20 junho 2014

ETERNOS: NEAL ADAMS (1941 - ...)


     Reabilitou Batman e outras personagens emblemáticas da DC, cativando dessa forma toda uma nova safra de leitores. Lenda viva da nona arte, notabilizou-se também pela defesa dos direitos autorais dos seus pares.

Biografia e carreira: Neal Adams nasceu em Governors Island (Nova Iorque), a 15 de junho de 1941, no seio de uma família judaica. Frequentou a School of Industrial Art (espécie de escola profissional vocacionada para as artes gráficas situada em Manhattan), onde se diplomou em 1959.
     Nesse mesmo ano, o jovem (tinha apenas 18 anos) e ambicioso Adams enviou uma amostra do seu trabalho para a DC Comics, na esperança de se tornar um ilustrador freelancer ao serviço da Editora das Lendas. Quando esta rejeitou o seu portefólio, Adams não esmoreceu e tentou a sua sorte junto da Archie Comics. Conseguiu então fazer-se contratar e assumiu a arte das aventuras da lenda do Velho Oeste, Bat Masterson, publicadas sob a forma de tiras diárias num jornal.
     Entre 1962 e 1966, Adams ganhou projeção ao ilustrar outra tira de jornal, baseada em Ben Casey, popular série televisiva transmitida pelo canal ABC que retratava o dia da dia num hospital.

A arte de Neal Adams na tira inaugural de Ben Casey (novembro de 1962)

     Após uma saída pouco pacífica da Archie Comics, Neal Adams enveredou pela arte comercial ao serviço de uma agência publicitária. Um trabalho que não lhe enchia as medidas, motivando-o por isso a tentar nova aproximação à DC no ano seguinte.
     Com efeito, em meados de 1967, Adams acabou mesmo por ser contratado pela Editora das Lendas para desenhar uma história do Desafiador (Deadman, no original), inserida no título Strange Adventures. Esta foi, de resto, a primeira personagem da DC para cuja revitalização contribuiu.
      O traço realista de Adams deixou os leitores impressionados e não tardou a que se tornasse o principal capista da DC. Entre os variadíssimos trabalhos produzidos nessa qualidade, destacam-se as capas de Action Comics nº356  e Superman's Girl Friend, Lois Lane nº79, ambas datadas de novembro de 1967 e estreladas pelo Homem de Aço.
 
A premiada capa de Strange Tales nº207, uma das primeiras produzidas por Neal Adams.
   
      Nos derradeiros dias da chamada Idade da Prata dos Quadradinhos, Adams foi desafiado a desenhar um história do Homem-Elástico da autoria de Gardner Fox (argumentista prolífico e criador, entre outros, da versão moderna do Gavião Negro). Não obstante tratar-se de uma personagem secundária do Universo DC, a história em questão seria publicada em Detective Comics, título icónico onde, em 1939, se estreara um certo Homem-Morcego.
      Apesar do seu crescente sucesso ao serviço da DC, a verdade é que Adams continuava a colaborar com a editora na qualidade de freelancer. Razão pela qual não viu problema em trabalhar em simultâneo para  a sua principal concorrente. A partir de 1969, Neal Adams começou a desenhar várias histórias dos X-Men para a Marvel Comics. Durante esse período teve como parceiros criativos argumentistas veteranos, como Roy Thomas e Dennis O'Neil.
       Foi precisamente com este último que Neal Adams, sob a orientação de Julius Schwartz (editor-chefe da DC na altura), devolveu o tom sombrio e intenso às histórias de Batman, demarcando-o em definitivo do registo pueril da série televisiva homónima, exibida entre 1966 e 1968 pela ABC. O contributo de Adams para a reabilitação do herói passou ainda pela introdução na sua mitologia de duas novas e carismáticas personagens: R'as al Ghul (1970) e Morcego Humano (1971). Deve-se-lhe igualmente a revitalização do principal némesis do Cruzado Encapuzado. Com Adams, o Joker voltou às suas origens, sendo retratado como um homicida psicótico que se deleita com o caos que provoca.

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Graças ao traço realista de Adams, Batman readquiriu a sua tonalidade obscura.

    Se a revitalização de Batman foi bem acolhida pelos fãs, já a nova abordagem da dupla Neal Adams/Dennis O'Neil ao Lanterna Verde e ao Arqueiro Verde foi controversa. Nas páginas do novo título conjunto - Green Lantern/Green Arrow - de duas personagens com pouco em comum,  à parte uma notória afinidade pela cor verde, temas como o racismo, a poluição e a toxicodependência foram amplamente explorados. Embora o trabalho desenvolvido pela dupla à frente da série lhes tenha valido alguns prémios e de ter inaugurado uma nova tendência na indústria dos comics, as vendas ficaram aquém do esperado e, três anos após ter sido lançado, Green Lantern/Green Arrow foi cancelado.


Uma das melhores ( e mais polémicas) produções da dupla Adams/O'Neill, Green Lantern/Green Arrow não resistiu aos fracos resultados comerciais.
     A partir daí - exceção feita ao trabalho desenvolvido com Batman -, as colaborações de Neal Adams com a DC tornaram-se mais e mais ocasionais. O álbum gigante que apresentava um combate de boxe entre o Super-Homem e o lendário campeão de pesos-pesados Muhammad Ali foi, em 1978, o último trabalho completo que Adams executou para a DC antes de fundar a sua própria editora. A Continuity Associates (mais tarde rebatizada Continuity Studios) produzia inicialmente arte para anúncios publicitários e para guiões cinematográficos. Por ela passaram nomes sonantes da indústria dos quadradinhos, como Jim Starlin, Al Milgrom e Howard Chaykin, apenas para citar alguns.
     Após um longo interregno (a sua última colaboração com a Casa das Ideias remontava a 1981), em 2005 Neal Adams regressou à Marvel para desenhar uma história de 8 páginas em Giant Size X-Men nº3. Cinco anos depois, em 2010, foi a vez de a DC lhe voltar a abrir as portas. Adams foi encarregue de escrever e desenhar os doze volumes da minissérie Batman: Odyssey.

