17 novembro 2016

HERÓIS EM AÇÃO: TOCHA HUMANA



   
   Reminiscência incandescente da Idade de Ouro dos comics, foi um dos arautos da era de maravilhas que deixaram o mundo embasbacado. Sobreviveu às épicas batalhas contra o Príncipe Submarino e aos horrores de uma conflagração planetária, mas não ao desvanecimento do género super-heroico. Resgatado ao oblívio, a glória encalhada no passado, habituou-se a viver à sombra do seu sucessor.

Denominação original: The Human Torch
Criador: Carl Burgos
Licenciador: Timely Comics (1939-49). Atlas Comics (1953-54)  e Marvel Comics (de 1966 ao presente)
Primeira aparição: Marvel Comics nº1 (outubro de 1939)
Identidade civil: James "Jim" Hammond
Local de nascimento: Laboratório do Professor Phineas T. Horton, Brooklyn (Nova Iorque)
Categoria: Androide senciente 
Parentes conhecidos: Tratando-se de um androide, o Tocha Humana não possui verdadeiros vínculos familiares, na aceção biológica do conceito. Ao Professor Horton, seu criador, poderá contudo ser reconhecida a paternidade simbólica daquele que foi o primeiro homem sintético no Universo Marvel. Também Centelha (Toro, no original) foi a dada altura perfilhado pelo herói, que, assim, se tornou pai adotivo do seu adjunto juvenil.
Entre o Tocha Humana e outras formas de inteligência artificial a que a tecnologia do Professor Horton serviu de matriz existem igualmente fortes afinidades. Casos, por exemplo, de Adam II, Volton e, claro, do Visão*.
Afiliação: Agindo sob o disfarce de Jim Hammond nos primórdios da sua longeva carreira de combatente do crime, o Tocha Humana foi paralelamente um agente do Departamento de Polícia de Nova Iorque. Além da já citada parceria heroica com Centelha, ainda na Idade do Ouro, formou temporariamente parelha com Sun Girl, heroína que também lhe serviu de interesse romântico. Seguir-se-ia a fundação dos Invasores**, em conjunto com o Capitão América e o Príncipe Submarino, para travar as forças do Eixo durante a 2ª Guerra Mundial. Regressado ao ativo após longos anos em hibernação, passou pelas fileiras de diversas organizações, como os Vingadores da Costa Oeste ou os Novos Invasores. É atualmente um operacional da SHIELD.
Base de operações: Originalmente, o Tocha Humana tinha em Nova Iorque a sua base operacional. Nos dias que correm está aquartelado em Camp Hammond, o centro de treino da SHIELD para meta-humanos assim batizado em sua homenagem e sediado em Stamford (Connecticut).
Armas, poderes e habilidades: Sem que daí advenha qualquer dano para o seu corpo sintético, o Tocha Humana consegue envolver-se num manto de plasma incandescente. Habilidade que decorre do facto de ele ter cada milímetro de pele recoberto pelas chamadas células Horton. As quais, em contacto com o oxigénio, entram em combustão espontânea. Processo que, inicialmente, o herói não controlava, o que trouxe alguns amargos de boca ao seu criador.
Quando transformado num braseiro ambulante, a energia térmica gerada pelo Mestre do Fogo pode ser canalizada para diversos efeitos, incluindo voar ou disparar rajadas flamejantes que também podem ser concussivas. Importa notar que, no caso das primeiras, a respetiva intensidade oscila entre um simples fogacho e uma irrupção energética equivalente à implosão de uma pequena nova.
Mesmo quando as labaredas provêm de uma fonte externa, o Tocha Humana consegue manipulá-las a seu bel-prazer graças ao seu controlo telecinético sobre a energia térmica ambiental. Antes de sublimar esse talento, nas suas primeiras aparições o herói costumava gritar (!) ordens ao lume. Que, como se de um animal amestrado se tratasse, obedecia aos seus comandos vocais.
Como qualquer ignição, as labaredas geradas pelo Mestre do Fogo alimentam-se de oxigénio, podendo ser extintas com recurso a água, areia, espuma supressora de fogo ou a qualquer outro material clássico de combate a incêndios. Exceto quando as mesmas atingem temperaturas de tal forma elevadas que vaporizam instantaneamente qualquer coisa que entre em contacto com elas.
Durante a Idade do Ouro era comum o Tocha Humana usar o seu corpo incandescente para atravessar paredes, cofres e outros objetos sólidos. Qual míssil humano, conseguia penetrar profundamente no solo ou no casco dos vasos de guerra inimigos na 2ª Guerra Mundial.
Continua, contudo, por aferir a verdadeira extensão dos poderes do herói. Se em determinada ocasião saiu fortalecido de uma explosão termonuclear, noutra quase foi destruído por uma. Certo é que o Tocha Humana, por oposição às suas chamas, consegue sobreviver sem oxigénio. Bastando, para isso, entrar em estase.
Dotado de níveis de força e resistência ligeiramente superiores à média humana por conta da sua fisiologia inorgânica (vide texto seguinte), o Tocha Humana é também um hábil combatente corpo a corpo. Competências de defesa pessoal adquiridas quer pelo treino recebido na Academia de Polícia, quer pelo que lhe foi em tempos ministrado pelo Capitão América.

* Anatomia do Fantasma de Pedra disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/08/herois-em-acao-visao.html
** Prontuário sobre os Invasores em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2015/02/herois-em-acao-invasores.htm

Nem paredes de aço travavam o Tocha Humana.
Fisiologia: Ao ser apresentado ao mundo, no virar da década de 1930, como o primeiro homem sintético da História, o Tocha Humana configurou um caso ímpar no panorama ficcional da época. Não só na banda desenhada mas também na literatura e no cinema. Segmentos culturais onde, até aí, o conceito mais glosado fora o do tradicional robô metálico.
Fazendo amiúde lembrar  um homem de lata, o aspeto dessa figura icónica da ficção científica podia ser mais ou menos antropomorfizado sem, contudo, lograr disfarçar a sua natureza mecânica aos olhos dos leitores e/ou dos espectadores.
Ora. embora composto por materiais inorgânicos, o Tocha Humana é anatomicamente idêntico a um ser humano do sexo masculino. Toda a sua fisiologia reproduz, aliás, até ao mais ínfimo pormenor, a de um homem de carne e osso.
Além de todo um conjunto de órgãos internos artificiais, o androide dispõe igualmente de um sistema circulatório. O sangue sintético do Tocha Humana corresponde, de resto, a uma das suas características fisiológicas mais admiráveis. Não só porque é compatível com todos os fenótipos catalogados (incluindo mutantes) mas, sobretudo, pelas suas reconhecidas propriedades regenerativas. Servindo igualmente de veículo transmissor de habilidades meta-humanas.
Recorde-se que foi depois de receber uma transfusão sanguínea do Tocha Humana que a heroína britânica Spitfire adquiriu a sua supervelocidade. Já uma segunda transfusão, recebida décadas mais tarde, salvou-lhe a vida e restaurou-lhe a juventude.

Spitfire ganhou supervelocidade graças
 ao sangue sintético do Tocha Humana.
De igual modo, os poderes latentes de Centelha, Homo Superior e antigo sidekick adolescente do herói, manifestaram-se apenas na sequência da sua exposição às células Horton. Nelas reside, com efeito, o segredo para estas milagrosas propriedades do sangue sintético do Tocha Humana. Ao cabo de uma investigação científica exaustiva, o Pensador Louco concluiu que a sua composição inclui plástico e polímeros de carbono que lhes possibilitam mimetizar as estruturas moleculares presentes nas células orgânicas. Mesmo em pequenas amostras, as células Horton conseguem produzir e acumular enormes quantidades de energia.
Não obstante tudo isto, o Mestre do Fogo possui, grosso modo, as mesmas necessidades e fraquezas de qualquer ser humano. Conforme atesta o facto de, em diversas ocasiões, ele ter sido mostrado a dormir ou a ingerir alimentos. Centelha chegou mesmo a sugerir humoristicamente que o seu mentor estaria apetrechado com um aparelho excretor. Brincadeiras à parte, tanto nas suas estórias clássicas como nas atuais, o Tocha Humana já demonstrou ser vulnerável, entre outras coisas, a gases tóxicos, à hipnose e a ataques telepáticos.
Curioso observar, no entanto, que a representação anatómica da personagem tem variado significativamente ao longo do tempo. Sobretudo desde que ele ganhou uma segunda vida no Universo Marvel, em meados dos anos 1960. Desde então, vários foram os cientistas que examinaram e modificaram o corpo robótico do Tocha Humana. Dentre eles, o Pensador Louco, responsável pela sua reativação, foi aquele que mais profundas transformações nele operou.

O Tocha Humana foi o primeiro homem sintético.
À boleia dessas reconfigurações tecnológicas, alguns dos escritores que passaram pelas histórias do Mestre do Fogo enfatizaram a sua origem mecânica. Por um lado, expondo sem pudor as suas entranhas cibernéticas (servomotores, circuitos elétricos, etc.); por outro, sugerindo que o androide obedece a uma programação predefinida e suscetível de ser alterada. Elementos inovadores que levaram a uma gradual desumanização da personagem, lembrando os leitores que estão em presença de uma máquina. E em prejuízo das características fisiológicas que tinham feito do Tocha Humana uma singularidade entre a constelação de inteligências artificiais que, após o seu surgimento, foram despontando nos quadradinhos e na ficção científica.

