04 novembro 2016

RETROSPETIVA: «HOMEM DE FERRO 2»



  Nas bocas do mundo desde que tornou pública a sua identidade de Homem de Ferro, Tony Stark, traído pela sua tecnologia e refém do próprio ego, continua a ser o mais falho dos heróis. Acuado por poderosos inimigos e com a vida por um fio, sabe que terá de aprender a trabalhar em equipa se quiser sobreviver. O filme, esse,  mesmo sem fazer esquecer o original, superou-o com distinção no teste das bilheteiras.

Título original: Iron Man 2
Ano: 2010
País: EUA
Género: Ação/Aventura/Fantasia
Duração: 125 minutos
Realização: Jon Favreau
Produção: Marvel Studios
Argumento: Justin Theroux
Distribuição: Paramount Pictures
Orçamento: 200 milhões de dólares
Receitas: 623,9 milhões de dólares
Elenco: Robert Downey, Jr. (Tony Stark/Homem de Ferro), Gwyneth Paltrow (Pepper Potts), Don Cheadle (James Rhodes/Máquina de Guerra), Scarlett Johansson (Natalie Rushman/Natasha Romanoff/Viúva Negra), Sam Rockwell (Justin Hammer), Mickey Rourke (Ivan Vanko) e Samuel L. Jackson (Nick Fury)


Desenvolvimento: Imediatamente a seguir à estreia de Iron Man, os Estúdios Marvel anunciaram que estava na calha uma sequela. Em julho de 2008, ao cabo de vários meses de negociações, Jon Favreau assinou contrato para dirigi-la.
Inicialmente, Favreau tinha em mente realizar uma trilogia do Homem de Ferro que teria Obadiah Stane (interpretado por Jeff Bridges no primeiro filme) como vilão de serviço. A ideia era acompanhar a par e passo a sua transformação no Monge de Ferro, um dos inimigos clássicos do herói.
Tratando-se do némesis do Vingador Dourado na banda desenhada, o Mandarim* soaria como uma escolha mais natural. No entanto, após consultar um painel de escritores da Marvel, Favreau percebeu que seria um desperdício usar tão importante personagem logo no início da franquia. Outro ponto que também desde logo ficou assente foi que a SHIELD continuaria a ter um papel fundamental na trama. Que, por recomendação pessoal de Robert Downey Jr. que com ele trabalhara em Tempestade Tropical, ficaria a cargo do argumentista Justin Theraux.
Com a rodagem da sequela em curso, Favreau revelou que nela seria aflorado o alcoolismo de Tony Stark, mas não seria uma adaptação de O Demónio da Garrafa**. Ainda durante a digressão promocional de Iron Man, também Robert Downey Jr. admitira a possibilidade de a sua personagem vir a desenvolver um problema com a bebida devido à sua dificuldade em lidar com a idade e com a pressão mediática depois de expor publicamente a sua identidade de Homem de Ferro. Mais tarde, o ator retomaria as suas considerações sobre o assunto, explicando que o que seria mostrado no segundo filme teria lugar no intervalo de tempo entre a origem do herói e os eventos narrados na saga em questão.

Robert Downey Jr. (esq.) e Jon Favreau, a Dupla Dinâmica da Marvel.

Por sugestão de Shane Black, contratado como consultor de enredo e que substituiria Jon Favreau na direção de Iron Man 3, a conduta de Tony Stark teria como modelo J. Robert Oppenheimer, o "pai" da bomba atómica que mergulhou em profunda depressão ao ver o aterrador fruto do seu trabalho no Projeto Manhattan.
Traçada a trajetória do herói, em janeiro de 2009, Mickey Rourke e Sam Rockwell entraram em negociações com os Estúdios Marvel para interpretarem a parelha de vilões. Se com o segundo tudo deslizou sobre rodas, já no caso do primeiro as coisas estiveram mais tremidas. Rourke esteve quase a recusar o papel. Motivo: o baixo valor do cachê oferecido. 250 mil dólares não passavam de uns trocados para quem estava em alta depois da sua magnífica representação em The Wrestler que, entre outros louvores, lhe valeu uma nomeação para o Óscar de melhor ator.
Enquanto as negociações com Rourke prosseguiam aos solavancos, surgiu outra dor de cabeça para os produtores. Dado como certo no papel de Nick Fury, o mordaz diretor da SHIELD, Samuel L. Jackson exigiu uma revisão dos termos do seu contrato. Apesar destes percalços, ambos os processos negociais chegaram a bom porto. Com Jackson a garantir mesmo a sua participação futura em nove outros filmes. Facto divulgado no mesmo dia em que Scarlett Johansson era também oficialmente confirmada no papel de Viúva Negra***.
Escolhido o elenco, as filmagens arrancaram em março de 2009, terminando precisamente 71 dias depois, em meados de julho desse ano. Embora o grosso das cenas tenha sido rodado nos Estúdios Raleigh, em Hollywood, outras das localizações que lhes serviram de cenário incluíram, por exemplo, a Base Aérea de Edwards, situada em pleno deserto californiano.
À antestreia no mítico El Capitan Theatre de Los Angeles, a 19 de abril de 2010, seguiu-se, nas semanas seguintes, o lançamento do filme em 54 países. Numa jogada de antecipação ao pontapé de saída no Mundial de Futebol que nesse ano se disputava na África do Sul, o calendário da distribuição internacional foi acelerado. Mesmo sem pisar os relvados, com esse drible inteligente o Homem de Ferro iniciava a sua cavalgada imparável à conquista de um outro campeonato: o das bilheteiras.

Jon Favreau e parte do elenco de Homem de Ferro 2
na apresentação publica do filme num hotel de LA.

*Prontuário do Mandarim disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/05/galeria-de-viloes-mandarim.html
** Leiam aqui a resenha alargada da saga: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/07/classicos-revisitados-o-demonio-na.html
*** Descubram alguns segredos da Viúva Negra em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/05/herois-em-acao-viuva-negra.html

Homem de Ferro 2 apresentou ao público Chicote Negro e Máquina de Guerra,
duas das mais icónicas personagens da mitologia do herói.
Enredo: Um pouco por todo o globo, os media fazem eco do alarido causado pela revelação pública de Tony Stark da sua identidade de Homem de Ferro. Algures na Rússia, Ivan Vanko, ainda a chorar a perda do seu pai, Anton Vanko, acompanha as notícias com especial interesse. Dedicando-se em seguida à construção de um minirreator peitoral semelhante ao que mantém vivo o magnata americano.
Seis meses depois, Tony, convertido em celebridade mundial, é aclamado por turbas ululantes de cada vez que, em terra ou no céu, dá um ar da sua graça. Sentindo-se no topo do mundo, o filho do visionário Howard Stark avança com a reconstituição da Expo Stark de Nova Iorque, uma feira tecnológica inaugurada décadas antes pelo seu progenitor. Com esse projeto faraónico, Tony pretende dar continuidade ao legado paterno.
No entanto, apesar de continuar a usar a sofisticadíssima tecnologia do Homem de Ferro para fins pacíficos e em benefício da comunidade, Stark é intimado a comparecer perante um comité no Senado norte-americano. Pela voz do senador Stern, o comité pressiona-o a entregar a sua armadura ao Governo federal para futuras aplicações militares. Tony recusa e, de caminho, humilha publicamente o seu rival Justin Hammer, ao provar que a sua tecnologia está vários anos avançada em relação à da concorrência.

Justin Hammer (Sam Rockwell), o arquirrival de Tony Stark.
Nem tudo são, porém, rosas na vida de Tony Stark. Recentemente, ele fez uma descoberta aterradora: a radiação emanada do núcleo de paládio do seu minirreator peitoral vem-lhe envenenando lentamente o organismo. Convencido de que tem os dias contados, após todas as suas tentativas para encontrar um elemento químico alternativo terem fracassado, Tony decide guardar segredo da sua condição. Mesmo em relação aos que lhe são mais próximos, como a sua eficientíssima assistente pessoal, Pepper Potts, ou o seu fiel amigo e piloto James Rhodes.
É, pois, com estupefação que todos recebem a decisão de Tony de confiar a presidência do seu conglomerado de empresas a Pepper Potts. Contratando para sua nova assistente pessoal a bela e misteriosa Natalie Rushman.
Tony Stark, Iron Man 2 HD wallpaper for Wide 16:10 5:3 Widescreen WHXGA WQXGA WUXGA WXGA WGA ; HD 16:9 High Definition WQHD QWXGA 1080p 900p 720p QHD nHD ; Standard 4:3 5:4 3:2 Fullscreen UXGA XGA SVGA QSXGA SXGA DVGA HVGA HQVGA devices ( Apple PowerBook G4 iPhone 4 3G 3GS iPod Touch ) ; Tablet 1:1 ; iPad 1/2/Mini ; Mobile 4:3 5:3 3:2 5:4 - UXGA XGA SVGA WGA DVGA HVGA HQVGA devices ( Apple PowerBook G4 iPhone 4 3G 3GS iPod Touch ) QSXGA SXGA ;
Um herói confrontado com a própria mortalidade,
Quando. dias depois,  ao volante de um bólide vintage, compete no Grande Prémio Histórico de Fórmula 1 do Mónaco, Tony é brutalmente atacado por Ivan Vanko. Perante uma plateia mortificada, Vanko brande no ar um par de chicotes eletrificados capazes de cortar ao meio o carro conduzido pelo milionário americano. Este recorre a uma armadura sobressalente do Homem de Ferro que transportava consigo numa maleta para passar ao contra-ataque. Vanko acaba derrotado no final da escaramuça, não sem antes danificar severamente o traje do herói.
No momento em que é detido pela polícia monegasca, Vanko proclama, alto e bom som, que a sua intenção era mostrar ao mundo que a invencibilidade do Homem de Ferro não passa de um mito. Ainda combalido, Tony Stark sabe, no seu íntimo, que o vilão esteve muito próximo de derrotá-lo.