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Exemplo do trabalho feito por Neal Adams para a Marvel.

      Ao frenesim criativo que o caracterizou na década de 1970, Adams aliou um intenso ativismo político, tendo como principal objetivo a unidade dos criadores ao serviço da indústria dos comics. Adams assumiu-se, efetivamente, com um incansável defensor dos direitos autorais dos seus pares. Graças à sua coragem e perseverança, foi introduzida na indústria a prática presentemente comum de devolver a arte original aos seus autores, permitindo-lhes dessa forma retirarem dividendos adicionais, designadamente através da sua venda a colecionadores.
     Em 1987, com a devolução de diversos originais seus e de Jack Kirby por parte da Marvel, Neal Adams venceu esta sua batalha. O seu maior triunfo consistiu, porém, em assegurar o pagamento de créditos acumulados ao longo de décadas a Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Super-Homem. Além desse estorno, Adams garantiu ainda o direito a uma remuneração financeira para ambos.
     Outra das suas singularidades reside no facto de Adams ser um adepto incondicional da Teoria da Expansão da Terra. Trata-se de uma hipótese formulada pelo eminente geólogo australiano Samuel Warren Carey, segundo a qual tanto o nosso planeta como outros corpos celestes se expandem. Um postulado que  põe em xeque, entre outras teses comummente aceites, a existência, nos primórdios da Terra, de um  supercontinente chamado Pangeia. Para difundir a Teoria da Expansão da Terra, Adams produziu um documentário em DVD e posta regularmente vídeos da sua autoria no YouTube.
      Neal Adams vive atualmente com a esposa, Marilyn, em Nova Iorque. O casal tem três filhos: Jason, Joel e Josh. O primeiro é escultor de estátuas e miniaturas de fantasia, ao passo que os seus dois irmãos mais novos trabalham como ilustradores de banda desenhada, produzindo também arte conceptual para programas televisivos. Em 2010, Josh Adams desenhou um pinup do Homem-Morcego, para o  primeiro volume da minissérie Batman: Odyssey, escrita e desenhada pelo seu pai.
  
Neal Adams ladeado pelo filho Josh numa sessão de autógrafos em 2010.
        
Prémios e distinções:  Neal Adams conquistou em 1967 o Alley Award Para Melhor Capa (Strange Adventures nº207). No ano seguinte arrebatou outro destes prémios, desta feita na categoria de Melhor História (Track of the Hook, publicada em The Brave and the Bold nº79 e escrita a meias com Bob Haney). Finalmente, em 1969, foi agraciado com um terceiro Alley Award para melhor desenhista.
      Em 1970 ganhou dois Shazam Awards: um na categoria de Melhor História Individual (No Evil Shall Escape my Sight, em Green Lantern nº76 com Dennis O'Neil) e outro para Melhor Desenhista. No ano seguinte, não foi novamente distinguido nesta categoria, mas tornou a vencer - outra vez com Dennis O'Neil - o galardão para Melhor História Individual (Snowbirds Don't Fly em Green Lantern nº85).
     Finalista nas votações de 1990 e 1991 para o Jack Kirby's Hall of Fame (equivalente bedéfilo aos Óscares cinematográficos), conquistou o seu lugar no panteão da 9ª arte em 1999.

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06 novembro 2013

CLÁSSICOS DA 9ª ARTE: O REINO DO AMANHÃ

 
    Num futuro não muito longínquo, uma nova geração de vigilantes impiedosos e amorais impõe a sua lei. Quando a velha guarda heroica volta ao ativo para tentar detê-los, estala a guerra. É este o mote para a multipremiada saga de Alex Ross.
 
Título original: Kingdom Come
Licenciadora: Detective Comics (DC)
Argumento: Alex Ross e Mark Waid
Arte: Alex Ross
Publicado originalmente em: Kingdom Come nº1 a 4 (maio a agosto de 1996)
 
 
 
Título em Português: O Reino do Amanhã
Ano: 1997*
Categoria: Minissérie quinzenal
Número de volumes: 4
Formato: Americano (17 cm x 26 cm), colorido e com lombada agrafada
Número de páginas: 52 por edição
Editora: Abril Jovem**
Na minha coleção desde: 1998
 
* Data de publicação da primeira edição da minissérie no Brasil pela Abril Jovem. A mesma editora lançou em 1998 uma edição encadernada.
**Em 2004, já sob a égide da Panini Comics e num volume único, a saga foi reeditada no Brasil, seguindo-se, já este ano, o lançamento de uma edição definitiva.

Capa de O Reino do Amanhã nº4 (Abril Jovem, 1997).
 