Tocha Humana: maravilha ou ameaça? 
Histórico de publicação: Com uma história assinada pelo próprio Carl Burgos, seu criador, o Tocha Humana estreou-se nas páginas de Marvel Comics nº1. Estávamos em novembro de 1939 e, em boa verdade, tratou-se de uma dupla estreia. De uma assentada, o neófito da Timely apadrinhava o lançamento do mais recente título periódico da editora. O mesmo que, mais de uma vintena de anos transcorridos, lhe daria o nome que a imortalizou nos pergaminhos da 9ª Arte.
Caído desde logo nas boas graças dos leitores, a quem incendiava a imaginação com as suas façanhas, a popularidade do Tocha Humana rendeu-lhe uma série própria. Seria, de resto, um dos primeiros super-heróis a beneficiar de tal privilégio, reforçando dessa forma o estatuto de coqueluche da Timely. Que, por esses dias, procurava conquistar o seu lugar ao sol no efervescente e competitivo mercado dos comics, alavancado pelo surgimento recente de personagens como Batman e Superman.



Em cima: Carl Burgos, o criador do Tocha Humana.
Em baixo: a sua estreia em Marvel Comics nº1 (1939).
Ao mesmo tempo que vivia trepidantes aventuras em The Human Torch (cujo número inaugural chegara às bancas norte-americanas no outono de 1940), o herói flamejante continuou a ser presença assídua noutros títulos da editora ao longo de todo o decénio. Captain America, Young Allies e Mystic Comics foram algumas das séries que, durante esse período áureo, acolheram tão distinto convidado.
Ainda em 1940, mais precisamente em maio e junho desse ano, o Tocha Humana coprotagonizaria com o Príncipe Submarino* aquele que é que considerado o primeiro crossover da história da banda desenhada. Entretanto renomeada de Marvel Mystery Comics, a série mensal que dera a conhecer ao mundo o primeiro homem sintético serviu de arena àqueles que eram, à época, os dois titãs da Timely. Uma batalha de contornos épicos que contemplava também um duelo elemental, visto que Namor e o Tocha Humana simbolizavam, respetivamente, a Água e o Fogo.
Narrada sob o ponto de vista dos dois contendores, a peleja espraiou-se por outras tantas edições de Marvel Mystery Comics, levando ao rubro as emoções dos leitores. Por exigência destes, assistir-se-ia, ao longo de toda a Idade do Ouro, a várias reedições desse confronto titânico.

Fogo versus Água.
Reprodução de um duelo clássico da Idade do Ouro.

Numa época em que os super-heróis prosperavam, parecia impossível os fãs cansarem-se das proezas da Primeira Maravilha. Exceção feita ao Capitão América, nenhuma outra personagem da Timely apareceu em tão grande número de histórias como o Tocha Humana. Já diz, no entanto, o velho adágio que "não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe". E, de facto, tudo mudaria no pós-guerra. Período histórico que, além da paz e da esperança, trouxe também consigo o inexorável declínio do género super-heroico. À medida que a década de 1940 caminhava a passos largos para o seu epílogo, poucos foram os vigilantes fantasiados que escaparam ao oblívio.
Até então altas e pujantes, as labaredas do Tocha Humana começaram lentamente a esmorecer até se extinguirem. Em março de 1949, a sua série periódica foi cancelada em consequência da abrupta queda nas vendas. Apenas três meses depois seria a vez de à lendária Marvel Mystery Comics ser aplicada idêntica sentença de morte.
Ironicamente, a derradeira história do Tocha Humana publicada com a chancela da Timely Comics recontava a sua origem. Embarcando assim a personagem numa viagem ao passado sem bilhete de regresso ao futuro.
Numa tentativa de reabilitação do género super-heroico, em 1954 a Atlas Comics (herdeira da Timley Comics) lançou Young Men, série antológica que compilava algumas das histórias mais emblemáticas de Capitão América, Príncipe Submarino e Tocha Humana. A iniciativa redundaria, porém, num fiasco e duraria menos de um ano. Com os super-heróis a cambalearem pelas ruas da amargura, nem os mais otimistas se atreviam então a augurar-lhes um futuro risonho.

O Tocha Humana em destaque na capa de Young Men nº25 (1954).
Empurrado para a obscuridade, onde já definhavam muitos dos seus coevos da Idade do Ouro, o Tocha Humana por lá permaneceria durante doze longos anos. Sendo finalmente resgatado das catacumbas da memória coletiva em 1966. Apenas para ser morto em Fantastic Four Annual nº4. Não sem antes travar conhecimento com o seu jovem e irrequieto epónimo, Johnny Storm.
A morte nos quadradinhos é, no entanto, quase sempre um estágio temporário. Especialmente quando o suposto defunto é um androide. Foi, pois, sem grande surpresa que, alguns anos depois, os leitores reagiram à revelação de que o Tocha Humana original fora, afinal, reconfigurado e reprogramado para ser o Vingador robótico conhecido como Visão. Quando esta tese foi desmentida, os Vingadores não descansaram enquanto não recuperaram o verdadeiro corpo do Mestre do Fogo. Que, graças ao engenho científico de Hank Pym, seria revivido. O mesmo não acontecendo, porém, com a sua glória de outrora.
Mesmo sem o fulgor de outros tempos, o Tocha Humana clássico tem vindo gradualmente a recuperar notoriedade na mitologia da Marvel. Efeito direto da sua participação em The New Invaders. Título baseado na bem-sucedida série mensal dos Invasores editada nos anos 1970, e que vem sendo dado à estampa desde 2014.
O que quer que o futuro reserve à Primeira Maravilha, nada nem ninguém conseguirá alguma vez apagar o seu lastro incandescente na história da Casa das Ideias, em cujas paredes escreveu o seu nome com letras de fogo grego.


All New Invaders (cima) devolveu o Tocha Humana à ribalta.
Em baixo: o elenco original dos Invasores.
Origem: Pioneiro no campo da inteligência artificial e da robótica, o Professor Phineas T. Horton projetou um androide capaz de mimetizar praticamente todas as funções orgânicas de um ser humano, e também as cognitivas.
Usando exclusivamente materiais inorgânicos no processo de construção, o cientista criou dessa forma o primeiro homem sintético. Cuja epiderme estava totalmente recoberta pelas chamadas células Horton. De origem fotoelétrica, estas serviam-lhe de fonte de energia, constituindo simultaneamente a única deficiência da criatura. Devido à sua extrema volatilidade, as células Horton entravam em combustão espontânea em contacto com o oxigénio. Sem, contudo, danificar o corpo do androide.
Apesar dessa contrariedade, o Professor Horton resolveu anunciar a sua invenção ao mundo, convocando uma conferência de imprensa para o efeito, em novembro de 1939. Perante uma pequena multidão de repórteres céticos, o cientista mostrou como o androide irrompia em chamas ao permitir a entrada de oxigénio no interior do cilindro de vidro onde ele se encontrava confinado. Mas as coisas não correram exatamente como Horton planeara, com os jornalistas presentes a reagirem com um misto de escárnio e pavor.

O Professor Horton apresenta a sua criação ao mundo.
Descrito pelos tabloides como uma potencial ameaça à segurança pública, o surgimento do Tocha Humana gerou, naturalmente, alarme social. Perante este quadro, o Presidente dos EUA emitiu um decreto intimando Horton a neutralizar de imediato a sua criação. Foi assim que a Primeira Maravilha acabou enterrada várias dezenas de metros abaixo do nível do solo dentro de um caixão de concreto.
Enquanto Horton retomava a sua pesquisa na esperança de encontrar uma forma de evitar que o androide se inflamasse em contacto com o ar - ou que, pelo menos, aprendesse a controlar as suas labaredas - o Tocha Humana logrou evadir-se da sua prisão subterrânea. Proeza só possível devido a uma pequena rachadura no seu caixão de cimento que permitiu a entrada de oxigénio em quantidade suficiente para ativar as células Horton que revestiam o seu corpo.
Uma vez em liberdade, o Tocha Humana provocou acidentalmente vários focos de incêndio dispersos pela cidade de Nova Iorque, gerando pânico à sua passagem. Por fim, a sua jornada caótica conduziu-o à propriedade de Anthony Sardo, um criminoso oportunista que, tirando proveito da desorientação do androide,  usaria durante algum tempo os seus formidáveis poderes  para cometer uma série de delitos.
Quando tomou consciência das más intenções de Sardo, o Tocha Humana rebelou-se, acabando por, inadvertidamente. desencadear uma explosão que tiraria a vida ao bandido. Em consequência desse trágico episódio, e já depois de ter aprendido finalmente a controlar os seus poderes, o androide jurou solenemente servir a Humanidade.
Para levar a cabo essa árdua missão, o Tocha Humana passaria a contar logo depois com o voluntarismo de Centelha. De seu nome verdadeiro Thomas Raymond, Centelha era o filho adolescente de um casal de cientistas nucleares nascido com o talento mutante de controlar o fogo devido aos níveis de radiação a que haviam sido expostos os seus progenitores.
Mais ou menos pela mesma altura, movido pelo mesmo espírito cívico que o levara a operar como vigilante, o Tocha Humana criou a persona de Jim Hammond para ingressar no Departamento de Polícia nova-iorquino. Identidade civil que abandonaria ao cabo de pouco tempo. Continuando, todavia, a colaborar oficialmente com as autoridades municipais como Tocha Humana.
Quando os EUA entraram na II Guerra Mundial, o Mestre do Fogo e o seu adjunto juvenil aliaram-se a outros super-heróis para, nos campos de batalha europeus ou na frente do Pacífico, combaterem as forças do Eixo que ameaçavam a liberdade mundial. Nas fileiras dos Invasores, lutou, entre outros, ao lado do Capitão América e do Príncipe Submarino, seu antigo némesis.

