13 outubro 2017

HERÓIS EM AÇÃO: CAPITÃO MARVEL


  Nos anos de chumbo da guerra e da Grande Depressão, fulminou o desalento de uma geração com os seus relâmpagos de otimismo. Velha glória da Fawcett Comics, demoliu o mito da invencibilidade do Homem de Aço e foi o primeiro super-herói adaptado ao cinema. Mesmo sem o fulgor de outrora, continua a ser uma das personagens mais acarinhadas pelos fãs, e um garrido lembrete de uma época de maior simplicidade.


Nota prévia: Para uma melhor compreensão da génese do Capitão Marvel, do seu impacto cultural durante a Idade de Ouro da banda desenhada e das incidências do processo judicial em que se viu enredado, é altamente recomendável a leitura do meu artigo anterior.

Denominação original: Captain Marvel (renomeado oficialmente de Shazam em 2011)
Licenciadora: Fawcett Comics (1939-1953) e DC Comics (desde 1972)
Criadores: Bill Parker (história) e Charles Clarence "C.C." Beck (arte conceptual)
Estreia: Whiz Comics nº2 (Fevereiro de 1940)
Identidade civil: William Joseph "Billy" Batson
Local de nascimento: Fawcett City
Parentes conhecidos: C.C. e Marilyn Fawcett (pais, falecidos); Mary Batson/Mary Marvel (irmã gémea); Ebenezer Batson (tio) e Sinclair Batson (primo, falecido)
Ocupação: Repórter, locutor radiofónico e aventureiro
Base operacional: Fawcett City e Pedra da Eternidade (originalmente, o covil do Mago Shazam onde os 7 Pecados Mortais se encontravam aprisionados, é hoje descrita como um nexo interdimensional e um estação de poder para os portadores do relâmpago mágico)
Afiliações: Família Marvel e Liga da Justiça
Poderes, armas e habilidades: Acrónimo de Salomão, Hércules, Aquiles, Zeus, Atlas e Mercúrio, sempre que a palavra "Shazam" é proferida por Billy Batson, a entidade mística conhecida como Capitão Marvel é invocada.
Apesar desta conexão do herói com as figuras mitológicas enumeradas ter vindo a esbater-se em versões mais recentes, ele continua a extrair delas as suas assombrosas habilidades. Assim, o Capitão Marvel possui a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a coragem de Aquiles, o poder de Zeus, o vigor de Atlas e a velocidade de Mercúrio. Cujo somatório justifica plenamente o epíteto de Mortal Mais Poderoso da Terra.
A este impressionante catálogo clássico de poderes e habilidades foram acrescentados mais uns quantos recursos no âmbito da sua reformulação em Os Novos 52. Além de conseguir agora teletransportar-se, o Capitão Marvel adquiriu nesse contexto a capacidade de manipular o relâmpago mágico responsável pela sua transformação. Aporte que, entre outras proezas, lhe permite lançar rajadas elétricas pelas mãos.
Outra novidade consiste no facto de, uma vez proferida a palavra mágica, a metamorfose de Bill Batson só ocorrer se for esse o seu desejo.

Shazam: com 6 letrinhas apenas se escreve uma história de sucesso.

Vulnerabilidades: Apesar da sua elevada resistência à magia, o Capitão Marvel não lhe é completamente imune. Sendo, portanto, suscetível a ataques místicos de grande envergadura lançados por magos de primeira grandeza como o Senhor Destino ou Zatanna.
Originalmente, nas situações em que a Família Marvel atuava em conjunto, sobrevinha daí um fracionamento dos respetivos poderes. Se, por exemplo, três dos seus membros estivessem ativos em simultâneo, cada um deles dispunha apenas de um terço da magia de Shazam. Esse constrangimento foi, contudo, abolido após a reformulação do Capitão Marvel no âmbito dos Novos 52, passando dessa forma o herói a conservar a plenitude dos seus poderes mesmo quando secundado pela Família Marvel.
Por outro lado, o mesmo relâmpago mágico que transforma o pequeno Billy Batson no Mortal Mais Poderoso da Terra pode também ser usado para reverter o processo. Expediente ao alcance de poucos mas que, no passado, foi já utilizado por Adão Negro para sobrepujar o herói.
Criança em corpo de adulto, o Capitão Marvel (pelo menos na sua versão clássica) tende a ser excessivamente otimista, e até mesmo ingénuo. Se em determinados contextos isso o investe de uma certa superioridade moral, noutros representa uma fraqueza passível de ser explorada pelos seus adversários ou de o tornar alvo da condescendência dos seus pares.
De igual modo, também a inexperiência do herói condiciona muitas vezes a forma como emprega os seus poderes, cuja real extensão ele desconhece ainda.