 História de publicação: Enquanto ilustrava a aclamada minissérie Marvels (1994), ocorreu a Alex Ross desenvolver um conceito similar para o Universo DC. Sem hesitar, Ross escreveu um rascunho de 40 páginas e apresentou-o ao reputado argumentista britânico James Robinson. A ideia era abordar o Universo DC de um ângulo inédito, a exemplo do que sucedera com Watchmen ou Twilight of the Superheroes, ambas escritas por Alan Moore.
        O projeto de Ross foi aprovado pelos editores da DC, que lhe recomendaram contudo que trabalhasse em parceria com Mark Waid dada a sua enorme familiaridade com a história das mais proeminentes personagens da Editora das Lendas.
         Determinante para a decisão dos editores da DC foi também o facto de a história idealizada por Ross ser uma alegoria para a ética questionável dos novos super-heróis surgidos nos primeiros anos da década de 1990, em especial os publicados pela Image Comics. Com efeito, Magog e o seus sequazes funcionam como analogias perfeitas para a conduta violenta e amoral dessas personagens, mais próximas do paradigma de anti-heróis.


Pelo seu profundo conhecimento da mitologia da DC, Mark Waid foi escolhido para escrever a saga.


O traço hiper-realista de Alex Ross deu maior impacto visual à história.

Enredo: Em 2020, os antigos membros da Liga da Justiça reformaram-se há quase uma década, em resultado do fortíssimo apoio popular à nova geração de vigilantes entretanto surgida. Caracterizada pela brutalidade e pelo parco respeito pela vida humana, esta tinha em Magog o seu expoente principal.
        Quando o Joker chacinou os funcionários do Planeta Diário (incluindo Lois Lane mas excetuando, obviamente, Clark Kent), Super-Homem e Magog partiram no seu encalço. Por puro acaso, este último encontra o vilão primeiro e mata-o friamente.
        Em consequência desse ato, Magog é julgado em tribunal mas acaba absolvido devido à forte pressão popular. Mortificado com essa situação, o Super-Homem retira-se para a sua Fortaleza da Solidão, demitindo-se da sua função de principal protetor da Terra. Vários outros heróis da velha guarda  seguem-lhe o exemplo, deixando assim caminho aberto para a ascensão de uma nova geração de superseres.
        Sem pejo em matar a sangue-frio, com o tempo os novos meta-humanos envolvem-se em intermináveis refregas entre si, semeando o caos e a destruição, e tornando quase impossível diferenciá-los dos vilões.
 
Magog lidera a nova geração de vigilantes.
 
        Os eventos são narrados pelo reverendo Norman McCay (cuja fisionomia foi inspirada no próprio pai de Alex Ross), depois de este ter recebido visões apocalípticas do futuro através do moribundo Wesley Dodds (o primeiro Sandman).  Face ao iminente cataclismo, o Espectro recruta McCay para ser o seu avatar no nosso mundo. Para cumprir esse propósito, o Espectro transforma o velho reverendo num fantasma.
 
O reverendo McCay é uma testemunha privilegiada dos acontecimentos.
O primeiro encontro entre o Espectro e o reverendo McCay.
 
         Anos depois, no Kansas, o Batalhão da Justiça de Magog persegue o Parasita. Este golpeia brutalmente o Capitão Atómo, rasgando-lhe o peito e libertando toda a sua energia quântica na forma de uma explosão nuclear. Consequentemente, uma considerável parte do midwest norte-americano é pulverizado. Milhões de vidas são obliteradas. Apenas Magog sobrevive ao holocausto graças à sua invulnerabilidade.
        Coadjuvado pela Mulher-Maravilha, o Super-Homem resolve então regressar ao ativo, retomando a sua função heroica e reunindo uma nova Liga da Justiça. No entanto, o herói kryptoniano depara-se com um mundo povoado por meta-humanos destituídos de moral e de qualquer preocupação pelo bem comum.
        Após recusar juntar-se à cruzada do seu antigo aliado, Batman ativa os seus Renegados, um grupo de heróis com e sem superpoderes. Quase em simultâneo, Lex Luthor lança no jogo a sua Frente de Libertação da Humanidade (FLH), composta essencialmente por vilões da Idade da Prata dos Quadradinhos, como a Mulher-Gato ou o Charada. O seu objetivo é erradicar todos os meta-humanos para assim assumirem o controlo do mundo.
       Todos os superseres que se recusam a converter à ressuscitada ordem heroica, são aprisionados no Gulag, uma prisão especialmente criada para conter indivíduos com habilidades meta-humanas. Quando eclode uma rebelião no Gulag, o Super-Homem voa até lá para tentar impedir uma matança, sendo todavia impedido pelo Capitão Marvel, o qual havia sofrido uma lavagem cerebral às mãos de Luthor.
       Segue-se uma feroz batalha entre os dois titãs. Entrementes, o Governo dos EUA, numa tentativa desesperada de repor a ordem, ordena o lançamento de uma bomba nuclear.

Choque de titãs em meio ao caos: Super-Homem versus Capitão Marvel.

       Liberto do controlo mental de Luthor e buscando redimir-se dos seus atos, o Capitão Marvel procura intercetar o míssil mas falha e dá-se a explosão atómica.  A destruição é total e poucos sobrevivem: uns protegidos por um campo de forças gerado pelo Lanterna Verde e pela sua filha Jade; outros teleportados no último instante pelo Senhor Destino. Super-Homem, Batman e Mulher-Maravilha estão entre os sobreviventes.
 
Depois do Kansas, o Homem de Aço chora a morte de vários amigos.
 