Auxiliado por Centelha, o Tocha Humana
frustra os sinistros planos de um comando nipónico.
Na continuidade da Marvel, o Tocha Humana foi, aliás, o verdugo de Adolf Hitler. Com o Exército Vermelho às portas de Berlim, ele e Centelha invadiram o bunker do Fuhrer momentos antes de este se suicidar. Apesar dos seus esforços, o herói flamejante não conseguiu convencer o tirano a entregar-se aos americanos em vez de se render aos soviéticos. Quando Hitler disparou sobre ele, o Tocha Humana incinerou-o vivo com uma rajada de plasma incandescente.
Findas as hostilidades, o Tocha Humana seria desativado e enterrado sob as areias escaldantes do Deserto de Mojave. A sua hibernação seria, contudo, interrompida pelo ensaio de uma bomba atómica. Ao tomar conhecimento de que Centelha fora capturado e lobotomizado pelos soviéticos, o Mestre do Fogo resgatou o seu antigo parceiro e filho adotivo. Descobrindo entretanto que os seus poderes, embora amplificados pela radiação da bomba atómica que o despertara, também se tinham tornado mais instáveis.
Temendo representar uma ameaça para a Humanidade, o Tocha Humana regressou ao Deserto de Mojave e libertou toda a energia acumulada no seu corpo sintético, induzindo assim a própria desativação. Permanecendo inerte e esquecido por vários anos até ser encontrado pelo Pensador Louco que o tentou usar para liquidar o Quarteto Fantástico. Episódio que assinalou a sua reintrodução na continuidade moderna da Casa das Ideias.

Origem e evolução do Príncipe Submarino em: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/05/herois-em-acao-namor-o-principe.html

Fogo contra fogo. ´
O Tocha Humana original defronta o seu sucessor em Fantastic Four Annual nº4 (1966).

Trivialidades:

* São muitos os leitores que ignoram até hoje que Johnny Storm, o celebérrimo Tocha Humana do Quarteto Fantástico, herdou esse título do seu antepassado da Idade de Ouro dos quadradinhos. No princípio dos anos 1970, o benjamim da equipa capitaneada pelo Senhor Fantástico chegou mesmo a adotar brevemente um visual inspirado no do Tocha Humana original, apresentado nas páginas de Fantastic Four Vol.1 nº132 (edição datada de março de 1973);

A estreia do uniforme vermelho e dourado de Johnny Storm,
que teve como modelo o do Tocha Humana original.
* Muitos são aqueles também que desconhecem por completo que, na sua primeira aparição, o cabelo do herói era ruivo, passando a loiro na edição seguinte; ou, ainda, que ele costumava deixar pegadas de fogo por onde passava, as quais demoravam horas a extinguir-se naturalmente;
* Apesar de o Tocha Humana atuar frequentemente de cara descoberta, nem a imprensa nem o público alguma vez conseguiram identificá-lo como Jim Hammond;
*Em linha com uma multitude de publicações do género, The Human Torch serviu fins propagandísticos durante a II Guerra Mundial. Impregnadas de fervor patriótico, era comum as historietas do Mestre do Fogo incluírem referências a episódios reais do conflito em curso. Pretendia-se desse modo enaltecer o esforço de guerra americano e, por inerência, a causa aliada;
* Conforme foi referido anteriormente, Camp Hammond, o centro de treino da SHIELD para meta-humanos, foi assim nomeado em homenagem ao Tocha Humana. Que, em tempos, teve também direito a uma estátua no interior do recinto, em cuja base se podia ler a seguinte inscrição: "Jim Hammond, a primeira das maravilhas. Ele mostrou-nos que os heróis podem ser criados." O monumento seria, contudo, derrubado por uma turba enfurecida durante a saga Reinado Sombrio (Dark Reign, 2009), quando, após desmantelar a SHIELD, Norman Osborn ordenou o encerramento das suas instalações espalhadas pelo globo;

Jim Hammond, agente da SHIELD.
*Apesar de ter aprendido a voar muito precocemente, por algum motivo o Tocha Humana não fez uso dessa habilidade em algumas das suas primeiras aventuras. Era, porém, capaz de correr mais depressa do que qualquer automóvel da época e de saltar a grandes alturas;
* Incendiário (Firebug), Mestre do Fogo (Fire Master) e Primeira Maravilha (First of the Marvels) são os principais epítetos utilizados para cognominar o Tocha Humana. Devendo-se este último não ao facto de ele ter sido o primeiro super-herói da Casa das Ideias (a sua estreia foi precedida em alguns meses pela do Príncipe Submarino), mas por lhe terem cabido as honras de inaugurar Marvel Comics. Título mensal que, como explicado acima, daria nome à editora anteriormente conhecida como Timely Comics e Atlas Comics;
* No Brasil, as histórias do primeiro Tocha Humana foram publicadas sob os auspícios de diversas editoras. Foi, todavia, com a chancela da Bloch que, entre 1975 e 1976, ele granjeou maior notoriedade em Terras Tupiniquins, ao ter direito a uma série mensal em nome próprio. Esta, além de servir de repositório ao material antigo da personagem publicado pela Timely Comics na década de 40 do século transato, reproduzia igualmente capas e histórias de um título regular que o herói flamejante estrelara em 1974 nos EUA. Como bónus, O Tocha Humana incluía ainda aventuras a solo do seu epónimo, Johnny Storm.
Mais recentemente, em 2015, foi a vez da editora Salvat lançar uma antologia das histórias emblemáticas do Tocha Humana original, tomo integrado na coleção Os Heróis Mais Poderosos da Marvel.

Dilúvio de fogo.
Duelo de Tochas Humanas a abrir a série solo do herói editada pela Bloch.
Noutros media: Por contraponto à sua versão contemporânea, o Tocha Humana clássico é um ilustre desconhecido do grande público. Contam-se, de resto, pelos dedos de uma mão as suas incursões no panorama audiovisual. Facto que, sem sombra de dúvida, contribui para reforçar esse seu semianonimato. Somente em 1994, num episódio avulso da primeira temporada da série animada Fantastic Four, é que o Mestre do Fogo timidamente se aventurou fora da banda desenhada.
Nessa sua estreia televisiva, a personagem teve, porém, a sua origem retocada. Na nova versão da sua história, ele continuava a ser um androide, mas projetado por Reed Richards. O que aconteceu depois de o líder do Quarteto ter descoberto uma forma de replicar os poderes incandescentes de Johnny Storm. Com esta cambiante, inverteu-se a ordem cronológica da aparição dos dois Tochas. Corruptela histórica apenas percecionada por verdadeiros eruditos da 9ª Arte.
Desde esta sua discreta participação em Fantastic Four, o primeiro Tocha Humana fez apenas dois cameos, um na TV e outro no cinema. O primeiro ocorreu em 2010 num episódio de The Super Hero Squad Show, outra série de animação produzida pelos Estúdios Marvel.
No ano seguinte, a personagem marcou presença em Capitão América: O Primeiro Vingador ( filme já aqui esmiuçado). Numa clara piscadela de olho ao material original, na sequência ambientada na Expo Stark, é mostrado um vislumbre do corpo inerte do androide no interior de um cilindro de vidro estanque e transparente. Uma vez mais, essa deliciosa referência terá passado despercebida ao leigos em "heroilogia".

O Tocha Humana na Expo Stark
em Capitão América: O Primeiro Vingador.



04 novembro 2016

RETROSPETIVA: «HOMEM DE FERRO 2»



  Nas bocas do mundo desde que tornou pública a sua identidade de Homem de Ferro, Tony Stark, traído pela sua tecnologia e refém do próprio ego, continua a ser o mais falho dos heróis. Acuado por poderosos inimigos e com a vida por um fio, sabe que terá de aprender a trabalhar em equipa se quiser sobreviver. O filme, esse,  mesmo sem fazer esquecer o original, superou-o com distinção no teste das bilheteiras.

Título original: Iron Man 2
Ano: 2010
País: EUA
Género: Ação/Aventura/Fantasia
Duração: 125 minutos
Realização: Jon Favreau
Produção: Marvel Studios
Argumento: Justin Theroux
Distribuição: Paramount Pictures
Orçamento: 200 milhões de dólares
Receitas: 623,9 milhões de dólares
Elenco: Robert Downey, Jr. (Tony Stark/Homem de Ferro), Gwyneth Paltrow (Pepper Potts), Don Cheadle (James Rhodes/Máquina de Guerra), Scarlett Johansson (Natalie Rushman/Natasha Romanoff/Viúva Negra), Sam Rockwell (Justin Hammer), Mickey Rourke (Ivan Vanko) e Samuel L. Jackson (Nick Fury)


Desenvolvimento: Imediatamente a seguir à estreia de Iron Man, os Estúdios Marvel anunciaram que estava na calha uma sequela. Em julho de 2008, ao cabo de vários meses de negociações, Jon Favreau assinou contrato para dirigi-la.
Inicialmente, Favreau tinha em mente realizar uma trilogia do Homem de Ferro que teria Obadiah Stane (interpretado por Jeff Bridges no primeiro filme) como vilão de serviço. A ideia era acompanhar a par e passo a sua transformação no Monge de Ferro, um dos inimigos clássicos do herói.
Tratando-se do némesis do Vingador Dourado na banda desenhada, o Mandarim* soaria como uma escolha mais natural. No entanto, após consultar um painel de escritores da Marvel, Favreau percebeu que seria um desperdício usar tão importante personagem logo no início da franquia. Outro ponto que também desde logo ficou assente foi que a SHIELD continuaria a ter um papel fundamental na trama. Que, por recomendação pessoal de Robert Downey Jr. que com ele trabalhara em Tempestade Tropical, ficaria a cargo do argumentista Justin Theraux.
Com a rodagem da sequela em curso, Favreau revelou que nela seria aflorado o alcoolismo de Tony Stark, mas não seria uma adaptação de O Demónio da Garrafa**. Ainda durante a digressão promocional de Iron Man, também Robert Downey Jr. admitira a possibilidade de a sua personagem vir a desenvolver um problema com a bebida devido à sua dificuldade em lidar com a idade e com a pressão mediática depois de expor publicamente a sua identidade de Homem de Ferro. Mais tarde, o ator retomaria as suas considerações sobre o assunto, explicando que o que seria mostrado no segundo filme teria lugar no intervalo de tempo entre a origem do herói e os eventos narrados na saga em questão.