Ivan Vanko, uma ameaça eletrizante.
De volta a Nova Iorque, Tony investiga o passado de Ivan Vanko, descobrindo que ele é filho de Anton Vanko. Físico russo dissidente do regime soviético, Anton ajudara Howard Stark a projetar o primeiro protótipo do minirreator de paládio. Quando Anton tentou lucrar com a invenção de ambos, o pai de Tony usou a sua influência para garantir a deportação do sócio para a União Soviética. Condenando assim Anton a longos anos de degredo no gulag. Antes de morrer, o cientista teve ainda tempo de passar a tecnologia ao filho. E passou-lhe também o ódio visceral ao clã Stark, que Ivan aprendeu a culpar pelo infortúnio do pai.
Impressionado com a prestação de Ivan Vanko, Justin Hammer organiza a sua fuga da cadeia para onde fora enviado após o atentado à vida de Stark no Mónaco. Os dois homens chegam então a acordo para que Vanko desenvolva uma linha de armaduras de combate. As quais Hammer planeia usar para retribuir o vexame que lhe foi imposto publicamente por Stark. Escolhendo como cenário para a sua desforra a Expo Stark.
A descoberta de que o minirreator de Stark fora replicado por outra pessoa, leva à intensificação das pressões governamentais para que ele entregue a sua armadura de Homem de Ferro.
Deprimido pela perspetiva de que não viverá para comemorar o seu próximo aniversário, Tony organiza uma festa de arromba na sua luxuosa cobertura com vista panorâmica sobre a cidade. As coisas acabam, contudo, por se descontrolar quando ele, embriagado e usando o seu traje blindado, coloca em perigo a sua vida e a dos convidados.
Em desespero de causa, James Rhodes veste um modelo antigo da armadura do Homem de Ferro para deter o patrão. Tony reage com agressividade e da luta que se segue resulta a destruição quase total do seu apartamento.
Envergonhado, no dia seguinte Tony é levado à presença de Nick Fury, o diretor da agência de contraterrorismo SHIELD. Depois de revelar-lhe que a sua recém-contratada assistente pessoal é, afinal, uma agente infiltrada chamada Natasha Romanoff, Fury entrega a Tony um velho baú contendo diversos pertences de Howard Stark.
Suspeitando que o pai poderá ter deixado algum tipo de mensagem oculta na maqueta da primeira Expo Stark, Tony descobre que ela encerra, de facto, um diagrama da estrutura atómica de um elemento químico desconhecido. Tudo apontando para que a sua sintetização fora impossibilitada pelas limitações tecnológicas da época em que Howard Stark viveu.
Assessorado pela inteligência artificial JARVIS, Stark constrói em segredo um acelerador de partículas que usa para criar o novo elemento. Adicionando-o depois a uma versão modificada do seu minirreator. E conseguindo dessa forma travar o envenenamento causado pelo paládio.

Stark em pleno processo de criação
 do novo elemento químico que lhe salvará a vida.
Quase sem tempo para respirar de alívio, Tony recebe um telefonema de Ivan Vanko, informando-o de que se encontra livre e desafiando-o para um duelo na Expo Stark.
No certame tecnológico, Justin Hammer apresenta ao público os seus novos droides militares capitaneados por James Rhodes aos comandos de um antigo modelo da armadura do Homem de Ferro.
Irrompendo no recinto da exposição, o Homem de Ferro adverte Rhodes para que não participe naquela farsa que desonra a memória do seu pai. Antes, porém, que os dois homens cheguem a um entendimento, longe dali Ivan Vanko invade os sistemas informáticos e assume o controlo remoto dos droides e do traje blindado de Rhodes. Atacado por todos os lados, o Homem de Ferro procura proteger os inocentes sem ferir o seu amigo prisioneiro na própria armadura.
Enquanto isso, Happy Hogan, o motorista de Tony, acompanha a Viúva Negra até à fábrica de Justin Hammer a fim de deter Ivan Vanko. Este já arrepiara, no entanto, caminho para a Expo Stark, apetrechado com uma nova e mais poderosa versão dos seus chicotes elétricos.
Quando a Viúva Negra devolve por fim o controlo da armadura a Rhodes, este não perde tempo a somar o seu poder de fogo ao do Homem de Ferro contra Vanko. Pressentindo a inevitabilidade da derrota, o vilão aciona o mecanismo de autodestruição do seu aparato, fazendo-se explodir com ele. Face à ausência do respetivo cadáver, fica a dúvida se Vanko terá sobrevivido.

Homem de Ferro e Máquina de Guerra: irmãos de armas.
Encurralada pelas chamas, Pepper Potts é salva no último instante pelo Homem de Ferro. Ainda mal refeita do susto, anuncia-lhe a sua renúncia ao cargo de CEO das Indústrias Stark antes de ser impetuosamente beijada pelo patrão perante o olhar divertido de Rhodes.
No final de uma conferência com outros altos responsáveis da SHIELD, Nick Fury informa Tony Stark de que o Homem de Ferro foi aprovado para participar no programa secreto conhecido apenas como Iniciativa Vingadores. O Governo prefere, todavia, que a armadura seja pilotada por alguém mais confiável. Tony concorda impondo como condição ser o senador Stern a entregar as medalhas que ele e Rhodes irão receber numa cerimónia pública organizada para homenagear os atos heróicos de ambos.
Na tradicional cena pós-créditos, o agente Phil Coulson, outro dos operacionais da SHIELD, reporta a Nick Fury a descoberta de um estranho martelo cravado no centro de uma enorme cratera fumegante. Trata-se do Mjolnir empunhado por Thor, o deus nórdico do trovão, e o próximo a estrelar um filme dos Estúdios Marvel.

Trailer:



Prémios e nomeações: Entre 2010 e 2011, foram várias as nomeações recebidas por Homem de Ferro 2, inclusive por parte da Academia de Hollywood que o colocou entre os candidatos ao Óscar para melhores efeitos visuais. Precisamente a mesma categoria em que seria distinguido no Festival de Cinema de Hollywood. Este seria, aliás, um dos dois únicos prémios arrecadados pelo filme. O outro, um People's Choice Award, assinalou a sua eleição como melhor película de ação de 2011. Um registo bem mais modesto do que o do seu predecessor que, um par de anos antes, averbara cinco galardões em outras tantas categorias, incluindo dois Saturn Awards para melhor ator (Robert Downey, Jr.) e melhor realizador (Jon Favreau).

Curiosidades:


* A personagem de Ivan Vanko, interpretado por Mickey Rourke, é na verdade uma mescla de dois inimigos clássicos do Homem de Ferro: Crimson Dynamo e Whiplash (conhecidos entre o público lusófono como Dínamo Escarlate e Chicote Negro). Criado nos idos de 1963 por Stan Lee e Don Heck, o primeiro debutou em outubro desse ano nas páginas de Strange Tales nº46, sendo apresentado como um brilhante cientista soviético, de sua graça Anton Vanko, que projetou uma armadura de alta tecnologia capaz de ombrear com a do Vingador Dourado. Já o segundo, criação conjunta de Stan Lee e Gene Colan, tinha como identidade civil Mark Scarlotti, um engenheiro eletrónico caído em desgraça nas Indústrias Stark que fez a sua primeira aparição em Tales of Suspense nº97 (janeiro de 1968). Recorde-se que, no filme, Ivan é referido como sendo filho de Anton Vanko;


Dínamo Escarlate (cima) e Chicote Negro:
os dois arqui-inimigos do Homem de Ferro que serviram de matriz a Ivan Vanko.
*Malgrado a sua compleição robusta e o facto de se ter submetido a um exigente programa de preparação física nos meses que antecederam o arranque das filmagens, num primeiro momento Mickey Rourke revelou-se incapaz de manejar com destreza os chicotes metálicos acoplados ao pesado exoesqueleto usado pela sua personagem. Perante a impossibilidade técnica de tornar mais leve o aparato, nas suas subsequentes sessões de treino, o ator passou a envergar coletes especiais que simulavam o traje blindado. À parte isso, vários dos elementos que compõem a caracterização do vilão foram sugeridos pelo próprio Mickey Rourke. Partiu dele, por exemplo, a ideia de Ivan Vanko possuir dentes de ouro e uma catatua como mascote. Adereços que o ator pagou do próprio bolso;
* Terrence Howard foi substituído por Don Cheadle no papel de James Rhodes por razões ainda não cabalmente esclarecidas. A fazer fé na versão do ator, o seu afastamento da franquia ficou a dever-se à tentativa de renegociação contratual levada a cabo pelos Estúdios Marvel com vista a uma redução do seu cachê. Importa notar que Howard fora o elemento mais bem pago no elenco de Iron Man, o que poderá muito bem ter condicionado a sua participação na sequela. Igualmente plausível é a possibilidade de a saída de Howard ter sido uma exigência de Jon Favreau. Logo após a estreia do primeiro capítulo da saga, a revista Entertainment Weekly escrevia que o realizador ficara desagradado com o desempenho do ator, ao ponto de se ter visto na contingência de refilmar ou cortar diversas cenas por ele representadas;
* Numa entrevista à MTV, Don Cheadle confessou que, até à chegada do Homem de Ferro ao grande ecrã em 2008, estava absolutamente convencido que o herói era um robô;
* Natalie Portman, Angelina Jolie, Jessica Biel, Jessica Alba e Gemma Arterton foram algumas das atrizes cogitadas para emprestarem o corpo à Viúva Negra. Correndo em pista própria, Eliza Dushku não se furtou a esforços para obter o papel, levando a cabo uma intensa, porém frustrada, campanha de lóbi. Emily Blunt, por sua vez, só não encarnou a ex-espia do KGB devido à sua indisponibilidade de agenda decorrente da sua participação em As Viagens de Gulliver, cuja rodagem se desenrolou em simultâneo à de Iron Man 2. A escolha final recairia, assim, sobre Scarlett Johansson que, mesmo antes de ser oficialmente confirmada, tingiu o cabelo de ruivo, tal era a sua vontade de interpretar aquela que é uma das mais notórias femmes fatales do Universo Marvel. Consta também que a curvilínea atriz terá tido um breve momento de pânico ao ver pela primeira vez o uniforme que teria de usar no filme. De tão cingida, a roupa fazia lembrar uma segunda pele e Johansson não concebia como poderia alguém mover-se dentro dela;