       Furioso pela perda massiva de vidas, o Super-Homem voa até à sede da ONU, em Nova Iorque, e ameaça soterrar os delegados sobre os escombros do edifício como castigo pela forma cobarde como puseram termo ao conflito entre as várias fações de superseres. Graças, porém, à sábia intervenção do reverendo McCay, o Homem de Aço serena os ânimos e perdoa os humanos retomando a sua função de principal protetor da Terra.
     No epílogo da saga, vemos a Mulher-Maravilha a assumir o papel de embaixadora dos meta-humanos, transportando alguns sobreviventes do Gulag para a Ilha Paraíso para reabilitação. Batman abandona a sua cruzada e transforma o que resta da Mansão Wayne num hospital que acolhe feridos do desastre do Kansas. O reverendo McCay reassume os destinos da sua congregação, pregando uma mensagem de esperança para toda a humanidade. No Kansas, o Super-Homem empreende a hercúlea tarefa de reconstruir o coração devastado da América.
 
O Homem de Aço afadiga-se na reconstrução do Kansas.

Curiosidade: A edição encadernada de Kingdom Come foi dedicada a Christopher Reeve, celebrizado pela sua interpretação em quatro filmes do Super-Homem e, à época, tetraplégico em resultado de uma queda quando praticava equitação. Na dedicatória lia-se: Para Christopher Reeve, que nos ensinou a voar.
Prémios e distinções: O magistral trabalho da dupla Mark Waid/Alex Ross foi recompensado com cinco Eisner Awards e um Harvey Award. Aclamada pela crítica, Kingdom Come foi também um enorme sucesso de vendas.
         
 
 
Personagens principais:
 
* A Liga da Justiça do Super-Homem
     Agremiação que reúne algumas das personagens de referência do Universo DC, com nova aparência ou sendo versões renovadas de heróis clássicos:

 
* Super-Homem: Um Homem de Aço envelhecido aprende a lidar com a sua novel condição de líder mundial numa época de extrema tensão e incerteza. Após décadas de exposição à radiação do nosso Sol, está mais forte do que nunca ao ponto de se ter tornado imune à kryptonita;
* Mulher-Maravilha: Tendo fracassado na sua missão de trazer a paz ao mundo dos homens, a Princesa Amazona recuperou a sua posição na corte de Themyscira, onde vive uma espécie de exílio dourado. Com o tempo torna-se lugar-tenente do Super-Homem na cruzada deste contra a nova safra de vigilantes;
* Robin Vermelho: Dick Grayson, o Robin original, substituiu Batman nesta nova versão da Liga da Justiça;
*Flash: Após fundir-se com a Força de Aceleração, as moléculas do Velocista Escarlate tornaram-se instáveis e, em resultado disso, ele está em constante movimento. Embora a sua identidade seja uma incógnita durante toda a saga, Mark Waid confirmou posteriormente tratar-se de Wally West (o Flash pós-Crise nas Infinitas Terras);
*Lanterna Verde: Finda a sua vigília nas estrelas, Alan Scott (o Lanterna Verde da Idade do Ouro dos Quadradinhos) regressa à Terra e une-se à cruzada do Super-Homem. No entanto, ele já não necessita de portar o seu tradicional anel energético, pois incorporou na sua armadura a bateria anteriormente usada para o recarregar.
 
    Fazem ainda parte da Liga, entre outros, Aquaman (Garth, o antigo Aqualad assumiu o manto do seu mentor), Arqueiro Vermelho (o antigo Ricardito, parceiro juvenil do Arqueiro Verde), Poderosa, Gavião Negro, Donna Troy (ex-Moça-Maravilha), Capitão Marvel Jr. e Mary Marvel (agora casados).
 
 
* Os Renegados de Batman
 
    O Cavaleiro das Trevas formou um nova equipa de meta-humanos destinada a combater a Liga da Justiça e a Frente de Libertação da Humanidade. Cinco dos seus membros são filhos dos Titãs originais, ao passo que os seus progenitores optaram pela fação do Super-Homem:
 
 

 
*Batman: Com a sua verdadeira identidade tornada pública, o Homem-Morcego viu a Mansão Wayne ser destruída pelo Duas-Caras e Bane. Devido às mazelas da idade, é obrigado a usar um sofisticado exoesqueleto para se mover, assim como uma armadura de combate para prosseguir a sua luta contra o crime. A sua desconfiança relativamente ao Super-Homem e a Lex Luthor (líderes, respetivamente, da Liga da Justiça e da Frente de Libertação da Humanidade) leva-o a formar os Renegados,assumindo-se como uma terceira via no conflito em curso;
*Ibn al Xu'ffasch: O filho de Batman e de Talia al Ghul  - e herdeiro da organização criminosa de R'as al Ghul, seu avô - é usado como espião para se infiltrar na FHL;
*Oliver Queen: O ex-Arqueiro Verde é um dos mais empenhados aliados de Batman. Do seu casamento com Dinah Lance (a ex-Canário Negro) resultou uma filha que opera sob o antigo codinome da mãe;
*Dinah Queen: A ex-Canário Negro utiliza agora um arco e flechas como o seu marido;
*Besouro Azul: Ted Kord passou a envergar uma armadura de combate energizada pelo escaravelho místico que concedeu os poderes ao seu antecessor;
*J'onn J'onzz: Outrora o Caçador de Marte, perdeu o controlo dos seus poderes telepáticos depois de ter tentado tocar as mentes de toda a humanidade de uma só vez. Com o espírito estilhaçado pelas torrentes de sentimentos e emoções, permanece na sua forma incorpórea.
 
     A estes juntam-se ainda Darkstar (filho de Donna Troy), Rastejante, Aço, Kid Flash (filha de Wally West), Ralph Dibny (ex-Homem-Elástico), entre muitos outros.
 