A ingenuidade de Billy Batson
 é um dos pontos fracos do Capitão Marvel.
Conceção 

Ia já adiantado o ano de 1939 quando, em resposta ao enorme sucesso alcançado por Superman e Batman (ambos propriedade da National Comics, antepassada da atual DC), a Fawcett Publications  resolveu lançar a sua própria linha de super-heróis.
Escriba talentoso, Bill Parker foi cooptado para criar o naipe de personagens que deveriam abrilhantar o novo título periódico que sinalizaria o ingresso da Fawcett no cada vez mais apetecível mercado dos quadradinhos. Além de Spy Smasher, Dan Dare, Ibis the Invincible e Golden Arrow, Parker imaginou também um sexteto heroico em que cada um dos elementos que o compunham detinha um poder concedido por uma figura mitológica.
Quando Parker explanou esta última ideia a Ralph Daigh, o diretor-executivo da Fawcett Comics sugeriu-lhe que combinasse os seis poderes num só herói. Parker anuiu e, poucos dias depois, regressou ao gabinete de Daigh para lhe apresentar Captain Thunder. Personagem que, como mais adiante se perceberá, serviu de protótipo ao Capitão Marvel.
A tarefa de desenhar a história de Parker foi confiada a Charles Clarence Beck, artista veterano da Fawcett com um estilo fortemente influenciado pela estética dos cartunes. Esse traço quase caricatural tornar-se-ia, de resto, a imagem de marca das aventuras do Capitão Marvel ao longo da Idade do Ouro.

C.C. Beck (1910-1989),
um dos mais brilhantes iconoclastas da Idade do Ouro dos comics.
Anos mais tarde, Beck recordaria em entrevista como tudo se processou: "O chefe (Roscoe K. Fawcett, fundador da Fawcett Comics) queria um Superman que fosse também um menino.Quando eu e o Bill começámos a trabalhar nas histórias do Capitão Marvel, constatámos quão precárias eram a escrita e a arte da generalidade das publicações com super-heróis. Chegavam a ser medíocres! Decidimos, por isso, brindar os nossos leitores com material de qualidade. O que era sinónimo de histórias bem escritas, bem ilustradas e que não se limitassem a reproduzir as estafadas fórmulas narrativas da literatura pulp. Era isso que nos propúnhamos fazer. Porque, em boa verdade, ninguém o fizera ainda. E uma boa maneira de o conseguirmos seria revisitando conceitos retirados do folclore e da mitologia clássica."
Diferentes fontes de inspiração influenciaram a conceção do Capitão Marvel. Que teve, contudo, no ator Fred MacMurray (muito popular à época) o seu principal modelo anatómico. Pese embora sejam igualmente legítimas as comparações com outros galãs de Hollywood seus contemporâneos, como Cary Grant e Jake Oakie.

O Capitão Marvel foi tirado a papel químico
 do ator Fred MacMurray.
Na base da escolha do nome do alter ego do herói - um rapazote chamado Billy Batson - esteve a alcunha castrense através da qual o fundador da Fawcett Publications se notabilizara: Capitão Billy.
A estes elementos averbaram-se outros decalcados daquele que era então o super-heróis mais popular da Idade do Ouro. Tal como o Superman, também o Capitão Marvel possuía força descomunal, supervelocidade e um repórter como identidade secreta. Características comuns que lhe valeram a preferência dos leitores, mas, também, um danoso processo por plágio movido pela National Comics.

Histórico de publicação 

Apenas para fins de depósito legal e de divulgação, a primeira - e única - historieta de Captain Thunder foi dada à estampa no outono de 1939 e inclusa tanto em Flash Comics nº1 como em Thrill Comics nº1. Nenhum deles pôde, no entanto, ser registado dada a existência de conceitos homónimos já detidos por outras editoras.
Em virtude desses constrangimentos, e por sugestão do ilustrador Pete Costanza, Captain Thunder seria rebatizado de Captain Marvelous antes de ver o seu nome abreviado para Captain Marvel pelos editores da Fawcett. Quanto à série mensal destinada a acolhê-lo, teve o seu título alterado para Whiz Comics, em singela homenagem ao almanaque humorístico que, duas décadas antes, estivera na base da fundação da Fawcett Publications.
Datado de fevereiro de 1940, o segundo número de Whiz Comics não serviu, contudo, apenas de palco à estreia do Capitão Marvel. Também aquele que seria o seu arqui-inimigo - o diabólico cientista conhecido como Doutor Sivana - se deu a conhecer nessa edição histórica. Com meio milhão de exemplares vendidos, dificilmente a estreia da nova coqueluche da Fawcett poderia ter sido mais auspiciosa.