Scarlett Johansson foi a escolhida para encarnar a Viúva Negra.
*Na tabela periódica, o paládio surge classificado como um metal pesado com reduzida toxicidade. Seria, portanto, altamente improvável que causasse um envenenamento como aquele que, na película, faz perigar a vida de Tony Stark. Com efeito, a ideia de Stark ser envenenado pela própria armadura é uma referência a Mark XVI, o modelo que, na banda desenhada, foi responsável por idêntico problema de saúde, acabando por esse motivo descartado pelo seu usuário;
* Ainda no campo das referências ao material original, a cena que mostra Stark embriagado na sua festa de aniversário homenageia a saga O Demónio na Garrafa (já aqui esmiuçada), na qual os problemas de alcoolismo do milionário são expostos. São também sinalizáveis no enredo alguns pontos de contacto com A Guerra das Armaduras, outra das mais impactantes sagas do repertório do Homem de Ferro, dada à estampa em 1988. Nela, a tecnologia de Stark cai em mãos erradas obrigando desse modo o herói a confiscar todo e qualquer componente por ele fabricado. Campanha que, apesar das boas intenções, rapidamente degenera num conflito aberto que não distingue adversários de aliados;

Iron Man: Armor Wars Prologue
A saga A Guerra das Armaduras serviu de referência
 ao enredo de Homem de Ferro 2.
* A sequência da corrida automobilística no Mónaco em que participava Tony Stark foi na verdade gravada no parque de estacionamento dos Estúdios Downey, na Califórnia. Isto depois de Bernie Ecclestone, o todo-poderoso patrão da Fórmula 1 que havia autorizado a realização das filmagens no circuito do Grande Prémio do principado, ter voltado atrás na sua decisão. Pertencentes a vários colecionadores particulares, na corrida em causa foram utilizados cinco modelos vintage, incluindo um Lotus de 1976;
* Stark cria um novo minirreator peitoral empregando um artefacto que faz lembrar o escudo do Capitão América. Adereço que já fora mostrado de relance no primeiro filme do Vingador Dourado, sinalizando a produção da longa-metragem do Sentinela da Liberdade que chegaria às salas de cinema no ano seguinte. Contudo, contrariamente ao que creem alguns espectadores desavisados, não se tratava do verdadeiro escudo do Capitão América mas sim de uma réplica, visto que o original fora congelado com o herói perto do final da 2ª Guerra Mundial;
* No primeiro rascunho da trama, Ivan Vanko morria às mãos de James Rhodes após ter sobrevivido a uma explosão e de ter tentado assassinar Tony Stark e Pepper Potts. Precavendo a possibilidade de os produtores quererem reutilizar o vilão em películas vindouras, a sequência foi reescrita a fim de apresentar uma situação mais ambígua.

Sequela: As astronómicas receitas de bilheteira obtidas por Iron Man 2 garantiram a produção de nova sequela. Após terem concordado em pagar 115 milhões de dólares à Paramount Pictures pela distribuição mundial de um pacote que incluía o terceiro filme do Homem de Ferro e a primeira aventura cinematográfica dos Vingadores, foi com pompa e circunstância que os Estúdios Marvel anunciaram 3 de maio de 2013 como a data de estreia de Iron Man 3 em terras do Tio Sam. Mais uma megaprodução da subsidiária da Walt Disney Company que, além dos principais astros da franquia, contaria com diversas adições de peso ao elenco. como o oscarizado Ben Kingsley. Em contrapartida, Jon Favreau, cedeu, como já vimos, a cadeira de realizador a Shane Black, cuja carreira tivera como ponto alto até aí a autoria do enredo desse clássico da 7ª Arte que é Arma Mortífera (1987).
Apesar de ter sido o mais lucrativo dos três capítulos da saga e de ter caído nas boas graças da generalidade da crítica, Iron Man 3 não encheu as medidas aos fãs, que muito torceram o nariz à interpretação do Mandarim. Facto que, ao que tudo indica, comprometeu a realização de um quarto filme, pese embora exista a forte possibilidade de isso vir a acontecer num futuro próximo. Se ainda com Robert Downey, Jr. no papel principal, só o tempo o dirá...

Mesmo não tendo sido deixado de cócoras pela crítica,
 Iron Man 3 não convenceu os fãs.


Veredito: 68%


Existe uma velhinha tradição (quiçá de origem culinária) lá para os lados de Hollywood: sempre que é preciso reproduzir uma receita de sucesso, o segredo é reforçar-lhe os ingredientes.Por exemplo, se um filme fez furor por conta da espetacularidade das suas cenas de ação, é muito provável que a respetiva sequela inclua ainda mais cenas desse tipo. Seria, pois, algo do género que os produtores de Homem de Ferro 2 teriam em mente.
O problema é que nem a receita é infalível (conforme prova a montanha de sequelas falhadas), nem os ingredientes reforçados neste filme foram os certos. Em vez de servirem uma dose ainda mais abonada da ação e do humor que deixaram o público e a crítica rendidos ao primeiro filme do Vingador Dourado, os responsáveis pelo projeto, quais cozinheiros desastrados, enganaram-se nos condimentos. Acabando assim por empanturrar os espectadores com acepipes (leia-se, personagens e subtramas) à falta de um prato principal (leia-se, enredo) capaz de lhes forrar o estômago.
Com tanta coisa a acontecer a tanta gente ao mesmo tempo, a história perde o foco e o espectador também. Tanto mais que as diversas subtramas não estão ligadas entre si. Sendo precisamente esse o maior defeito de Homem de Ferro 2: a dispersão narrativa. 
Mesmo ficando alguns furos abaixo do original, esta sequela não deixa de ter qualidade suficiente para fazer dela uma referência dentro do seu género. Ficando, contudo, a sensação de que terá servido, essencialmente, para preparar terreno para a película dos Vingadores. Como qualquer filho do meio, Homem de Ferro 2 sofre, portanto, da ausência de um propósito específico e ressente-se disso.
Nada que coloque, porém, em xeque os muitos pontos positivos do filme: Robert Downey Jr. mantém-se impecável na sua interpretação de Tony Stark, conseguindo torná-lo simpático aos olhos do público, apesar do seu irritante narcisismo. Ao som da fantástica banda sonora com a assinatura dos AC/DC, as cenas de ação continuam de cortar a respiração. O mesmo se aplicando aos efeitos visuais. E tanto Scarlett Johansson como Don Cheadle, por via das suas representações de Viúva Negra e Máquina de Combate, trouxeram um acréscimo de qualidade à produção.
No final das contas, Homem de Ferro 2 é um filme divertido que não desilude sem, todavia, conseguir fazer esquecer o original. Servindo-lhe de consolo que, salvas raras exceções (Super-Homem II e Homem-Aranha 2 foram duas delas), raramente as sequelas de super-heróis conseguem ser bem-sucedidas nessa tarefa. Menos ainda quando são temperadas com condimentos indigestos.

Uma franquia ainda em altos voos, mas já a perder gás.






22 outubro 2016

ETERNOS: DENNIS O'NEIL (1939 - ...)




   No que poderá ser visto como um sinal premonitório, o seu nascimento coincidiu com a estreia de Batman, a personagem que mais lhe marcaria a admirável carreira de escritor e editor. Foi, contudo, pela mão de Stan Lee que primeiro se aventurou no género super-heroico. Para cujo amadurecimento contribuiu ao privilegiar temáticas sociais sintonizadas com o espírito da época.

