Liga da Justiça Internacional (LJI), das Aves de Rapina e, mais recentemente, da Tropa dos Lanternas Negros. Na sua encarnação moderna, o herói teve uma passagem fugaz pela rediviva LJI e pelos Novos Titãs.
Bases de operações: Respetivamente, Nova Iorque, Chicago e El Paso, Texas
Armas, poderes e habilidades: Na sua versão primitiva, o Besouro Azul possuía força, agilidade e resistência amplificadas devido à Vitamina 2-X. Substância que, tal como o traje à prova de bala que envergava quando enfrentava malfeitores, lhe fora providenciada por um farmacologista chamado Dr. Franz. A fonte dos seus poderes passaria contudo a ser o Amuleto do Besouro Azul (ver informação detalhada mais adiante neste artigo) quando, já na Idade da Prata, os direitos da personagem foram adquiridos pela Charlton Comics.
    Já o segundo Besouro Azul tinha como principal arma o seu génio criativo. Rivalizando nesse campo com o próprio Batman, Ted Kord concebeu uma vasta parafernália tecnológica para o combate ao crime. Entre as suas mais admiráveis invenções avultavam duas: o Inseto (nave em forma de besouro alimentada por energia solar) e a Arma Besouro (pistola que tanto disparava clarões ofuscantes como rajadas de ar comprimido para aturdir os seus adversários). Ao seu formidável arsenal, o herói associava a proficiência em diversas artes marciais.
   Graças à sua relação simbiótica com o Amuleto do Besouro Azul, na sua encarnação atual o herói dispõe de livre acesso aos recursos conferidos por esse artefacto místico de origem extraterrestre. Para proteger o seu portador, o amuleto recobre-o com um exoesqueleto altamente resistente, resiliente (permitindo-lhe adaptar-se ao meio ambiente e às características dos oponentes) e com um versátil arsenal integrado.        Além de força sobre-humana, a veste concede ao seu usuário a capacidade de manipular padrões energéticos e frequências vibracionais. No entanto, é ativada apenas quando o indivíduo que a enverga se encontra em perigo. Durante o resto do tempo permanece alojada na sua coluna vertebral,o que torna o processo de ativação e desativação extremamente doloroso.

Da Idade do Ouro à contemporaneidade: três gerações de Besouros Azuis.

Amuleto do Besouro Azul: Sofisticada bioarma desenvolvida milénios atrás por uma raça de saqueadores alienígenas para ser uma espécie de cavalo de Troia nos planetas a serem alvos de pilhagem. Após fundir-se com a fisiologia do seu hospedeiro, o artefacto enceta um processo de reprogramação mental para torná-lo obediente às diretivas dos seus criadores. O indivíduo converte-se dessa forma num agente infiltrado no seu mundo natal.
  De acordo com as lendas, o Amuleto do Besouro Azul (também designado Khaji Dha) foi portado pela primeira vez na Terra pelo faraó egípcio Kha-Ef-Re, que usou os seus recursos para fazer prosperar o seu reino e manter os inimigos à distância. Certo é que o artefacto foi sepultado com o faraó aquando da sua morte. Ao longo dos séculos, muitos foram os que perderam as suas vidas a tentar reclamá-lo para si. Período durante o qual o amuleto foi infundido de energias místicas, responsáveis pela reconfiguração dos seus poderes.
  Em meados da década de 1920, Dan Garrett, um arqueólogo norte-americano, encontrou o sarcófago de Kha-Ef-Re e tornou-se o novo beneficiário do Amuleto do Besouro Azul. Resistindo à sua influência, Garrett empregaria os poderes do artefacto em prol da sua cruzada contra o crime.

Khaji Dha ou Amuleto do Besouro Azul.

Histórico de publicação: Dan Garret, o Besouro Azul original, debutou em agosto de 1939 em Mystery Men Comics nº1, título lançado nessa data pela Fox Comics. Nos anos ulteriores, o herói estrelou uma série própria, tiras de jornal e até um folhetim radiofónico. No entanto, à semelhança de outras personagens da Idade do Ouro dos quadradinhos, cairia na obscuridade nos alvores da  década de 50 do século passado.
  Antes, porém, de ser votado ao ostracismo, o Besouro Azul teve um percurso editorial errático. Ainda sob os auspícios da Fox Comics, a periodicidade da sua série sofreu múltiplas alterações e alguns números nunca chegaram mesmo a ser produzidos. Acrescendo a isto um hiato de 19 edições em que Blue Beetle chegou às bancas com a chancela da Holyoke Publishing.