A trepidante estreia do Capitão Marvel
em Whiz Comics nº2 (1940).
De facto, inebriados pelo otimismo que infundia as histórias do Capitão Marvel, os leitores - que nelas encontravam uma escapatória a um opressivo quotidiano marcado pela guerra e pela incerteza - depressa fizeram dele o novo campeão de vendas, em detrimento do Superman.
Além do tom divertido das aventuras do Mortal Mais Poderoso da Terra - amiúde salpicadas por notas de surrealismo - , parte do seu sucesso poderá também ser explicado pela circunstância das histórias serem quase sempre narradas sob o ponto de vista de uma criança.
Era Billy Batson quem, ao microfone da estação de rádio WHIZ, ia relatando as façanhas da sua persona heroica. Conseguindo dessa forma estabelecer uma forte empatia com a sua audiência maioritariamente composta por pessoas de palmo e meio como ele.

Era o próprio Billy Batson quem muitas vezes
 servia de narrador às aventuras do Capitão Marvel.
Ano de glória para o Capitão Marvel, 1941 ficou marcado pela sua adaptação ao cinema (ver Noutros media) e pela sua ubiquidade nas publicações da Fawcett Comics. A Whiz Comics, o herói acrescentou um título em nome próprio - Captain Marvel Adventures - e participações regulares em Master Comics e Wow Comics. Ainda nesse ano seria lançado o primeiro spin-off. Capitão Marvel Jr. - que, ao contrário do original, não se transformava em adulto ao pronunciar "Shazam" - inaugurou uma igualmente bem-sucedida franquia.
Com efeito, entre 1945 e 1954, a Família Marvel (cujo núcleo duro incluía ainda Mary Marvel) teve as suas aventuras publicadas em The Marvel Family, outro dos títulos de charneira da Fawcett Comics, e um dos mais populares durante a Idade do Ouro. Mas que, à semelhança do restante catálogo super-heroico da editora, teria morte prematura em resultado do acordo extrajudicial negociado com a National Comics após longa e inconclusiva batalha travada na barra dos tribunais.

As aventuras da Família Marvel
encantaram toda uma geração de leitores.
Do purgatório onde se viu preso durante quase uma vintena de anos, o Capitão Marvel assistiu impotente ao desvanecimento da Idade do Ouro e à progressiva decadência dos super-heróis. Mas também a algumas tentativas frustradas de reabilitação.
Como aquela levada a cabo, logo em 1953, pela L. Miller and Son, pequena editora britânica que republicava histórias antigas de super-heróis em terras de Sua Majestade.
Ao ver-se subitamente privada do material original que lhe era fornecido pela Fawcett Comics, a L. Miller and Son requisitou uma versão genérica do Capitão Marvel ao escritor Mike Anglo.
Nascia assim Marvelman, galante herói com poderes idênticos aos do Capitão Marvel, obtidos sempre que ele vociferava "Kimota" ("Atomik" lido de trás para a frente). Até 1963, ano em que teve as suas histórias suspensas, Marvelman (atualmente conhecido como Miracleman) substituiu o Mortal Mais Poderoso da Terra no imaginário popular da Velha Albion. Tendo também aportado em Terras Tupiniquins, onde atendia pelo nome de Jack Marvel.
Em 1966, seria a vez da M.F. Enterprises (obscura editora nova-iorquina que cerraria portas no ano seguinte) lançar o seu pastiche do Capitão Marvel. Alegadamente baseado numa personagem criada por Carl Burgos ("pai" do Tocha Humana original), este herói com prazo de validade curto era um androide de origem extraterrestre cuja principal habilidade consistia em dividir o seu corpo em várias partes autónomas. Processo desencadeado sempre que ele gritava "Split" (palavra inglesa para "dividir") e revertido quando proferia "Xam"(sem tradução aplicável). Outra das suas originalidades residia no facto de ter um mentor humano chamado Billy Baxton.