*Frente de Libertação da Humanidade (FLH) de Luthor
 
    Desde a partida do Super-Homem, dez anos antes, Lex Luthor e a sua FLH vinham manobrando nos bastidores com o intento de destruírem os meta-humanos e assumirem o controlo do mundo. Além do arqui-inimigo do Homem de Aço fazem parte da FLH:
 
 
 
*Capitão Marvel: Derradeiro trunfo de Luthor para aniquilar o Super-Homem, o agora adulto Billy Batson sofre uma lavagem cerebral e torna-se indistinguível do seu poderoso alter ego. Por conseguinte, ao longo de boa parte da história assume-se que o Mortal Mais Poderoso da Terra está a ser manipulado por Luthor quando, na realidade, é Billy;
*Mulher-Gato: A ex-ladra enriqueceu depois de ter assumido o comando de uma corporação de cosméticos;
*Charada: Admitido por Luthor na FLH apenas por cortesia à Mulher-Gato, tem como principal passatempo testar a paciência do seu líder.
 
    Kobra, Vandal Savage, Rei de Espadas e o trio terrorista Azul, Branco e Vermelho completam o elenco da FLH.
 
* Batalhão da Justiça de Magog
 
   Os super-heróis do futuro são desprovidos de qualquer compaixão ou preocupação com a vida humana. Os seus atos violentos em nada os distinguem, portanto, dos vilões de que supostamente defendem a humanidade. Entre os mais notáveis destacam-se:
 
 

 
*Magog: Ironicamente designado "O Novo Homem Do Amanhã" (título ostentado anteriormente pelo Super-Homem), o seu primeiro ato público foi assassinar o Joker. Isto depois de o Palhaço do Crime ter chacinado 93 pessoas (entre as quais Lois Lane) no edifício do Planeta Diário. Aclamado pela opinião pública, substituiu o Último Filho de Krypton como maior herói da Terra;
*Von Bach: Um pretenso ditador jugoslavo que se expressa em alemão. É preso no Gulag por matar oponentes que se haviam rendido;
*666: Um homem-máquina gótico que tem pouquíssimo respeito pelos heróis do passado e que luta com outros meta-humanos por desporto;
*Filha do Joker/Arlequina: Uma adolescente revoltada e sádica que imita o estilo do falecido Palhaço do Crime.
 
    Capitão Atómo, Senhor Incrível, NIL-8, Sideral e Pacificador são outras figuras de proa deste lote de superseres de ética questionável.
 
*Outros
 
*Espectro: Desumanizado, necessita de uma perspetiva humana para julgar os eventos que se desenrolam diante do seu olhar. Obstinado em determinar quem será o responsável por desencadear o Armagedão, recruta o reverendo Norman McCay;
*Arthur Carry: Abriu mão da sua identidade como Aquaman para se dedicar de corpo e alma a ser o soberano da Atlântida. Mantém-se neutral quando eclode o conflito entre os seus antigos companheiros e a nova geração de superseres;
*Parasita: Em contraste com a sua versão tradicional, o vilão é retratado na história como um cobarde, cuja perda de memória a curto prazo o torna altamente instável. Corta literalmente o Capitão Átomo, provocando dessa forma a explosão nuclear que devasta o Kansas. É, portanto, ele o agente do Apocalipse.
  
As 4 fações em conflito: o Batalhão da Justiça (em cima), a Liga da Justiça (ao meio) e os Renegados/ FLH (em baixo).
 
 
 
 
 


19 agosto 2013

HERÓIS EM AÇÃO: O MASCARILHA





       Celebrizado através da banda desenhada, da televisão e do cinema, a verdade é que o Mascarilha começou por ser ouvido antes de ser visto. Isto porque as primeiras aventuras do justiceiro mascarado do Velho Oeste foram vividas num folhetim radiofónico de 1933.
 
Nome original: The Lone Ranger (devido a dificuldades de tradução, no Brasil recebeu o nome de Zorro e, em Portugal, de Mascarilha)
Primeira aparição: Rádio WXYZ de Detroit (no estado norte-americano do Michigan), em janeiro de 1933
Primeira aparição nos quadradinhos:  Em setembro de 1938, a King Features Syndicate lançou um conjunto de tiras do Mascarilha publicadas num jornal diário dos EUA. Em 1948, em parceria com a Dell Comics, a Western Publishing fez chegar às bancas uma série regular de BD que, inicialmente, compilava essas mesmas tiras. As primeiras histórias inéditas da personagem só surgiriam em 1951.
Criadores: As opiniões dividem-se sobre a quem deve ser atribuída a "paternidade" do herói: se a George W. Trendle (proprietário da estação de rádio onde o Mascarilha debutou), se a Fran Striker (o primeiro argumentista da série radiofónica). Tudo indica, contudo, que a personagem terá sido idealizada pelo primeiro e desenvolvida pelo segundo.
Licenciadoras: Rádio WXYZ (1933-1954), King Features Syndicate (1938-1971 e 1981-1984), Western Publishing/Dell Comics(1948-1962), Gold Key Comics (1964-1977), Topps Comics (1994) e Dynamite Entertainment (2006 até à atualidade)
Identidade civil: John Reid (o primeiro nome do Mascarilha só seria revelado aquando do 20º aniversário do seu programa radiofónico, em 1953)
Local de nascimento: Algures no Texas (EUA)
Parentes conhecidos: Dan Reid (irmão falecido) e Dan Reid Jr. (sobrinho)
Filiação: Ex-membro dos Texas Rangers (força policial cuja jurisdição se restringe ao estado do Texas e que tem como função, entre outras, capturar criminosos foragidos)
Base de operações: Texas
Armas e habilidades: Exímio cavaleiro, atirador e lutador corpo a corpo, o Mascarilha possui ainda apuradas competências detetivescas. Raramente se separa dos seus dois revólveres Colt .45, cuja munição se resume a balas de prata.