A estreia do Besouro Azul ocorreu em 1939, em Mystery Men Comics nº1 (Fox Comics).
Capa da edição inaugural do primeiro título a solo do Besouro Azul, lançado em 1940 pela Fox Comics.

  No início dos anos 50, a Fox Comics encerrou portas e vendeu à ex-concorrente Charlton Comics os direitos autorais do Besouro Azul. Antes de a personagem ser revitalizada em 1964 pela sua nova licenciadora, teve ainda direito a uns quantos volumes avulsos.Que pouco ou nada acrescentaram à sua essência.
  Entretanto, foram feitos alguns retoques à sua origem e ao seu apelido (que ganhou um segundo T na sua grafia). De agente policial, Dan Garrett passou a arqueólogo. Expediente usado para introduzir uma nova fonte para os poderes da personagem. Expirado o seu prazo de validade, a Vitamina 2-X deu lugar a um milenar artefacto místico chamado Amuleto do Besouro Azul. Alterações ainda assim insuficientes para fazer o herói voltar a cair nas boas graças dos leitores.
 Após três tentativas fracassadas de lançar uma série a solo do Besouro Azul, a Charlton Comics recambiou-o para as páginas de Captain Atom. Foi precisamente nesse título de charneira da editora que foi apresentado pela primeira vez Ted Kord. Retratado como um antigo aluno de Dan Garret, após a morte deste, Kord assumiu o seu legado heroico.
  Mercê da sua crescente popularidade entre os leitores, o Besouro Azul teve direito a nova série própria em 1967. Apenas um ano antes do cancelamento de toda a linha super-heroística da Charlton. Circunstância que ditaria a alienação desse lote de personagens à DC Comics em 1983.
 Incorporado na cronologia da Editora das Lendas, o Besouro Azul foi paulatinamente adquirindo notoriedade. Sobretudo por via da sua participação na Liga da Justiça Internacional no período pós-Crise nas Infinitas Terras. Grupo onde reencontrou outro ilustre ex-inquilino da Charlton - o Capitão Átomo - e onde formou uma divertidíssima parelha com o Gladiador Dourado (ambas as personagens já tiveram os seus perfis publicados neste blogue).

O recauchutado Besouro Azul da Idade da Prata mereceu destaque na capa de Captain Atom nº83 (1966). 

  Já neste século, mais precisamente em 2006, a DC introduziu na sua mitologia um terceiro Besouro Azul. De seu nome verdadeiro Jaime Reyes, o neófito herói ganhou um título próprio inicialmente escrito pela dupla Keith Giffen/John Rogers e onde pontificava a arte de Cully Hamner. Equipa criativa que seria desfeita dez meses depois com a saída de Giffen. Passado pouco tempo, foi a vez de Rogers lhe seguir as pisadas.
  Blue Beetle seria cancelado ao cabo de 36 edições. Decisão justificada pelas baixas vendas, inversamente proporcionais às expectativas nele colocadas. Em 2009, numa tentativa frustrada de reeditar a sua parceria com o Gladiador Dourado, o novo Besouro Azul assentou arraiais em Booster Gold. Com a reestruturação cronológica decorrente de Os Novos 52, o jovem herói ganharia, dois anos depois, um novo título a solo.
 A exemplo de vários congéneres seus, a personagem teve a sua origem recontada no âmbito dessa iniciativa. Com a principal novidade a residir na ausência de qualquer ligação com as suas versões pregressas.

A triunfal entrada em cena do novo Besouro Azul em Infinite Crisis nº5 (2006).

Biografias:

* Dan Garret (Fox Comics): Nos seus primórdios de combatente do crime, o Besouro Azul original não dispunha de quaisquer talentos especiais. Tratava-se simplesmente do filho de um agente policial assassinado em serviço por um meliante. Seguindo as pisadas do seu malogrado progenitor, em adulto Garret ingressou no Departamento de Polícia de Nova Iorque. Em paralelo, atuava como um vigilante mascarado que fazia justiça pelas próprias mãos. Ganharia mais tarde um uniforme à prova de bala e capacidades físicas sobre-humanas graças à misteriosa Vitamina 2-X. Ambos desenvolvidos pelo Dr. Franz, um farmacologista que muito admirava a diamantina fibra moral de Garret, razão pela qual o quis apetrechar para a sua cruzada.