Nasceu em terras de Sua Majestade
o primeiro genérico do Capitão Marvel.
No que muitos percecionarão como um ato de justiça poética (ou de inenarrável cinismo), em 1972, no rescaldo da chamada Idade de Prata da banda desenhada, a DC Comics, por iniciativa do seu editor-chefe, Carmine Infantino, adquiriu os direitos de licenciamento da quase totalidade das personagens da Fawcett Comics. Lote que incluía, obviamente, toda a Família Marvel, ou não tivesse sido esta a franquia que a Editora das Lendas mais cobiçara à antiga rival.
Assim resgatado do ostracismo por quem a ele o havia condenado, esperava-se um regresso triunfal do Capitão Marvel. Sucede que a sua incorporação na continuidade da DC foi seriamente dificultada por consecutivos percalços.
Começando pela impossibilidade de o Capitão Marvel dispor de um título em nome próprio. Isto porque, durante o seu longo exílio, a Marvel Comics havia patenteado uma personagem homónima, obrigando desse modo a titular de Shazam a nova série mensal do Mortal Mais Poderoso da Terra, que deveria ter servido para devolvê-lo à ribalta.

Cover
Em 1973, a estreia do Capitão Marvel
 no Universo DC foi apadrinhada pelo Superman.
No entanto, fruto de circunstâncias várias, em momento algum a antiga joia da coroa da Fawcett Comics conseguiu recuperar o seu fulgor de outrora. Tardando mesmo em afirmar-se no Universo DC, conforme demonstra o fracasso de todas as séries epónimas lançadas até à data.
Reduzido a uma espécie de coadjuvante de luxo e supletivo da Liga da Justiça, o Capitão Marvel foi oficialmente renomeado de Shazam em 2011. Ano a que remonta também, no contexto mais amplo dos Novos 52, a última tentativa de revitalização de que foi alvo. Além da mudança de nome, teve também a sua origem e visual retocados (mais pormenores no texto seguinte). Mas nem por isso os resultados foram mais satisfatórios.

Origem 

Na sua primeira aparição em Whiz Comics nº2 (fevereiro de 1940), Billy Batson era um pequeno órfão que sobrevivia graças ao seu trabalho como ardina e que tinha numa estação de metro abandonada o seu lar improvisado.
Conduzido, certo dia, por uma misteriosa figura ao covil subterrâneo do Mago Shazam, Billy ficou a saber como o ancião vinha usando os poderes das divindades cujas iniciais compunham o seu nome para combater o Mal nos últimos 3 mil anos.
Demasiado velho para prosseguir tão exigente missão, Shazam escolhera Billy para seu sucessor por causa do infortúnio do rapaz. Sendo nesse momento revelado que ele fora vítima da ganância de um tio que, após o falecimento dos seus pais, o expulsara de casa, para assim se poder assenhorar da sua herança. Apesar desta explicação, em revisitações posteriores da história acrescentar-se-ia que a escolha de Billy se ficara a dever também à sua pureza de coração.
Conforme profetizado, ao transmitir os seu poderes a Billy, o mago Shazam morreu esmagado por uma gigantesca pedra que, qual espada de Dâmocles, impendia sobre o seu o trono. Voltaria, no entanto, na forma de espírito, para servir de mentor ao seu novo campeão.

O Mago Shazam saúda o seu novo campeão.
Na sua primeira aventura como Capitão Marvel, Billy teve pela frente o Doutor Sivana. Com tanto de genial como de perverso, este cientista careca e de aspeto raquítico tornar-se-ia o arqui-inimigo do herói.
Foi também nessa história inaugural que Billy conseguiu o seu emprego como repórter e locutor da rádio WHIZ. Atividade que lhe permitia viajar e investigar o submundo do crime. Sempre que isso o metia em apuros, bastava-lhe gritar "Shazam" para assim convocar o seu poderoso alter ego.
Salvo por pequenas cambiantes introduzidas após a sua passagem para a DC (como a imputação da morte dos pais de Billy ao Adão Negro), a origem do Capitão Marvel permaneceu praticamente inalterada até aos Novos 52. Na nova versão que daí resultou, Billy Batson passou a ser retratado como um adolescente problemático e arrogante, num flagrante contraste com a docilidade do seu antecessor.
Quando o Doutor Sivana libertou o Adão Negro da sua tumba, o Mago Shazam convocou Billy para fazer dele o seu novo campeão. Apesar do jovem estar longe de ser o candidato ideal, Shazam, em desespero de causa, acabou mesmo por imbuí-lo do seu poder.
Depois de, num primeiro momento, usar as suas recém-adquiridas habilidades para ganhar dinheiro, o Capitão Marvel aprendeu lentamente o significado de ser um herói.