Ontem como hoje, as balas de prata são uma das imagens de marca do Mascarilha, dentro e fora dos quadradinhos.
 
História de publicação: Remonta a 1938 a primeira incursão do Mascarilha na banda desenhada. Nesse ano, a King Features Syndicate iniciou a publicação num jornal diário de tiras do já célebre cowboy mascarado. Inicialmente, o argumento era da autoria do próprio Fran Striker mas os constrangimentos de tempo logo ditariam a sua substituição por outros escritores, como Bob Green.
     Até 1971 as referidas tiras foram publicadas ininterruptamente. Após um ínterim de dez anos, em 1981, foi lançada uma segunda série das mesmas, agora sob a égide do  New York Times Syndicate, e que se prolongaria por três anos. Dois desses arcos de histórias seriam compilados em 1993 pela Pure Imagination Publishing.
     Antes, em 1948, pela mão da Western Publishing (em parceria com a Dell Comics) o Mascarilha tivera direito ao seu primeiro título regular de BD que, até 1951 (ano em que foram produzidas as  suas primeiras histórias inéditas), se limitava a compilar as tiras anteriormente publicadas pela King Features Syndicate. Entre 1948 e 1962 foram lançados 145 números da série. Pelo meio, em 1951, foi a vez de Tonto estrelar um título próprio, o qual, por sua vez, teve 31 números. Menos do que os 34 da série que, a partir de 1952, teve como protagonista, nada mais nada menos, do que Silver, o icónico cavalo do Mascarilha.

Capa de um dos números de The Lone Ranger com a chancela da Dell Comics (data desconhecida)
 
     A partir de 1964, já depois de desfeita a parceria entre a Western Publishing e a Dell Comics, foi relançada a série The Lone Ranger, agora com a chancela da Gold Key Comics. No entanto, a mesma só apresentaria material inédito a partir de 1975, limitando-se até aí a reeditar histórias antigas da personagem. Com apenas 28 números publicados, esta segunda série do Mascarilha chegaria ao fim em 1977.
     Seguiu-se um longo interregno de 17 anos que se prolongou até 1994, ano em que a Topps Comics produziu uma minissérie em quatro edições, intitulada The Lone Ranger and Tonto, escrita por Joe R. Lansdale e desenhada por Timothy Truman. Uma das novidades introduzidas por esta saga foi a caracterização de Tonto, agora transformado num adjuvante sarcástico e espirituoso.
      Após esse projeto editorial, somente em setembro de 2006 a Dynamite Entertainment relançaria o Mascarilha nos quadradinhos, sob o formato de uma minissérie em seis números. Devido ao seu êxito, a editora decidiu apostar numa nova série regular do herói, a qual seria, logo no ano seguinte, nomeada para os Eisner Awards, na categoria de melhor série. A consagração definitiva ocorreria, contudo, dois anos depois, quando a revista True West lhe atribuiu o prémio de Melhor Banda Desenhada de Cowboys de 2009.

Em 2006, pela mão da Dynamite Entertainment, o Mascarilha regressou à riblata com uma série premiada.
 
Biografia: Especula-se que o Mascarilha tenha sido inspirado no capitão John R. Hughes, um Texas Ranger que, nos primeiros anos do século passado, perseguiu e capturou o bando de malfeitores que assassinara um seu companheiro numa emboscada. Na sequência dessa façanha, logo em 1915 o escritor Zane Grey dedicou-lhe o seu livro The Lone Star Ranger.
     Com efeito, as semelhanças entre a história do capitão Hughes e a origem do Mascarilha são notórias:  o nome original do herói (The Lone Ranger) deriva do facto de ele ter sido o único sobrevivente de um grupo de seis Texas Rangers chacinados numa emboscada montada por uma perigosa quadrilha, chefiada pelo temível Bartholomew "Butch" Cavendish .
     Entre os Rangers mortos estava Dan Reid, irmão mais velho de John. A despeito de algumas cambiantes ao longo dos anos, a sua origem tem como premissa esse episódio.
     John Reid é encontrado à beira da morte por Tonto, um índio a quem, por sua vez, ela salvara a vida no passado. Noutra versão da história, os dois eram amigos de infância e reencontraram-se quando Tonto salvou Reid de índios renegados. Comum a ambas as versões, o facto de Tonto ter reconhecido Reid graças a um anel que lhe dera em sinal de gratidão por lhe ter salvado a vida.
     Depois de curado por Tonto, Reid resolve levar os seus algozes à justiça. Mas decide fazê-lo sob uma nova identidade, pelo que passa a usar uma máscara de cabedal preto (feita do colete usado pelo irmão no dia do massacre).
    Tonto, entretanto, cavou uma sexta sepultura na qual colocou uma cruz de madeira com o nome John Reid inscrito. Pretendia assim simbolizar a morte do homem e o nascimento da lenda do Mascarilha.
 