Robert Downey Jr. (esq.) e Jon Favreau, a Dupla Dinâmica da Marvel.

Por sugestão de Shane Black, contratado como consultor de enredo e que substituiria Jon Favreau na direção de Iron Man 3, a conduta de Tony Stark teria como modelo J. Robert Oppenheimer, o "pai" da bomba atómica que mergulhou em profunda depressão ao ver o aterrador fruto do seu trabalho no Projeto Manhattan.
Traçada a trajetória do herói, em janeiro de 2009, Mickey Rourke e Sam Rockwell entraram em negociações com os Estúdios Marvel para interpretarem a parelha de vilões. Se com o segundo tudo deslizou sobre rodas, já no caso do primeiro as coisas estiveram mais tremidas. Rourke esteve quase a recusar o papel. Motivo: o baixo valor do cachê oferecido. 250 mil dólares não passavam de uns trocados para quem estava em alta depois da sua magnífica representação em The Wrestler que, entre outros louvores, lhe valeu uma nomeação para o Óscar de melhor ator.
Enquanto as negociações com Rourke prosseguiam aos solavancos, surgiu outra dor de cabeça para os produtores. Dado como certo no papel de Nick Fury, o mordaz diretor da SHIELD, Samuel L. Jackson exigiu uma revisão dos termos do seu contrato. Apesar destes percalços, ambos os processos negociais chegaram a bom porto. Com Jackson a garantir mesmo a sua participação futura em nove outros filmes. Facto divulgado no mesmo dia em que Scarlett Johansson era também oficialmente confirmada no papel de Viúva Negra***.
Escolhido o elenco, as filmagens arrancaram em março de 2009, terminando precisamente 71 dias depois, em meados de julho desse ano. Embora o grosso das cenas tenha sido rodado nos Estúdios Raleigh, em Hollywood, outras das localizações que lhes serviram de cenário incluíram, por exemplo, a Base Aérea de Edwards, situada em pleno deserto californiano.
À antestreia no mítico El Capitan Theatre de Los Angeles, a 19 de abril de 2010, seguiu-se, nas semanas seguintes, o lançamento do filme em 54 países. Numa jogada de antecipação ao pontapé de saída no Mundial de Futebol que nesse ano se disputava na África do Sul, o calendário da distribuição internacional foi acelerado. Mesmo sem pisar os relvados, com esse drible inteligente o Homem de Ferro iniciava a sua cavalgada imparável à conquista de um outro campeonato: o das bilheteiras.

Jon Favreau e parte do elenco de Homem de Ferro 2
na apresentação publica do filme num hotel de LA.

*Prontuário do Mandarim disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/05/galeria-de-viloes-mandarim.html
** Leiam aqui a resenha alargada da saga: http://bdmarveldc.blogspot.pt/2016/07/classicos-revisitados-o-demonio-na.html
*** Descubram alguns segredos da Viúva Negra em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/05/herois-em-acao-viuva-negra.html

Homem de Ferro 2 apresentou ao público Chicote Negro e Máquina de Guerra,
duas das mais icónicas personagens da mitologia do herói.
Enredo: Um pouco por todo o globo, os media fazem eco do alarido causado pela revelação pública de Tony Stark da sua identidade de Homem de Ferro. Algures na Rússia, Ivan Vanko, ainda a chorar a perda do seu pai, Anton Vanko, acompanha as notícias com especial interesse. Dedicando-se em seguida à construção de um minirreator peitoral semelhante ao que mantém vivo o magnata americano.
Seis meses depois, Tony, convertido em celebridade mundial, é aclamado por turbas ululantes de cada vez que, em terra ou no céu, dá um ar da sua graça. Sentindo-se no topo do mundo, o filho do visionário Howard Stark avança com a reconstituição da Expo Stark de Nova Iorque, uma feira tecnológica inaugurada décadas antes pelo seu progenitor. Com esse projeto faraónico, Tony pretende dar continuidade ao legado paterno.
No entanto, apesar de continuar a usar a sofisticadíssima tecnologia do Homem de Ferro para fins pacíficos e em benefício da comunidade, Stark é intimado a comparecer perante um comité no Senado norte-americano. Pela voz do senador Stern, o comité pressiona-o a entregar a sua armadura ao Governo federal para futuras aplicações militares. Tony recusa e, de caminho, humilha publicamente o seu rival Justin Hammer, ao provar que a sua tecnologia está vários anos avançada em relação à da concorrência.

Justin Hammer (Sam Rockwell), o arquirrival de Tony Stark.
Nem tudo são, porém, rosas na vida de Tony Stark. Recentemente, ele fez uma descoberta aterradora: a radiação emanada do núcleo de paládio do seu minirreator peitoral vem-lhe envenenando lentamente o organismo. Convencido de que tem os dias contados, após todas as suas tentativas para encontrar um elemento químico alternativo terem fracassado, Tony decide guardar segredo da sua condição. Mesmo em relação aos que lhe são mais próximos, como a sua eficientíssima assistente pessoal, Pepper Potts, ou o seu fiel amigo e piloto James Rhodes.
É, pois, com estupefação que todos recebem a decisão de Tony de confiar a presidência do seu conglomerado de empresas a Pepper Potts. Contratando para sua nova assistente pessoal a bela e misteriosa Natalie Rushman.
Tony Stark, Iron Man 2 HD wallpaper for Wide 16:10 5:3 Widescreen WHXGA WQXGA WUXGA WXGA WGA ; HD 16:9 High Definition WQHD QWXGA 1080p 900p 720p QHD nHD ; Standard 4:3 5:4 3:2 Fullscreen UXGA XGA SVGA QSXGA SXGA DVGA HVGA HQVGA devices ( Apple PowerBook G4 iPhone 4 3G 3GS iPod Touch ) ; Tablet 1:1 ; iPad 1/2/Mini ; Mobile 4:3 5:3 3:2 5:4 - UXGA XGA SVGA WGA DVGA HVGA HQVGA devices ( Apple PowerBook G4 iPhone 4 3G 3GS iPod Touch ) QSXGA SXGA ;
Um herói confrontado com a própria mortalidade,
Quando. dias depois,  ao volante de um bólide vintage, compete no Grande Prémio Histórico de Fórmula 1 do Mónaco, Tony é brutalmente atacado por Ivan Vanko. Perante uma plateia mortificada, Vanko brande no ar um par de chicotes eletrificados capazes de cortar ao meio o carro conduzido pelo milionário americano. Este recorre a uma armadura sobressalente do Homem de Ferro que transportava consigo numa maleta para passar ao contra-ataque. Vanko acaba derrotado no final da escaramuça, não sem antes danificar severamente o traje do herói.
No momento em que é detido pela polícia monegasca, Vanko proclama, alto e bom som, que a sua intenção era mostrar ao mundo que a invencibilidade do Homem de Ferro não passa de um mito. Ainda combalido, Tony Stark sabe, no seu íntimo, que o vilão esteve muito próximo de derrotá-lo.