Agora rebatizado de Shazam, o Mortal Mais Poderoso da Terra
foi reimaginado nos Novos 52.

 Coadjuvantes

Nas suas histórias clássicas da Fawcett Comics, era comum o Capitão Marvel liderar a Família Marvel na sua interminável luta contra o Mal. Do grupo faziam parte também o Mago Shazam, Mary Marvel e Capitão Marvel Jr. (respetivamente, o mentor, a irmã gémea e o protegido do Mortal Mais Poderoso da Terra).
A este núcleo duro superpoderoso acrescia um conjunto de membros ocasionais destituídos de habilidades sobrenaturais. Eram eles o Tio Marvel, o Coelho Marvel e os Tenentes Marvel, reunindo estes últimos três homónimos de Billy Batson.
Ainda na categoria dos aliados tradicionais do Capitão Marvel, destacavam-se o tigre falante chamado Senhor Malhado e Beautia e Magnificus Sivana, os amáveis filhos do Doutor Sivana. Que, por sua vez, presidia ao índice de arqui-inimigos do Mortal Mais Poderoso da Terra onde pontificavam também Adão Negro ( Black Adam, o corrompido primeiro campeão do Mago Shazam), Capitão Nazi (Captain Nazi,supersoldado ao serviço do 3º Reich) e o Senhor Mente (Mister Mind, uma minhoca com talentos telepáticos).


Doutor Sivana (cima) e Adão Negro:
dois dos arqui-inimigos do Capitão Marvel.
Inicialmente incorporadas no Multiverso DC, algumas destas personagens tiveram contudo a sua existência apagada no período pós-Crise nas Infinitas Terras. Casos, por exemplo, do Tio Marvel e dos Tenentes Marvel.
Na realidade emanada dos Novos 52, Billy Batson possuía cinco irmãos adotivos, com os quais podia compartilhar os seus poderes. Mary Batson, Freddy Freeman, Pedro Peña, Eugene Choi e Darla Dudley formavam a nova (e multicultural) Família Marvel, cuja mascote era um tigre do zoológico de Fawcett City chamado Malhado.
Nos Novos 52 a Família Marvel ganhou novos membros.

Versões alternativas

Desde a sua migração para o Universo DC, o Capitão Marvel teve direito a um número significativo de sósias e versões alternativa. Tão significativo que me limitarei a elencar aqui os mais notórios.

Captain Thunder: Em Superman nº276 (junho de 1974), o Homem de Aço deparou-se com o formidável Captain Thunder. Crismado de Capitão Corisco no Brasil, era um super-herói procedente de uma dimensão paralela que obtinha os seus poderes ao esfregar um cinturão mágico enquanto gritava "Thunder" - acrónimo para Tornado, Hare, Uncas, Nature, Diamond, Eagle e Ram. O seu nome derivava daquele que fora originalmente atribuído ao Capitão Marvel.


Capitão Trovão foi o primeiro sósia
do Mortal Mais Poderoso da Terra no Universo DC.
Captain Thunder (2011): Na linha temporal divergente acidentalmente criada pelo Flash e apresentada na minissérie Flashpoint (Ponto de Ignição), a Terra tinha em Captain Thunder um dos seus maiores campeões. Esta contraparte do Capitão Marvel possuía não um mas seis alter egos. Seis crianças conhecidas coletivamente como S.H.A.Z.A.M., cada uma delas dispondo de um atributo mágico específico. A invocação do seu avatar só era possível quando os seis gritavam "Shazam" em uníssono.
Note-se que esta declinação remete para o conceito originalmente imaginado por Bill Parker quando foi incumbido da criação do Capitão Marvel.