Biografia: Filho de um casal de católicos irlandeses de Saint Louis (Missouri), Dennis O'Neil veio ao mundo a 3 de maio de 1939. Por esses dias chegava também às bancas norte-americanas Detective Comics nº27, edição histórica que assinalou a estreia do Batman. Personagem com a qual o pequeno Denny. como era carinhosamente tratado no meio familiar, desde o primeiro momento parece ter entrelaçado o seu destino. Afinal de contas, décadas depois associaria o seu nome a várias obras capitais do Homem-Morcego.
O gosto pelas histórias aos quadradinhos, esse, tomou-o quando era ainda pessoa de palmo e meio. Nas tardes domingueiras, Denny tinha por hábito acompanhar o pai e o avô em peregrinação à mercearia do bairro onde o clã O'Neil assentara arraiais há largos anos. Além das provisões que serviriam para reabastecer a despensa lá de casa, a lista de compras incluía quase sempre uma banda desenhada que fazia as delícias do petiz dado a leituras.
Mal fora ainda dado o tiro de partida para essa viagem alucinante que foi a década de 1960 quando Dennis O'Neil saiu da Universidade de Saint Louis diplomado em Literatura Inglesa. Formação académica que incluíra, entre outras, a disciplina de Escrita Criativa, na qual ele se sentira como peixe na água.
Das salas de aulas, O'Neil seguiu, sem desvios nem paragens, para as casernas da Marinha dos EUA. Mesmo a tempo de participar no bloqueio naval a Cuba durante a crise dos mísseis soviéticos que, no opressivo outubro de 1962. obrigou o mundo a suster a respiração durante 13 longos dias.
Despida a farda de marinheiro, Dennis O'Neil arranjou emprego num pequeno tabloide do Missouri. Um par de vezes por semana escrevia uma coluna dedicada aos leitores mais jovens. Espaço que, durante os indolentes meses estivais, ele preenchia com revisitações da chamada Idade de Ouro dos quadradinhos. Foi através desses textos que captou a atenção de Roy Thomas, delfim de Stan Lee e seu futuro sucessor à frente dos destinos da Marvel Comics.
Por sugestão de Thomas, Stan Lee convidou Dennis O'Neil a realizar o teste a que se submetiam todos os candidatos a escritores na Casa das Ideias. Consistindo este na inserção de diálogos numa historieta do Quarteto Fantástico em quatro páginas. Tarefa aparentemente simples que servia, no entanto, para separar o trigo do joio numa época em que a Marvel dava cartas no mercado editorial dos super-heróis.

Roy Thomas (esq.) convenceu Stan Lee
a dar uma oportunidade a Dennis O'Neil.
O'Neil, a quem nunca passara pela cabeça ganhar a vida a escrever histórias aos quadradinhos, confessaria numa entrevista dada em 1986 que só aceitou fazer o teste porque tinha as tardes de terça-feira livres. Nas palavras do próprio, ficamos a saber como tudo se passou: «Em vez de, como era meu hábito, me entreter a resolver as palavras cruzadas, naquela tarde matei o tempo a escrever a história que Stan Lee me tinha proposto. Fi-lo, contudo, por brincadeira. Estava longe de imaginar que isso mudaria o curso da minha vida.»
Apesar da ligeireza com que encarou o desafio, a prestação de O'Neil deixou Stan Lee impressionado. Tanto que o então timoneiro da Marvel lhe ofereceu um emprego como argumentista. Convém salientar que, por esses dias, a Casa das Ideias andava em bolandas devido à impossibilidade de Lee continuar a escrever toda a linha de títulos da editora. Mesmo depois de ele ter passado o testemunho a Roy Thomas em alguns deles, era imperiosa a contratação de novos escribas.
Quando deu por si, O'Neil estava a escrever as histórias daquela que era então uma das personagens mais populares da Marvel: o Doutor Estranho, em Strange Tales. Seguir-se-iam passagens meteóricas por títulos secundários como Rawhide Kid e Millie the Model. Mais que não seja, essas experiências serviram para pôr à prova a sua versatilidade narrativa, uma vez que o primeiro era ambientado no Velho Oeste e o segundo possuía um cunho simultaneamente cómico e romântico.

Strange Tales nº148 (1966) trazia uma das primeiras histórias
 do Dr. Estranho da autoria de Dennis O'Neil.
Naquela que terá sido, provavelmente, a sua primeira colaboração com Neal Adams(1), Dennis O'Neil trouxe de volta à vida o Professor X, nas páginas de X-Men nº65. Cada vez mais requisitado, seria chamado de urgência a finalizar uma história do Demolidor deixada a meio por um Stan Lee ansioso por partir de férias.
Passada a euforia inicial, os trabalhos na Marvel começaram a rarear e a Dennis O'Neil não restou outra alternativa que não ir bater à porta da concorrência. Sob o imponente pseudónimo de Sergius O'Shaugnessy, durante cerca de ano e meio escreveu regularmente para a Charlton Comics, onde foi apadrinhado pelo lendário editor Dick Giordano. O mesmo que, quando, em 1968, se mudou de armas e bagagens para a DC Comics, levou consigo um grupo de promissores freelancers, entre os quais Dennis O'Neil.

Thunderbolt foi um dos títulos escritos por O'Neil
 durante a sua passagem pela Charlton Comics.
Ao entrar pela primeira vez na sede da DC, Dennis O'Neil e os seus antigos colegas da Charlton sentiram-se transportados para o passado. Mais precisamente para o interior de uma fotografia tirada em plena década de 50. O vestuário informal dos recém-chegados contrastava flagrantemente com o aprumo dos que lá trabalhavam. Enquanto estes usavam gravatas sobre camisas de um branco imaculado, os primeiros cultivavam um visual hippie, com cabelos compridos e roupas de cores berrantes. Apesar desse choque geracional, a convivência entre as duas tribos foi relativamente pacífica.
Com as vendas em declínio, a DC apostava em sangue novo para recuperar o terreno perdido para a concorrência capitaneada por Stan Lee. A palavra de ordem era "inovar": à criação de novas personagens, deveriam somar-se as abordagens ousadas às consagradas.
Em linha com essas diretrizes, O'Neil começou por assumir os enredos de Beware the Creeper.  Nessa nova série mensal os leitores travaram conhecimento com The Creeper, um bizarro herói acabadinho de sair da prodigiosa imaginação de Steve Ditko (2) e que, no Brasil, ficaria conhecido como Rastejante. A prova de fogo de O'Neil aconteceria, porém, nas páginas de Wonder Woman. E não se pode dizer que ele a tenha superado com distinção.
Em articulação com o artista Mike Sekowsky, O'Neil despojou a Mulher-Maravilha dos seus poderes e uniforme, tornando-a uma amazona proscrita no mundo dos homens. Sob a orientação de um guru cego chamado I Ching, Diana, qual James Bond de saltos altos, vestiria nessa controversa fase a pele de uma agente secreta constantemente enredada em intrigas internacionais. Alterações que não caíram bem junto dos fãs daquela que é a maior heroína do Universo DC, especialmente entre os da velha guarda e os que professavam o feminismo. Dito de outro modo, o tiro saiu pela culatra. Em vez de atrair novos leitores, a pouco ortodoxa abordagem de O'Neil à Princesa Amazona serviu apenas para enxotar mais uns quantos.


O início da polémica fase da Princesa Amazona
que trouxe amargos de boca a O'Neil.
Felizmente, as coisas correram-lhe um pouco mais de feição no outro título cujas histórias assumira em simultâneo. Ao introduzir temas políticos e sociais em Justice League, de uma penada O'Neil cativou um público mais maduro e testou uma fórmula que se revelaria de sucesso em Green Lantern/Green Arrow, a série que o consagraria. Causaria, porém, algum burburinho a sua decisão de desfalcar  a Liga da Justiça da Mulher-Maravilha e do Caçador de Marte, dois dos seus membros fundadores. Uma vez mais, nada voltaria a ser igual após a passagem de O'Neil. Como ficaria bem demonstrado no seu próximo projeto.
Tendo como ponto de partida a redefinição do visual do Arqueiro Verde levada a cabo, meses antes, por Neal Adams em The Brave and the Bold, Dennis O´Neil virou do avesso a vida do herói. De playboy milionário com síndrome de Robin dos Bosques, Oliver Queen passou a vigilante urbano falido e com tendências esquerdistas.
Sempre imbuídas de uma forte consciência social, as histórias do Arqueiro Verde depressa se tornaram a nova coqueluche da DC, vendendo como pãezinhos quentes. E culminando com a sua inclusão em Green Lantern/Green Arrow, título que, desde a Idade do Ouro, tinha como único cabeça de cartaz o Lanterna Verde, agora obrigado a dividir o palco com outro justiceiro em tons esmeralda.
Esta aclamada fase do Arqueiro Verde teria como ponto alto a história Snowbirds Don't Fly, publicada nos números 85 e 86 de Green Lantern/Green Arrow.
Numa altura em que o consumo de drogas ilícitas fora apontado como o inimigo nº1 dos EUA pelo presidente Nixon, os leitores foram surpreendidos pela revelação de que Roy Harper (vulgo Speedy/Ricardito), o jovem protegido e parceiro de Oliver Queen no combate ao crime era, afinal, um heroinómano. Provavelmente a melhor história de sempre do Arqueiro Verde, foi aplaudida de pé pela crítica e valeu uma mão cheia de prémios aos seus autores (ver texto seguinte).