Ivan Vanko, uma ameaça eletrizante.
De volta a Nova Iorque, Tony investiga o passado de Ivan Vanko, descobrindo que ele é filho de Anton Vanko. Físico russo dissidente do regime soviético, Anton ajudara Howard Stark a projetar o primeiro protótipo do minirreator de paládio. Quando Anton tentou lucrar com a invenção de ambos, o pai de Tony usou a sua influência para garantir a deportação do sócio para a União Soviética. Condenando assim Anton a longos anos de degredo no gulag. Antes de morrer, o cientista teve ainda tempo de passar a tecnologia ao filho. E passou-lhe também o ódio visceral ao clã Stark, que Ivan aprendeu a culpar pelo infortúnio do pai.
Impressionado com a prestação de Ivan Vanko, Justin Hammer organiza a sua fuga da cadeia para onde fora enviado após o atentado à vida de Stark no Mónaco. Os dois homens chegam então a acordo para que Vanko desenvolva uma linha de armaduras de combate. As quais Hammer planeia usar para retribuir o vexame que lhe foi imposto publicamente por Stark. Escolhendo como cenário para a sua desforra a Expo Stark.
A descoberta de que o minirreator de Stark fora replicado por outra pessoa, leva à intensificação das pressões governamentais para que ele entregue a sua armadura de Homem de Ferro.
Deprimido pela perspetiva de que não viverá para comemorar o seu próximo aniversário, Tony organiza uma festa de arromba na sua luxuosa cobertura com vista panorâmica sobre a cidade. As coisas acabam, contudo, por se descontrolar quando ele, embriagado e usando o seu traje blindado, coloca em perigo a sua vida e a dos convidados.
Em desespero de causa, James Rhodes veste um modelo antigo da armadura do Homem de Ferro para deter o patrão. Tony reage com agressividade e da luta que se segue resulta a destruição quase total do seu apartamento.
Envergonhado, no dia seguinte Tony é levado à presença de Nick Fury, o diretor da agência de contraterrorismo SHIELD. Depois de revelar-lhe que a sua recém-contratada assistente pessoal é, afinal, uma agente infiltrada chamada Natasha Romanoff, Fury entrega a Tony um velho baú contendo diversos pertences de Howard Stark.
Suspeitando que o pai poderá ter deixado algum tipo de mensagem oculta na maqueta da primeira Expo Stark, Tony descobre que ela encerra, de facto, um diagrama da estrutura atómica de um elemento químico desconhecido. Tudo apontando para que a sua sintetização fora impossibilitada pelas limitações tecnológicas da época em que Howard Stark viveu.
Assessorado pela inteligência artificial JARVIS, Stark constrói em segredo um acelerador de partículas que usa para criar o novo elemento. Adicionando-o depois a uma versão modificada do seu minirreator. E conseguindo dessa forma travar o envenenamento causado pelo paládio.

Stark em pleno processo de criação
 do novo elemento químico que lhe salvará a vida.
Quase sem tempo para respirar de alívio, Tony recebe um telefonema de Ivan Vanko, informando-o de que se encontra livre e desafiando-o para um duelo na Expo Stark.
No certame tecnológico, Justin Hammer apresenta ao público os seus novos droides militares capitaneados por James Rhodes aos comandos de um antigo modelo da armadura do Homem de Ferro.
Irrompendo no recinto da exposição, o Homem de Ferro adverte Rhodes para que não participe naquela farsa que desonra a memória do seu pai. Antes, porém, que os dois homens cheguem a um entendimento, longe dali Ivan Vanko invade os sistemas informáticos e assume o controlo remoto dos droides e do traje blindado de Rhodes. Atacado por todos os lados, o Homem de Ferro procura proteger os inocentes sem ferir o seu amigo prisioneiro na própria armadura.
Enquanto isso, Happy Hogan, o motorista de Tony, acompanha a Viúva Negra até à fábrica de Justin Hammer a fim de deter Ivan Vanko. Este já arrepiara, no entanto, caminho para a Expo Stark, apetrechado com uma nova e mais poderosa versão dos seus chicotes elétricos.
Quando a Viúva Negra devolve por fim o controlo da armadura a Rhodes, este não perde tempo a somar o seu poder de fogo ao do Homem de Ferro contra Vanko. Pressentindo a inevitabilidade da derrota, o vilão aciona o mecanismo de autodestruição do seu aparato, fazendo-se explodir com ele. Face à ausência do respetivo cadáver, fica a dúvida se Vanko terá sobrevivido.

Homem de Ferro e Máquina de Guerra: irmãos de armas.
Encurralada pelas chamas, Pepper Potts é salva no último instante pelo Homem de Ferro. Ainda mal refeita do susto, anuncia-lhe a sua renúncia ao cargo de CEO das Indústrias Stark antes de ser impetuosamente beijada pelo patrão perante o olhar divertido de Rhodes.
No final de uma conferência com outros altos responsáveis da SHIELD, Nick Fury informa Tony Stark de que o Homem de Ferro foi aprovado para participar no programa secreto conhecido apenas como Iniciativa Vingadores. O Governo prefere, todavia, que a armadura seja pilotada por alguém mais confiável. Tony concorda impondo como condição ser o senador Stern a entregar as medalhas que ele e Rhodes irão receber numa cerimónia pública organizada para homenagear os atos heróicos de ambos.
Na tradicional cena pós-créditos, o agente Phil Coulson, outro dos operacionais da SHIELD, reporta a Nick Fury a descoberta de um estranho martelo cravado no centro de uma enorme cratera fumegante. Trata-se do Mjolnir empunhado por Thor, o deus nórdico do trovão, e o próximo a estrelar um filme dos Estúdios Marvel.

Trailer:



Prémios e nomeações: Entre 2010 e 2011, foram várias as nomeações recebidas por Homem de Ferro 2, inclusive por parte da Academia de Hollywood que o colocou entre os candidatos ao Óscar para melhores efeitos visuais. Precisamente a mesma categoria em que seria distinguido no Festival de Cinema de Hollywood. Este seria, aliás, um dos dois únicos prémios arrecadados pelo filme. O outro, um People's Choice Award, assinalou a sua eleição como melhor película de ação de 2011. Um registo bem mais modesto do que o do seu predecessor que, um par de anos antes, averbara cinco galardões em outras tantas categorias, incluindo dois Saturn Awards para melhor ator (Robert Downey, Jr.) e melhor realizador (Jon Favreau).

Curiosidades:


* A personagem de Ivan Vanko, interpretado por Mickey Rourke, é na verdade uma mescla de dois inimigos clássicos do Homem de Ferro: Crimson Dynamo e Whiplash (conhecidos entre o público lusófono como Dínamo Escarlate e Chicote Negro). Criado nos idos de 1963 por Stan Lee e Don Heck, o primeiro debutou em outubro desse ano nas páginas de Strange Tales nº46, sendo apresentado como um brilhante cientista soviético, de sua graça Anton Vanko, que projetou uma armadura de alta tecnologia capaz de ombrear com a do Vingador Dourado. Já o segundo, criação conjunta de Stan Lee e Gene Colan, tinha como identidade civil Mark Scarlotti, um engenheiro eletrónico caído em desgraça nas Indústrias Stark que fez a sua primeira aparição em Tales of Suspense nº97 (janeiro de 1968). Recorde-se que, no filme, Ivan é referido como sendo filho de Anton Vanko;


Dínamo Escarlate (cima) e Chicote Negro:
os dois arqui-inimigos do Homem de Ferro que serviram de matriz a Ivan Vanko.
*Malgrado a sua compleição robusta e o facto de se ter submetido a um exigente programa de preparação física nos meses que antecederam o arranque das filmagens, num primeiro momento Mickey Rourke revelou-se incapaz de manejar com destreza os chicotes metálicos acoplados ao pesado exoesqueleto usado pela sua personagem. Perante a impossibilidade técnica de tornar mais leve o aparato, nas suas subsequentes sessões de treino, o ator passou a envergar coletes especiais que simulavam o traje blindado. À parte isso, vários dos elementos que compõem a caracterização do vilão foram sugeridos pelo próprio Mickey Rourke. Partiu dele, por exemplo, a ideia de Ivan Vanko possuir dentes de ouro e uma catatua como mascote. Adereços que o ator pagou do próprio bolso;
* Terrence Howard foi substituído por Don Cheadle no papel de James Rhodes por razões ainda não cabalmente esclarecidas. A fazer fé na versão do ator, o seu afastamento da franquia ficou a dever-se à tentativa de renegociação contratual levada a cabo pelos Estúdios Marvel com vista a uma redução do seu cachê. Importa notar que Howard fora o elemento mais bem pago no elenco de Iron Man, o que poderá muito bem ter condicionado a sua participação na sequela. Igualmente plausível é a possibilidade de a saída de Howard ter sido uma exigência de Jon Favreau. Logo após a estreia do primeiro capítulo da saga, a revista Entertainment Weekly escrevia que o realizador ficara desagradado com o desempenho do ator, ao ponto de se ter visto na contingência de refilmar ou cortar diversas cenas por ele representadas;
* Numa entrevista à MTV, Don Cheadle confessou que, até à chegada do Homem de Ferro ao grande ecrã em 2008, estava absolutamente convencido que o herói era um robô;
* Natalie Portman, Angelina Jolie, Jessica Biel, Jessica Alba e Gemma Arterton foram algumas das atrizes cogitadas para emprestarem o corpo à Viúva Negra. Correndo em pista própria, Eliza Dushku não se furtou a esforços para obter o papel, levando a cabo uma intensa, porém frustrada, campanha de lóbi. Emily Blunt, por sua vez, só não encarnou a ex-espia do KGB devido à sua indisponibilidade de agenda decorrente da sua participação em As Viagens de Gulliver, cuja rodagem se desenrolou em simultâneo à de Iron Man 2. A escolha final recairia, assim, sobre Scarlett Johansson que, mesmo antes de ser oficialmente confirmada, tingiu o cabelo de ruivo, tal era a sua vontade de interpretar aquela que é uma das mais notórias femmes fatales do Universo Marvel. Consta também que a curvilínea atriz terá tido um breve momento de pânico ao ver pela primeira vez o uniforme que teria de usar no filme. De tão cingida, a roupa fazia lembrar uma segunda pele e Johansson não concebia como poderia alguém mover-se dentro dela;