Dan Garret, o Besouro Azul original.

*Dan Garrett (Charlton Comics): As transformações operadas na personagem por altura da sua migração para a Charlton foram muito além do simples acréscimo de uma consoante ao seu apelido. Por contraponto ao seu predecessor, esta variante do Besouro Azul original era dotada de superpoderes. Tendo estes sido obtidos através de um amuleto místico descoberto durante uma escavação arqueológica no Egito. A metamorfose de Dan Garrett ocorria sempre que ele proferia as palavras mágicas "Kaji Dha" (qualquer semelhança com o grito "SHAZAM!" do Capitão Marvel poderá, ou não, ser coincidência).

Dan Garrett, Besouro Azul com visual e apelido retocados.

Ted Kord (Charlton Comics/DC Comics): Dono de um QI muito acima da média, Ted Kord era o mais brilhante aluno de Dan Garrett. Quando este morreu em combate como Besouro Azul, Kord assumiu o seu legado heroico. Contudo, não conseguiu aceder aos poderes concedidos pelo amuleto místico ao seu mentor. Facto que compensou desenvolvendo uma vasta gama de acessórios e aparatos tecnológicos capazes de causar inveja ao próprio Batman. Anos atrás, na sequência da sua descoberta de uma base de dados, pertença do Xeque-Mate e contendo informação exaustiva sobre todos os meta-humanos do planeta, o Besouro Azul foi executado a sangue-frio.

Ted Kord, o mais emblemático dos Besouros Azuis.


*Jaime Reyes: Filho adolescente de um modesto casal de imigrantes mexicanos radicados em El Paso, certo dia Jaime encontrou num baldio o Amuleto do Besouro Azul. Intrigado, levou o insólito objeto para casa.  Nessa noite, enquanto o jovem dormia, o artefacto místico fundiu-se à sua espinha dorsal, induzido-lhe pesadelos. Com a ajuda do Gladiador Dourado, Jaime aprendeu a origem dos seus recém-adquiridos poderes, assim como a dominá-los. Outro dos seus mentores foi o Pacificador (Peacemaker, no orginal), personagem que outrora também fez parte da mitologia da Charlton Comics.

Jaime Reyes, um Besouro Azul para o século 21.

Noutros media:  Entre maio e setembro de 1940, o Besouro Azul (Dan Garret) teve uma efémera carreira radiofónica. Durante esse período foi o cabeça de cartaz de um folhetim relativamente bem-sucedido, embora com um registo mais ligeiro do que outros programas do género, como aquele que tinha na mesma época o Homem de Aço como protagonista. Curiosamente, quase 60 anos depois, em 1998, a personagem (agora na sua encarnação Ted Kord) desempenharia um pequeno papel no audiolivro da autoria de John Withman que adaptava a esse formato a novelização da saga Kingdom Come (Reino do Amanhã).

Blue Beetle radio.jpg
Cartaz promocional do folhetim radiofónico estrelado pelo Besouro Azul em 1940.

  Contudo, só neste século e já com Jaimes Reyes, é que o Besouro Azul se estreou no restante panorama audiovisual. Foi na série animada The Brave and the Bold (2008-2011), na qual também participou o seu antecessor (Ted Kord).
  Ainda no pequeno ecrã, mas agora em séries de ação real, o Besouro Azul marcou presença num episódio da última temporada de "Smallville", onde contracenou com o outro astro convidado: ninguém menos que o Gladiador Dourado. Também na segunda temporada de "Arrow" foram feitas referências às Indústrias Kord. Ao que parece, o intuito seria incluir o Besouro Azul na temporada seguinte da série. Afirmando ter outros planos para o herói, a DC obrigou a sua substituição por Ray Palmer (Átomo/Eléktron).

Encontro pouco amistoso entre o Besouro Azul e o Gladiador Dourado em Smallville.

  Recentemente, o ovacionado argumentista Geoff Johns anunciou na sua conta do Twitter que estaria em curso um casting para uma hipotética série televisiva baseada na versão moderna do Besouro Azul. Dada a atual proeminência dos super-heróis no cinema e na TV, não será de estranhar se, para gáudio dos fãs, o projeto vier mesmo a materializar-se.

Ouro sobre azul: certas amizades são eternas.