A chocante revelação sobre a toxicodependência de Roy Harper
em Green Lantern/Green Arrow nº85 (1971).
Fama e glória que, como o próprio admitiria mais tarde, teve efeitos nocivos na vida de Dennis O'Neil: «Da noite para o dia, vi-me arrancado da total obscuridade e colocado debaixo dos holofotes mediáticos. O meu nome passou a aparecer em jornais como o The New York Times e choviam convites para participar em talk shows. Claro que toda essa exposição mexeu com a minha cabeça. Tornei-me uma pessoa diferente; uma pessoa que, olhando para trás, reconheço que nunca deveria existido. Por causa dela, deteriorei o meu casamento, perdi amizades e adquiri maus hábitos. Foram tempos complicados em que, a bem dizer, apenas me conseguia relacionar com a minha máquina de escrever.»
Ainda em 1971 deu-se outra importante mudança na carreira de Dennis O'Neil. Supervisionado por Julius Schwartz, assumiria nesse ano as histórias do Batman. A interpretação que fez do herói, retratando-o como um indivíduo obsessivo-compulsivo e ávido de vingança, devolveu-o às suas raízes e viria a influenciar todas as suas versões subsequentes. De The Dark Knight Returns a Batman: Year One, passando por Batman: The Killing Joke, a todas a obra de O'Neil serviu de matriz. Até porque foi ele o primeiro a estudar a fundo a psique da personagem. Concluindo, entre outras coisas, que era Bruce Wayne quem servia de disfarce ao Cavaleiro das Trevas, e não o inverso.
Além de um sortido memorável de sagas do Homem-Morcego, a dupla criativa composta por Dennis O'Neil e Neal Adams (entretanto reunida) introduziu novos vilões e revitalizou outros. Assim, ao mesmo tempo que surgiam R'as e Talia al Ghul (esta última criada a meias com o artista Bob Brown), o Joker e o Duas-Caras recuperavam protagonismo no microcosmos do Batman. Cuja popularidade entre os leitores disparou em flecha, após anos de estiolamento narrativo que o haviam descaracterizado.

O regresso do Joker foi um dos pontos altos fase do Batman
 produzida pela Dupla Dinâmica Dennis O'Neil/ Neal Adams
Apostado em dar um novo elã aos títulos do Super-Homem, Julius Schwartz, recém-nomeado seu editor, considerou Dennis O'Neil a escolha natural para escrever essa nova fase do herói. Entre as diversas alterações introduzidas nesse período à mitologia do Homem de Aço  - desenhado ainda pelo eterno Curt Swan(3) - , a mais surpreendente foi a  eliminação da kryptonita e, por inerência, da sua maior fraqueza.
Paralelamente, O'Neil teve ainda tempo e energia para revitalizar duas personagens da Idade do Ouro cuja propriedade intelectual fora entretanto adquirida pela DC: Capitão Marvel/Shazam e O Sombra. A sua maior extravagância seria, contudo, Superman versus Muhammad Ali, álbum gigante lançado em 1978, e  que contou uma vez mais com a arte de Neal Adams. Com este a elegê-lo como a sua colaboração favorita com O'Neil.

Super-Homem versus Muhammad Ali: o combate do século
 e uma das maiores excentricidades da história da DC.
Já não como um escritor novato mas com o rótulo de celebridade colado à pele, em 1980, após uma década ao serviço da DC, Dennis O'Neil regressou à Casa das Ideias. Fê-lo pela porta grande mas sem qualquer intenção de dormir à sombra dos louros. Ao longo dos cinco anos que por lá ficou, deixou a sua impressão digital nos diversos títulos cujas tramas lhe foram confiadas. Em Iron Man, por exemplo, ressuscitou o demónio na garrafa que tanto havia atormentado Tony Stark ao mesmo tempo que presenteava o herói com a icónica armadura de Centurião Prateado.
Seria, porém, enquanto editor de Daredevil que O'Neil alcançaria o seu maior mérito. Mal assumiu o cargo, tratou logo de se desenvencilhar do argumentista Roger McKenzie para que Frank Miller pudesse escrever e desenhar as aventuras do Homem Sem Medo. Decisão que o à época editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, classificaria como determinante para evitar o mais do que expectável cancelamento de uma série que estrebuchava nas águas pantanosas em que caíra.
Apesar dessa sua intervenção providencial, Dennis O'Neil tinha uma visão muito própria do seu papel enquanto editor. Se dele dependesse, o seu trabalho seria invisível para os leitores e o seu nome não surgiria creditado nas histórias por ele editadas.
Até o Homem Sem Medo deve a sua sobrevivência a Dennis O'Neil.

De volta à DC em 1986, Dennis O'Neil passaria a acumular as funções de escritor e editor dos títulos do Batman até 2000. Sob a sua batuta, o Cavaleiro das Trevas voltaria a viver dias de glória. Seria nessa fase que despontariam obras capitais como Knightfall (A Queda do Morcego), Batman: Sword of Azrael (A Espada de Azrael) ou Batman: Birth of Demon (Batman: O Nascimento do Demónio). Todas elas saídas da pena de Dennis O'Neil, todas elas momentos definidores na vida do herói.
Embora sempre sob o signo do morcego, O'Neil seria igualmente responsável pelas histórias do Questão, que fizeram furor no início da década de 1990, e coautor da saga  Armageddon 2001 (4).

The Sword of Azrael foi um dos êxitos que marcou
 o regresso de Dennis O'Neil à Editora das Lendas.
Alquimista das letras, as proezas literárias de Dennis O'Neil não se circunscrevem à banda desenhada. Com uma extensa obra publicada, o seu repertório inclui vários romances, contos e guiões televisivos. São também da sua autoria as novelizações dos filmes Batman Begins e The Dark Knight.
Em finais dos anos 1990, O'Neil, sempre em busca de novos desafios, aventurou-se no ensino. Na prestigiada School of Visual Arts, sediada em Manhattan, ministrou um curso de escrita criativa direcionado para os comics. Como assistente teve John Ostrander, seu colega de ofício e velho conhecido da Editora das Lendas.
Casado com Marifran O'Neil, sua companheira desde os tempos de juventude, Dennis é pai do cineasta Lawrence O'Neil notabilizado pelo seu filme de 1997, Breast Men.
Afastado dos quadradinhos a que esteve ligado durante mais de quatro décadas, divide atualmente o seu tempo entra a vida familiar e as suas responsabilidades como diretor da The Hero's Initiative. Rede de beneficência que presta auxílio financeiro e cuidados médicos a antigos profissionais dos quadradinhos cujas vidas, por um motivo ou por outro, saíram dos eixos.
Julgando por este gesto de enorme generosidade e humanismo, o brilho da carreira deste grande senhor da 9ª Arte só empalidece perante o do seu coração de ouro.

Dennis O'Neil e Neal Adams (esq.) lado a lado
 num painel de conferências na Comic Con de San Diego.

1) Perfil de Neal Adams disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2014/06/eternos-neal-adams-1941.html

2) Perfil de Steve Ditko disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/03/eternos-steve-ditko.html

3) Perfil de Curt Swan disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/07/eternos-curt-swan-1920-1996.html

4) Leiam aqui a resenha de Armagedoon 2001 http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/05/do-fundo-do-bau.html

Prémios e distinções: Lenda viva da 9ª Arte, Dennis O'Neil desde cedo obteve o reconhecimento da indústria dos quadradinhos. Rendido à sua sofisticação narrativa, logo na edição inaugural do concurso, em 1970, o júri dos Shazam Awards distinguiu-o com três desses cobiçados galardões. Para quem não sabe, são o equivalente bedéfilo dos Óscares da Academia de Hollywood.
Pelo primoroso trabalho desenvolvido em Green Lantern/Green Arrow, O'Neil venceu nas categorias de melhor escritor, melhor história individual e melhor série regular. Dividindo o prémio nestas duas últimas com Neal Adams, seu parceiro criativo no título que basculou ambos ao estrelato. Cenário que se repetiria no ano seguinte quando a parelha arrecadou novo Shazam Award por conta de Snowbirds D'ont Fly, ainda hoje considerada uma das melhores histórias alguma vez produzidas com a chancela da DC.
Nesse memorável ano de 1971, Dennis O'Neil conquistou ainda dois Goethe Awards, novamente na categoria de melhor escritor e de melhor história individual e, uma vez mais, a meias com Neal Adams neste último segmento. Um par de anos volvidos, em 1973, O'Neil seria outra vez nomeado para melhor escritor, mas dessa feita não teve de arranjar espaço na prateleira lá de casa pois voltou de mãos a abanar. Algo que não aconteceria em 2014, quando viu a sua fulgurante carreira distinguida por um Eisner Award.
A maior honraria a adornar o seu invejável currículo foi-lhe, no entanto, concedida em 1985. Ano em que a DC incluiu o seu nome em Fifty Who Made DC Great, livro de ouro que pretendia render homenagem à meia centena de individualidades cujo contributo mais engrandeceu a Editora das Lendas.

Dennis O'Neil exibe o Eisner Award  que lhe foi atribuído em 2014.

Notas finais:

*Dennis O'Neil, Archie Goodwin e Mike Carlin foram três dos antigos editores da DC a serem parodiados em The Batman Adventures, título mensal baseado na série televisiva Batman: The Animated Series, cuja publicação se iniciou em 1992.
Nas histórias eles eram apresentados como um bando de supervilões desastrados liderados pelo imperturbável The Perfesser. Suposto génio do crime inseparável do seu cachimbo e propenso a engendrar as mais mirabolantes golpadas, a pitoresca personagem servia de avatar a Dennis O'Neil.
Sempre absorto em pensamentos, The Perfesser esquecia-se amiúde de transmitir informações vitais aos seus cúmplices para a execução dos golpes que ele próprio arquitetava. Mesmo sem a interferência do Cruzado Encapuzado, os planos da quadrilha iam muitas vezes por água abaixo devido à incompetência do seu líder. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando após planeamento minucioso do assalto a um hotel, ao chegarem ao local os três patetas depararam-se com um edifício vazio e sem nada para roubar. Tudo porque The Perfesser, do alto da sua infinita sabedoria, se tinha esquecido que o mesmo fora abandonado há uma dúzia de anos...

The Perfesser, o génio do crime que parodiava
 Dennis O'Neil em The Batman Adventures.