Scarlett Johansson foi a escolhida para encarnar a Viúva Negra.
*Na tabela periódica, o paládio surge classificado como um metal pesado com reduzida toxicidade. Seria, portanto, altamente improvável que causasse um envenenamento como aquele que, na película, faz perigar a vida de Tony Stark. Com efeito, a ideia de Stark ser envenenado pela própria armadura é uma referência a Mark XVI, o modelo que, na banda desenhada, foi responsável por idêntico problema de saúde, acabando por esse motivo descartado pelo seu usuário;
* Ainda no campo das referências ao material original, a cena que mostra Stark embriagado na sua festa de aniversário homenageia a saga O Demónio na Garrafa (já aqui esmiuçada), na qual os problemas de alcoolismo do milionário são expostos. São também sinalizáveis no enredo alguns pontos de contacto com A Guerra das Armaduras, outra das mais impactantes sagas do repertório do Homem de Ferro, dada à estampa em 1988. Nela, a tecnologia de Stark cai em mãos erradas obrigando desse modo o herói a confiscar todo e qualquer componente por ele fabricado. Campanha que, apesar das boas intenções, rapidamente degenera num conflito aberto que não distingue adversários de aliados;

Iron Man: Armor Wars Prologue
A saga A Guerra das Armaduras serviu de referência
 ao enredo de Homem de Ferro 2.
* A sequência da corrida automobilística no Mónaco em que participava Tony Stark foi na verdade gravada no parque de estacionamento dos Estúdios Downey, na Califórnia. Isto depois de Bernie Ecclestone, o todo-poderoso patrão da Fórmula 1 que havia autorizado a realização das filmagens no circuito do Grande Prémio do principado, ter voltado atrás na sua decisão. Pertencentes a vários colecionadores particulares, na corrida em causa foram utilizados cinco modelos vintage, incluindo um Lotus de 1976;
* Stark cria um novo minirreator peitoral empregando um artefacto que faz lembrar o escudo do Capitão América. Adereço que já fora mostrado de relance no primeiro filme do Vingador Dourado, sinalizando a produção da longa-metragem do Sentinela da Liberdade que chegaria às salas de cinema no ano seguinte. Contudo, contrariamente ao que creem alguns espectadores desavisados, não se tratava do verdadeiro escudo do Capitão América mas sim de uma réplica, visto que o original fora congelado com o herói perto do final da 2ª Guerra Mundial;
* No primeiro rascunho da trama, Ivan Vanko morria às mãos de James Rhodes após ter sobrevivido a uma explosão e de ter tentado assassinar Tony Stark e Pepper Potts. Precavendo a possibilidade de os produtores quererem reutilizar o vilão em películas vindouras, a sequência foi reescrita a fim de apresentar uma situação mais ambígua.

Sequela: As astronómicas receitas de bilheteira obtidas por Iron Man 2 garantiram a produção de nova sequela. Após terem concordado em pagar 115 milhões de dólares à Paramount Pictures pela distribuição mundial de um pacote que incluía o terceiro filme do Homem de Ferro e a primeira aventura cinematográfica dos Vingadores, foi com pompa e circunstância que os Estúdios Marvel anunciaram 3 de maio de 2013 como a data de estreia de Iron Man 3 em terras do Tio Sam. Mais uma megaprodução da subsidiária da Walt Disney Company que, além dos principais astros da franquia, contaria com diversas adições de peso ao elenco. como o oscarizado Ben Kingsley. Em contrapartida, Jon Favreau, cedeu, como já vimos, a cadeira de realizador a Shane Black, cuja carreira tivera como ponto alto até aí a autoria do enredo desse clássico da 7ª Arte que é Arma Mortífera (1987).
Apesar de ter sido o mais lucrativo dos três capítulos da saga e de ter caído nas boas graças da generalidade da crítica, Iron Man 3 não encheu as medidas aos fãs, que muito torceram o nariz à interpretação do Mandarim. Facto que, ao que tudo indica, comprometeu a realização de um quarto filme, pese embora exista a forte possibilidade de isso vir a acontecer num futuro próximo. Se ainda com Robert Downey, Jr. no papel principal, só o tempo o dirá...

Mesmo não tendo sido deixado de cócoras pela crítica,
 Iron Man 3 não convenceu os fãs.


Veredito: 68%


Existe uma velhinha tradição (quiçá de origem culinária) lá para os lados de Hollywood: sempre que é preciso reproduzir uma receita de sucesso, o segredo é reforçar-lhe os ingredientes.Por exemplo, se um filme fez furor por conta da espetacularidade das suas cenas de ação, é muito provável que a respetiva sequela inclua ainda mais cenas desse tipo. Seria, pois, algo do género que os produtores de Homem de Ferro 2 teriam em mente.
O problema é que nem a receita é infalível (conforme prova a montanha de sequelas falhadas), nem os ingredientes reforçados neste filme foram os certos. Em vez de servirem uma dose ainda mais abonada da ação e do humor que deixaram o público e a crítica rendidos ao primeiro filme do Vingador Dourado, os responsáveis pelo projeto, quais cozinheiros desastrados, enganaram-se nos condimentos. Acabando assim por empanturrar os espectadores com acepipes (leia-se, personagens e subtramas) à falta de um prato principal (leia-se, enredo) capaz de lhes forrar o estômago.
Com tanta coisa a acontecer a tanta gente ao mesmo tempo, a história perde o foco e o espectador também. Tanto mais que as diversas subtramas não estão ligadas entre si. Sendo precisamente esse o maior defeito de Homem de Ferro 2: a dispersão narrativa. 
Mesmo ficando alguns furos abaixo do original, esta sequela não deixa de ter qualidade suficiente para fazer dela uma referência dentro do seu género. Ficando, contudo, a sensação de que terá servido, essencialmente, para preparar terreno para a película dos Vingadores. Como qualquer filho do meio, Homem de Ferro 2 sofre, portanto, da ausência de um propósito específico e ressente-se disso.
Nada que coloque, porém, em xeque os muitos pontos positivos do filme: Robert Downey Jr. mantém-se impecável na sua interpretação de Tony Stark, conseguindo torná-lo simpático aos olhos do público, apesar do seu irritante narcisismo. Ao som da fantástica banda sonora com a assinatura dos AC/DC, as cenas de ação continuam de cortar a respiração. O mesmo se aplicando aos efeitos visuais. E tanto Scarlett Johansson como Don Cheadle, por via das suas representações de Viúva Negra e Máquina de Combate, trouxeram um acréscimo de qualidade à produção.
No final das contas, Homem de Ferro 2 é um filme divertido que não desilude sem, todavia, conseguir fazer esquecer o original. Servindo-lhe de consolo que, salvas raras exceções (Super-Homem II e Homem-Aranha 2 foram duas delas), raramente as sequelas de super-heróis conseguem ser bem-sucedidas nessa tarefa. Menos ainda quando são temperadas com condimentos indigestos.

Uma franquia ainda em altos voos, mas já a perder gás.






22 outubro 2016

ETERNOS: DENNIS O'NEIL (1939 - ...)




   No que poderá ser visto como um sinal premonitório, o seu nascimento coincidiu com a estreia de Batman, a personagem que mais lhe marcaria a admirável carreira de escritor e editor. Foi, contudo, pela mão de Stan Lee que primeiro se aventurou no género super-heroico. Para cujo amadurecimento contribuiu ao privilegiar temáticas sociais sintonizadas com o espírito da época.

Biografia: Filho de um casal de católicos irlandeses de Saint Louis (Missouri), Dennis O'Neil veio ao mundo a 3 de maio de 1939. Por esses dias chegava também às bancas norte-americanas Detective Comics nº27, edição histórica que assinalou a estreia do Batman. Personagem com a qual o pequeno Denny. como era carinhosamente tratado no meio familiar, desde o primeiro momento parece ter entrelaçado o seu destino. Afinal de contas, décadas depois associaria o seu nome a várias obras capitais do Homem-Morcego.
O gosto pelas histórias aos quadradinhos, esse, tomou-o quando era ainda pessoa de palmo e meio. Nas tardes domingueiras, Denny tinha por hábito acompanhar o pai e o avô em peregrinação à mercearia do bairro onde o clã O'Neil assentara arraiais há largos anos. Além das provisões que serviriam para reabastecer a despensa lá de casa, a lista de compras incluía quase sempre uma banda desenhada que fazia as delícias do petiz dado a leituras.
Mal fora ainda dado o tiro de partida para essa viagem alucinante que foi a década de 1960 quando Dennis O'Neil saiu da Universidade de Saint Louis diplomado em Literatura Inglesa. Formação académica que incluíra, entre outras, a disciplina de Escrita Criativa, na qual ele se sentira como peixe na água.
Das salas de aulas, O'Neil seguiu, sem desvios nem paragens, para as casernas da Marinha dos EUA. Mesmo a tempo de participar no bloqueio naval a Cuba durante a crise dos mísseis soviéticos que, no opressivo outubro de 1962. obrigou o mundo a suster a respiração durante 13 longos dias.
Despida a farda de marinheiro, Dennis O'Neil arranjou emprego num pequeno tabloide do Missouri. Um par de vezes por semana escrevia uma coluna dedicada aos leitores mais jovens. Espaço que, durante os indolentes meses estivais, ele preenchia com revisitações da chamada Idade de Ouro dos quadradinhos. Foi através desses textos que captou a atenção de Roy Thomas, delfim de Stan Lee e seu futuro sucessor à frente dos destinos da Marvel Comics.
Por sugestão de Thomas, Stan Lee convidou Dennis O'Neil a realizar o teste a que se submetiam todos os candidatos a escritores na Casa das Ideias. Consistindo este na inserção de diálogos numa historieta do Quarteto Fantástico em quatro páginas. Tarefa aparentemente simples que servia, no entanto, para separar o trigo do joio numa época em que a Marvel dava cartas no mercado editorial dos super-heróis.