 
    Mesmo depois de ter capturado e entregue às autoridades Cavendish e os seus cúmplices, o Mascarilha prossegue a sua cruzada contra o crime, tendo Tonto como parceiro de aventuras.
    Sentenciado a prisão perpétua pelos seus crimes, ao fim de vinte anos Cavendish consegue evadir-se da prisão e parte no encalço do Mascarilha para se vingar. Os dois homens reencontram-se no desfiladeiro onde ocorrera a emboscada em que perdera a vida o capitão Dan Reid e os demais Texas Rangers.
    Acompanhado pelo seu sobrinho adolescente, Dan Reid Jr., o Mascarilha deslocara-se ao local para visitar a sepultura do seu irmão, quando foi surpreendido por Cavendish que, do alto de uma ravina, dispara sobre o herói, atingindo-o de raspão. Mesmo ferido, o Mascarilha consegue escalar a ravina enquanto Dan dispara as suas armas para manter Cavendish ocupado.
    Uma intensa luta corpo a corpo entre o Mascarilha e Cavendish culmina com a queda deste último do alto da ravina. Perante o vilão moribundo, o herói remove a sua máscara para que este o reconheça como um dos Rangers por ele assassinados anos atrás.
    Com Cavendish morto, Tonto remove a cruz com o nome de John Reid, deixando as restantes cinco.
    Adicionalmente a esta narrativa, os criadores do Mascarilha acrescentaram algumas diretrizes que ajudaram a definir a essência e a conduta da personagem:
 
* O Mascarilha nunca é visto sem a máscara (por esse motivo, nas suas histórias, ele nunca é detido pelas autoridades);
* Quando dispara as suas pistolas, o Mascarilha nunca atira a matar, procurando, ao invés, tentar apenas desarmar os seus oponentes da maneira mais indolor possível;
* A fim de evitar acusações de racismo ou xenofobia, os seus adversários são sempre cidadãos dos EUA (apesar de se terem verificado algumas exceções a esta regra);
* Nas sequências tendo como cenário os característicos saloons do Velho Oeste, o Mascarilha nunca é mostrado a ingerir qualquer bebida alcoólica ou a fumar;
* Obedecendo à mesma lógica assética, os vilões das suas histórias nunca são representados com glamour;
* O Mascarilha só usa balas de prata (extraída de uma mina particular secreta), à laia de lembrete metafórico para a preciosidade da vida humana, que deverá por isso ser preservada a todo o custo. Este elemento, a par da emblemática banda sonora das séries televisivas e do grito ""Hi-Yo, Silver! Away!" dado enquanto parte no seu cavalo branco em direção ao horizonte, contribuíram para lhe conferir o estatuto de ícone da cultura popular norte-americana.
 
 
Noutros media: Além dos 2956 episódios do seu folhetim radiofónico emitido pela WXYZ, o Mascarilha teve várias transposições para o pequeno e grande ecrãs.  Assim, a primeira série televisiva estrelada pelo justiceiro mascarado data de 1939. Produzida pela Republic Pictures, teve a particularidade de ter vários atores a interpretarem a personagem principal, mantendo assim o mistério quanto à sua verdadeira identidade, apenas revelada no derradeiro episódio.
     Foi, contudo, a série televisiva The Lone Ranger, que a estação ABC manteve no ar durante quase uma década (1949-1957) que catapultou o Mascarilha para a ribalta mundial. Com Clayton Moore a representar o herói em quatro das cinco temporadas da série (o ator foi substituído na terceira por John Hart, devido a disputas contratuais, regressando nas duas últimas), foram exibidos 221 episódios. Na quinta e última temporada, estes foram filmados a cores pela primeira vez.
 

Clayton Moore (esq.) e Jay Silverheels deram vida ao Mascarilha e ao Tonto numa mítica série televisiva.
 
     O primeiro dos cinco filmes (um dos quais, lançado em 2003 como telefilme) do Mascarilha realizados até ao momento, remonta a 1956. Os títulos, porém, nunca primaram pela originalidade, visto que The Lone Ranger foi comum a três deles. E isto inclui a mais recente incursão do herói mascarado do Velho Oeste na 7ª arte. Já este ano, chegou aos cinemas de todo o mundo mais uma adaptação cinematográfica de uma história octogenária, com Armie Hammer a dar vida ao Mascarilha e Johnny Depp a interpretar de forma singular o seu companheiro Tonto.
 
Jonhnny Depp (Tonto) e Armie Hammer (Mascarilha) no filme The Lone Ranger (2013).
 
     No campo da animação, onde o Mascarilha também deu cartas ao longo dos anos, a série mais popular foi transmitida pelo canal norte-americano CBS, entre 1966-68, fazendo as delícias de miúdos e graúdos de várias gerações.
 
O Mascarilha cavalgando Silver na sua mais popular série de animação.

28 agosto 2012

FÁBRICA DE MITOS: MALIBU COMICS





 
          Antes de ser absorvida em 1994 pela Marvel, a Malibu Comics deu cartas no mercado editorial norte-americano de quadradinhos. Nomes sonantes como Jim Starlin e Steve Englehart deram o seu contributo para o êxito do projeto.
         Também conhecida como Malibu Graphics, a Malibu Comics foi fundada em 1986 por Tom Mason e Dave Olbrich (aos  quais se juntou Chris Ulm no ano seguinte) em Calabasas, Califórnia. Ganhou notoriedade com a sua linha de super-heróis batizada de Ultraverse, na qual pontuavam personagens como Prime ou Ultraforce. No entanto, o projeto apenas singrou graças ao financiamento de Scott Mitchell Rosenberg que, na altura, dirigia uma distribuidora de banda desenhada, a Sunrise Distributors. Por sua vez, Olbrich já colaborara com uma editora independente de comics (a Fantagraphics) e fora administrador dos Prémios Jack Kirby (uma espécie de Óscares das histórias aos quadradinhos).