No entanto, apesar da sua aparente inépcia, The Perfesser provou, em pelo menos uma ocasião, ser mais inteligente do que o próprio Batman. Desafiados a decifrar um intrincado enigma em três partes fornecido pelo Charada, levou a melhor sobre o pretenso melhor detetive do mundo;
* Num registo mais sério, em 2008 Dennis O'Neil emprestou a sua voz aos comentários incluídos na edição em DVD de Batman: Gotham Knight, antologia de seis curtas-metragens do Homem-Morcego produzidas ao estilo anime.
* Na sua segunda passagem pela Marvel, na primeira metade da década de 80 do século passado, Dennis O'Neil esteve diretamente envolvido na conceção dos Transformers. É-lhe, de resto, atribuída a escolha do nome Optimus Prime, líder dos Autobots;
*Sob o pseudónimo Jim Dennis, O'Neil escreveu várias novelas protagonizadas por Richard Dragon, um mestre das artes marciais, transformado em personagem de BD pela DC, a partir de 1974;
*Entre o extenso rol de personagens criadas por Dennis O'Neil ao longo da sua vetusta carreira, algumas tornaram-se proeminentes na mitologia das respetivas licenciadoras. Casos, por exemplo, do Lanterna Verde John Stewart e de Arzael na DC, ou Madame Teia e Obadiah Stane (vulgo Monge de Ferro) na Marvel.
*Foi também o "arquiteto" do famigerado Asilo Arkham, instituição psiquiátrica destinada a acolher criminosos demenciais, como o Joker, o Espantalho e tantos outros.


John Stewart (cima) e Monge de Ferro,
 duas das mais carismáticas personagens criadas por Dennis O'Neil.

06 outubro 2016

GALERIA DE VILÕES: JOKER



   De vilão descartável decalcado de uma grotesca personagem do cinema mudo a arqui-inimigo do Batman ligado a vários dos momentos mais trágicos da vida do herói. Assim se poderia resumir a escabrosa história do Príncipe Palhaço do Crime, sempre pronto a matar com um sorriso nos lábios. Não fosse o mistério em redor da sua origem e a sua personalidade anárquica fazerem dele um enigma indecifrável até para o melhor detetive do mundo. 

Denominação original: The Joker (inicialmente batizado de Galhofeiro pela Ebal, seria como Coringa que a personagem se notabilizaria em Terras Tupiniquins)
Licenciador: Detective Comics (DC)
Primeira aparição. Batman nº1 (junho de 1940)
Criadores: Bill Finger (história)  e Bob Kane / Jerry Robinson (arte conceptual) 
Identidade civil: Desconhecida
Local de nascimento: Desconhecido
Parente conhecidos: Jeannie (possível esposa falecida), Loonie Machin/Anarquia (possível filho ) e Melvin Reipan (primo falecido)
Afiliação: Líder e fundador da Liga da Anarquia do Joker, membro fundador da Liga da Injustiça e ex-membro do Gangue da Injustiça
Base de operações: Gotham City
Armas, poderes e habilidades: Embora desprovido de superpoderes, o Joker possui uma fisiologia única em consequência do banho químico que originou a sua transformação. Além da coloração da sua pele, cabelo e lábios lhe conferir a aparência de um palhaço diabólico, nas veias do vilão corre sangue venenoso. Sendo ele, contudo, imune não só ao próprio veneno como a uma gama de outras substâncias tóxicas.
Presumivelmente por causa dessas singularidades fisiológicas, o eterno némesis do Batman denota uma elevada resistência à dor física. Facto que, em certa medida, ajuda a compreender a sua natureza masoquista. Não raro, o Joker parece desfrutar das tareias que lhe são aplicadas pelo Cavaleiro das Trevas ou por algum dos seus acólitos. Resultando, por isso, inútil o recurso à violência como meio de travar as suas velhacarias.
Descrito desde sempre como um génio fora-da-lei, o Joker rivaliza em inteligência com o Batman. Particularmente dotado nas áreas da química e da engenharia, possui também créditos firmados como perito em explosivos. Disfarce e escapismo são outras das suas especialidades, o que explica a imensa facilidade com que o vilão constantemente se evade do Asilo Arkham (instituição psiquiátrica destinada a acolher criminosos  insanos).
A despeito da sua compleição franzina, o Palhaço do Crime em diversas ocasiões demonstrou ser um lutador hábil. Chegando mesmo a derrotar o Homem-Morcego no mano a mano sem recurso a trapaças. À sua agilidade felina o vilão alia um estilo de combate caótico que confunde os adversários, fazendo-os baixar a guarda. Quando isso não basta, o Joker não hesita em lançar mão à sua vasta parafernália de acessórios. Dentre os quais se destacam - citando apenas os mais icónicos - os charutos explosivos, as flores que esguicham ácido ou os botões de choques elétricos na palma da mão. Todos eles inspirados em partidas inofensivas, todos eles altamente letais.

Vai um passou-bem? 
Na execução dos seus planos tresloucados e genocidas, o Flagelo de Gotham é frequentemente adjuvado no terreno por chusmas de lacaios por ele encarados como carne para canhão. Outra coisa que não dispensa nas suas campanhas de caos e destruição é o seu arsenal de destruição em massa onde pontificam todo o tipo de bombas (incluindo nucleares).
No entanto, a coqueluche do seu arsenal é, sem sombra de dúvida, o terrífico Gás do Riso (também designado como Veneno do Joker). Trata-se de uma substância altamente tóxica e letal que, quando inalada, ingerida ou inoculada, provoca o riso compulsivo nas suas vítimas que assim morrem literalmente de tanto rir. O Gás do Riso serviu, de resto, como cartão de visita do Palhaço do Crime na sua primeira aparição.
Em resposta ao poder de fogo e à sofisticação tecnológica do Batmobile, ao longo dos anos o Joker concebeu três modelos do seu espampanante Jokermobile (Coringa-móvel, no Brasil). Equipado com metralhadoras à frente e à retaguarda, o primeiro desses veículos era à prova de bala e servia de meio de transporte ao vilão nos seus fulminantes raides em Gotham City.
Considerado demasiado lamechas, o Jokermobile seria retirado de circulação pelo Palhaço do Crime logo no início do seu tumultuoso relacionamento com a Arlequina*.

*Prontuário da personagem disponível em: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/05/nemesis-arlequina.html

Abram alas para o Jokermobile!

Conceção: Persistem até hoje muitas dúvidas quanto à "paternidade" tripartida do vilão que viria a tornar-se o maior inimigo do Batman e um importante ícone da cultura popular. Creditados como autores do Joker, Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson apresentaram em vida narrativas díspares relativamente ao processo de conceção de tão fascinante personagem.
Com efeito, o único ponto em que todos eles convergiam é que Finger usou uma estampa do ator Conrad Veidt como modelo para o visual do Príncipe Palhaço do Crime. Coprotagonista de The Man Who Laughs (O Homem Que Ri), Veidt interpretava nessa produção do cinema mudo datada de 1928 Gwynplaine, um aleijão com um tétrico sorriso entalhado na face. Observando as primeiras representações gráficas do Joker, saltam à vista desarmada as semelhanças entre ambos. Sendo portanto este um facto inconteste.
Jerry Robinson sempre alegou, no entanto, que essa não teria sido a única fonte de inspiração do trio na hora de definir o figurino do Joker. Até exalar o seu último suspiro em 2011, Robinson jurou a pés juntos ter partido dele a ideia para a aparência da personagem destinada a apadrinhar o número inaugural da primeira série regular do Homem-Morcego em 1940. Segundo ele, o conceito final resultou da combinação da grotesca figura de Gwynplaine com o seu esboço de uma carta de jogar com a efígie de um Coringa (não necessariamente por esta ordem, como mais abaixo se perceberá).

Sketch of a playing card with a grinning Joker

A young man looks away from the camera with a stretched-wide smile
A carta desenhada por Jerry Robinson
e Conrad Veidt como Gwynplaine.
 .
Versão categórica e repetidamente desmentida por Bob Kane. Em entrevista concedida no ano de 1994 ao jornalista Frank Lovece, o também cocriador de Batman foi perentório: «O Joker foi uma criação minha e de Bill Finger. Certo dia, Bill mostrou-me um livro com a fotografia de Conrad Veidt caracterizado como Gwynplaine, apontou para ela e disse-me: "Aqui temos o Joker!" Em seguida, ele escreveu a história e eu fiz os esboços. Só depois o Jerry me mostrou uma carta com um Coringa que ele havia desenhado. A qual concordámos usar nas primeiras aparições da personagem. Nada mais do que isso. Por mais que afirme o contrário, Jerry Robinson não teve rigorosamente nada a ver com a criação do Joker. E ele sabe-o.»
Declarações que chocam de frente com a versão dos acontecimentos fornecida em 2009 numa das últimas entrevistas dadas em vida por Jerry Robinson. Fica aqui o seu depoimento na primeira pessoa, para que tirem as vossas próprias conclusões: "O Joker surgiu devido à necessidade de mais histórias para alimentar o novo título mensal do Batman. A ideia para o nome surgiu-me por causa do baralho de cartas que na altura costumava trazer comigo. Em vez de um gângster clássico, tinha em mente uma figura exótica. Uma cujo visual fosse simultaneamente bizarro e intimidante ao ponto de não deixar ninguém indiferente. E que fosse capaz de pôr à prova as capacidades do herói. Alguém que estivesse para o Batman como o Professor Moriarty está para Sherlock Holmes. Logo na primeira reunião que tive com Bill Finger e Bob Kane, mostrei-lhes o meu esboço da carta do Coringa. Bill comentou que ela lhe fazia lembrar Conrad Veidt em The Man Who Laughs. Foi essa a sequência dos acontecimentos. Só depois de eu ter mostrado o meu projeto para o visual da personagem é que Bill fez referência a Gwynplaine. Bill usou a minha ideia para escrever a história de estreia do Joker. Eu e Bob desenvolvemos o visual da personagem. Todos estivemos, portanto, envolvidos no processo criativo.»