Roy Thomas (esq.) convenceu Stan Lee
a dar uma oportunidade a Dennis O'Neil.
O'Neil, a quem nunca passara pela cabeça ganhar a vida a escrever histórias aos quadradinhos, confessaria numa entrevista dada em 1986 que só aceitou fazer o teste porque tinha as tardes de terça-feira livres. Nas palavras do próprio, ficamos a saber como tudo se passou: «Em vez de, como era meu hábito, me entreter a resolver as palavras cruzadas, naquela tarde matei o tempo a escrever a história que Stan Lee me tinha proposto. Fi-lo, contudo, por brincadeira. Estava longe de imaginar que isso mudaria o curso da minha vida.»
Apesar da ligeireza com que encarou o desafio, a prestação de O'Neil deixou Stan Lee impressionado. Tanto que o então timoneiro da Marvel lhe ofereceu um emprego como argumentista. Convém salientar que, por esses dias, a Casa das Ideias andava em bolandas devido à impossibilidade de Lee continuar a escrever toda a linha de títulos da editora. Mesmo depois de ele ter passado o testemunho a Roy Thomas em alguns deles, era imperiosa a contratação de novos escribas.
Quando deu por si, O'Neil estava a escrever as histórias daquela que era então uma das personagens mais populares da Marvel: o Doutor Estranho, em Strange Tales. Seguir-se-iam passagens meteóricas por títulos secundários como Rawhide Kid e Millie the Model. Mais que não seja, essas experiências serviram para pôr à prova a sua versatilidade narrativa, uma vez que o primeiro era ambientado no Velho Oeste e o segundo possuía um cunho simultaneamente cómico e romântico.

Strange Tales nº148 (1966) trazia uma das primeiras histórias
 do Dr. Estranho da autoria de Dennis O'Neil.
Naquela que terá sido, provavelmente, a sua primeira colaboração com Neal Adams(1), Dennis O'Neil trouxe de volta à vida o Professor X, nas páginas de X-Men nº65. Cada vez mais requisitado, seria chamado de urgência a finalizar uma história do Demolidor deixada a meio por um Stan Lee ansioso por partir de férias.
Passada a euforia inicial, os trabalhos na Marvel começaram a rarear e a Dennis O'Neil não restou outra alternativa que não ir bater à porta da concorrência. Sob o imponente pseudónimo de Sergius O'Shaugnessy, durante cerca de ano e meio escreveu regularmente para a Charlton Comics, onde foi apadrinhado pelo lendário editor Dick Giordano. O mesmo que, quando, em 1968, se mudou de armas e bagagens para a DC Comics, levou consigo um grupo de promissores freelancers, entre os quais Dennis O'Neil.

Thunderbolt foi um dos títulos escritos por O'Neil
 durante a sua passagem pela Charlton Comics.
Ao entrar pela primeira vez na sede da DC, Dennis O'Neil e os seus antigos colegas da Charlton sentiram-se transportados para o passado. Mais precisamente para o interior de uma fotografia tirada em plena década de 50. O vestuário informal dos recém-chegados contrastava flagrantemente com o aprumo dos que lá trabalhavam. Enquanto estes usavam gravatas sobre camisas de um branco imaculado, os primeiros cultivavam um visual hippie, com cabelos compridos e roupas de cores berrantes. Apesar desse choque geracional, a convivência entre as duas tribos foi relativamente pacífica.
Com as vendas em declínio, a DC apostava em sangue novo para recuperar o terreno perdido para a concorrência capitaneada por Stan Lee. A palavra de ordem era "inovar": à criação de novas personagens, deveriam somar-se as abordagens ousadas às consagradas.
Em linha com essas diretrizes, O'Neil começou por assumir os enredos de Beware the Creeper.  Nessa nova série mensal os leitores travaram conhecimento com The Creeper, um bizarro herói acabadinho de sair da prodigiosa imaginação de Steve Ditko (2) e que, no Brasil, ficaria conhecido como Rastejante. A prova de fogo de O'Neil aconteceria, porém, nas páginas de Wonder Woman. E não se pode dizer que ele a tenha superado com distinção.
Em articulação com o artista Mike Sekowsky, O'Neil despojou a Mulher-Maravilha dos seus poderes e uniforme, tornando-a uma amazona proscrita no mundo dos homens. Sob a orientação de um guru cego chamado I Ching, Diana, qual James Bond de saltos altos, vestiria nessa controversa fase a pele de uma agente secreta constantemente enredada em intrigas internacionais. Alterações que não caíram bem junto dos fãs daquela que é a maior heroína do Universo DC, especialmente entre os da velha guarda e os que professavam o feminismo. Dito de outro modo, o tiro saiu pela culatra. Em vez de atrair novos leitores, a pouco ortodoxa abordagem de O'Neil à Princesa Amazona serviu apenas para enxotar mais uns quantos.


O início da polémica fase da Princesa Amazona
que trouxe amargos de boca a O'Neil.
Felizmente, as coisas correram-lhe um pouco mais de feição no outro título cujas histórias assumira em simultâneo. Ao introduzir temas políticos e sociais em Justice League, de uma penada O'Neil cativou um público mais maduro e testou uma fórmula que se revelaria de sucesso em Green Lantern/Green Arrow, a série que o consagraria. Causaria, porém, algum burburinho a sua decisão de desfalcar  a Liga da Justiça da Mulher-Maravilha e do Caçador de Marte, dois dos seus membros fundadores. Uma vez mais, nada voltaria a ser igual após a passagem de O'Neil. Como ficaria bem demonstrado no seu próximo projeto.
Tendo como ponto de partida a redefinição do visual do Arqueiro Verde levada a cabo, meses antes, por Neal Adams em The Brave and the Bold, Dennis O´Neil virou do avesso a vida do herói. De playboy milionário com síndrome de Robin dos Bosques, Oliver Queen passou a vigilante urbano falido e com tendências esquerdistas.
Sempre imbuídas de uma forte consciência social, as histórias do Arqueiro Verde depressa se tornaram a nova coqueluche da DC, vendendo como pãezinhos quentes. E culminando com a sua inclusão em Green Lantern/Green Arrow, título que, desde a Idade do Ouro, tinha como único cabeça de cartaz o Lanterna Verde, agora obrigado a dividir o palco com outro justiceiro em tons esmeralda.
Esta aclamada fase do Arqueiro Verde teria como ponto alto a história Snowbirds Don't Fly, publicada nos números 85 e 86 de Green Lantern/Green Arrow.
Numa altura em que o consumo de drogas ilícitas fora apontado como o inimigo nº1 dos EUA pelo presidente Nixon, os leitores foram surpreendidos pela revelação de que Roy Harper (vulgo Speedy/Ricardito), o jovem protegido e parceiro de Oliver Queen no combate ao crime era, afinal, um heroinómano. Provavelmente a melhor história de sempre do Arqueiro Verde, foi aplaudida de pé pela crítica e valeu uma mão cheia de prémios aos seus autores (ver texto seguinte).

A chocante revelação sobre a toxicodependência de Roy Harper
em Green Lantern/Green Arrow nº85 (1971).
Fama e glória que, como o próprio admitiria mais tarde, teve efeitos nocivos na vida de Dennis O'Neil: «Da noite para o dia, vi-me arrancado da total obscuridade e colocado debaixo dos holofotes mediáticos. O meu nome passou a aparecer em jornais como o The New York Times e choviam convites para participar em talk shows. Claro que toda essa exposição mexeu com a minha cabeça. Tornei-me uma pessoa diferente; uma pessoa que, olhando para trás, reconheço que nunca deveria existido. Por causa dela, deteriorei o meu casamento, perdi amizades e adquiri maus hábitos. Foram tempos complicados em que, a bem dizer, apenas me conseguia relacionar com a minha máquina de escrever.»
Ainda em 1971 deu-se outra importante mudança na carreira de Dennis O'Neil. Supervisionado por Julius Schwartz, assumiria nesse ano as histórias do Batman. A interpretação que fez do herói, retratando-o como um indivíduo obsessivo-compulsivo e ávido de vingança, devolveu-o às suas raízes e viria a influenciar todas as suas versões subsequentes. De The Dark Knight Returns a Batman: Year One, passando por Batman: The Killing Joke, a todas a obra de O'Neil serviu de matriz. Até porque foi ele o primeiro a estudar a fundo a psique da personagem. Concluindo, entre outras coisas, que era Bruce Wayne quem servia de disfarce ao Cavaleiro das Trevas, e não o inverso.
Além de um sortido memorável de sagas do Homem-Morcego, a dupla criativa composta por Dennis O'Neil e Neal Adams (entretanto reunida) introduziu novos vilões e revitalizou outros. Assim, ao mesmo tempo que surgiam R'as e Talia al Ghul (esta última criada a meias com o artista Bob Brown), o Joker e o Duas-Caras recuperavam protagonismo no microcosmos do Batman. Cuja popularidade entre os leitores disparou em flecha, após anos de estiolamento narrativo que o haviam descaracterizado.

O regresso do Joker foi um dos pontos altos fase do Batman
 produzida pela Dupla Dinâmica Dennis O'Neil/ Neal Adams
Apostado em dar um novo elã aos títulos do Super-Homem, Julius Schwartz, recém-nomeado seu editor, considerou Dennis O'Neil a escolha natural para escrever essa nova fase do herói. Entre as diversas alterações introduzidas nesse período à mitologia do Homem de Aço  - desenhado ainda pelo eterno Curt Swan(3) - , a mais surpreendente foi a  eliminação da kryptonita e, por inerência, da sua maior fraqueza.
Paralelamente, O'Neil teve ainda tempo e energia para revitalizar duas personagens da Idade do Ouro cuja propriedade intelectual fora entretanto adquirida pela DC: Capitão Marvel/Shazam e O Sombra. A sua maior extravagância seria, contudo, Superman versus Muhammad Ali, álbum gigante lançado em 1978, e  que contou uma vez mais com a arte de Neal Adams. Com este a elegê-lo como a sua colaboração favorita com O'Neil.