Da esquerda para a direita: Tom Mason, Chris Ulm, David Olbrich e Scott Rosenberg.
 
           A nova editora teve um começo de carreira modesto, limitando-se a publicar títulos a preto e branco. Combinando, porém, o lançamento de séries inéditas com a aquisição do licenciamento de personagens clássicas como Tarzan ou Sherlock Holmes e com as adaptações aos quadradinhos de filmes, séries televisivas e videojogos de sucesso, a Malibu Comics conquistou o seu lugar ao sol na competitiva indústria dos comics, dominada pelas gigantes Marvel e DC.
          Apenas um ano depois da sua fundação, a Malibu Comics adquiriu as editoras Eternity Comics e Aircel Comics (sendo esta canadiana). No âmbito dessa estratégia de crescimento, em 1989 foi a vez de a Adventure Publications ser também absorvida.
         O auge foi atingido em 1992. Nesse ano, os super-heróis da extinta Centaur Publications (uma editora da Idade do Ouro dos Quadradinhos, cujas propriedades autorais se tornaram do domínio público) ressurgiram fugazmente em títulos próprios publicados pela Malibu.  Ainda nesse ano, a Malibu associou-se ao revolucionário projeto da Image Comics (ver Fábrica de Mitos: Image Comics), assegurando-lhe a impressão do material produzido, assim como o acesso aos canais de distribuição. Essa decisão permitiu à Malibu conquistar uma quota de mercado de quase 10%, suplantando, ainda que apenas temporariamente, a toda-poderosa DC. Foi, contudo, sol de pouca dura. No ano seguinte, já com a sua situação financeira consolidada, a Image Comics passou a publicar os seus próprios títulos e pôs um ponto final à sua parceria com a Malibu. Na sequência desse revés, a empresa procurou capitalizar a crescente popularidade dos videojogos e fundiu-se com a ACME Interactive. Nascia assim a Malibu Entertainment, Inc.

Capa de Mortal Kombat nº1.
 
          Durante o boom de super-heróis verificado nos primeiros anos da década de 1990 com o surgimento da Image Comics, da Valiant, mas também com a reinvenção do conceito por parte da DC e da Dark Horse Comics, a Malibu regressou à ribalta com o lançamento do seu Ultraverse. Em parte, essa nova linha de super-heróis destinava-se a preencher o vazio deixado pela emancipação da Image. Todavia, o sucesso do projeto deveu-se, essencialmente, à aposta em novos talentos e ao incremento de qualidade do material produzido face aos quadradinhos tradicionais. À semelhança da Image (e para gáudio dos leitores), a Malibu investiu em papel de melhor qualidade e aderiu ao tratamento digital de cores.
          De modo a enfatizar a interligação entre as diferentes séries que compunham o Ultraverse, a Malibu massificou os crossovers entre as suas várias personagens. Era comum um arco de histórias iniciado num determinado título ter o seu desfecho noutro. Também foram promovidos vários encontros entre personagens do Ultraverse e de outras editoras, nomeadamente da Marvel. Dentre eles, destacam-se: Os Vingadores/Ultraforce, Prime versus Hulk, Night Man versus Wolverine, etc.
           Para rentabilizar ao máximo o êxito da sua linha super-heroica, a Malibu promoveu também intensamente as edições especiais e as edições limitadas. Foi, pois,  sem surpresa que o Ultraverse rapidamente passou a dominar o catálogo da editora.


 
            Um dos seus títulos mais populares era  The Night Man (criado por Steve Englehart) que, entre 1997 e 1999, teve direito a uma série televisiva homónima (também exibida em Portugal na TVI).
 
            Em paralelo, a Malibu lançou a linha Bravura. Destinada a promover o trabalho de criadores independentes, nela colaboraram pesos-pesados da indústria como Jim Starlin, Marv Wolfman ou Howard Chaykin. Já Rock-It Comix apresentava histórias aos quadradinhos baseadas em bandas rock.
Breed foi um projeto de Jim Starlin, publicado na linha Bravura.

           Com o generalizado declínio das vendas que, em meados dos anos 1990, afetava grande parte das editoras, a Malibu cancelou as séries menos rentáveis. Foi nesse contexto que, em 1994, a Marvel Comics avançou com a compra da concorrente. Daí resultando a saída de Tom Mason e de Chris Ulm, pouco tempo depois.
           Ato contínuo, a Marvel cancelou toda a linha Ultraverse. Apenas para, algum tempo depois, relançar os seus títulos mais populares, assim como vários novos crossovers com personagens do universo Marvel. Ou melhor dizendo, do multiverso Marvel, uma vez que o Ultraverse foi incorporado nele sob a designação de Earth 93060. Esse renascimento do Ultraverse foi, porém, efémero e, uma vez mais, a Marvel acabou por cessar a sua publicação.
          Numa entrevista concedida já este ano, Steve Englehart insinuou que, na origem dessa decisão, estaria o facto de 5% dos lucros reverterem para os fundadores da Malibu ainda vivos. Tom Breevort, editor-chefe da Marvel, negou que fosse esse o motivo mas também não aventou outra explicação para o facto, escudando-se num suposto acordo de confidencialidade.

O universo Malibu dá as boas vindas a Evil Ernie (ex-Eternity Comics).