Desde a sua estreia em Batman nº1 (1940)
que o Joker revelou a sua natureza psicótica e homicida.

Apesar dos veementes desmentidos de Bob Kane (conhecido pela sua irredutibilidade em dividir os créditos de algumas das suas criações), Jerry Robinson viu vários estudiosos da 9ª Arte confirmarem o seu contributo na conceção e desenvolvimento do Joker. Tese que continua, porém, a ser posta em causa por outros especialistas. Tão insanáveis como estas contradições foram as divergências que ditaram o corte de relações entre mestre e pupilo.
Na altura um mancebo de 17 anos, Jerry Robinson conhecera Bob Kane em 1939 quando este, impressionado com o seu talento, o contratara para seu assistente. Ao cabo de alguns meses a trabalhar como letrista e arte-finalista, Robinson foi o escolhido para assumir a arte da novíssima série regular do Homem-Morcego. Tendo sido nessa qualidade que foi chamado a participar na conceção do principal antagonista do herói.
Escapando ao fogo cruzado entre Kane e Robinson, Bill Finger optou por manter-se sempre à margem da polémica em redor do contributo de cada um deles na criação do Joker. Ainda que muitos vissem nele a chave para o mistério, limitou-se a admitir certa vez que, além da foto de Conrad Veidt, se baseara também numa imagem que vira em tempos num parque de diversões de Coney Island (Nova Iorque), a qual fazia lembrar a cabeça de um palhaço sinistro. Tratar-se-ia de uma pista, de uma tomada de posição ou de uma mera trivialidade?
A resposta, essa, Bill Finger levou-a consigo para o túmulo em 2011. Numa daquelas amargas ironias em que é pródigo, quis o Destino que esse fosse o ano em que a 9ª Arte se enlutaria devido ao desaparecimento de enfiada dos três criadores do Palhaço do Crime. Para trás ficou uma charada aparentemente insolúvel. Tão insolúvel quanto o próprio Joker que, qual Esfinge do mundo moderno, mata quem o não consegue decifrar.

Da esq. para a dir.: Bill Finger, Bob Kane
e Jerry Robinson, três imortais da 9ª Arte.
Evolução: Eis um dado surpreendente para muito boa gente: apesar do forte impacto que viria a ter no microcosmos do Homem-Morcego - e, a bem dizer, em todo o Universo DC - o Joker foi criado com um prazo de validade muito curto. Era suposto não ter sobrevivido para além do primeiro número de Batman. A explicação é simples: Bill Finger receava que a presença recorrente de um vilão nas histórias do herói o fizesse parecer inepto aos olhos dos leitores.
Destinado a sucumbir com o coração trespassado por um punhal, a morte do Joker chegou mesmo a ser desenhada. Valeu pois a intervenção providencial do então editor do Cruzado Encapuzado, Withney Ellsworth, que ordenou a inclusão de um painel adicional mostrando que o vilão continuava vivo. Assim se evitou o que teria sido seguramente um erro histórico.

O desfecho trágico do primeiro embate entre o Batman
 e o Joker seria emendado à última hora.
Retratado como um serial killer impiedoso e amoral que matava sempre com um sorriso nos lábios, o Palhaço do Crime marcaria presença em nove das primeiras doze edições de Batman. Desta sua assiduidade na série adviria o seu estatuto de arqui-inimigo do herói e, mais tarde, da Dupla Dinâmica (após o surgimento de Robin).
Já com largas dezenas de mortes no currículo, o Joker viu no entanto ser aplacada a sua compulsão homicida quando a DC entendeu que poderia aumentar as vendas da sua linha de super-heróis se a direcionasse para o público infantil. Fruto dessa nova estratégia comercial da editora, ainda na chamada Idade de Ouro dos comics o vilão passou gradualmente de assassino de sangue-frio a histrião inofensivo. Ou, se preferirem, de ameaça a anedota...
Outro fator que concorreu para essa transfiguração foi o estabelecimento, em 1954, do Comics Code Authority. Surgido em resposta às acusações feitas pelo psiquiatra alemão Fredric Wertham no seu livro Sedução dos Inocentes (publicado nesse mesmo ano em terras do Tio Sam) de que os quadradinhos eram responsáveis, entre outros flagelos sociais, pelo aumento da violência e delinquência juvenil, o código pretendia regular os conteúdos neles publicados. Em linha com esse objetivo, foram terminantemente proibidas as cenas escabrosas - herdadas da literatura pulp - que envolvessem sexo ou violência excessiva. Escusado será dizer que uma personagem com as idiossincrasias do Joker jamais passaria no crivo dos censores.

O Joker domesticado da Idade de Prata dos comics.
A partir de 1964, ano em que Julius Schwartz assumiu o cargo de editor dos títulos do Batman, o Joker começou a aparecer com cada vez menor frequência nas histórias da Dupla Dinâmica. Schwartz não fazia segredo da sua antipatia pela personagem e quase a sentenciou ao ostracismo. Do qual o Palhaço do Crime foi salvo graças ao carisma da sua versão televisiva interpretada por Cesar Romero na série Batman, exibida originalmente no biénio 1966-68 (ver Noutros media).
O enorme êxito da série não evitou, contudo, o declínio das vendas das revistas da Dupla Dinâmica. Apostado em inverter essa tendência, Carmine Infantino(1) sucedeu a Julius Schwartz e logo tratou de amenizar o registo infantil (e apatetado) que vinha pautando as histórias de Batman e Robin. Embora longe ainda das suas raízes de maníaco homicida, o Joker readquiriu nessa fase um certo grau de perigosidade, passando a cometer crimes mais elaborados e a dar mostras do seu sórdido sentido de humor. Receita insuficiente, ainda assim, para evitar a sua queda na obscuridade.
Após quatro anos fora do radar, a Ameaça Risonha voltaria a dar um ar da sua (des)graça em 1973. Revivido - e redefinido-  pela dupla composta pelo escritor Dennis O'Neil e pelo ilustrador Neal Adams (2), o vilão não só foi parcialmente devolvido às suas origens, como viu a sua insanidade mental confirmada (como se dúvidas houvesse quanto a ela). Assim se explicando a opção por enfiá-lo numa cela acolchoada do Asilo Arkham em vez de mandá-lo para trás das grades de uma qualquer prisão. A própria fisionomia da personagem foi retocada nesta fase. Neal Adams dotou o Joker de uma silhueta mais esguia e de um rosto mais afilado, duas características que se tornariam sua imagem de marca daí em diante.
Recuperado o fulgor de outros tempos, em 1975 o Joker foi o primeiro vilão a dispor de uma série mensal em nome próprio. Apesar do insucesso da iniciativa editorial (foram lançados somente nove fascículos), ao longo do resto da década, o Palhaço do Crime tornar-se-ia uma das figuras de proa da Editora das Lendas.
Na esteira do aclamado trabalho de O'Neill e Adams, a equipa criativa que lhes sucedeu (constituída por Steve Englehart e Marshall Rogers) enfatizou ainda mais a natureza psicótica do Joker, conferindo frequentemente um toque surreal às suas maquinações. De caminho a personagem teve o seu figurino enriquecido, sendo-lhe acrescentando  um sobretudo púrpura e um elegante chapéu a condizer.

O estilo dândi do Palhaço do Crime
 da Idade de Bronze dos quadradinhos.
Mais janota do que nunca e em consonância com o processo de adultização do Universo DC encetado no início da década de 1980, o Joker tornar-se-ia mais sombrio e violento. Depois de, em The Dark Knight Returns (1986), ter sido retratado como uma celebridade deprimida devido ao desaparecimento do seu ódio de estimação, o Joker ficaria para sempre ligado a dois dos momentos mais trágicos na vida do Batman: a morte do Robin Jason Todd em Death in the Family (3)  e o estropiamento de Barbara Gordon em The Killing Joke (4).
No entanto, dificilmente alguma versão pregressa do Joker terá sido tão sádica e assustadora como aquela que em 2011 foi apresentada em The New 52. Enquanto o escritor Scott Snyder explorava a sua relação simbiótica com o Batman, Greg Capullo dotou-o de um visual que apenas poderá ser descrito como aterrador. Em vez do seu tradicional aprumo, o vilão apresentava-se agora sujo e desgrenhado por conta da missão de que se autoinvestira (levar a desarmonia e a desconfiança ao seio da Bat-Família). Removido cirurgicamente, o seu rosto converteu-se  numa máscara de pele morta presa à cabeça com recursos a ganchos e arames. Um verdadeiro pesadelo de arrepiar!
Dado como morto no final da saga Endgame (2014), o Joker seria ressuscitado, já este ano, no âmbito de Rebirth, o mais recente reboot do Universo DC. Para assombro de muitos leitores, foi anunciado que, ao longo de todo este tempo, terão sido, afinal, três os homens a assumir o legado do Palhaço do Crime. E, à laia de bónus, está prometida para breve a revelação do verdadeiro nome do vilão. Arriscam um palpite? Ou preferem esperar para ver?

O lifting malsucedido do Joker em Os Novos 52.