Super-Homem versus Muhammad Ali: o combate do século
 e uma das maiores excentricidades da história da DC.
Já não como um escritor novato mas com o rótulo de celebridade colado à pele, em 1980, após uma década ao serviço da DC, Dennis O'Neil regressou à Casa das Ideias. Fê-lo pela porta grande mas sem qualquer intenção de dormir à sombra dos louros. Ao longo dos cinco anos que por lá ficou, deixou a sua impressão digital nos diversos títulos cujas tramas lhe foram confiadas. Em Iron Man, por exemplo, ressuscitou o demónio na garrafa que tanto havia atormentado Tony Stark ao mesmo tempo que presenteava o herói com a icónica armadura de Centurião Prateado.
Seria, porém, enquanto editor de Daredevil que O'Neil alcançaria o seu maior mérito. Mal assumiu o cargo, tratou logo de se desenvencilhar do argumentista Roger McKenzie para que Frank Miller pudesse escrever e desenhar as aventuras do Homem Sem Medo. Decisão que o à época editor-chefe da Marvel, Jim Shooter, classificaria como determinante para evitar o mais do que expectável cancelamento de uma série que estrebuchava nas águas pantanosas em que caíra.
Apesar dessa sua intervenção providencial, Dennis O'Neil tinha uma visão muito própria do seu papel enquanto editor. Se dele dependesse, o seu trabalho seria invisível para os leitores e o seu nome não surgiria creditado nas histórias por ele editadas.
Até o Homem Sem Medo deve a sua sobrevivência a Dennis O'Neil.

De volta à DC em 1986, Dennis O'Neil passaria a acumular as funções de escritor e editor dos títulos do Batman até 2000. Sob a sua batuta, o Cavaleiro das Trevas voltaria a viver dias de glória. Seria nessa fase que despontariam obras capitais como Knightfall (A Queda do Morcego), Batman: Sword of Azrael (A Espada de Azrael) ou Batman: Birth of Demon (Batman: O Nascimento do Demónio). Todas elas saídas da pena de Dennis O'Neil, todas elas momentos definidores na vida do herói.
Embora sempre sob o signo do morcego, O'Neil seria igualmente responsável pelas histórias do Questão, que fizeram furor no início da década de 1990, e coautor da saga  Armageddon 2001 (4).

The Sword of Azrael foi um dos êxitos que marcou
 o regresso de Dennis O'Neil à Editora das Lendas.
Alquimista das letras, as proezas literárias de Dennis O'Neil não se circunscrevem à banda desenhada. Com uma extensa obra publicada, o seu repertório inclui vários romances, contos e guiões televisivos. São também da sua autoria as novelizações dos filmes Batman Begins e The Dark Knight.
Em finais dos anos 1990, O'Neil, sempre em busca de novos desafios, aventurou-se no ensino. Na prestigiada School of Visual Arts, sediada em Manhattan, ministrou um curso de escrita criativa direcionado para os comics. Como assistente teve John Ostrander, seu colega de ofício e velho conhecido da Editora das Lendas.
Casado com Marifran O'Neil, sua companheira desde os tempos de juventude, Dennis é pai do cineasta Lawrence O'Neil notabilizado pelo seu filme de 1997, Breast Men.
Afastado dos quadradinhos a que esteve ligado durante mais de quatro décadas, divide atualmente o seu tempo entra a vida familiar e as suas responsabilidades como diretor da The Hero's Initiative. Rede de beneficência que presta auxílio financeiro e cuidados médicos a antigos profissionais dos quadradinhos cujas vidas, por um motivo ou por outro, saíram dos eixos.
Julgando por este gesto de enorme generosidade e humanismo, o brilho da carreira deste grande senhor da 9ª Arte só empalidece perante o do seu coração de ouro.

Dennis O'Neil e Neal Adams (esq.) lado a lado
 num painel de conferências na Comic Con de San Diego.

1) Perfil de Neal Adams disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2014/06/eternos-neal-adams-1941.html

2) Perfil de Steve Ditko disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2012/03/eternos-steve-ditko.html

3) Perfil de Curt Swan disponível em http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/07/eternos-curt-swan-1920-1996.html

4) Leiam aqui a resenha de Armagedoon 2001 http://bdmarveldc.blogspot.pt/2013/05/do-fundo-do-bau.html

Prémios e distinções: Lenda viva da 9ª Arte, Dennis O'Neil desde cedo obteve o reconhecimento da indústria dos quadradinhos. Rendido à sua sofisticação narrativa, logo na edição inaugural do concurso, em 1970, o júri dos Shazam Awards distinguiu-o com três desses cobiçados galardões. Para quem não sabe, são o equivalente bedéfilo dos Óscares da Academia de Hollywood.
Pelo primoroso trabalho desenvolvido em Green Lantern/Green Arrow, O'Neil venceu nas categorias de melhor escritor, melhor história individual e melhor série regular. Dividindo o prémio nestas duas últimas com Neal Adams, seu parceiro criativo no título que basculou ambos ao estrelato. Cenário que se repetiria no ano seguinte quando a parelha arrecadou novo Shazam Award por conta de Snowbirds D'ont Fly, ainda hoje considerada uma das melhores histórias alguma vez produzidas com a chancela da DC.
Nesse memorável ano de 1971, Dennis O'Neil conquistou ainda dois Goethe Awards, novamente na categoria de melhor escritor e de melhor história individual e, uma vez mais, a meias com Neal Adams neste último segmento. Um par de anos volvidos, em 1973, O'Neil seria outra vez nomeado para melhor escritor, mas dessa feita não teve de arranjar espaço na prateleira lá de casa pois voltou de mãos a abanar. Algo que não aconteceria em 2014, quando viu a sua fulgurante carreira distinguida por um Eisner Award.
A maior honraria a adornar o seu invejável currículo foi-lhe, no entanto, concedida em 1985. Ano em que a DC incluiu o seu nome em Fifty Who Made DC Great, livro de ouro que pretendia render homenagem à meia centena de individualidades cujo contributo mais engrandeceu a Editora das Lendas.

Dennis O'Neil exibe o Eisner Award  que lhe foi atribuído em 2014.

Notas finais:

*Dennis O'Neil, Archie Goodwin e Mike Carlin foram três dos antigos editores da DC a serem parodiados em The Batman Adventures, título mensal baseado na série televisiva Batman: The Animated Series, cuja publicação se iniciou em 1992.
Nas histórias eles eram apresentados como um bando de supervilões desastrados liderados pelo imperturbável The Perfesser. Suposto génio do crime inseparável do seu cachimbo e propenso a engendrar as mais mirabolantes golpadas, a pitoresca personagem servia de avatar a Dennis O'Neil.
Sempre absorto em pensamentos, The Perfesser esquecia-se amiúde de transmitir informações vitais aos seus cúmplices para a execução dos golpes que ele próprio arquitetava. Mesmo sem a interferência do Cruzado Encapuzado, os planos da quadrilha iam muitas vezes por água abaixo devido à incompetência do seu líder. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando após planeamento minucioso do assalto a um hotel, ao chegarem ao local os três patetas depararam-se com um edifício vazio e sem nada para roubar. Tudo porque The Perfesser, do alto da sua infinita sabedoria, se tinha esquecido que o mesmo fora abandonado há uma dúzia de anos...

The Perfesser, o génio do crime que parodiava
 Dennis O'Neil em The Batman Adventures.

No entanto, apesar da sua aparente inépcia, The Perfesser provou, em pelo menos uma ocasião, ser mais inteligente do que o próprio Batman. Desafiados a decifrar um intrincado enigma em três partes fornecido pelo Charada, levou a melhor sobre o pretenso melhor detetive do mundo;
* Num registo mais sério, em 2008 Dennis O'Neil emprestou a sua voz aos comentários incluídos na edição em DVD de Batman: Gotham Knight, antologia de seis curtas-metragens do Homem-Morcego produzidas ao estilo anime.
* Na sua segunda passagem pela Marvel, na primeira metade da década de 80 do século passado, Dennis O'Neil esteve diretamente envolvido na conceção dos Transformers. É-lhe, de resto, atribuída a escolha do nome Optimus Prime, líder dos Autobots;
*Sob o pseudónimo Jim Dennis, O'Neil escreveu várias novelas protagonizadas por Richard Dragon, um mestre das artes marciais, transformado em personagem de BD pela DC, a partir de 1974;
*Entre o extenso rol de personagens criadas por Dennis O'Neil ao longo da sua vetusta carreira, algumas tornaram-se proeminentes na mitologia das respetivas licenciadoras. Casos, por exemplo, do Lanterna Verde John Stewart e de Arzael na DC, ou Madame Teia e Obadiah Stane (vulgo Monge de Ferro) na Marvel.
*Foi também o "arquiteto" do famigerado Asilo Arkham, instituição psiquiátrica destinada a acolher criminosos demenciais, como o Joker, o Espantalho e tantos outros.


John Stewart (cima) e Monge de Ferro,
 duas das mais carismáticas personagens criadas por Dennis O'Neil.