Kingdom Come
: Em 1997, a minissérie Kingdom Come (Reino do Amanhã) apresentava um possível futuro distópico no qual os super-heróis tradicionais haviam sido substituídos por uma nova geração de justiceiros adeptos de métodos radicais e ultraviolentos.
Agora um adulto, Billy Batson mantivera-se durante vários anos na sombra devido à crescente hostilidade da opinião pública para com os meta-humanos. Seria, no entanto, descoberto por Lex Luthor que, com a ajuda dos filhos do Senhor Mente, o submeteu a uma lavagem cerebral.
Assim transformado num lacaio de Luthor, o Capitão Marvel acabaria por redimir-se ao sacrificar a própria vida para salvar milhões de inocentes. A sua capa serviria de símbolo para a nova era de harmonia entre humanos e meta-humanos imposta pelo Superman e seus aliados;

Corrompido por Luthor, o Capitão Marvel
 esteve do lado errado da história em Kingdom Come.
Mazahs: Introduzido em 2013 na minissérie Forever Evil (Vilania Eterna), este sósia maligno do Capitão Marvel foi trazido como prisioneiro para o nosso mundo pelo Sindicato do Crime - versão simétrica da Liga da Justiça originária da Terra-3. Tratava-se do alter ego superpoderoso de Alexander Luthor que, em conluio com a Superwoman (mescla da Mulher-Maravilha e Lois Lane), pretendia dominar o nosso mundo.
Assassinado pelo Luthor da Terra-1, deixou órfão o filho que a Superwoman lhe carregava no ventre.

Noutros media

Com forte penetração em praticamente todos os segmentos culturais, o Capitão Marvel foi o primeiro super-herói a ganhar vida no grande ecrã. Logo em 1941, a Republic Pictures produziu Adventures of Captain Marvel. Protagonizado por Tom Tyler (e com Frank Coghlan Jr. no papel de Billy Batson), este folhetim em 12 episódios a preto branco, epifenómeno de sucesso,  usou efeitos especiais que haviam sido desenvolvidos para uma produção idêntica do Superman que nunca saiu do papel.
A fazer fé nos inúmeros rumores postos a circular no ciberespaço, o Mortal Mais Poderoso da Terra deverá regressar ao cinema em 2019. Por ora são, contudo, mais as dúvidas do que as certezas em torno do projeto. Desde logo acerca do nome do ator escolhido para emprestar corpo ao herói. Isto apesar de Alan Ritchson ter recentemente confirmado, via Twitter, ser ele o eleito para o papel.
Fora dos quadradinhos, foi, porém, através de Shazam!, icónica série televisiva produzida pela Filmation e exibida pela CBS de 1974 a 1977, que o Capitão Marvel recuperou alguma da sua popularidade de outrora junto do grande público. Interpretado por Jackson Bostwick na primeira temporada e por John Davey nas duas seguintes, o herói praticava nela uma espécie de justiça itinerante ao viajar através dos EUA para defender os fracos e oprimidos.


Capa da edição DVD de Adventures of Captain Marvel (cima)
e os dois atores que encarnaram o herói na série televisiva
dos anos 70.
Ainda no pequeno ecrã, pouco tempo depois do cancelamento da sua série, o Capitão Marvel (agora encarnado por Garret Craig) seria um dos super-heróis da DC a participar em Legends of the Super-Heroes, paródia de baixo orçamento em dois episódios produzida em 1979 pelos estúdios Hanna-Barbera.
No campo da animação, além das suas numerosas participações em filmes e séries com a chancela da Warner, o Capitão Marvel teve em Shazam! um dos pontos mais altos da sua carreira audiovisual. Sob o selo da Filmation e emitida pela NBC entre 1981 e 1982, esta série animada representou uma fidelíssima adaptação do imaginário do herói, onde não faltaram personagens emblemáticas como a Família Marvel e o Doutor Sivana.

A Família Marvel reunida em Shazam! (1981-82).
Ao atribuir-lhe um módico 50º lugar na sua lista dos melhores super-heróis de todos os tempos, a equipa do site IGN classificou o Capitão Marvel como "um lembrete duradouro de uma época de maior simplicidade". Definição igualmente lisonjeira consta na plataforma de entretenimento UGO Networks: "No seu melhor, o Capitão Marvel foi sempre um Superman com um sentido de humor irresistível."
Irresistível continua a ser, de facto, o fascínio que este magnífico expoente da Idade do Ouro dos comics continua a exercer nos fãs. Sobretudo entre aqueles que, como eu, tiveram uma infância mais divertida por conta das  mirabolantes aventuras do "Capitão Fraldinha" - nas imortais palavras de Guy Gardner durante a fase cómica da Liga da Justiça.

Um herói à prova de bala e de melancolia.





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