1 e 2) Perfis disponíveis em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/06/eternos-carmine-infantino-1925-2013.html e  http://bdmarveldc.blogspot.pt/2014/06/eternos-neal-adams-1941.html
3 e 4) Resenhas alargadas das sagas em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/12/do-fundo-do-bau-morte-de-robin.html e http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/09/classicos-revisitados-piada-mortal.html


Quem é, afinal, o Príncipe Palhaço do Crime?
O mistério subsiste, como verão no texto seguinte.
Possíveis origens: Ao deixarem em aberto o passado do Joker, os seus criadores rodearam a personagem de uma densa aura de mistério. Alan Moore, Grant Morrison e Paul Dini foram alguns dos argutos escribas que se esforçaram por desvendá-lo. Todos eles tentaram, em vão, resolver uma complexa equação composta por múltiplas variáveis e incógnitas. E apenas uma constante: a obsessão do Palhaço do Crime com o Batman, de quem se assume como antítese perfeita. Esse é, de facto, o único denominador comum no caleidoscópio de versões, mais ou menos críveis, que foram sendo apresentadas ao longo do tempo.
De vítima de um pai alcoólico e abusivo a bobo da corte de um faraó egípcio, foram várias as possibilidades exploradas para estabelecer a origem do Joker. Nenhuma delas trouxe, porém, à superfície a sua verdadeira história.
Quem mais dela se terá acercado foi Alan Moore em A Piada Mortal (1988). Baseando-se num primeiro ensaio realizado em 1951 por Bill Finger, o escritor britânico apresentou o homem predestinado a ser o inimigo figadal do Cavaleiro das Trevas como um comediante fracassado que pagou um preço elevado pelas suas más escolhas.
Reinterpretando essa premissa, em Case Study (2003) Paul Dini descreveu o sinuoso percurso de um delinquente sádico chamado Capuz Vermelho até à sua transformação no Joker. Numa abordagem inovadora à psique do vilão, era sugerido que a sua aparente insanidade mental era na verdade um subterfúgio para escapar à pena capital.
Importa, contudo, ter presente que essas histórias têm geralmente o próprio Joker como narrador, o que equivale a percorrer um labirinto armadilhado vendado e levado pela mão por um amnésico. Ou, parafraseando o Batman: "Como qualquer comediante, ele serve-se do material que mais lhe convém para prender a atenção da plateia."


Alguém se atreve a ler-lhe os pensamentos?
Quem o fez nunca mais foi o mesmo.
Personalidade e relacionamentos: Na minissérie Underworld Unleashed (1995-96), o Trapaceiro refere que quando os supervilões querem pregar sustos uns aos outros, contam histórias do Joker. Com efeito, a natureza imprevisível e sanguinária do Palhaço do Crime faz dele uma das personagens mais temidas do Universo DC. Reputação robustecida pelo facto de ele ter sido um dos dois inimigos do Cavaleiro das Trevas (o outro foi o Máscara Negra) a tirar a vida a um dos seus jovens escudeiros. Mesmo aos olhos dos seus pares, o Joker é, por conta dessa e de outras macabras façanhas, a personificação do Mal. Não sendo por isso de admirar que os outros criminosos optem normalmente por manter uma distância prudente em relação a ele.
Não obstante, quando as circunstâncias assim o justificam, o Palhaço do Crime não tem pejo em unir forças com outros supervilões, especialmente se o Batman for um inimigo comum. Quase sempre, no entanto, essas alianças pontuais dão para o torto devido à propensão do Joker para o caos e a anarquia. A única exceção foi mesmo a Arlequina que, durante uma temporada, foi sua amante e parceira no crime.

Joker & Arlequina: amor entre desalinhados.
Ainda que ao longo dos anos tenham sido levadas a cabo inúmeras tentativas para escalpelizar e classificar a demência do Joker, continua por fazer um diagnóstico consistente. Existem contudo fortes indícios de que a mesma resultará da amálgama de um extenso catálogo de psicopatologias presidido pela psicopatia violenta, sadismo, niilismo e narcisismo.
No entanto, embora a insanidade mental do Joker seja consensual, em Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth (história saída da pena de Grant Morrison em 1989), é sugerido que o vilão possuirá na verdade algum de tipo de perceção extrassensorial extremamente apurada que lhe permite ver o que mais nenhum ser humano consegue.
A validar esta proposição, o facto de, em diversas ocasiões, ele ter revelado perfeita consciência de que é uma personagem de banda desenhada, chegando mesmo a interpelar diretamente os leitores. Na história em causa é igualmente sugerido que ele será destituído de personalidade própria, limitando-se, ao invés, a escolher aquela que mais lhe convém num determinado momento. Dessa suposta resiliência emocional resulta uma personalidade poliédrica onde coabitam facetas tão distintas como a do galhofeiro inofensivo e a do maníaco homicida.
Por fim, importa salientar que, apesar de ter no Batman a sua obsessão primária, o Joker já defrontou outras figuras cimeiras do Universo DC, designadamente o Super-Homem e a Mulher-Maravilha.


Louco ou não? Eis a questão.

Curiosidades:

* Em 2008, no arco de histórias Batman: Dead to the Rights, depois de capturado uma vez mais pelo Homem-Morcego, o Joker teve as suas impressões digitais analisadas pela Polícia, que assim esperava conseguir finalmente apurar a sua verdadeira identidade. Tarefa que se revelou infrutífera pois o padrão nas pontas dos dedos do vilão fora eliminado pelo ácido que o desfigurou;
* Dentro da categoria de vilões sem habilidades meta-humanas, o Joker é o detentor do recorde absoluto de mortes. Entre as que ele causou direta e indiretamente, estima-se que o número ascenderá aos milhares;
* Além de Príncipe Palhaço do Crime (The Clown Prince of Crime), Duque Pálido da Morte (The Thin White Duke of Death), Arlequim do Ódio (The Harlequin of Hate), A Ameaça Risonha (The Mirthful Menace), Flagelo de Gotham (Gotham's Scourge) e Ás dos Valetes (Ace of Knaves) são algumas das outras sinistras alcunhas do Joker  (que a todas faz jus).

Duelo (i)mortal entre o Morcego e o Palhaço.

Noutros media: Não obstante o seu fortíssimo impacto cultural (em 2006, por exemplo, a revista Wizard elegeu-o o melhor vilão de sempre), só em 1966 (mais de um quarto de século após a sua criação) a influência do Joker extravasou a banda desenhada. Magistralmente interpretado por Cesar Romero (apesar da recusa do ator em rapar o seu farto bigode), o Palhaço do Crime estreou-se com alarido em Batman, série televisiva que nesse ano começara a ser exibida nos EUA. Foi, como vimos, graças a esta sua participação que o vilão escapou ao ostracismo a que, à época, parecia condenado nos comics.
Com o final da referida série ao cabo de três temporadas (e já depois de ter sido um dos maus da fita nela baseada), nas duas décadas seguintes o Joker marcaria presença numa mão cheia de produções animadas protagonizadas pela Dupla Dinâmica e outras personagens DC. The Adventures of Batman (1968) e The New Adventures of Batman (1977) ajudaram a reforçar a sua notoriedade junto do público infantil.
A consagração definitiva do Joker no panorama audiovisual só aconteceria, porém, em 1989. Ano em que o Batman de Tim Burton aterrou nos cinemas de todo o mundo. Num papel que lhe assentava que nem uma luva, Jack Nicholson encarnou uma versão mais violenta do vilão, que reclamava para si o título de primeiro artista homicida do mundo e que tinha como mantra "Alguma vez dançaste com o Diabo sob o pálido luar?". Outro elemento importante era a sua ligação kármica com o Homem-Morcego. Quando ainda não passava de um jovem meliante chamado Jack Napier, fora ele a assassinar os pais de Bruce Wayne, criando assim o Batman. Que, por sua vez, também seria indiretamente responsável pela criação do seu némesis.
Contudo, devido à morte do Palhaço do Crime em Batman, seria preciso esperar quase uma vintena de anos pelo seu regresso ao grande ecrã. Um regresso feito em grande estilo em The Dark Knight (2008), o segundo capítulo da trilogia do Cavaleiro das Trevas dirigida por Christopher Nolan.
Numa representação de tirar o fôlego, e que lhe valeria a atribuição de um Óscar a título póstumo, Heath Ledger transformou o Joker num arauto do caos e da anarquia. No fundo, tudo o que ele desejava era atear fogo a Gotham City para fazer um glorioso churrasco de morcego.
Apesar do seu papel secundário em Suicide Squad (2016), o Joker de Jared Leto dividiu opiniões. Nesta sua nova versão cinematográfica, o Palhaço do Crime surge retratado como um gângster exótico que mantém uma relação turbulenta com a não menos exótica Arlequina (a quem Margot Robbie empresta o seu corpo escultural).
Acresce a estas trepidantes passagens pelo grande ecrã um extenso rol de participações do Joker em jogos de vídeo e animações com a chancela da DC. Dentre estas, aquela que mais marcou toda uma geração de fãs foi, sem dúvida, Batman: The Animated Series (1992-95). Nela, Mark Hamill (o Luke Skywalker da saga Star Wars)  emprestou a voz àquela que muitos classificam como a mais bem conseguida versão animada do Príncipe Palhaço do Crime. Cujas risadas sinistras continuarão, dentro e fora dos quadradinhos, a ecoar até ao fim dos tempos...

Da esq. para a dir.: Jared Leto, Cesar Romero, Heath Ledger e Jack Nicholson,
4 Ases de Valetes.
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